• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 Teorias da psicologia e as políticas educacionais

2.3 Behaviorismo

Burrhus Frederic Skinner10 (1904-1990), na busca de construir uma psicologia científica, desenvolveu uma ciência que estuda o comportamento, tanto animal como humano. Para ele é essencial que se trabalhe sobre os comportamentos observáveis para evitar uma compreensão inadequada fundamentada em percepções subjetivas. A observação da história permite que se perceba “as mudanças que ocorrem no tempo, e se, for possível descobrir padrões de desenvolvimento e crescimento, então eles também poderão ser úteis na previsão de acontecimentos futuros” (SKINNER, 2002, p. 15).

Ele funda o behaviorismo radical que,

não nega a possibilidade de auto-observação ou do autoconhecimento ou sua possível utilidade, mas questiona a natureza daquilo que é sentido ou observado, e portanto conhecido, [...] não insiste na verdade por consenso, e pode, por isso, considerar os acontecimentos ocorridos no mundo privado por dentro da pele. Não considera tais acontecimentos inobserváveis e não os descarta como subjetivos. Simplesmente questiona a natureza do objeto observado e a fidedignidade das observações. (SKINNER, 2002, p. 19)

Segundo ao autor, o que se observa não é produto da mente, mas da capacidade de observação do próprio corpo observador e os comportamentos são resultados na interação com o ambiente, consequentemente, se mudarmos o ambiente podemos ter comportamentos diferentes. Afirma ainda que, o ambiente deu uma significativa contribuição no desenvolvimento das espécies, mas individualmente ele exerce outro tipo de efeito. “Qualquer informação disponível acerca de qualquer uma das duas contribuições auxilia a previsão e o controle do comportamento humano e sua interpretação na vida diária” (2002, p. 19), isso

10 B. F. Skinner nasceu em uma cidade próxima a Nova Iorque. Seu primeiro contato com a ciência do

comportamento foi quando se mudou para Nova Iorque e teve acesso aos livros de Pavlov e Watson. Aos 24 anos, se matriculou em Psicologia na Universidade de Harvard. Posteriormente, para estudar o comportamento através de experiências com ratos, Skinner inventou um equipamento conhecido como Caixa de Skinner. Os ratos eram presos nesta caixa e só conseguiam alimento ao pressionar uma barra. Skinner descobriu que a taxa com que o rato pressionava a barra não dependia de qualquer estímulo precedente. O processo de organizar as contingências de reforço responsável para produzir este tipo novo de comportamento ele chamou de condicionamento operante. Skinner permaneceu nesta pesquisa durante cinco anos cujos resultados se encontram registrados em seu primeiro livro publicado em 1938, O Comportamento de Organismos. Em 1936, realizou seu primeiro trabalho pedagógico. Em 1944, com a Segunda Guerra Mundial, participou de dois projetos secretos um para treinar pombos para guiar bombas. Em 1945, mudou-se para Bloomington, Indiana, onde ele se tornou diretor do Departamento de Psicologia na Universidade de Indiana. Em 1946 aconteceu a primeira reunião da Sociedade da Análise Experimental de Comportamento. Em 1948 assumiu o Departamento de Psicologia da

Universidade de Harvard. Informação disponível em:

pressupõe que se pode prever, suprimir ou modificar comportamentos conforme a capacidade de observar as relações entre a complexidade de estímulos e respostas.

Embora Skinner (2002) afirmasse que estava preocupado com a observação mais do que com a previsão e controle, a simples possibilidade de se supor o controle de comportamentos futuros, compreendendo padrões de interação específicos, encontrou um terreno fértil na educação para prosperar. Como para ele, espécie humana é um produto da seleção natural, cada ser humano é um organismo complexo, um sistema vivo, que, ao nascer, possui comportamentos reflexos incondicionados, que são característicos da espécie. À medida que o indivíduo interage com o ambiente, surgem os comportamentos reflexos condicionados, que são associações promovidas como respostas aos estímulos do ambiente. Por exemplo, a aceleração do batimento cardíaco de um corredor antes de iniciar uma corrida que, de fato, acelerará o batimento cardíaco. Outro conceito importante é o de condicionamento operante, que um comportamento é fortalecido por suas consequências e,

por tal razão, as próprias consequências são chamadas de “reforços”. Assim, quando um organismo faminto apresenta comportamento que produz comida, o comportamento é reforçado pela sua consequência, e por conseguinte, sua probabilidade de ocorrência é maior. [...] A distinção comum entre comportamento operante e comportamento reflexo é a de que um é voluntário e o outro involuntário. (SKINNER, 2002, p. 38)

Entre outros conceitos desenvolvidos por Skinner, temos os conceitos de reforço positivo e negativo, bastante utilizado na área educacional, positivo seria aquele que mantém o comportamento que o precede, negativo seria aquele que suprime o comportamento. Skinner propõe uma teoria de viés biologizante. De acordo com o autor, todo comportamento humano é

herdado, uma vez que o organismo que se comporta é produto da seleção natural. O condicionamento operante faz parte da dotação genética tanto quanto a digestão ou a gestação. O problema não consiste em saber se a espécie humana tem uma dotação genética, mas em como ela deve ser analisada. Ela começa por ser e continua a ser um sistema biológico e a posição behaviorista é a de que não é nada mais que isso. (2002, p.41)

