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B Congo Bra aville b.1) Mapa populacional

No documento Tese Patrício (páginas 116-120)

Nas suas deslocações e sedentarizações (efémeras ou prolongadas) os proto- Bantu construíram vários Estados entre Douala e os Mbum, entre os Kota e Fang, entre os Teke e os Benga, ao Sul (Mbokolo, 2010: 614). Destas migrações, pode se perceber a origem das populações da República do Congo (Batsîkama, 2013):

1) As províncias (Departamentos) de Likouala e Sangha ao Norte são habitadas pelos Mbubi, Mbuti (pigmeus), Akwa vindos de Norte;

2) Kuyu, Mboshi, Bangala, etc. são etnias maioritárias nos territórios (Departamentos/províncias) de Cuvette e de Plateaux ao Norte. Entre eles, há outras etnias que se associam: Kânda, os Tsôngo e mesmo os Mpôngwe. 3) Do Departamento de Plateaux e toda parte meridional do departamento de

Cuvette, até ao Sul do país, encontramos os Teke e os Kôngo: Bembe, Kwele, Kota, Kunde (Pechu l-Loesche:1907), Punu, Vili (Lethur, 1962), etc.

b.2) Golpes de Estado como regra sucessoral184

Depois da primeira Guerra Mundial, André Matsoua mobiliza as populações, em 1926, para socorrer seus compatriotas que lutaram ao lado dos franceses: criou-se uma Associação de Amigos. Eles irão descobrir dois factos desoladores: (i) injustiça, (ii) descriminação. Logo, A. Matsou que é consciencializado pelos outros que vêm nele as características de um líder, lança programas religiosos e anti-colonialistas

184 O que escrevemos aqui é a nossa compreensão dos seguintes textos: Brisset-Guibert,1988;

Moukoko, 1999; Obenga, 1977; Thystère-Tchicaya, 1992; Massema, 2005; Nkouka-Menga, 1997. Agradecemos, também, as precisões que o professor Obenga fez ao nosso texto inicial deste sub- capítulo.

concretos. A administração colonial francesa toma conta dos planos, prende o líder que irá falecer, sem grande impacto, na prisão, em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial. Mas logo depois, a Administração Colonial resolveu envolver os Congoleses nos assuntos públicos: Jean F. Tchicaya é eleito deputado em Paris.

Começa, portanto, entre 1946 e 1956 a criação dos principais partidos políticos: (i) Partido Progressista Congolês (PPC), com J.F. Tchicaya; União Democrática da Defesa dos Interesses dos Africanos (UDDIA), com o Bispo Fulbert Youlou.

Em 1958, F. Youlou viu ser aprovado um Referendo com mais de 95 dos eleitores do ‘Medio Congo’ (departamentos de Pool onde está a capital, Plateau, Lekoumou, Buenza, Kouilou e Niari). Importa salientar que no vizinho Congo- Kinsâsa, havia mobilização das populações para apoiar a ‘república autónoma’, o que em 1959 levantou sérios motins nos dois países. Se o Congo Kinsâsa irá aceder à independência em 30 de Junho de 1960, no Congo Brazzaville será em 15 de Agosto de 1960.

Importa salientar como F. Youlou e a sua UDDIA desenharam o Congo. Em sintonia com o ABAKO de Joseph Kasa-Vubu, a ideia inicial foi um federalismo onde as partes manteriam as suas autonomias internas. Salvo no Pool e em Niari – por razões comerciais – o mosaico multi-étnico era não só aceite, mas sobretudo as dinâmicas socioeconómicas espelhavam a anatomia social do Congo. Eis como estavam repartidos:

(i) Os Kôngo do centro (Pool): religião e vida pública185 (ii) Os Kôngo do Sudoeste: comércio, administração pública; (iii) Os Kôngo setentrionais e os Teke: comércio e militares.

