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Os clusters industriais com forte inter-relação entre seus pares e que possuam estruturas institucionais adequadas como suporte, são sistemas fundamentados em sólida base para o ganho de conhecimento coletivo facilitando a geração de inovações e a criação de valor (SOLESKVIK, 2010; HOLTE; MOEN, 2010; PORTER, 1985).

Pela leitura de Hoffmann et al. (2008 e 2011) e Porter (1991) entende-se que dentre o conjunto de fenômenos ocorrentes em um cluster, talvez o spillover seja das formas mais claras para obtenção de vantagem competitiva. A alusão à importância da troca de informações entre os atores do cluster é fato contumaz entre os inúmeros artigos que exploram o tema. Na verdade, o spillover tem um significado amplo, envolvendo a capacitação de uma empresa, com auxílio de outra, ambas componentes de um mesmo cluster. O spillover pode ocorrer pelo transbordamento, pela difusão ou troca do conhecimento, além de ser formal ou informal, e ao mesmo tempo primário ou secundário, como proposto no texto.

Tamanha significância do spillover que Porter (2000) diz que, com frequência, sua importância para a produtividade e inovação, é responsável pela determinação das fronteiras do cluster. Ou seja, a extensão do cluster vai até onde existir uma das formas de spillover entre seus membros.

As parcerias para complementariedade de capacidades vêm se tornando importantes fontes de ganhos de competitividade. É o caso descrito por Corrêa (2001) ocorrido na planta da Volkswagen de Resende, Rio de Janeiro, Brasil. A Volkswagen querendo aproveitar-se da oportunidade de atuação no mercado de caminhões leves resolveu lançar seu próprio caminhão. No entanto, como não detinha suficiente conhecimento, resolveu desenvolver parcerias estratégicas de produção e montagem que a habilitaram ao mercado.

A literatura (COHE; LEVINTHAL, 1990; PORTER, 2000; BITTENCOURT; CAMPOS, 2008; STACKE et al., 2012), reporta existirem diversas formas de ocorrência de spillover: (i) entre empresas concorrentes; (ii) entre fornecedor e empresa receptadora e; (iii) entre consumidores finais e fornecedores. Existe também a possibilidade dos atores do cluster atuarem em conjunto para ganhos simultâneos, conforme explicado por Langen (2005) que propõe um regime de colaboração coletiva (CAR’s) a ser aplicado como fonte de capacitação coletiva de mão de obra, com a finalidade de melhorar da qualidade do conjunto de serviços no cluster do porto de Rotterdam.

A Figura 22 demonstra as formas teóricas de processos de spillover entre os membros

de um cluster e a adequação terminológica que é sugerida neste trabalho. Propõe-se chamar spillover primário, o que ocorre diretamente entre: (i) empresas e seus fornecedores; (ii) concorrentes; (iii) empresas e clientes; (iv) empresas e universidades e/ou institutos de pesquisa e (v) demais agentes de fomento públicos ou privados, podendo ser eles codificados e/ou tácitos.

O spillover secundário ocorre indiretamente, muitas vezes de forma desproposital e subjacente, com a rotatividade da mão de obra, com típica transferência de conhecimento tácito (BECATTINI; RULLANI, 2004).

Os processos de spillover podem ocorrer formal ou informalmente. Quando por exemplo, uma instituição promove um curso, seminário, congresso ou fórum, está havendo uma capacitação formal dos membros do cluster, porém, quando esta capacitação acontece sem a formalidade de eventos pré-agendados, ela é informal. Neste caso, existe uma típica transferência de conhecimento codificado (BECATTINI; RULLANI, 2004). Da mesma forma, este raciocínio se aplica entre fornecedores e demais atores e entre os próprios atores industriais do cluster (Figura 22) formando uma relação sistêmica da evolução dos diversos níveis do conhecimento.

Figura 22 - Diagrama da condição sistêmica dos processos de spillover

Fonte: O autor

No Quadro 16 procurou-se estabelecer o tipo e formas de ocorrências de spillover conforme as relações entre os atores.

Quadro 16 - Diagrama de formas de ocorrência de spillover

Empresa “A” Com: Tipo de Spillover Forma de Ocorrência

Outras empresas (concorrentes) Fornecedores Fomentos Consumidores finais Clientes B2B Primário Formal ou Informal

Mão de obra contratada Secundário Informal

Fonte: O autor

O spillover secundário já havia sido reportado por Cohen e Levinthal (1990). Os autores mencionaram que ao trocarem de empregos, os funcionários carregavam para as novas

ocupações, os conhecimentos tácitos adquiridos onde trabalhavam anteriormente, e também os adquiridos por meio de pesquisas eventos ou cursos de capacitação.

Reforçando a existência do spillover secundário, Malmberg e Maskell (2002) mencionam que a concentração geográfica pode, em particular, proporcionar oportunidades para a transmissão de conhecimento tácito (não codificável) entre as empresas; tal conhecimento é mais bem compartilhado por meio da interação face-a-face e dos contatos frequentes. De modo mais geral, as empresas próximas são capazes de monitorar seus concorrentes, identificando e imitando tecnologias superiores e produtos.

A bagagem de conhecimento prévio adquirida pelos empregados é muito importante na formação de um cluster, pois as experiências adquiridas anteriormente no mesmo segmento também tornam mais fáceis o surgimento de novos negócios, com consequente crescimento do número de atores do cluster.

No entanto, a relação de spillover entre os atores de um cluster nem sempre é ótima, como comprovado em estudos recentes do cluster moveleiro de São Bento do Sul (BITTENCOURT; CAMPOS, 2008; STACKE et al., 2012). Neste caso foi notada forte rejeição à troca de experiências formais entre os elos concorrentes dessa cadeia produtiva. Fato que já havia sido evidenciado por Britto e Vargas (2005) em outros clusters. Os autores mencionaram a falta de visão colaborativa para crescimento mútuo das empresas brasileiras, seja com consumidores, concorrentes, fornecedores ou mesmo com universidades e institutos de pesquisa. A pesquisa de Stacke et al. (2012) vislumbrou que no caso específico do cluster moveleiro de SBS, o spillover ocorre exclusivamente entre empresas e fornecedores; e entre empresas e clientes. Não tecendo maiores comentários, contudo, sobre o spillover ocasionado pela rotatividade da mão de obra, o que se acredita ocorrer em todos os setores produtivos. Esta situação foi comprovada por pesquisa empírica complementar, efetuada pelo autor desta tese, no cluster moveleiro de são bento do sul.

Porter (1990) e Van Klink e De Langen (2001), argumentam que a proximidade entre empresas do mesmo segmento e a rivalidade sadia torna o ambiente mais promissor à inovação e a difusão das inovações, fato que desde o estudo sobre as vantagens competitivas das nações Porter (1998), ficou claro ser estrategicamente relevante. Muitos outros estudos (Porter, 1990; Bell, 2005; Hoffmann et al., 2008, 2011) inferem que a disposição das empresas em redes produtivas, consórcios, associações produtivas locais (APL) ou clusters têm possibilitado maiores ganhos de conhecimento entre seus membros. Este ganho de conhecimento supra organizacional entre os membros das redes ou cluster pode ser tácito ou codificado (POLANY, 1967; NOKADA; TAKEUCHI, 1995).