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Protonacionalismo e nacionalismo

No documento Tese Patrício (páginas 85-101)

i. Protonacionalismo

Vamos começar com as observações – de ordem histórica – que o professor Eric Hobsbawm tenta construir (Hobsbawm, 2008: 65):

O que precisamente constituía o protonacionalismo popular A questão é muito difícil, pois implica a descoberta de sentimentos das pessoas não alfabetizadas que formavam a maioria absoluta da população mundial antes do século XX. As idéias deste capítulo estão baseadas nos literatos que liam e escreviam – ou pelo menos em alguns deles –, mas é claramente ilegítimo extrapolar das elites para as massas e dos alfabetizados para os analfabetos, mesmo que os dois mundos não sejam inteiramente separáveis e a palavra escrita tenha influenciado as idéias daqueles que apenas falavam.

Como já avançamos atrás, demos que arquitectou o modelo político para gestão dos interesses públicos, encontra dois desafios: (i) organizar Laos para congregar uma parte dele na aparelhagem do Estado; (ii) criar uma cidadania

inclusiva, onde os integrantes apresentam diferenças somáticas consideráveis, capazes de dinamizar os ‘affaires d’Etat’.

Eric Hobsbawm encontrará o mesmo problema131, e compreende os primeiros objectivos neste modelo político: agregar os letrados (demos/empregadores) e os analfabetos (laos/assalariados) na construção das ‘ideias’ e destino do país. Mas é a massa popular que manifestamente deu vida ao ‘proto-nacionalismo popular’ no século XX. Reconhece-se que os demos/empregadores terão certas vantagens (já que confeccionam políticas e integram o jogo, com certo poder económico), mas admite- se também que o tecido sociocultural da segunda categoria (Laos), que é a maioria, serve de ‘garde-fou’ para evitar qualquer ‘doidice de poder’. Portanto, a dicotomia de alfabetizado/analfabeto permanece: (i) livre/escravizado, durante toda a época que se formou o protonacionalismo (1870-1917; 1920-1960); (ii) rico/pobre durante todo o período que precedeu e marcou as primeiras etapas no Estado socialista da Russia; (iii) novos burgueses/serviçais (ou trabalho forçado) que, durante todo tempo e de modo geral, caracterizaram a colonização em África. E, nos tempos contemporâneos, parece-nos que esta dualidade tornou-se classificatória para compreender as ocorrências: empregador/empregado, face à respectiva relação de forças.

Nos três casos, nota-se que o processo da idealização da libertação territorial (administrativo, sobretudo) sucede a uma prévia opressão. Em todos os casos, as nações territoriais – de pouca expansão territorial ou exígua densidade populacional e não industrializadas – foram periodicamente invadidas pelas expansões imperialistas. Desenhou-se uma nova anatomia social: invasor/invadido, alógeno/indígena, os quais tiveram que partilhar um mesmo território em tenso desacordo, mas tendo possibilitado ‘heranças sociais comuns’. Geralmente, as culturas externas impõem e constroem modelo de cultura estandarte, como plataforma de normalidade social. Com esta estratégia, as sociedades resistentes vão buscando novas reformas, de modo a integrarem-se nas novas normas. As sociedades ‘fugitivas’ resistentes, ora são ‘re-invadidas’ pelas novas ‘condições administrativas’,

131 “… existiam identificações pré-nacionais, étnicas, religiosas ou similares, entre as pessoas, e eram,

como ainda são, obstáculos mais do que contribuições à consciência nacional, e rapidamente mobilizadas contra os nacionalistas pelos senhores imperiais; daí os constantes ataques às políticas imperialistas do ‘dividir para dominar’, contra o encorajamento imperial do tribalismo, comunitarismo, ou o que fosse que dividisse os povos que poderiam ser, mas não eram, reunidos sob uma única nação” (Hobsbawm, 2008: 165).

ora são cordialmente convidadas a integrar a construção do ‘lugar-comum’, dependendo dos contextos.

