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Barriers to risk communication: media, civil protection and civil society views

No documento Vertentes e Desafios da Segurança 2019 (páginas 198-200)

Pedro Correia1, Ana Paula Oliveira1

Resumo

A proteção e socorro assumem uma posição central na discussão e preocupação pública e política do país. Essa discussão e preocupação tem sido crescente ao longo dos últimos anos, especialmente em 2017 na sequência dos acidentes mortais associados aos grandes incêndios rurais. Parte dessa discussão prende-se com a comunicação do risco, a qual assume um papel preponderante na informação e preparação dos cidadãos, pelo que é um instrumento fundamental de gestão do risco.

Com este trabalho aferiram-se os fatores facilitadores e perturbadores da comunicação do risco entre Agentes de Proteção Civil (APC) e os Órgãos de Comunicação Social (OCS). Das entrevistas realizadas a 12 profissionais da comunicação (6 representantes dos OCS e 6 representantes de entidades ligadas à proteção civil) e do inquérito realizado a 200 cidadãos, conclui-se que para fazer face ao hiato que existe na transferência de informação entre OCS e APC é preciso que estes trabalhem conjunta e ativamente, utilizando uma linguagem comum. A formação é, pois, fundamental para a articulação da comunicação entre todos e para a difusão da informação. Além disso, os profissionais de comunicação, quer dos OCS quer dos APC, deveriam estar dedicados em exclusivo e deveria haver mais transparência na transmissão das informações entre os diferentes intervenientes.

Palavras-chave: Comunicação do Risco; Gestão do Risco; Órgãos de Comunicação Social; Proteção Civil.

Abstract

Protection and relief assume a central position in the portuguese public and political discussion and concern. This discussion and concern has been growing over the last few years, especially in 2017 following the fatal accidents associated with major rural fires. Part of this discussion concerns risk communication, which plays a major role in informing and preparing citizens and is therefore a key risk management tool.

This work assessed the facilitating and disturbing factors of risk communication between Civil Protection Agents (CPA) and the Media. From interviews with 12 communication professionals (6 representatives from the Media and 6 representatives from civil protection organizations) and the survey of 200 citizens, it can be concluded that in order to address the gap in information transfer between OCS and APC they need to actively work together using common language. Formation is, therefore, fundamental for the articulation of communication between all and for the dissemination of information. In

1 ISEC Lisboa – Instituto Superior de Educação e Ciências de Lisboa, Alameda das Linhas de Torres, 179,

addition, communication professionals from both the CBOs and the PCAs should be exclusively dedicated and there should be more transparency in the transmission of information between different actors.

Keywords: Risk Communication; Risk Management; Media; Civil Protection.

1. Introdução

Numa sociedade cada vez mais globalizante e onde o conhecimento dos riscos e perigos à escala mundial corre à velocidade da luz, graças à crescente evolução das tecnologias de informação, a palavra “segurança” tem vindo a ganhar maior expressividade na organização das civilizações.

A consciência dos cidadãos sobre as catástrofes e desastres a que podem estar sujeitos minimiza o seu grau de vulnerabilidade em relação a estes acontecimentos – quanto maior a informação e a preparação dos cidadãos para estes fenómenos, maior será a sua preparação para zelar pela sua segurança. Veja-se, por exemplo, os eventos de 2017 em Portugal, de devastação florestal, de destruição de milhares de hectares produtivos, de comunidades afetadas, e de elevado número de mortes. Diversos relatórios de ocorrências desses incêndios rurais evidenciaram a fragilidade da situação existente e a importância da comunicação como um fator determinante de prevenção e gestão do risco. Para além disso, foi também evidenciada a necessidade de uma maior e melhor articulação entre os Agentes de Proteção Civil (APC) e os órgãos de Comunicação Social (OCS) no sentido de garantir a segurança dos cidadãos. Torna-se, pois, fundamental que os cidadãos sejam devidamente informados sobre os riscos que correm, para que eles, em vez de vítimas, se transformem em agentes de proteção civil (Alexander, 2002).

A comunicação do risco surge, pois, na sequência da necessidade de prevenir e capacitar o público-alvo através de um aumento de consciência, conhecimento, atitudes positivas e possíveis intenções positivas de comportamento face ao risco (Jesus, 2013; Lofstedt, 2003). Portanto, ao incluir conselhos sobre comportamentos redutores do risco e ao prevenir e controlar o alarme social decorrente de ameaças reais (explícitas) ou percecionadas (implícitas) à segurança e bem-estar das populações, a comunicação do risco assume-se como um instrumento fundamental de gestão do risco. Tal é a sua importância, que Rangel (2006) define a comunicação do risco como uma “tecnologia de controlo de riscos”.

