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CLUSTER COMO AGENTE DA DINÂMICA DE INOVAÇÕES

Muitos autores, entre eles, (Porter, 1980; Crocco et al., 2006; Suzigan, 2006; Zaccarelli et al., 2008; Nooteboom 2006; Shin e Hassink, 2011; Monteiro; Noronha e Neto, 2103) entendem que um cluster tem impacto positivo sobre a capacidade de inovação das empresas. Lindqvist; Ketels e Sölvell (2013) explicam que o cluster é importante para inovação porque os diferentes tipos de atores têm capacidade de suportar uns aos outros e as novas ideias podem surgir de encontros e interações planejados ou não. As inovações geradas destas interações geralmente são mais bem adaptadas as necessidades e capacidades das empresas.

The Gallup Organization desenvolveu dois relatórios chamados Innobarometer, um em 2004 e outro em 2006 para a European Commission que tiveram a proposta de serem

barômetros instantâneos das competências produtivas de países europeus. Nestes relatórios, The Gallup Organization (2006) desenvolveu uma pesquisa nos 25 Estados membros da União Europeia, em mais quatro países candidatos (Bulgária, Croácia, Roménia e Turquia), bem como na Noruega, Suíça e Islândia para verificar o papel do cluster como facilitador de inovações na Europa. As entrevistas foram realizadas pela The Gallup Organization em 3.528 empresas escolhidas aleatoriamente entre 20.994 situados em clusters, entre o período de 28 de maio a 5 de julho de 2006. Os resultados foram comparados com os encontrados na pesquisa anterior do The Gallup Organization (2004) quando foram pesquisadas somente empresas europeias consideradas inovadoras, porém, situadas fora de clusters.

Segundo o The Gallup Organization (2006, p. 12, tradução nossa) este estudo concluiu que:

Empresas (aleatórias) que operam em ambiente de cluster são mais inovadoras do que as empresas europeias mais inovadoras entrevistadas pela Innobarometer 2004: 78% das empresas do cluster introduziu recentemente novos produtos, ou produtos significativamente melhorados em comparação com os 74% encontrados pelo Innobarometer 2004, quando foram entrevistados apenas as empresas inovadoras. Da mesma forma: 63% das empresas do cluster introduziram tecnologia de produção inovadora, em comparação com 56% encontrados no Innobarometer 2004 entre as mais inovadoras empresas da União Europeia.

No entanto, falhas de comunicação e de colaboração são comuns na maioria dos clusters, por isso a importância das organizações supra organizacionais bem estruturadas de forma a incentivar as colaborações nos diversos níveis (ZACCARELLI et al., 2008; LINDQVIST; KETELS; SÖLVELL, 2013).

Lindqvist e Sölvell (2011) identificaram sete possíveis lacunas no processo de inovações em clusters; cinco internas e duas externas:

Falhas internas:

1. a lacuna por conta do entendimento da real motivação da pesquisa barra interações entre empresas e organizações de pesquisa – muitas vezes os pesquisadores estão mais preocupados com suas publicações acadêmicas do que com a comercialização e uso de suas descobertas para fins de desenvolvimento de negócios;

2. a lacuna do direcionamento da educação barra a interação entre empresas e organizações de ensino – as escolas formulam seus programas curriculares sem atenção as reais necessidades das empresas;

3. a lacuna do sentido do capital de investimento barra a interação entre empresas e organizações de ensino – muitos empresários riem da ideia de aproximar suas empresas da universidade local na busca de novas tecnologias ou habilidades que ambos poderiam

desenvolver em conjunto e/ou empreendedores acham muito difícil persuadir bancos a investir em novos negócios inovadores;

4. a lacuna de conhecimento do governo barrando interações entre empresas e agentes públicos – agentes governamentais tem somente uma vaga ideia do que realmente as empresas precisam;

5. a lacuna empresa-empresa barra a interação entre firmas do cluster – as pequenas empresas que acreditam ter boas novas propostas a oferecer, tem muita dificuldade em sequer contatar as pessoas certas nas grandes organizações, assim como as grandes empresas na procura por desenvolvimento de novo fornecedor, é mais provável que venham a fazê-lo no mercado internacional ao invés de procurar entre as PME inovadoras próximas;

Falhas externas:

6. a lacuna inter-cluster barra interações tecnológicas com empresas em outros clusters – a falta de iniciativa governamental, associada a dificuldade de romper barreiras quando clusters diferentes estão sob diferentes programas públicos, causam barreiras administrativas difíceis de serem superadas;

7. a lacuna do comércio global barra interações com mercados globais e cadeias de valor – muitas vezes a falta de iniciativas no processo de internacionalização impede o acesso conjunto de PME de um cluster a mercados potencialmente interessantes, que somente são acessados por grandes empresas isoladamente. Também a falta de uma identidade forte do cluster pode trazer dificuldades de penetração no mercado internacional.