Se nos basearmos nos trabalhos de Benedict Anderson, Anthony Smith e Ernest Gellner, percebemos que o protonacionalismo alcança-se geralmente em: (a) associações culturais, pois elas reivindicam os modelos das suas culturas (outrora negadas) como válidos, ao lado dos modelos ‘oficiais’ invasores/imperialistas (Anderson, 1983:39); (b) etnicidade surge com o propósito de defender as populações autóctones perante as injustiças sociais instaladas (Gellner, 1983; Smith, 1986). O conflito entre ‘Nós’ e ‘Eles’ – potencialmente identitário (Goffmann, 1988) – acompanha toda a evolução do protonacionalismo, já que a aproximação entre os ‘invasores’ e os ‘autóctones’ é inevitável, quer no novo mosaico demográfico ou novo tecido anatómico social, quer na vontade comum de viver em harmonia e beneficiando de uma cidadania inclusiva (cf. Hobsbawm, 2008: 203-210). Trata-se da construção dos capitais sociais e da construção das riquezas num mesmo território, mas com diferentes heranças sociais e distribuição desigual dos ‘espaços sociais’.

Nobert Elias resume isto desta maneira (Elias, 1994: 171):

Uma investigação mais minuciosa dos processos educacionais que desempenham papel decisivo na formação das imagens do e e do n s dos jovens lançaria mais luz, e rapidamente, sobre a produção e reprodução das identidades-E e N s ao longo das gerações. Mostraria como as relações cambiantes de poder, intra e inter- estatais, influenciam a formação dos sentimentos nessa área. Na verdade, a manipulação dos sentimentos em relação ao Estado e à nação, ao governo e ao sistema político, é uma técnica muito difundida na práxis social. Em todos os Estados nacionais, as instituições de educação pública são extremamente dedicadas ao aprofundamento e à consolidação de um sentimento-Nós exclusivamente baseado na tradição nacional.

Entre 1870 e 1917, a Europa produz ideias profícuas e interessantes sobre o Estado-nação (Hobsbawm, 2008): tudo parte da ‘invenção da tradição’, que alcançaria a formação de Estados nacionais modernos, tal como se exemplifica com o nascimento do Estado Socialista Russo (1917). Benedict Anderson – partindo da religião e parentesco – aponta os suportes culturais como bases de um Estado-nação.

De forma resumida, o ‘protonacionalismo’ precede ao ‘nacionalismo’ e é o período em que o discurso nacionalista se forma e se consubstancia. Esta fase fundadora do nacionalismo é marcada por, mais ou menos, quatros etapas: (i)

delimitação dos ‘espaços territoriais’ fragmentários face às rupturas, e inoperacionalização do sistema socioeconómico imposto (geralmente revogado como exploratório); (ii) a formação dos ‘espaços socioculturais’ divergentes torna-se efectiva e, devido ao desentendimento das partes, a descontinuidade da cooperação é celebrada pelas aspirações reaccionáras; (iii) o diálogo possível entre os ‘espaços territoriais’ e os ‘espaços socioculturais’ não elimina as predefinições ideológicas das ideias gerais divergentes; (iv) formação das ideologias nacionalistas como ‘vontades colectivas’ redefinadoras (geralmente assumidas por uma elite), a partir do passivo sociocultural auto/sobre-valorizado, para lançar ensaios de opções correctivas sobre as ideologias predefinidas.

Especificamente na Europa – no século XVI – assistiu-se à criação das ‘proto- nações’ com ideologias religiosas, no caso a Inglaterra protestante e a sua Igreja Anglicana, por exemplo. Seguiu-se a época, já no início do século XVIII, da formação de Estado-comércio, que expandiu fortemente as ‘identidades proto- nacionais’ (Anderson, 1983). Depois da revolução industrial nasceu o Estado- indústria, que além de propagar novas tecnologias, estes Estados serão fortificados pelo poder militar que conquista e expande as línguas das suas novas nações (Mann, 1992: 137-165).