A comunicação do risco pelos organismos e entidades de Proteção Civil (PC) deve ser analisada sob duas vertentes: (1) a que se produz numa perspetiva de prevenção a longo prazo, dotando a população de informação sobre conceitos a colocar em prática em caso de crise, abrangendo essa comunicação todas as faixas etárias; e, (2) a informação que se produz em plena situação de crise, dando nota do risco que as populações correm naquele momento ou nas horas sucedâneas.

Atualmente vivemos numa sociedade de risco e numa sociedade “mediatizada” (Silveirinha, 2007), pelo que os órgãos de Comunicação Social (OCS), também denominados de media, contribuem para a compreensão que temos da sociedade e do mundo em que estamos inseridos (Luhman, 2000). Ou seja, é através dos OCS que determinados riscos ganham visibilidade enquanto tal. Portanto, a “comunicação do risco, nas situações de crise, tem nos media um protagonista essencial, quer servindo de veículo a informações (alertas,

relatórios, recomendações) das entidades encarregues da segurança pública, quer produzindo as suas próprias informações - os media, como máquinas de produção de notícias, não podem ser ignorados nem enganados” (Serra, 2006). Num cenário de crise, os profissionais da comunicação devem não só divulgar instantaneamente a informação considerada vital com o objetivo de mitigar o pânico e o medo, mas também devem promover a confiança, revelando-se este um elemento crucial numa situação de crise (Lundgren & McMakin, 2009; Jesus, 2013). Os OCS são, pois, um importante meio de propagação de notícias e comunicação em massa com o poder de influenciarem determinadas tendências, agindo como uma verdadeira força social.

O papel dos OCS na comunicação do risco, nomeadamente em plena situação de crise está, inclusive, previsto na Lei n.º 27/2006, de 3 de julho1, alterada pela Lei Orgânica n.º 1/2011, de 30 de novembro2 e pela Lei n.º 80/2015, de 3 de agosto3, na qual é referido que a “declaração de uma situação de alerta determina uma obrigação especial de colaboração dos meios de comunicação social, em particular das rádios e das televisões”. O reconhecimento da importância dos OCS levou mesmo à criação de um oficial de ligação no Teatro de Operações (TO) para dar informação no local sobre o que se está a passar. É uma forma de garantir que o jornalista é bem informado, com base numa fonte fidedigna.

Contudo, essa informação nem sempre é transmitida pelos OCS da forma mais correta nem tão-pouco corresponde à verdade. Isto porque, para (cor)responder a uma sociedade ávida de notícias, os OCS sobrepõem a verdade da própria notícia na busca da liderança das audiências. E, dessa forma, vão procurar informação a fontes menos fidedignas e comentem gafes constantes na transmissão da notícia. A má transmissão da notícia ou falta de credibilidade, muitas vezes por falta de informação ou de fonte segura, faz com que o cidadão comum tenha o conhecimento errado da situação. Por outro lado, quando na notícia é utilizado um vocabulário pouco leigo e percetível, por muito correta que seja a informação e de fonte credível, a notícia não consegue ser descortinada ou absorvida por quem está a ouvir/ver, por falta de clareza na interpretação das palavras transmitidas. De ambas as formas o objetivo não é cumprido – informar o cidadão do risco.

O facto de os OCS tratarem a comunicação do risco como qualquer outro tipo de comunicação, e balizados pelo princípio do “valor-notícia” que delimita a linha editorial, aliado à “loucura” pela liderança das audiências, tem vindo a deteriorar a qualidade da comunicação do risco. Criar uma falsa notícia será mais importante que a verdade dessa mesma notícia?

Outro constrangimento na comunicação do risco está relacionado com as pessoas envolvidas nesta relação de comunicação. Por um lado, nem sempre o jornalista que passa a informação o faz da maneira mais adequada, uma vez que nem sempre dispõe de conhecimento e experiência para o fazer. Por outro, nem sempre os APC que falam aos OCS estão preparados para tal. É indiscutível que os OCS assumem um papel de extrema importância na divulgação da informação, apesar dos constrangimentos existentes, para que um acontecimento ao nível da segurança e proteção civil se torne noticiável.

1Lei n.º 27/2006, de 3 julho. Diário da República n.º 126/2006, Série I de 2006-07-03

2 Lei n.º 1/2011, de 30 de novembro. Diário da República n.º 230/2011, Série I de 2011-11-30 3 Lei n.º 80/2015, de 3 de agosto. Diário da República n.º 149/2015, Série I de 2015-08-03

No documento Vertentes e Desafios da Segurança 2019 (páginas 198-200)