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ii Democracia: Staatsnation

No documento Tese Patrício (páginas 153-165)

a) Visão do Governo

O discurso que o Chefe de Estado angolano pronunciou na Assembleia Nacional, apresenta a visão do ‘Estado’262 – de acordo com o programa do

MPLA/Governo que ganhou as eleições de 2012 – sobre a construção de Estado- nação. Vamos sublinhar, neste discurso, o que nos interessa para o nosso tema, deixando de lado todo o ‘verniz político’: visão sobre a edificação do Estado-nação. Depois de tratarmos das teorias existentes e os seus estudiosos angolanos, depois de fazermos uma revisão panorâmica sobre as realidades dos países vizinhos de Angola, interessa-nos aqui levantar as ideias gerais, patentes neste discurso histórico.263 Tentaremos evitar cair nas demagogias políticas, limitando-nos apenas na leitura consistente dos propósitos cuja aplicabilidade constroem um Estado-nação, tal como traçado pelo programa do MLPA, que o presidente José Eduado dos Santos representa. Vamos começar por agrupar em ‘momentos’ as unidades discursivas do discurso:

Momento 1

x A vontade dos angolanos em viver em Paz e consolidá-la; x Angolanos têm um mesmo destino, estampado na Constituição; x Valores, princípios e objectivos diferentes, mas consensuais; x Constituição onde todos se revejam.

262 Consulta o anexo 2.

263 Histórico pelo facto de ser o primeiro discurso sobre Estado da Nação que um presidente angolano

Momento 2

x Necessidade de empresários e investidores nacionais fortes;

x Diversificar a economia angolana, evitando as vulnerabilidades que possam vir do mercado internacional;

x Comércio rural e criação de empregos;

x Reduzir a pobreza e garantir o desenvolvimento rural; x Habitação social.

Momento 3

x Condições de habitação social existentes nos meios rurais; x Condições existentes de Escolaridade;

x Estado actual do Ensino Superior em Angola;

x Estado actual das Unidades de Investigação e Desenvolvimento. Momento 4

x Plano Nacional de Emprego e Formação Profissional; x Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário; x Plano Nacional de Combate à Seca e Desertificação; x Reajustamento e Revitalização da Política Cultural;

x Criação de estruturas de formação básica, média e superior, para facilitar o acesso dos cidadãos ao conhecimento.

Momento 5

x Mapeamento dos Antigos Combatentes;

x Necessidade de oxigenar as Forças Armadas para garantir a integridade territorial e Preservar a Paz;

x Valorizar os antigos combatentes. Momento 6

x Poder autárquico;

x Estudos para aplicação das eleições autárquicas;

x Criação dos regulamentos das eleições autárquicas na Assembleia Nacional. Momento 7

x Luta contra branqueamento de capitais, financiamento do terrorismo; x Luta contra o Tráfico de Droga;

x Evitar confusão entre a criação dos ricos nacionais (supostos corruptos) em relação a campanhas ocidentais contra a Corrupção.

Momento 8

x Assegurar o bem-estar e o diálogo no seio da Família;

x Considerar a Mulher e a Juventude como capitais para o futuro da Nação.

No momento 1, percebe-se que Angola entrou na normalidade constitucional há pouco anos; a vontade colectiva estaria a favor da paz e da união, partindo da diversidade. Ainda que todos se revejam na Constituição – como o sublinha o Chefe de Estado – é importante salientar que a sua aprovação não contou com os deputados da oposição, em geral, apesar da na sua elaboração se ter contado com a participação de toda sociedade angolana (forças políticas, religiosas, sociedade civil, etc.).

Em relação aos momentos 2 e 3, vamos sublinhar primeiro: (i) o emprego e o comércio rural; (ii) reduzir a pobreza; (iii) habitação social. Angola é herdeira da segregação entre Cidade e Museke, de maneira que o comércio rural, que é realizado no museke, não permite importantes rendimentos, ao contrário do comércio da cidade. Fomentar o emprego nos meios rurais pode, de alguma forma, contribuir para a redução da pobreza. Com o Ensino os resultados serão consideráveis. O Ensino (básico, médio e superior) deve versar os problemas da comunidade; daí uma investigação sempre ligada ao desenvolvimento (rural). Estrategicamente, quando o investimento nacional tem um olhar endógeno, com apoio estatal e cooperação da sociedade, dois ganhos são de esperar: (i) aproximar o cidadão da criação das riquezas e buscar o bem-estar nacional; (ii) tornar rentável a mão-de-obra nacional e competitiva (valorizá-la e enriquecê-la), com a formação (qualificada).