ii. Nacionalismo

Definindo de forma breve o nacionalismo, os lexicógrafos têm utilizado dois termos ‘sinonímicos’: (1) patriotismo; (2) nacionalidade.132 Parece que, vulgarmente, estes dois termos são muito familiares. Além de significar ‘amor à pátria’, o patriotismo quer dizer ‘seios da mulher’, na linguagem popular. Desde a tenra idade e os primeiros anos de escolaridade, as crianças aprendem canções que celebram a sua pátria, assimilada a ‘aura da mãe’, razão pela qual, talvez, o mesmo termo signifique ‘seios da mulher’ ou, melhor, ‘seios da mãe’. Trata-se de uma imagem que nos obriga a retribuir algum ‘bem’ a alguém de quem fomos beneficiários durante os ‘anos da nossa inocência’. Os ‘seios da mãe’ constituem a imagem de uma ‘dívida impagável’,

132 O sentido de nacionalidade – que se associa ao nacionalismo – encontra duas explicações. Os

àquela que ‘cuidou’ de nós quando ‘ainda eramos inocentes/vulneráveis ao mundo’. Daí, como é cantado durante a formatura militar, a pátria (bem-comum) torna-se algo para defender mais do que as nossas ‘próprias vidas’133 (bem individual). Em língua francesa134, ‘nacionalismo’ indica o interesse nacional acima do interesse particular (sentido político, mas também popular).

Qual é a opinião dos especialistas que se debruçaram sobre o tema Anthony Giddens define o nacionalismo como (1981:190-191):

the existence of symbols and beliefs which are either propagated by elite groups, or held by many of the members of regional, ethnic, or linguistic categories of a population and which imply a community between them.

As observações que este autor faz sobre o ‘fenómeno nacionalista’ cativam- nos a atenção por três factores: (i) ele consagrou cerca de dois volumes à Crítica contemporânea do materialismo histórico, onde o autor associa este fenómeno às consequências da Revolução Francesa e, quantitativamente, esta tese é verificável; (ii) ele ilustra dois surgimentos e procura saber as razões: (a) surgimento do capitalismo ao mesmo tempo da criação do modelo de Estado-nação moderno (Giddens, 1981:191; Weber, 1982: 343-344); (b) a divergência no nacionalismo, por um lado tido como instrumento dos novos governos para congregar as diferenças, e por outro lado, o próprio nacionalismo aparentar-se como o instrumento de exploração das massas/laos pela elite/demos (Giddens, 1985:220); (iii) Giddens ilustra quanto o modelo europeu do nacionalismo retrata peculiarmente os seus problemas socioeconómicos e sociopolíticos (Giddens, 1981; 1985), e adverte-se de evitar toda generalização à la lettre deste modelo para o resto das sociedades.

Partindo de quatro fases (ou três, consoante vários estudiosos) do protonacionalismo – baseando nas densas pesquisas de Michael Mann – o nacionalismo não terá existido logo depois à expansão militar, que é ao mesmo tempo

133 Nos seus diálogos, Sócrates faz perceber isso aos jovens (ver adiante).

134 Os lexicógrafos ingleses são de opinião que “nacionalismo” é (Guiddens, 1981: 191):

1) Spirit or aspirations common to the whole of a nation. 2) Devotion and loyalty to one s own country; patriotism. 3) Excessive patriotism; chauvinism.

4) The desire for national advancement or political independence.

5) The policy or doctrine of asserting the interests of one s own nation viewed as separate from the interests of other nations or the common interests of all nations.

a industrialização. As razões deste atraso parecem-nos relativamente aceitáveis (Mann, 1992:162):

There were two principal causes: on the one hand, the emergence of commercial capitalism and its universal social classes: on the other, the emergence of the modern state and its professional armed forces and administrators. Conjoined by the fiscal-military pressures exerted by geopolitical rivalry, they produced the politics of popular representation and these formed several varieties of modern nationalism.

