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Os clusters não são formações independentes de um ou mais tipos de participantes. Etzkowitz (2002) estruturou o modelo de triplo hélice que captura a interdependência dos papéis desempenhados pelos três tipos de atores: setor público, setor privado e as instituições de ensino superior e pesquisa. A sobreposição e complementariedade dos três tipos de atores criam e sustentam a inovação, além de flexibilizar seus papéis, pois segundo o autor, a universidade, além de educar e capacitar, é também um dos fundadores de empresas através de instalação da incubadora; a indústria, além de geração de bens é um educador através da universidade da empresa e o governo é um investidor de risco. A Figura 5 retrata o triplo hélice e suas relações de interdependência e complementariedade.

Figura 5 - Triplo hélice

Estado

Academia Indústria

Fonte: Etzkowitz (2002)

6 N.A. Esta é uma tradução não literal para clusterization. Como este é um tema de discussão e interesse de

grande parte dos países, que o fazem na língua inglesa, achou-se interessante usar um termo com base no original anglicano.

Andersson et al. (2004) em via geral concorda com Etzkowitz (2002) mas, acrescenta ser vital também, a presença de instituições financeiras para o desenvolvimento de clusters. Os autores entendem que os atores típicos de clusters bem-sucedidos, são:

 PME, empresas grandes (multinacionais ou nacionais);

 Instituições de pesquisa (universidades, laboratórios, faculdades);  Instituições financeiras (bancos, empresas de investimentos privados);  Atores públicos (nacional, regional e local).

Os clusters são constituídos por três recursos básicos, capital humano, capital social e capital financeiro que devem se distribuir de forma dinâmica em seu ambiente para que sejam engrandecidos num processo de reforço mútuo (PORTER, 1998; SÖLVELL; LINDQVIST; KETELS, 2003). Segmentos industriais ou clusters de indústrias bem-sucedidos de uma região, mantém por anos sua vantagem competitiva, apesar das inúmeras tentativas de imitação. A sustentação desta vantagem não é conseguida por meio do acesso a financiamentos ou ao mercado global de produtos e serviços, mas, por meio da combinação de recursos internos e externos localizados nos ambientes nacional e local. É fácil compreender-se que componentes e equipamentos padrões circulam ao redor do globo, sendo acessível a qualquer um, enquanto a última palavra em tecnologia é frequentemente aprimorada por meio da interação entre empresas e instituições. Sölvel, Lindqviste e Ketels (2003, p. 21, tradução nossa), mencionam que “Enquanto o capital físico (informações digitalizadas, componentes, maquinário, etc.) e até certo ponto capital humano viajam pelo mundo, o capital social está incorporado na cultura local e instituições”. A Figura 6 retrata a colocação dos autores.

Figura 6 - Os três tipos de recursos e sua mobilidade Local Global Mobilidade Estrangeiros Projetos Cientístas Trabalhadores habilidosos Capital Financeiro e Físico Instituições para colaboração Redes pessoais Patentes Maquinário Componentes Capital Humano Capital Social

Fonte: Sölvel, Lindqviste e Ketels, 2003, p. 21.

O capital financeiro e físico é constituído pelas máquinas, equipamentos, componentes, patentes e projetos. O capital humano é constituído por todos os recursos humanos que contribuem para o cluster. Cientistas transitando em qualquer ambiente podem desenvolver pesquisas que contribuam para o cluster, estrangeiros altamente qualificados podem ser contratados e os trabalhadores devem ser capacitados para facilitar o sucesso do cluster. Do capital social participam as instituições para colaboração e as redes pessoais que fazem parte do alicerce local de sustentação do cluster (SÖLVEL; LINDQVISTE; KETELS, 2003). Andersson et al., 2004, p. 21, tradução nossa, completa afirmando que “As fontes de capital social incluem: i) família; ii) escola; iii) a comunidade local; iv) as empresas; v) a sociedade civil; vi) as instituições do setor público; vii) o gênero e; viii) a etnia”.

Pellizari; Scheffer e Rosendo (2011) afirmam que dentro da indústria, as PME (pequenas e médias empresas) são a base do processo de formação de um cluster empresarial. Teichler et al. (2015) em trabalho realizado para o Cluster Observatory da Europian Commission7 - Comunidade Europeia, foram menos enfáticos, mas ainda retratam a importância das PME na formação dos clusters de indústrias quando menciona que: “Clusters são grupos de empresas especializadas - frequentemente PME - e outros atores coadjuvantes relacionados que cooperam estreitamente, juntos em um determinado local”.