Os planos nacionais mencionados no momento 4 e os tópicos do momento 5 – que na verdade é a responsabilidade do Estado perante o cidadão – esclarecem a utilidade do patriotismo como demanda do Estado-nação: a construção do Estado- nação precisa de que os seus constituintes expressem ‘sentimentos de pertença’, de ‘bons patriotas’, e, em contrapartida, o Estado irá protegê-los ou, em alguns casos, dignificá-los nas outras instâncias (condecorações, por exemplo). A ‘Paz’ é considerada pelo Governo angolano como um Património a preservar por todos, e é importante que seja cultivada no encontro das divergências, da alteridade e da responsabilização dos actos.

O momento 6 é importante na resolução dos problemas sociais de base: a eleição dos Administradores, pelos próprios munícipes, tem quatro vantagens: (i) a gestão administrativa de cada município será efectivada consoante as necessidades

dos munícipes; (ii) a celeridade do diálogo entre o ‘povo’, que cobra utilidade do seu ‘voto’, ao eleito, produz, de forma eficaz, uma participação directa do povo nos assuntos públicos; (iii) a conquista da felicidade do cidadão torna-se possível – ainda que dependa dos capitais académicos ou culturais – e exige qualidade do estatuto de cidadão264; (iv) as riquezas que o país recebe das suas taxas fiscais ou produções na

indústria ou no comércio, são potencialmente distribuídas ao povo, ao nível das autárquicas.

O momento 7 é uma posição tomada. A adesão às exigências internacionais de enriquecimento ilícito, ou as questões sobre o auxílio ao terrorismo indirecta ou directamente, não pode intimidar Angola a criar uma classe de ‘ricos’, ou projectar suas normas internas de enriquecimento lícito, dentro das realidades angolanas. O Presidente entende isto como muito importante na estratégia de fortificação do Estado-nação.

O momento 8 é óbvio. Partindo do pressuposto que a sociedade angolana é maioritariamente jovem e feminina – já que a guerra flagelou um importante capital humano masculino – fazer da Juventude e da Mulher angolanas o trampolim do Desenvolvimento, apresenta-se como uma estratégia para o Estado. Isto terá duas implicações: (i) qualificá-las, enquanto capitais humanos, e prepará-los para os desafios presentes; (ii) programá-las na revitalização da Política da Paz (acima mencionada).

De forma resumida, o Chefe de Estado apresenta-nos Angola como um Estado internamente fortificado, em busca de uma identificação dos problemas sociais e procurando traçar soluções concretas e dirigidas a esses problemas. O discurso parece traduzir que serão, desta maneira, criados os alicerces de um Estado-nação forte onde todos se identificarão plenamente. Isto é, o projecto do MPLA sobre Angola265 estaria em efectivação real: o discurso expõe, para além do que foi feito, o que se pretende fazer e estratégia da realização deste projecto de Angola como Estado-nação nos próximos tempos.

264 O cidadão passará a conhecer os seus direitos, os limites da vida pública, as leis, etc. Isto torna-o

cada vez mais exigente e ele cultiva o espirito de trabalho e de responsabilidade perante a ‘coisa pública’.

265 Este programa está patente no discurso da proclamação da República Popular de Angola, por

b) Visão da Oposição política

Optou-se aqui pelo discurso do líder da UNITA, Esaías Samakuva, que, aparentemente, pareceu uma réplica ao discurso que fez o Presidente da República. É verdade que há um sub-discurso partidário. Mas a análise limitar-se-á aqui nas questões pontuais e objectivos que interessam ao nosso tema. A seguir passaremos os momentos deste discurso:

Momento 1

x O estado da Nação apresentado pelo presidente da república é virtual, apenas imaginado nos gabinetes;

x Há paz militar, mas não Paz Social: o regime actual utiliza armas para reforçar a tirania, exclusão social, falsos valores, assassinatos selectivos, alienação cultural;

x O regime fomenta uma segregação, com base na filiação partidária, nos serviços públicos (administrações, hospitais, etc.), como por exemplo no caso da província de Moxico, Bié, onde as populações ganharam aversão às instituições públicas;

x Paz é diálogo, respeito mútuo, liberdade e igualdade. O regime de Luanda promove o contrário e o actual Presidente seria o factor da instabilidade política;

x Há exclusão no desporto (dando o exemplo do caso de Demarte Pena, neto de Jonas Savimbi), nos serviços públicos (saúde, educação…) em relação aos militantes da UNITA.