Se consideramos estas razões e contextualizarmos a História desta Europa expansionista, percebe-se que a elite/minoria optou por: (i) fabricar a ‘Cultura nacional’, congregando todas as componentes culturais dos grupos societárias do território reclamado como nação (através da Educação Nacional); (ii) retomar o termo povo (com toda a sua complexidade, que já sublinhamos atrás: demos, Laos, ethnos) para passar verniz por cima das ‘apelações separatistas’ e étnicas das populações; (iii) redefinir os ‘grandes centros’ das massas e modernizá-los para responder aos novos desafios. Destes ‘grandes centros’ de ordem cultural, social, económica e política, apenas as ‘Forças Armadas’ são tidas como fundamentais, pelo facto de impor ordem. Os dois primeiros pontos levam-nos a estabelecer uma comparação entre ‘etnicidade’ e ‘nacionalismo’, já que nas quatro últimas décadas do século XX, percebeu-se que, pelo menos na Europa, o nacionalismo está intimamente ligado com a etnicidade. Para percebermos isto, importa fazermos algumas releituras necessárias sobre as teses de Anthony Smith e as de Ernest Gellner, por um lado. Por outro, o que interessa principalmente nosso tema, fazer uma comparação sumária (e não profunda, pois seria motivo de um outro trabalho) das suas discussões teóricas, sublinhando o que nos interessa aqui neste trabalho.

John Breully (1993) traz uma discussão interessante e complementar entre A. Smith e E. Gellner135: no nacionalismo – quando é lançado – o seu conceito é distribuído por duas encenações: (i) ideologização dos suportes de uma dada nação étnica na concorrência doutrinal entre várias propostas; (ii) sobrevalorização do ‘Sujeito étnico’ no mercado democrático, possibilitado pela variedade e diálogo de

135 Ambos são tidos como teóricos importantes da nação ou Estado-nação moderno. Nesta lista dever-

se-á incluir Anthony Giddens que discutiu, também, o problema da multiplicidade daquilo que é moderno: moderno deixava de significar novo/actualizado; e tradicional deixava de ser antigo/arcaico (Giddens, 2002:25, 81). Nesta linha aconselhamos Eisenstadt, 2007

nações étnicas. Nos dois momentos, o nacionalismo aparece não como a ‘unicidade’ de uma nação modelo, mas, geralmente, como a ‘pluralidade somática’, quer de uma nação-modelo, quer de várias. A definição que nos fornece Anthony Smith sobre a etnia (e etnismo, que proporciona) parece explicar isto.136

Para Smith, a etnicidade congrega uma série de elementos simbólicos: as pessoas pertencem ao mesmo ancestral histórico ou mítico, partilham as mesmas crenças e modos de viver, apresentam o mesmo comportamento, falam a mesma língua, com seus respectivos idiomas, definem em convergência a sua nacionalidade, etc. Isto é, para Smith, a etnicidade pode ser resumida nos seguintes pontos: (i) um etnónimo identitário (Smith, 1991: 25); (ii) um ancestral-herói comum e mitos que associam os membros étnicos (Smith 1991: 33); (iii) sítios e reservas fundiárias invioláveis que ocupam; (iv) o grupo dispõe de uma cultura própria, língua, religião, usos e costumes, com as suas instituições (ou remanescência destas), observadas por cada membro do grupo (Smith 2002: 15). Estes pontos fazem da etnicidade o núcleo consistente da coesão comunitária, e ainda é operacional quando os membros constituintes são distanciados das suas terras sagradas. A nação é, na sua base, étnica tal como o autor tenta mostrar com o exemplo da nação Britânica ou Francesa. Ou seja, a nação étnica é o modelo-origem preponderante de Estado-nação moderno, pois o nacionalismo seria a sua manifestação na: (i) criação da literatura baseada na cultura étnica/comunitária (Sá, 2012); (ii) fomento da ‘nação orgânica’ a partir da homogenalização que alcança ao Estado independente; (iii) sobrevalorização dos sítios e terras históricas/sagradas; (iv) distribuição das funções sociais na base étnica.