Os de Departamento do Norte eram mais militares e comerciantes. Durante dois anos, estes viram-se excluídos dos interesses do país. As populações do Cuvette e Cuvette-Ouest, consideravelmente numerosas em Brazzaville, abraçaram as revoltas contra a ‘hegemonia’ dos Kôngo do Centro. Aliás, entre estes (Kôngo) já existia desunião (os Bembe reclamam injustiças sociais e revoltam-se; os Teke, de modo

185 Fulbert Youlou era religioso, e ao mesmo tempo assumiu a vida política. De modo igual,

Massamba-Débat era conhecido no Conselho National da Revolução a partir dos seus laços religiosos, dos quais aproveitou desempenhar papel preponderante na Unificação (depois de Golpe de Estado em 15 de Agosto de 1963). Fala-se, também, de Simon Mpadi que liderou um movimento religioso.

igual, associam-se a este movimento). Dois grandes chefes militares – que são Kôngo embora setentrional e meridional186 – protagonizam o golpe de Estado.

As populações, face aos inúmeros problemas sociais, solicitam a saída do presidente da república. David Mountsaka – Comandante em Chefe das Forças Armadas – receberá ordem de responder militarmente contra as populações. Nega tais ordens, e preferiu destronar F. Youlou. O capitão Félix Mouzabakani irá interinar durante alguns meses.

Alphonse Massamba-Débat187 – pelas suas qualidades e capitais académicos188 – é chamado em Dezembro de 1963 a liderar o país, e Pascal Lisouba será o seu Primeiro-ministro. Muitos orquestraram contra, insinuando que nada estava mudado. A instabilidade agravou-se, um ano depois deste mandato. Desta vez as revindicações são nobres: (i) injustiças sociais; (ii) tribalismo ou regionalismo; (iii) falta de visão de ‘nação’. Ele será deposto em 1968, depois de vários insucessos, desde a Oposição de Félix Mouzabakani, Bernard Kolelas e, sobretudo, quando mandou prender Marien Ngouabi (tão popular na época, e com uma forte liderança militar).189

É assim que surge Marien Ngouabi (Obenga, 1977), oriundo de Ombelé (etnia Kuyu), no Departamento de Cuvette. Seguindo o exemplo do Congo Kinsasa, onde Kasa-Vubu era deposto por Joseph Mobutu, era necessário re-desenhar o mapa geoestratégia na África Central Ocidental. Angola teve excelentes relações com este país, e optava pela União do Congo Brazzaville. A experiência militar levou-o a perceber a necessidade de delegar poderes em pontos estratégicos, e reservar-se com a ‘supremacia’ militar. O facto de ser do Norte, e reinar (a capital Brazzaville estava no Sul: Pool), levou a algumas frequentes contestações, apesar de ele tentar geri-las. Ele também refutar anexar arbitrariamente Cabinda na geografia do seu país, tal como foi pressionado pelo Governo francês. Preferiu uma boa vizinhança com Angola até à independência desta (1975), fortalecer o ‘poder’ e lançar o projecto de um ‘Congo inclusivo’. Dentro do seu partido (PCT190), havia disputa de poder, mas prefere

186 David Mountsaka era de Boko (como A. Massamba-Débat) na localidade de Nzeto. Em 1960 foi o

primeiro Comandante em Chefe das Forças Armadas Congolesas.

187 Nascido em Boko (departamento do Pool, localidade de Nkolo) em 1921.

188 Depois da formação de instrutor, ele foi exercer as suas funções no Chade. De regresso ao país, foi,

antes da independência, Director de várias escolas públicas onde passaram vários estudantes dos quais beneficiou do voto em 1963. Aliás, em 1956 era o Director do Gabinete do Ministro da Educação. E quando o país tornou-se independente, era o presidente de Assembleia Nacional.

189 Massamba-Débat chegou a destituir a Assembleia Nacional, para ter margem de manobra. 190 Partido Congolês do Trabalho.

avolumar a sua aceitabilidade na Rússia (URSS). Apesar das estratégias que Ngouabi optou (acomodar seus militares; instaurar justiça social; etc.) eram inevitáveis: (a) a sua inimizade com a França; (b) a sua rejeição (por ser “Outro” no território dos Kôngo e Teke) popular em Brazzaville. Será assassinado em Março de 1977.