Momento 2

x Violação sistemática dos Direitos Humanos;

x Manipulação judiciária e detenções arbitrárias e desaparecimento não explicado, dos manifestantes;

x Os Tribunais passam a ser instrumentos da ditadura. Momento 3

x Há rumores e indícios da existência das armas químicas, adquiridas para utilizar contra os que são contra o regime de Luanda. Talvez seja por isto que Angola ainda não ratificou as Convenções contra aquelas armas;

x Serão os desmaios, inexplicáveis, em algumas escolas, um ensaio para atentar contra aqueles que se possam manifestar contra o regime de Luanda Porquê o silêncio das famílias das crianças vítimas destes desmaios

Momento 4

x Estrutura económica de Angola (agricultura, pesca, florestas, indústria transformadora, indústria mineira, serviços, etc.) está desequilibrada;

x Convinha investir no capital humano (educação, saúde, pesquisa, inovação) para depois visar outros domínios, para buscar equilíbrio na economia angolana:

x Propõe-se que o “petróleo” financie a criação do capital humano, a auto- suficiência alimentar e industrialização de Angola, para melhor diversificar a economia angolana.

Momento 5

x O Presidente não justificou vários gastos; falta de transparência, competividade e probidade nas transações comerciais do Estado;

x O Património do Estado aproxima-se de ser o património privado do presidente da república;

x Há nepotismo, clientelismo, corrupção e peculato (que são crimes) promovido pelo presidente da república, ao confiar fundos públicos aos seus filhos; x Pretendem-se grupos económicos fortes e competitivos, mas limpos de ponto

de vista fiscal;

x Esconde-se dinheiro através de “segundas” pessoas, no caso a construtora Soares da Costa, onde, na sua base, estaria o próprio presidente da república: Angola é um dos países mais corruptos do mundo.

Momento 6

x Desta centena de milhares de antigos combatentes e veteranos de guerra, uma boa parte dela não é, na verdade, beneficiária da cobertura da Caixa Social, por razões partidárias;

x Os verdadeiros antigos combatentes e veteranos de guerra estão na miséria e abandonados nos meios rurais, e mesmo nos musekes de Luanda.

Momento 7

x Não há crise entre Angola e Portugal;

x Há crise entre os valores cultivados em Angola face aos valores existentes em Portugal, ou seja, de acordo com o ranking do International Transparency, Portugal está no 33 lugar, ao passo que Angola se encontra no 157 lugar;

x Construir a Nação angolana repudiando a cultura de falsos valores e erradicando o estigma da Exclusão.

Interessa-nos comentar brevemente cada momento. No primeiro momento, a réplica da oposição política angolana aceita a existência da ‘Paz militar’, mas nega a existência da ‘Paz Social’. Sublinha a ‘exclusão sistemática’ que se verifica no país, quer na distribuição das riquezas (beneficiar dos serviços da Saúde Pública, Educação Pública, etc.), quer na aceitação das contribuições destas riquezas e apoio de outras personalidades266, faz com que Angola não seja ainda uma nação. Importa mencionar, também, a falta de liberdade, que não favorece a Paz social. A ideia impressa neste discurso do líder da UNITA é que Angola, que o MPLA dirige, não é o ‘espaço’ daqueles que pertencem à UNITA, caso consideremos os seguintes pronunciamentos:

(i) “…na distribuição de sementes e de fertilizantes, esta segregação é praticada. Quem é do MPLA recebe sementes e adubos do Estado. Quem é da UNITA, é excluído” (cf. Anexo 2)

(ii) “o Administrador [na província do Bié267] resolveu ir

fazer um Comício para dizer aos cidadãos que os angolanos da UNITA não têm direitos de cidadania. Não podiam exercer o direito de reunião no centro da cidade. ‘O lugar deles não é aqui, é lá, à saída...para irem às matas mais rapidamente.’, dizia o representante do Presidente da República!”