Para Ernest Gellner, a nação é o conjunto de grupos societários que manifestam a vontade de viver juntos. Funda-se na base de: (i) vontade comum; (ii) identificação voluntária (individual ou colectiva); (iii) lealdade e solidariedade; (iv) medo (face às inseguranças) e/ou coerção e compulsão (Gellner, 1983: 15). Nesta base, a nação seria o resultado de duas condicionantes: por um lado, uma elite politica e intelectual basicamente pluri-cultural (à frente do Estado) que impõe uma cultura partilhada (consciente de cross culture) numa dimensão territorial nacional; por outro, a lealdade do indivíduo que garante o ‘bem-estar económico’ e cultural, e

136 Aconselhamos a edição de Gopal Balakrishnan, Mapping the Nation, onde os dois autores

apresentam artigos interessantes: Breuilly, 2000:146-174; Smtih, 2000:175-197. Outro artigo de alguma importância, mais ou menos igual, é o de Otto Bauer, 2000:39-77.

não busca fundamento na etnicidade, mas sim na nacionalidade (juridicamente definida pelo Estado: ‘contrato social’, na base da Constituição, entre vários grupos societários com propósitos de viver juntos). Assim sendo, Ernest Gellner acha que as nações não são necessidades universais, como os Estados, já que estes não emergem necessariamente nem forçosamente nas condições de uma nação (étnica/etnicidade) preexistente.

Assim sendo, Ernest Gellner define diacronicamente o nacionalismo na base da produção (pré-agrária; agrária; industrial), ao passo que para Anthony Smith o nacionalismo seria a politização e territorialização do sentido de etno-centrismo. Os dois autores admitem a importância da etnicidade no nacionalismo: enquanto E. Gellner prefere buscar as bases económicas como seu impulso, que alcança o Estado- nação como ‘vontade cultural e política de todos’, A. Smith137 busca na etnicidade uma ‘vontade comum histórica’.138

Em relação à tipificação das teorias sobre o nacionalismo, Josep Llobera apresenta-nos uma interessante proposta, acrescentando assim na lista de autores, outros nomes importantes de quem, também, consultamos alguns textos no nosso estudo.139 Fala-se de teorias:

(a) Primordialista e socio-biológica (Geertz, 1973; Reynolds, 1983); (b) Instrumentalista (Barth, 1969);

(c) Modernistas ou modernização das teorias (Smith, 1981140; Gellner, 1985141; Giddens, 1981e 1985142; Breuilly, 1993);

(d) Evolucionistas (Anderson, 1983).

Das leituras feitas por nós, preferimos mencionar aqui as linhas gerais de Anthony Smith e Ernest Gellner. Familiarizamo-nos com as demais teorias, e a tipificação que nos oferece Josep Lobera pareceu-nos uma justificação aceitável, já

137 “We cannot understand nations and nationalism simply as an ideology or form of politics, but must

treat them as cultural phenomena as well. That is to say, nationalism, the ideology and movement must be closely related to national identity, a multidimensional concept, and extended to include a specific language, sentiments and symbolism.” (Smith, 1991: vii).

138 Ambos os teóricos divergem apenas na escolha de propósitos: Gellner parte de uma leitura dos

Estados Unidos – um exemplo moderno – ao passo que Smith busca sua justificativa nas bases históricas.

139 Estamos a falar, principalmente, de Benedict Anderson; Paul Brass; Anthony Giddens; Eric

Hobsbawm, Frederick Barth, Erving Goffmann e Michael Mann.

140 Este autor se enquadra na ‘comunicação social’ que busca os ‘códigos e suas linguagens’ e sua

mundi-visãocomo linha de tipificação.

141 Ele é geralmente tido como ‘marxista’.

que os restantes teóricos convergem essencialmente na: (i) forma como é construído o nacionalismo; (ii) origem plural da nação e a importância do nacionalismo neste demorado processo.

Como vimos com diferentes especialistas, e podemos resumi-los, o nacionalismo é tido como responsável pela efectivação de Estado-nação (Giddens; Smith143; Hobsbawm144). Isto do ponto de vista da ‘leitura histórica’ dos factos: assim foi com a Itália, com a Alemanha, com a França, etc.