Na liderança do PCT existiam duas propostas fortes: Jacques Joachim Yhombi-Opango e Dénis Sassou-Ngouessou. Ambos são oriundos do Departamento de Cuvette, o primeiro era de Owando/Kuyu191 e o segundo de Edou/Mbochi192 e Ministro da Defesa. Entre estes dois ‘adversários’ políticos, importa salientar que o primeiro era tido como ‘urbano’, enquanto o segundo era tido como ‘rural’. Daí Jacques Yhoumbi-Opango passar a assumir a liderança do país. Mas por algum tempo apenas, pois, será acusado de desorientar ideologicamente o partido, com tendências direitas. Em Fevereiro de 1979, o presidente Jacques Yhoumbi-Opango é deposto pelo partido, que coloca o coronel Denís Sassou Ngouesso no poder. Jacques Yhoumbi foi preso, depois colocado numa prisão domiciliar. Ele será declarado livre em 1984, depois de Denis Sassou-Ngouesso ser reconduzido pelo partido.

b.3) Estado-nação na Era da Democratização da África

Entre 1989 e 1992 a África é afectada pela americanização (democratização). O militarismo dissimulado no partido político estava em desvantagem, já que o comunismo ‘perdia’ o seu bloco no mapa geopolítico. O ‘Estado-nação’ através da democracia era o ‘Ordo Seculorum’, de maneira que ir-se-ão realizar as eleições com todas as forças sociais e políticas do país, para obter o resultado do pronunciamento comum: Dénis Sassou-Ngoueso convoca a Conferência Nacional Soberana, como vontade de várias forças sociais que querem ‘viver em laicidade’. Sucederam-se as eleições: Pascal Lissouba ganhou o pleito eleitoral, e Denís Sassou-Ngouessou retirou-se da vida pública de Brazzaville, para instalar-se na sua região natal. O poder tinha voltado aos Kôngo193, tal como se orquestrava aqui e acolá.

191 Fez estudo em Brazzaville, na Escola Militar Preparatória Geral (École Militaire Préparatoire

Générale de Leclerc) até 1957. Fará a formação militar entre 1960-1962, na Escola Militar de Saint- Cyr. Nesta caminhada de formação militar ele terá como companheiro, Marien Ngouabi.

192 Ainda que Sassou-Ngouessou fosse oriundo de Norte, ele fez os seus estudos secundário no Sul, em

Brazzaville (em Louboumo, entre 1956-1961). Esse facto permitiu-lhe fazer amigos, e durante o seu mandato o tribalismo não se fez tanto (mas algumas vezes sim).

193 Pascal Lissouba nasceu em 1931 em Tsingwidi, Departamento de Niari. Fez sua entrada triunfal na

cena política com 31 anos, depois de uma brilhante trajectória académica. Já era tido como potencial candidato à presidência, por isto ele será inúmeras vezes posto em prisão e libertado.

O tribalismo ainda não estava desaparecido quando Pascal Lissouba chegou ao poder. Toda a classe política apercebeu-se de duas coisas: (a) manter coalição entre várias representações étnicas nas forças políticas; (b) manter relações cordiais com, por um lado, seus vizinhos, e por outro lado, com a França. O presidente P. Lissouba que se apercebeu disto, busca pactos e amizades na cena nacional. Na cena internacional – ou mesmo continental – ele teve uma brilhante experiência a nível das universidades, quer em Paris (Université de Paris, UNESCO), quer em Nairobi. Infelizmente, ele era herdeiro dum Congo com problemas internos sérios, de longa data, desde o regionalismo até à distribuição das riquezas. Percebeu-se, também, que a lealdade das Forças Armadas Congolesas aos líderes oriundos de Norte seria uma imprudência política da sua estabilidade, ou mesmo como alguma insegurança para Lissouba.194

Um ano depois das eleições Pascal Lissouba e seus aliados foram acusados de ter corrompido os resultados das eleições (Massema, 2005; Nkouka-Menga, 1997). As desordens se instalaram, a seguir. E os velhos conflitos renasceram. Denis Sassou- Ngouesou será reinstalado em Brazzaville, mas desta vez com uma larga coalição étnica, no epicentro da organização política que lidera.

No documento Tese Patrício (páginas 116-120)