• Nenhum resultado encontrado

Bem jurídico Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: conceito normativo e

No documento CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA UNICEUB (páginas 33-37)

1.1 O estado ecológico de equilíbrio ambiental: premissas conceituais

1.1.3 Bem jurídico Meio Ambiente Ecologicamente Equilibrado: conceito normativo e

No caso brasileiro, a CF/88 não contempla os termos natureza e ambiente, referindo-se somente a meio ambiente como objeto de regulação e tutela. Veja-se que

76 CASSINI, Sérvio Túlio. Ecologia: Conceitos Fundamentais. Vitória (ES): UFES. Centro Tecnológico. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental. 2005, p. 42/43.

77 RAMOS, Maria das Graças Ouriques. Equilíbrio ecológico. Ecossistemas Brasileiros. Campina Grande; Natal: EdUEPB e Editora da UFRN, 2010, p. 23.

78 CASSINI, Sérvio Túlio. Ecologia: Conceitos Fundamentais. Vitória (ES): UFES. Centro Tecnológico. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental. 2005, p. 43/44.

o Constituinte dispôs no Capítulo VI, “Do Meio Ambiente”, no art. 225, que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo [...]”. Portanto, não há propriamente na Constituição a definição de Meio Ambiente ou mesmo de Ambiente.

O conceito normativo de meio ambiente encontra-se presente no artigo 3º, I, da Lei ne 6.938/81,80 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. A mencionada Lei, recepcionada pela CF/88, fora editada no regime constitucional anterior, firmada com base no artigo 8º, inciso XVI, alíneas c, h e i, da Carta de 1967.81

Veja-se que a definição legal de meio ambiente se concentra nos aspectos biológicos, físicos e químicos. Quanto ao aspecto eminentemente natural da ecologia (um de seus objetos), a proteção dos ecossistemas é fundamental para assegurar a efetividade da qualidade ambiental (resultante do equilíbrio ecológico),82 sendo assim, a conduta humana sobre os meios naturais também é envolvida pelo “direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”.

A ideia transmitida no art. 225 da CF/88, ainda que utilize a expressão Meio Ambiente em vez do vocábulo Ambiente, é mais ampla do que a prevista na Lei da PNMA, porquanto envolve a conduta humana. Desse modo, o conceito constitucional é mais apropriado, pois ao ter como cenário a ecologia, não poderia deixar de conjugar conceitos físicos, químicos, biológicos com elementos sociais e econômicos.

Com base na análise sistemática dos enunciados normativos constantes na CF/88 que se referem à ambiente e meio ambiente,83 infere-se que o Constituinte tratou no art. 225 de todos os meios ambientes, portanto, naturais e artificiais,84 os

80 “Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; [...]” (grifos nossos).

81 BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm. Acesso em 13 out. 2018.

82 Enunciados do art. 225 da CF/88 diretamente relacionados com elementos da natureza e ecossistemas: §1º, I, II, III e IV.

83 Art. 5º, LXXIII; art. 23, VI e VII; art. 24, VI e VIII; art. 129, III; art. 170, VI; art. 174, § 3º; art. 186, II; art. 200, VIII; art. 220, II e art. 225.

84 Tratando-se de categorias possíveis de serem subdivididas em espécies, tem-se: Meio ambiente natural, meio ambiente cultural e meio ambiente do trabalho, sendo os dois últimos subespécies da categoria meio ambiente estritamente humano.

quais compõem o Ambiente Humano. Assim, ainda que a definição legal tenha sido recepcionada, o significado da expressão Meio Ambiente a ser necessariamente utilizado no meio jurídico deve ser amplo, a envolver não só a unidade básica ecossistema, mas toda a Ecologia.

Assim sendo, a definição jurídico-legal de meio ambiente não se afina com o conceito extraído da ecologia científica. Já o conceito constante da Constituição, apesar da impropriedade terminológica presente no caput do art. 225, corresponde à definição ampla da ciência ecológica. Portanto, a ideia jurídico-normativa de meio ambiente ecologicamente equilibrado a ser necessariamente admitida e utilizada pelos operadores do Direito no Brasil é a fornecida pela Ecologia.85

Meio ambiente ecologicamente equilibrado difere do direito ele. Viu-se que aquele, a rigor, corresponde a estado fenomenológico material cuja inalteração depende da não ocorrência de certos fenômenos naturais e da inação humana sobre os elementos da natureza.