Segundo Lindqvist; Ketels e Sölvell (2013) os clusters podem unir diferentes tipos de atores, e superar as possíveis lacunas da inovação unindo as empresas com a pesquisa e educação e firmas grandes com firmas pequenas. A proximidade é um diferencial iniciador da relação entre todos os membros e segundo Lindqvist e Sölvell (2011) as organizações de clusters são as grandes incentivadoras para eliminação destas lacunas.

Para melhor compreensão do porquê o cluster é considerado como caminho crítico para a inovação, Lindqvist; Ketels e Sölvell (2013) mencionam que primeiramente é imperativo que se entenda que ele é composto por um aglomerado de participantes complementares e secundariamente como eles interagem. Os autores entendem que é necessário estratifica-lo ao nível do ator individual, sendo eles:

• as empresas, que são os principais componentes do cluster. São elas que levam as inovações para o mercado e as submetem a competição com a concorrência;

• as organizações educadoras, como escolas, centros tecnológicos e universidades, que desempenham papel duplo de ensino e pesquisa;

• as instituições de capital, como agências de empréstimo, bancos e investidores, que provêm os recursos necessários as explorações das novas invenções e dos novos modelos de negócios;

• o governo (nos seus diversos níveis) e demais variados órgãos públicos que estabelecem e implementam políticas sobre investimentos em infraestrutura pública, regulamentações e programas de auxílio a clusters, críticos para geração de uma atmosfera propícia as inovações.

A dinâmica da inovação requer o desenvolvimento de um ambiente propício. Aharonson; Baum e Feldma (2013) em pesquisa realizada entre 675 empresas de biotecnologia no Canadá verificaram que empresas localizadas geograficamente dentro de clusters registram significativamente maior número de patentes que empresas fora de cluster. Os autores constataram ainda que mesmo dentro de um mesmo cluster, empresas distantes de seus pares em até 500m têm melhor performance a inovação que as mais distantes. Lindqvist; Ketels e Sölvell (2013) pesquisando sobre a formação de ambiente propício a geração de inovações em clusters, verificaram a existência de seis situações envolvidas no desenvolvimento de base sólida intra-cluster para fomentar as inovações:

1. redes gerais de cluster onde diferentes tipos de atores se reúnem para entender melhor os pontos fortes e fracos do cluster. As atividades incluem a publicação de relatórios, compartilhamento de informações através de seminários, convite a palestrantes e desenvolvimento de websites;

2. evolução dos recursos humanos para o desenvolvimento de diferentes grupos da força de trabalho, por exemplo por meio de treinamento vocacional e educação gerencial, com intenção de reter estudantes para futuro suprimento de mão de obra especializada e treinamento técnico específico setorizado;

3. expansão do cluster com objetivo de aumentar o número de participantes por meio de incubadoras ou investimento externo na região;

4. desenvolvimento do negócio promove as operações das empresas, por exemplo, através da promoção conjunta de exportação, compra conjunta, ou partilha de serviços para reduzir custos. Essas atividades muitas vezes têm como alvo as PME;

5. tecnologia e inovação tem fundamental importância na renovação e ampliação das atividades do negócio do cluster. De forma geral existem duas abordagens para o processo de inovação: uma é incrementando a cooperação e o fortalecimento da rede entre as empresas e a outra é aproximando o setor de negócios com o setor de pesquisa na busca da comercialização dos resultados das pesquisas;

6. objetivos do ambiente de negócios visam reforçar as condições microeconômicas para os negócios, através da melhoria do ambiente jurídico e institucional ou da melhoria da infraestrutura física. Melhorar o ambiente de negócios significa que as condições externas as empresas são melhoradas. Os objetivos do ambiente de negócios, portanto, se concentram em questões que estão nas mãos do governo, ao invés de trabalhar com as empresas diretamente. Há dois aspectos principais do ambiente que podem ser abordadas: a infraestrutura física / técnica, e a definição legal / institucional. Além disso, a fixação da marca regional é um objetivo que pode ser atribuído a esta categoria.