Em 1953, Skinner desenvolveu “a máquina de ensinar”, que se consiste em uma sequência de questões que deveriam ser respondidas e, à medida que os indivíduos emitissem suas respostas, a máquina confirmaria se estava certa ou errada e orientaria os próximos passos. Esse trabalho resultou na chamada “instrução programada”, que eram materiais

produzidos a partir dos princípios do behaviorismo, em que os alunos poderiam, com a orientação do professor, responder a determinadas questões dentro de uma sequência e, do mesmo modo, conforme suas respostas recebiam as orientações para a continuidade de seus estudos individuais. Conforme Faheina a Instrução Programada

se traduzia em uma sequência de situações-problema cuja execução resultaria passo a passo na comprovação do erro ou do acerto. A avaliação automática funcionava como um reforço que ajudava o estudante manter-se interessado ao longo do processo de aprendizagem. [...] De modo geral, propostas pedagógicas como essas tinham em sua base a padronização do processo de ensino, pois, na medida em que se utilizava de estratégias como formas de alcançar a eficiência do trabalho pedagógico, não se preocupavam com a singularidade dos sujeitos envolvidos no processo. Assim, o meio, isto é, o recurso, desde que utilizado eficientemente, garantiria a aprendizagem do aluno. Nessa perspectiva, os esquemas de planejamento previamente organizados pelos professores sofreriam apenas pequenos ajustes nas diferentes disciplinas e práticas pedagógicas, garantindo a excelência dos resultados desejados no processo de aquisição do conhecimento pelos alunos. (2014, p. 277)

Henklain e Carmo explicam que para o behaviorismo, o papel do professor consiste em

criar condições que facilitem e garantam aprendizagem. A sua função primordial é ensinar. Ensinar é um processo comportamental complexo. Isso significa que o verbo "ensinar" não se refere a um único comportamento, como é o caso de verbos como sentar, levantar, empurrar etc. Ao contrário, ensinar é um termo amplo que designa uma categoria de comportamentos que caracterizam o que um professor faz sob determinadas circunstâncias e os efeitos que produz. O aspecto mais crítico no processo comportamental chamado ensinar, e que o caracteriza, é o efeito do que o professor faz. Esse efeito deve ser a aprendizagem do aluno. (2013, p. 712)

O poder da instituição educacional, para Skinner, está em ser capaz de “estabelecer um repertório no qual o estudante pode chegar, por assim dizer, à resposta certa, sob novas circunstâncias e na ausência dos representantes da agência” (2003, p. 447), considerando como agência a escola, a religião, a família entre outros.

No Brasil, a influência do behaviorismo ocorreu a partir de meados da década de 1960, inicialmente com a perspectiva tecnicista da educação. Tal influência permaneceu por décadas na educação brasileira. A ideia de se criar mecanismos de reforço para os alunos realizarem suas tarefas, por exemplo, por meio de recompensas materiais, vinculadas a um valor meritocrático permanece contemporâneo e, usualmente, ainda é utilizado como estratégia para mobilizar os alunos para o ensino. Smith afirma que essa perspectiva difundiu- se

com quase exclusividade na disciplina de psicologia dos currículos de pedagogia, alastrou-se disseminando a ideia de que a aprendizagem dependia exclusivamente da fixação e extinção de comportamentos, recorrendo-se para isso a repetições acompanhadas de reforços positivos e negativos. Essa visão fortaleceu as práticas formais de ensino arraigadas até os hoje no cotidiano das salas de aula. (2010, p. 34)

Além dos reforços para produzir o comportamento desejado nos alunos, com influência da instrução programada, também se introduz no Brasil o ensino à distância, pois a televisão que ganhava destaque como um meio de comunicação de massa e foi valorizada como uma forma de ensinar que acompanhava a modernidade, com a concepção de que o aluno em interação com esses objetos poderia desenvolver seus estudos a partir de orientações gerais para tal. Secundarizou-se o papel do professor no processo de ensino e supôs-se que todos os alunos teriam as mesmas dúvidas e seguiriam caminhos universais de aprendizagem.

Em resumo a teoria de Skinner parte dos conceitos de reflexo condicionado, reflexo instintivo, condicionamento operante, reforço positivo e negativo entre outros, para analisar o comportamento humano, na tentativa de fazer com que a psicologia alcançasse cientificidade, a partir de uma visão darwinista e positivista. Compreendia o comportamento como uma manifestação hereditária da espécie humana, que é tomada como uma síntese biológica e nada mais além disso. A educação tem a finalidade de proporcionar as condições para a aquisição de novos comportamentos desejados para a convivência em grupo, ou seja, trata-se de conservar ou suprimir comportamentos. Para tanto, pode-se prescindir da ação do professor na aprendizagem, pois ele atua apenas como um facilitador, sendo que o reforço positivo ou negativo pode se dar através das relações do indivíduo com o ambiente, como no caso da instrução programada e a educação à distância.