Sob o prisma normativo, meio ambiente ecologicamente equilibrado corresponde a “[...] bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida [...]”86 (grifos nossos), objeto de direito. Enquanto direito, trata-se de direito fundamental, integralizador de direitos como à vida saudável, desenvolvimento socioeconômico e proteção dos recursos ambientais;87 ou seja, direito-garantia.88 Constitui direito necessário à efetivação do direito-fundamento89 dignidade da pessoa humana, o qual irradia todo o ordenamento jurídico,90 com previsão inclusive no Preâmbulo da CF/88.91

85 Na concepção de José Afonso da Silva, meio ambiente é “[...] a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 8ª ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

86 Art. 225 da CF/88.

87 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 12ª ed. Amplamente reformulada. 2ª tiragem. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 11

88 De forma geral, direito tem imediato conteúdo declaratório da existência de um interesse. Noutro lado, por meio da Garantia assegurasse o direito já declarado. A garantia não deixa de ser direito, porém também assegura outros direitos. Ver: BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 16ª ed. Malheiros: São Paulo, 2005, pag. 526.

89 Art. 1º, III, da CF/88.

90 CONTE, Christiany Pegorari; FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Crimes Ambientais. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 20.

91 No Preâmbulo, “devem ser postos em relevo os valores que norteiam a Constituição e que devem servir de orientação para a correta interpretação e aplicação das normas constitucionais [...] contém a

O caput do artigo 225 da CF/88 dispõe que o direito ao meio ambiente equilibrado é “direito de todos”, titularizado simultaneamente e indistintamente por todos, logo, subjetivamente exigível pelo conjunto de toda a sociedade e por qualquer pessoa individualmente. Assim, dispondo ser o meio ambiente bem de uso comum do povo e direito de todos, a CF/88 anuncia ser objeto de direito público subjetivo, caracterizando-o ainda como difuso, nos termos do art. 81, parágrafo único, I, da Lei nº 8.078/1990.92

Com base em julgados do Supremo Tribunal Federal (STF), ante o que se estabelece no art. 225 da CF/88, havendo conflito entre os interesses individual e coletivo, resolve-se a favor deste último.93 Utilizando-se do mesmo raciocínio, quanto ao tema ambiental, pode-se afirmar que em havendo conflito entre direitos coletivos

stricto sensu e difusos, deve predominar o interesse de que sejam titulares pessoas

indeterminadas, o que envolve também “[...] grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si [...] por uma relação jurídica base”.94 Assim, o STF parece indicar que não havendo como compatibilizar95 o direito à preservação da qualidade do meio ambiente (difuso) e a direitos coletivos stricto sensu; a princípio, deve-se favorecer a proteção dos elementos da natureza, visto que dessa forma beneficiam-se todos, indistintamente.

Diante do manifesto reconhecimento e identificação jurídico-constitucional do bem jurídico meio ambiente ecologicamente equilibrado e de seus titulares, faz-se

explicitação dos valores que dominam a obra constitucional de 1988 [...]”. Ver: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. A Constituição e o Supremo. 6ª ed. Atualizada até a EC 99/2017, Brasília: STF, Secretaria de Documentação, 2018, p. 15.

92 “Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os

transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; [...]”. Ver: BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.078, de 11 de

setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8078.htm. Acesso em 13 out. 2018.

93 Exemplo: MS 25.284/DF. Ver: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MS 25.284/DF. Tribunal Pleno. Impetrante: Davi Resende Soares e outros. Impetrado: Presidente da República. Rel. Min. Marco Aurélio. Brasília, DJ 27 out. 2015. Disponível em:

http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2277761. Acesso em 8 dez. 2018.

94 Art. 81, parágrafo único, II, da Lei nº 8.078/90.

95 Faz-se alusão a um dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, propósito constante no inciso I do art. 4º da Lei nº 6.938/81. Ver: BRASIL. Presidência da República. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. Acesso em 16 nov. 2018.

necessário indicar o ETEP como um dos arranjos jurídico-instrumentais voltados a efetivá-lo.

No documento CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA UNICEUB (páginas 33-37)