7 O Cluster Observatory da Europian Commission é o órgão executivo que representa os interesses da União

O setor da indústria naval, com sua característica heterogeneidade de sistemas componentes de um navio, oferece oportunidade para o surgimento de empresas em diferentes níveis na dimensão técnica. Podem existir oportunidades quase ilimitadas para empresas, desde as direcionadas a elaboração de projetos até as executoras de carpintaria naval, o que facilita o entendimento da grande quantidade de PME no cluster marítimo da Holanda (WIJNOLST, 2006).

No entanto, uma aglomeração de PME em determinada região não define, necessariamente a existência de um cluster, pelo menos, como será constatado mais adiante, não define a existência de um cluster consolidado e competitivo. Para ser identificado como tal, o aglomerado necessariamente já desenvolveu um sentido de cultura comunitária, com processos de cooperação, complementariedade, integração, interdependência, especialização e nivelamento entre seus membros, o que induz ao reconhecimento de efeitos que não podem ser atribuídos a uma empresa isoladamente, mas a performance de seu conjunto, caracterizando a atuação de natureza sistêmica. Por esta razão, Zacarelli et al. (2008) enfatizam ser um cluster de negócios um sistema complexo aberto.

Considerando ser um cluster um sistema complexo aberto, com muitas variáveis de interferência, inclusive o homem, fica evidente a dificuldade de sua modelagem teórica dentro de uma lógica de cadenciamento de processos que transite analogamente entre empresas de clusters diversas. A aceitação desta possibilidade deveria passar pelo entendimento da existência de igualdade de meandros de funcionamento e interferências nos diversos clusters do mundo, o que é totalmente improvável.

Em função deste postulado, procurar-se há desenvolver uma proposta que foque na implementação das atividades estratégicas que deem sustentação ao desenvolvimento e a consolidação de um cluster de indústrias do segmento naval, e ao desenvolvimento de uma lógica racional de opções de sequenciamento de ações, que sejam dependentes do nível de desenvolvimento do cluster.

Amisse; Muller e Vargas-Prieto (2009) explicam e propõem analisar a dinâmica da constituição de clusters por meio de duas lógicas, a profissional e a histórica:

a) A lógica profissional está relacionada a cooperação iniciada por meio de projetos de colaboração de interesse imediato (comercialização, marketing, logística, etc.), ou seja, existe uma coordenação de ações com gerenciamento dos interessados no sentido de promover ganhos gerais. É uma arquitetura de ações estratégicas top-down (de cima para baixo). Neste caso, a organização supra-organizacional funciona como entidade organizadora, que identifica

necessidades do cluster e articula soluções. É a visão Porteriana, (PORTER, 1990) que muito embora reconheça a importância do processo de relacionamento informal, de longo prazo, enfatiza a importância das estratégias mais imediatas;

b) A lógica histórica refere-se à construção de relações informais de longo prazo por meio de alianças patrimoniais geradas a partir de confiança, usualmente da relação pessoal histórica de líderes das empresas envolvidas, de aquisição de ações e da criação de joint-venture. O desenvolvimento das articulações é mais natural com objetivos mais distantes e com menor amplitude de interferência. No entanto, a tendência é, no médio prazo, de favorecer a coordenação entre demais membros. Ela contribui para sedimentar relações estratégicas iniciadas pela lógica profissional

Segundo a pesquisa dos autores, cada lógica dá origem a diferentes benefícios, bem como a diferentes inconvenientes. Porém, “Uma questão importante para clusters é conseguir combinar as duas lógicas para a construção de vantagens competitivas duradouras, enquanto permanecer capaz de se adaptar às novas condições de concorrência” (AMISSE; MULLER; VARGAS-PRIETO p.1, 2009).

Amisse; Muller e Vargas-Prieto (2009) afirmam sua pesquisa ter revelado que países europeus adotam referências diferentes na estruturação de suas políticas destinadas ao auxílio de clusters. França, Bélgica e Inglaterra fazem explícita referência aos ditames da lógica profissional Porteriana, enquanto que a política italiana é mais influenciada na lógica histórica da literatura sobre distritos como estudado por Brusco (1982) e Becattini (1991). Pellizari; Scheffer e Rosendo (2011) citam que Espanha e Portugal adotam uma combinação das duas lógicas.

3.3 FUNDAMENTOS CONDICIONANTES DO SUCESSO DE CLUSTERS