(a) Criação do sentimento de pertencer a um mesmo Estado-nação:

(i) Reconhecer e salvaguardar os ‘espaços socioculturais’ existentes e excessivamente divergentes, quer como ‘reserva sociocultural’ na definição da ‘identidade nacional’, quer através de ‘mitos’, quer através de ‘lugares-comuns’.

(ii) Alcançar as dimensões de ‘povo’ (um ‘só’ povo, no sentido figurado) com uma mesma língua (ou uma língua será oficial, outras serão nacionais por ser heranças socioculturais das nações-etnias) e constituir a ‘História comum’ dos novos membros da nação.

(iii) Tornar diversas ‘natio’ co-responsáveis do Território-Cidade, o que as tornava iguais; suscitar o sentimento de querer ‘viver juntos’, com a mesma igualdade perante a Lei, quer através de programas concretos na Educação Nacional, na distribuição dos rendimentos ao Território-povo e na proporção de ‘olhar’ o ‘assunto público’ de interesse do ‘cidadão comunitário’.

(b) Manter a ordem e salvaguardar os ‘espaços territoriais’:

(i) Unificar os ‘espaços territoriais’ só pode ser por via da ‘Defesa Nacional’, um conceito de ‘violência permitida’ contra toda a violação externa;

(ii) Criar diálogo nas relações de reprocidade dos ‘espaços socioculturais’, como forma de integração, oxigenando o processo (longo) de unificação dos ‘espaços territoriais’, através de símbolos de homogenesia (que se manifestam, comportamentalmente, em vontades colectivas).

143 Anderson, de modo igual, fala desta questão. Mas preferimos limitarmo-nos aos dois citados, por

razões simples: desenvolvem teorias logicamente sustentáveis e ricas, embora em Gellner, por exemplo, alguns factos não se enquadrem bem em algumas afirmações. Ele nega toda a força cultural nas sociedades industrializadas, enquanto recentemente, em todo o planeta, assistimos aos actos nacionalistas ou a insurreições com caril étnico, quer no Canadá/Quebeque, Catalunha/Espanha, País de Gales e Escócia, no Reino Unido, etc.

144 Eric Hobsbawm é de opinião que o Estado proporciona a nação (Hobsbawm, 2008). Daí, como

(c) Reconstruir um modelo onde as partes se revejam e percebam a inviolabilidade dos ‘pactos’ celebrados:

(i) Institucionalizar a amizade, através de pactos/alianças e da Constituição, requer a participação de todos, mas nem sempre é de imediato, por diversas razões: insatisfação entre as partes na integração ou partilha de recursos; incongruência ideológica ou mesmo das forças.

(ii) Delegar os poderes de execução no Estado: “conjunto das instituições que detêm o monopólio do uso legítimo da força dentro de um determinado território” (Weber, 2011). Ele representa a supremacia e cria uma nova simbologia de pertença (Hino Nacional; Bandeira, para citar os mais tradicionais). Na verdade, o Estado parece a emanação da nação, para tomar conta do que é público (visão republicana, talvez).

(iii) Reconhecer outros ‘centros de poderes secundários’ (sociedade civil, economia social, por exemplo) que auxiliam o Estado para resolver alguns dos inúmeros ‘problemas nacionais’ que afligem o povo (conjunto de populações unificadas sob um novo denominativo comum).

Acabamos de resumir aqui o processo que o nacionalismo leva para edificar uma Nação, ou melhor, Estado-nação. E como vimos, este processo carrega todas as contribuições necessárias para uma estrutura definicional da nacionalidade ou da cidadania que corresponde ineluctavelmente às particularidades históricas.

O caso americano – que serviu de modelo no nosso tema – tenta ilustrar que só pode existir um Estado-nação através da democracia. Teoricamente, percebe-se que o ‘diálogo nacional’, durante todo processo histórico do nacionalismo, se sirva da ‘vontade comum’ de pertencer à mesma nação. Como veremos, mais adiante, nem sempre é o caso.145

No documento Tese Patrício (páginas 85-101)