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Pedras de Bezoar (pedras que se encontram no estômago dos animais, principalmente dos ruminantes, distintas de acordo com a zona de onde vêm - Pérsia, Goa, etc.;

utilizadas como antídoto para vários venenos). Na p. 28, Semedo acrescenta uma observação sobre o uso de bezoárticos: “se a pestilência proceder somente da qualidade oculta, sem vício do sangue, ou dos outros humores, não se deve sangrar nem purgar o doente, devem usar-se somente os Bezoárticos.”

Bezoártico que se faz em São Domingos (p. 40): “admirável contra febres malignas, bexigas, sarampões, venenos, pestilência (para que este remédio actue com mais

194 Sobre as Pedras Bezoar ver: Coelho 1785: 76; Dicionário farmacêutico, s.u. “Bezoartico animal e vegetal”, “Pedra Bezoar Oriental”, “Pedra Bezoar Ocidental”.

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eficácia, deve meter-se debaixo dos sovacos e virilhas umas bexigas de vaca cheias de água quente”.

Pó de esmeralda (p.41): bebido tem propriedades particulares contra o veneno pestilente; se bebido aproveita ao veneno interior, se aplicado no corpo, aproveitará ao exterior.

Bezoártico contra veneno (p. 53 – 54): “será este meu antidoto o melhor contra veneno de quantos pode haver, pois nas doenças maligníssimas tem sempre provado ser um milagre: Dá-se em quantidade de meia oitava de cada vez, desfeito em água fervida com raízes de escorcioneira, ou com pevides de cidra azeda, ou com folhas de cardo santo, e repete-se, ao menos, duas vezes ao dia, enquanto durar a doença, ou ao menos até que se aplaquem os acidentes venenosos. E assim me resolvi a revelar este remédio ao Padre frei José das Chagas, boticário de São Domingos, de quem por ser religioso e confessor tive maior segurança para o sigilo, porque quero que as virtudes do remédio sejam publicadas para utilidade dos enfermos, não quero que a receita seja vulgar, porque daí se seguiria desprezo pelo medicamento, sem gratificação ao autor dele”.

Semedo explica que quem quiser aprofundar o estudo desta receita, que é um bezoártico da sua própria autoria, deve verificar a sua “Proposta que o Doutor João Curvo Semedo, Medico, morador em Lisboa faz aos amantes da saúde, & consciências”

Cf. SEMEDO 1706: 2-3 ou a sua Polyanthea Medicinal: SEMEDO 1709: 2.95, ff. 639 – 649.

3. Medicamentos cordiais e sudoríficos (p. 39): “Tanta é a virtude dos sudoríficos contra a peste que afirma: Mathias Rodlero, médico do Conde Palatino, que se devem antepor a todos os demais remédios”; Ambrósio Nunes aconselha que logo desde o primeiro instante se devem aplicar.

Osso de Veado, Engala ou de Abada (p. 35 – 36):

Receita

“Osso de Engala, Veado, ou de Abada, preparados sem fogo, dará 1,25 gramas, desfeito em meio quartilho de água fervida com pevides de cidra azeda ou com folhas de cardo santo, ou de escabriola, ou com ginjas passadas, ou desfeito em cinco onças de água destilada de papoilas ou escorcioneira. Tomar várias vezes ao dia”.

Raiz de Carlina (p. 37):

“O pó de raiz dado em quantidade de meia oitava de cada vez é soberano medicamento.

Um dos remédios particulares em que se tem grande confiança é a raiz de carlina colhida em agosto, e seca à sombra. Muitos afirmam que um Anjo ensinou esta raiz ao Imperador Carlos V, donde tomou o nome de Carlina, e que com o uso desta raiz livrara o dito Imperador e todo o seu exército de uma grande peste”.

Bagas maduras de Hera (p. 38):

Receita

Pó de bagas maduras de hera, secas à sombra, em quantidade de meia oitava misturada com água fervida em folhas de cardo santo ou escabriola; (Semedo aponta para Helmont).

104 Bagas de Sabugueiro (p. 38):

Receita

Uma arroba de bagas maduras de sabugueiro, desfeita e fervida com Ruta Caprária da flor de sabugueiro seca à sombra.

Alambre (p. 38 – 39): antídoto contra a peste sobretudo para as mulheres grávidas ou que deram à luz.

Receita

Alambre desfeito em três onças de vinho finíssimo.

Mitridato (p. 39):

Receita

“Duas oitavas de Metridato desfeito em quatro onças de vinagre muito forte. Dado a beber aos apestados os livra do perigo por meio do suor”.

4. Medicamentos (outros) Água de Âmbar (p. 41 - 42):

“É muito louvada para aquelas pestes que procedem de qualidade oculta, que destrói de improviso os espíritos vitais (…) Mas porque poucos a sabem fazer darei aqui a receita com toda a clareza”.

Receita (p. 43):

“Escolham âmbar virgem a que o povo chama “âmbar gris”, meia onça, de Almíscar meia oitava, e moa-se tudo e ponha-se dentro de uma garrafa grande de vidro muito grosso, como são as da Holanda, e deite-se dentro um quartilho e meio de espírito de vinho – que primeiro seja destilado quatro vezes, e tape-se a garrafa muito bem, e se barre toda, e se deixe estar até que o barro seque; depois enterra-se a garrafa num monte de esterco de cavalo para que, com aquele calor se fermente o âmbar e o almíscar, e se deixe enterrada durante oito dias, passados estes se desenterre a garrafa, e depois de muito bem limpa se deite o licor que está nela noutro vidro, com tal cautela, que o pé, ou âmbar, fique dentro da primeira garrafa. E este licor puro se guarde muito tapado e lacrado, para se usar quando a necessidade o pedir, desta água se dará de cada vez, uma colher de prata, misturando-a com caldo de galinha ou de perdiz, ou para os muitos fracos, que não tiverem febre, se dará misturado com duas colheres de vinho branco.

E para que este remédio seja exactamente bem feito quero advertir: que o âmbar seja virgem, porque o que é vomitado das baleias, já perdeu muita da sua virtude; E para que não nos enganem, digo que o virgem se conhece porque é branco ou cinzento, e é mais duro, e o vomitado é negro, é mais mole, e assim vale menos dinheiro e tem menos virtude”.