• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3 – Da Guerra de Corinto até à Paz de Antálcidas

3.1. Operações preliminares da Guerra de Corinto

3.1.2 Batalha de Coroneia

3.1.2 Batalha de Coroneia

A vitória peloponésica teve ecos no mundo grego e Agesilau tomou conhecimento dos eventos da batalha de Némea em Anfípolis, na Macedónia (Xen.

Hell. 4.3.1). Imprimindo celeridade ao seu exército para se juntar à guerra que acabara

de estalar na Hélade, o rei euripôntida seguiu a ancestral rota de invasão adoptada por

10 Diodoro (14.83.2) faz o balanço da batalha: cerca de 1100 mortos no lado Peloponésio e 2800

casualidades nos Aliados. Seager conclui o resultado da batalha: «“To Xenophon’s partial eye it was the triumph for the organization of the Spartans over the arrogance and indiscipline of the Thebans”»; vide Seager (2006) 102.

58

Xerxes. A passagem pela Tessália, cuja maioria dos povos era aliada dos Beócios, foi manifestamente hostil, com algumas escaramuças entre a cavalaria tessálica e a cavalaria de Agesilau, mas pouco eficaz para travar o exército expedicionário que após ter atravessado os Montes Acaios, na Ftia, chegou a território amigável11. Plutarco conta-nos que Difridas, um dos éforos de Esparta, foi ao encontro de Agesilau e ordenou a invasão imediata da Beócia (Ages. 17.1). A vitória lacedemónica junto do rio Némea revelara as fraquezas e a falta de coesão da Grande Aliança; um novo êxito, desta vez na Beócia, iria demolir, ainda que não decisivamente, a operacionalidade e dinamismo da «Simaquia».

Seguindo o resto do trajecto pela Dória, Fócida e pelo vale do rio Cefiso, o exército de Agesilau chega à fronteira beócia a 14 de Agosto de 394 e alojou-se nas imediações de Queroneia12. Por essa altura, as notícias da destruição da frota lacedemónica frente às forças de Farnabazo e Cónon13, em Cnido, assombraram as hostes de Agesilau. O rei lacedemónio compreendia o quanto a novidade poderia afectar os níveis anímicos das tropas, independentemente de serem mercenários ou infantaria irregular (ou no caso dos Lacedemónios, de infantaria regular) pelo que optou pela ilusão e montagem de um espectáculo cerimonial, com sacrifícios e libações pelo “triunfo”, a fim de garantir o moral elevado das suas tropas para a batalha que se aproximava (Xen. Hell. 4.3.14; Plut. Ages. 17.3).

A «Simaquia» revelou novamente uma lenta reorganização face ao perigo iminente e cuja ocorrência encontra um certo paralelismo com os antecedentes da batalha de Némea. A rápida deslocação de Agesilau poderá estar por detrás dos motivos que impossibilitaram a uma resposta eficiente das desprevenidas autoridades cadmeias. Só assim se compreende a reacção tardia na congregação de um exército diversificado, que incluía Beócios, Atenienses, Argivos, Coríntios, Enianes, Eubeus e Lócrios Opúncios e Ozólios14.

Já em terreno beócio, Agesilau venceu as primeiras escaramuças com os Beócios oriundos das áreas circundantes de Queroneia. Deslocando-se para sul, rumo a

11 Cf. Xen. Hell. 4.3.3-9; Plut. Ages. 16-17.2; D.S. 14.83.2-3; vide Seager (2006) 102 12 Datável devido a um eclipse parcial do Sol; cf. Xen. Hell. 4.3.10; Plut. Ages. 17.2. 13 Cf. Plut. Ages. 17.2-3; Para uma descrição da batalha de Cnido, cf. Xen. Hell. 4.3.11-13.

14 Cf. Xen. Hell. 4.3.15; Conforme sugere Buck, vide Buck (1994) 46-47. O artigo de Harrison propõe,

contudo, uma data alternativa para a conquista de Heracleia pelos Aliados, no seguimento da linha plutarquiana (cf. Ages.17.2), em que Agesilau seguiu o trilho preciso utilizado por Xerxes, contrapondo Xenofonte; vide Harrison (1913) 132. Porém, talvez a questão mais pertinente seria, por que razão Agesilau não tentou reassumir Heracleia das mãos da Grande Aliança, visto que o local detinha um considerável ónus estratégico na política lacedemónica na Hélade central?

59

Coroneia, ambos os exércitos encontram-se frente-a-frente para o desenrolar das hostilidades, numa batalha «“incomparável a qualquer outra alguma vez disputada”» (Plut. Ages. 18.1; Xen. Hell. 4.3.16). As forças estavam sensivelmente equilibradas em todos os quadrantes: Buck aponta entre 20000 a 24000 hoplitas cada15. Também Xenofonte refere que a cavalaria estaria a níveis quantitativamente similares, e apenas a infantaria ligeira – peltastas – de Agesilau era numericamente superior à dos aliados (Hell. 4.3.15).

Na disposição dos exércitos no campo de batalha, os Beócios colocaram-se na ala direita, frente aos Orcoménios, enquanto os Argivos reservaram para si o flanco esquerdo, em colisão com a falange lacedemónica liderada por Agesilau. Tanto os Beócios como os Lacedemónios saíram triunfantes perante os adversários directos. Porém, o isolamento dos Beócios, face à retirada das restantes forças aliadas para o sopé do Monte Hélicon, obrigou-os a regredir, de forma ordenada (suspeirathentes échóroun

errómenous), a fim de evitarem serem esmagados pelos opositores. Apesar de a vitória

estar garantida para Agesilau, o rei lacedemónio instigou ao ataque frontal com os Beócios, numa carga de escudos contra escudos – othismos. As fontes atribuem a este comportamento um acto de valentia e heroísmo (Plut. Ages. 18.2; Xen. Hell. 4.3.19). É, no entanto, exequível que o tratamento humilhante em Áulis e a ousadia de Tebas nos anos antecedentes o tenham estimulado a proceder desta forma. Por outro lado, não devemos igualmente descurar a fria capacidade militar do rei euripôntida; o êxito justo sobre a falange inimiga, em pleno território beócio, não só seria um marco assinalável, como cravava uma profunda ferida nos ânimos de Tebas, numa guerra em que o peso da responsabilidade lhe cabia quase por inteiro.

Agesilau saiu ferido do confronto com os Beócios, mas a falange beócia foi esmagada com elevado número de baixas pagas na hora da retirada (Xen. Hell. 4.3.19). No dia seguinte, Agesilau ordenou as diligências habituais com a edificação do troféu (tropaion), ao som de flautas, e os representantes das forças aliadas enviaram arautos a solicitarem as tréguas pós-batalha, para recolherem os seus mortos. A invasão massiva da Beócia teve de ser desmarcada devido à débil condição física de Agesilau, que se retirou via-Delfos oferecendo o dekatos das pilhagens (cerca de cem talentos) ao oráculo, resultantes da campanha asiática. A partir da Fócida, Esparta ordenou ainda

15 Vide Buck (1994) 47

60

operações acessórias com assaltos à Lócride Ozólia, embora com poucos resultados práticos e para alívio das autoridades cadmeias16.