A‘Res pública’ (coisa pública que o povo confia aos seus representantes) deve cobrir todos os espaços sociais do país, mesmo aqueles que não teriam directamente votado no partido do poder, para desempenhar as funções de governação. Ora, o discurso do líder do maior partido da oposição coloca dois aspectos: (a) Em Angola não estaria em construção o Estado-nação, ao fazerem-se estas exclusões sistemáticas; (b) o marasmo da Paz Social – que deveria ser a etapa a seguir – compromete o desenvolvimento do ‘Homem Angolano’ (como se verificará a seguir).

266 Por ex., Demarte Pena que, por ser descendente de um dirigente da UNITA/Jonas Savimbi, viu as

suas conquistas menos sublinhadas e aproveitadas. 

267 Esaías Samakuva cita três municípios (Umpula, Ringola e Chicala) e não percebemos a qual dos

Os momentos 2 e 3 são cruciais. Na visão da UNITA o ‘regime de Luanda’ manteria em ‘cativeiro’ as instituições judiciárias, tendo inclusive se servido delas, como marionetazitas, para abafar as ‘vozes contrárias’, sem receio de responder pelo seu comportamento inadequado. Das informações conseguidas, a UNITA deduz que Angola terá adquirido as armas químicas, cuja utilização, assim insinua a UNITA, poderá ter como único atingir as ‘vozes contrárias’ ao regime.

Os momentos 4 e 5 são complementários. Por um lado, ironiza sobre os lucros que a economia angolana gere, sem portanto realizar os propósitos sociais pelos quais a economia existe. Uma das razões seria o seu desequilíbrio e sobre a prioridade dada às ‘coisas’ e não ao ‘capital humano’. Na verdade, os lucros económicos não fazem sentido quando os habitantes de uma localidade, com subsolo rico em minerais e explorado, não tem escola, nem posto médico. Por outro, lança a inquietação sobre uma larga nebulosidade reinante quanto à distribuição de orçamentos, e a sua devida fiscalização. A questão principal que a UNITA coloca é: será uma forma de esconder, nos paraísos fiscais, o dinheiro roubado ao Estado Angolano Para a UNITA, Angola seria dirigida por ‘gatunos’ (cleptocracia). De modo igual, a UNITA discorda sobra a criação de uma nação angolana baseada no nepotismo ou peculato, mencionando casos onde a família do presidente beneficia dos fundos públicos, sem concurso, ou com base em claro clientelismo. Ou ainda, que sejam utilizados nomes de outras pessoas na aquisição ‘grupos empresariais’268. Isto é, a UNITA concorda que a criação de ‘grupos empresariais’ pode garantir emprego, dinamizar a economia e trazer riqueza para o país, mas desde que esse processo seja limpo fiscalmente, e que a sua proveniência não esteja ligada à corrupção ou a falsos valores.

O momento 6 traz uma outra visão sobre aqueles que beneficiam da cobertura social para os antigos combatentes ou veteranos. Denuncia-se aqui o aproveitamento deste instrumento institucional de acomodar os antigos combatentes para recompensar ‘pessoas da cor partidária’, lamentando que existam os verdadeiros antigos combatentes abandonados à sua sorte, numa extrema miséria, nos meios rurais provinciais e mesmo nas zonas de extrema pobreza em Luanda.

O último momento que interessa ao nosso debate relaciona-se com a posição do Estado Angolano (anunciado pelo Presidente da República) quanto à relação

estratégica entre Angola e Portugal. A UNITA defende a projecção de Angola na arena internacional dos valores humanos, nos quais se funda qualquer Estado-nação moderno. Refutando a postura do ‘regime de Luanda’ sobre a cultura de falsos valores ou da exclusão, a UNITA vê Portugal como exemplo a seguir, pela sua política de transparência. Ela busca as causas da ‘ruptura’ do governo do MPLA com Portugal no aproveitamento das funções públicas do presidente da república, para pressionar tribunais portugueses.

