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O insucesso de clusters industriais podem ocorrer devido a enganos na elaboração de sua proposta de desenvolvimento e consolidação, como os casos dos clusters Digital Hub e o cluster marítimo de Quebec, em Montreal, ou de ações de agentes externos.

3.13.1 Enganos na Elaboração da Proposta de Desenvolvimento

Bayliss (2007) menciona a iniciativa frustrada do governo Irlandês de formar um cluster na área de mídia digital: o cluster Digital Hub. O projeto teve início no ano de 2000, e em 2003 o governo instalou o Digital Hub Development Agency (DHDA) que teve a responsabilidade de fazer seu gerenciamento. Até 2007 o cluster havia consumido cerca de € 70 milhões dos cofres públicos e havia um total de 50 companhias incluindo algumas grandes, como a Amazon e a Google, porém, com baixo nível de interação entre elas. Somente 2 dos 9 acres disponíveis haviam sido ocupados. Até 2012 esta tentativa de formação de cluster contava com 62 empresas com poucos trabalhos de cooperação e inovações conjuntas (THE DIGITAL HUB ANNUAL REPORT, 2012).

Também Doloreux e Shearmur (2006) comentam sobre as dificuldades de funcionamento do cluster marítimo de Quebec no Canadá, estruturado pelo governo em uma região muito vasta e com poucas empresas especializadas, o que fornece evidências da dificuldade de formação de um cluster sem ter como alicerce uma base industrial com suficiente especialização e concentração geográfica para fomentar o desenvolvimento tecnológico por meio do spillover.

3.13.2 Insucesso Devido a Ações de Agentes Externos

Segundo Pellizari; Scheffer e Rosendo (2011), dois casos de insucesso de clusters ficaram marcantes na indústria de tecelagem italiana, ambos devido a ações da concorrência dos países asiáticos associados a falta de uma política fiscal justa, caso dos clusters têxteis de Biella em Piemonte e de ProntoModa na região de Prada.

Segundo o site Portugal Têxtil (www.portugaltextil.pt/pt/biella-contra-a-china) existe uma explicação para a derrocada do cluster têxtil de Biella:

A competição provinda da China tem feito os seus estragos nos produtores de Biella. Enquanto que as empresas da região italiana cumprem com todas as

práticas ambientais e salariais comumente aceitas e reclamadas no século XXI, aos seus concorrentes asiáticos não são exigidas tais práticas. Isto faz com que a caxemira produzida na China consiga ser colocada no mercado por metade do valor daquela produzida na Europa.

Também o cluster têxtil de ProntoModa em Prada reduziu sensivelmente o número de atores e depois de quase sucumbir teve sua estabilização conseguida com base a mudança de objetivos estratégicos da produção, tudo por conta da instalação de um cluster de indústria têxtil formado por imigrantes chineses ilegais em região vizinha (PELLIZARI; SCHEFFER e ROSENDO, 2011).

Os clusters de indústria naval europeus também foram severamente impactados pelo surgimento e crescimento dos clusters asiáticos, em especial dos sul coreanos e dos chineses, conforme reportado por Cusbert, Jääskelä e Nick (2013).

Figura 23 - Desenvolvimento da participação no mercado mundial de navios mercantes

Fonte: Cusbert, Jääskelä e Nick (2013)

O item 3.8.4 Fase de Declínio também reporta casos de insucessos em clusters diversos.

Em síntese pode-se notar que a formação de um cluster a partir do zero, senão impossível é mais difícil e dependente de um grande número de fatores que podem não estar contemplados na sua configuração inicial. Por outro lado, os clusters precisar estar bem estruturados para continuamente reavaliar suas possibilidades, oportunidades e ameaças externas.

4 A INDÚSTRIA NAVAL BRASILEIRA

Pires, R. et al. (2013) mencionam, que a indústria naval engloba as atividades de fabrico de embarcações, variando de veículos de transporte aquático a navios de apoio marítimo, portuário, graneleiros, porta-contêineres, petroleiros, comboios fluviais até a construção de estaleiros, plataformas e sondas de perfuração para produção de petróleo em alto- mar, além de toda a rede de fornecimento de navipeças.

A descoberta de petróleo na camada do pré-sal no campo Caxaréu na costa brasileira em 2006 (PIRES, 2010) originou a necessidade por novos navios, plataformas offshore e demais equipamentos para prospecção e exploração de petróleo, em função de decreto presidencial de 2003 determinando prioridade aos estaleiros brasileiros para fornecimento destes equipamentos destinados à Petrobras, sua subsidiária Transpetro lança em 2004 o PROMEF alavancando a reativação da construção de petroleiros no Brasil. Nesta época, grandes grupos empresariais brasileiros investem na construção de novos estaleiros (PIRES, R. et al., 2013).

Fica, porém, a visão da necessidade de maior capacitação da indústria da construção naval quando se constata a distância tecnológica que ela se encontra de outros grandes centros mundiais, refletindo na produtividade, qualidade do produto e custo final. Sobre isso (GEIPOT, 1999) comenta ser historicamente reconhecido, que os preços praticados pela indústria da construção naval nacional sempre foram superiores ao mercado internacional. Quando do II Plano de Construção Naval – PCN, as comparações feitas entre os preços cobrados nos contratos domésticos e valores internacionais tomados como referência, indicavam que o valor médio praticado no Brasil era entre 20 a 42% superior, variando com o tipo do navio. A diferença média destes valores para contratos realizados entre 1982 e 1985 chegou à casa dos 40%.

É difícil imaginar-se uma indústria internacionalmente competitiva com estas diferenças de valores praticados no plano global. A solução pode passar por uma reestruturação tecnológica com investimentos privados e incentivos governamentais. Como já visto anteriormente, o desenvolvimento e a consolidação de clusters poderia ser um instrumento para a necessária evolução tecnológica do setor naval brasileiro.

Os estados em que se localizam os principais polos da indústria naval brasileira podem ser verificados na Figura 24.

Figura 24 - Localização dos principais polos de indústria naval no Brasil

Fonte: O autor

As principais empresas relacionadas a indústria naval em Santa Catarina, estão localizados na região de Itajaí e Navegantes (Figura 25). Estão aí localizados os Estaleiros, Oceana, Keppel Singmarine Brasil, Zemar, Detroit e Navship, entre outros menores. Existem ainda empresas fabricantes e fornecedoras de componentes como a Holandesa Huisman e a Schottel. Existe ainda a WEG com sede em Jaraguá do Sul, distante cerca de 70Km da região, fabricante de motores e painéis elétricos.

Figura 25 - Localização das maiores empresas da indústria naval da região de Itajaí e Navegantes