Resumidamente, o discurso de Esaías Samakuva ilustra que, partindo de Staatsnation, Angola não é Estado-nação, nem tão pouco em construção pela falta de alicerces da ‘Paz social’, pela predominância dos falsos valores e, por fim, pelo nível preocupante de corrupção e nepotismo, que são armas contra a vontade de construir um ‘lugar-comum’ para a Nação que é Angola.

c) Considerações

Há quatro considerações que, na segunda parte, iremos desenvolver:

i. Angola como um ‘lugar-comum’ definido, portanto, de formas divergentes – que na verdade parte dos projectos partidários sobre a definição de Angola – sem, portanto, que haja pretensões à divisão de Angola, tal como se pretendeu nos anos anteriores, com Jonas Savimbi (Sango, 1996: 138);

ii. Paz: enquanto o Governo menciona os ganhos da Paz militar, a UNITA denuncia as práticas que atentam à Paz Social. O primeiro projecta programas nacionais capazes de alicerçar o Estado-nação, ao passo que o segundo denuncia as anomalias incrementadas e normalizadas na sociedade angolana, e dai possíveis de comprometer o ‘lugar- comum’;

iii. A definição de ‘Quem é Angolano’ não se limita apenas na confirmação jurídica, mas sobretudo na participação no destino do país e na inclusão cívica que o Estado estabelece, desde a distribuição das riquezas até à protecção do cidadão, passando pela salvaguarda dos valores;

iv. Duas vias podem levar ao Estado-nação: (i) ‘Res Pública’, onde os eleitos (Presidente, seu Executivo, e Assembleia)

protegem a ‘coisa pública’; (ii) ‘Democracia’, onde o poder pertence ao povo (Demos: Elite; massa popular) e que, por seu turno, o delega nos seus legítimos representantes. Ambos os discursos nos interessam para os confrontar com as nossas recolhas no terreno em todas províncias de Angola.

Das comparações que se podem fazer entre os dois pronunciamentos – já que outras forças políticas não se pronunciaram – podemos avançar o seguinte:

a. No primeiro momento, o Presidente da República serve-se da ‘vontade comum sobre a Paz’ como um dos alicerces constitucionais. A visão da oposição reitera o aspecto exclusivista destes alicerces. O fundo desta comparação resulta da visão dialéctica do Urbe/Governo e Rural/Oposição. Sendo o Rural uma reserva humana e social para edificação de Estado-nação, a oposição expõe a sua negação a legitimidade quanto à operacionalização destes alicerces constitucionais, alegando ignorância da anatomia social do Rural na planificação do Urbe. Em resumo, é interessante o espirito dialéctico da contrariedade que, na construção de Estado-nação, contribuirá para o fortalecer. b. No momento 2, o Presidente da República de Angola traça as

estratégias para um ‘bem-estar’ generalizado, que consiste em fazer do angolano um produtor de ideias, de riquezas, etc., e não um mero consumidor. Este momento é contínuo nos outros dois momentos subsequentes ( 3 e 4). A oposição contraria a projeção deste presumido ‘bem-estar generalizado, por existir ainda a violação dos direitos fundamentais do homem. Ela pressupõe que haja um plano de manuseio das instituições que constroem o Estado-nação, por parte do Governo. Aqui o diálogo, um pouco azedo, precisa de despistar a plataforma política para alcançar a ‘sociedade’.

c. Nos outros momentos ( 5, 6, 7 e 8) nota-se, no discurso do Presidente, a necessidade de criar uma ‘História Comum’, fora das cores partidárias, com o poder autárquico, etc. A oposição, como nos casos anteriores, não concorda com os procedimentos (metodologias de acção) que, para ela, datariam do ‘acto constitucional’, quando se aprovou unilateralmente a Constituição Angolana, que vigora até hoje. O interessante aqui é o seguinte: mantém-se a vontade de pertencer a uma mesma história que levará Angola a ser o ‘lar comum’ de todos.

As metodologias e as visões sobre a construção do Estado-nação angolano divergem entre os actores políticos angolanos, e, pensamos ser esta a causa de heranças políticas diferentes: isto é o sinal de uma vontade comum em construir, a longo tempo, um modelo de nação que responda aos problemas dos angolanos, no seu todo. Esta diferença de forças e a confrontação das mesmas, enquanto diálogo permanente e vontade de pertencer a um espaço-comum, constituem a evidência da criação de um Estado-nação. Destes depoimentos políticos, aproveitaremos dois momentos aqui expostos, numa discussão metodológica de comparação com os nossos trabalhos de campo.

Capítulo I:

PROBLEMÁTICA E METODOLOGIA

No documento Tese Patrício (páginas 153-165)