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participam da pesquisa, consideramos no questionário se os mesmos possuem certificado de proficiência em língua de sinais. Destacamos que no Paraná há três possibilidades de conquistar um certificado: pelo PROLIBRAS, o exame ofertado pelo MEC (Ministério da Educação) até 2016, o certificado emitido pela Feneis e o certificado emitido pelo CAS (Centro de Apoio aos Profissionais da Educação de Surdos).

Os certificados das duas últimas instituições são alcançados mediante bancas de proficiência desenvolvidas durante todo o ano. Já o PROLIBRAS foi ofertado até 2016, e não tem mais sido realizado, pois responde ao Decreto nº 5.626/2005 (BRASIL, 2005), que considerou o prazo de 10 anos para que o exame fosse desenvolvido, posterior a esse prazo, deve-se prover outras políticas para responder à regulamentação.

Diante da exigência de conhecimento e inserção da Libras na formação do professor, elaboramos questões relacionadas ao uso da língua de sinais, destacamos uma questão sobre a proficiência na Libras, cujo resultado pode ser observado no Gráfico N:

GRÁFICO N – SOBRE CERTIFICAÇÃO DE PROFICIÊNCIA EM LÍNGUA DE SINAIS - COM BASE NOS QUESTIONÁRIOS 2015/2016.

Elaboração da autora – 2017

No gráfico, destacamos que 22 dos 40 professores, ou seja, 55%, não possuem certificação de proficiência em Libras, 5 destacam que têm outro tipo de proficiência linguística, mas não para a Libras, 4 possuem certificado de intérprete PROLIBRAS, 4 possuem certificado pelo PROLIBRAS - MEC, para o ensino da Libras, 2 professores surdos têm certificado de instrutor de Libras pela Feneis, 1 tem certificado de intérprete de Libras pela Feneis ou CAS, 1 é formado no curso de Letras Libras e 1 tem certificado de apoio pedagógico. Observemos a tabela 3.

TABELA 3 –SOBRE CERTIFICAÇÃO DE PROFICIÊNCIA E NÍVEL DE FLUÊNCIA LINGUÍSTICA EM LIBRAS- BASE NOS QUESTIONÁRIOS 2015/2016 CERTIFICAÇÃO DE PROFICIÊNCIA EM

LIBRAS- CONSTA DO APÊNDICE 31 AUTOAVALIAÇÃO DE FLUÊNCIA EM LIBRAS – CONSTA DO APÊNDICE 32

Não tem 22 Básico 10

Outros não especificados 5 Intermediário 8

Intérprete –PROLIBRAS/MEC 4 Avançado 8

PROLIBRAS- ensino 4 Em desenvolvimento 6

Instrutor FENEIS 2 Não sei avaliar 4

Apoio Pedagógico 1 Nativo 3

Intérprete CAS ou FENEIS 1 Insuficiente 1

Letras-Libras 1 - -

Total 40 Total 40

Organização da autora – 2017.

É considerável o número de professores que trabalha com surdos e não tem certificado de proficiência. Há ainda uma contradição entre a certificação de proficiência e a fluência, o certificado de proficiência documenta o uso da Libras, mas a fluência tem a ver com o uso da língua de sinais nas situações de interação com os surdos e outros usuário dela da maneira mais natural possível, dentro dos mais diversos contextos.

Essa realidade da falta de comprovação de proficiência pelos professores contribuiu com uma política para a modificação do cenário paranaense, quando a Secretaria de Educação do Estado do Paraná (SEED/PR) exigiu que os professores das escolas bilíngues que ainda não tinham certificado passassem por uma avaliação de proficiência em Libras no ano de 2017.

Essa ação pode significar avanço político na direção da educação bilíngue, se considerarmos as bancas de avaliação e a ocupação de vagas nessas escolas específicas para surdos por professores bilíngues com proficiência comprovada por certificado. Por outro lado, cabe investigar em que medida o Estado contribuiu com a formação e preparo desses professores para serem avaliados, sem culpabilizar pela ausência na estrutura dada. Isso porque, no relato dos professores, não houve formação continuada que concorresse para esse preparo, ainda há contradição quanto aos conhecimentos cobrados deles, se conhecimentos de intérpretes ou de professores das disciplinas relativas, pois tratam-se de atribuições diferentes.

Com essa realidade, muitos professores tiveram que deixar suas vagas nas escolas para surdos, mesmo após anos de trabalho efetivo nessas instituições, por isso, há que investigar as contradições presentes nessa ação.

Consideramos ainda o nível linguístico que os professores destacaram por autoavaliação, independente do certificado de proficiência, a partir do qual organizamos o Gráfico O.

GRÁFICO O – AUTOAVALIAÇÃO DO NÍVEL LINGUÍSTICO INDEPENDENTE DA CERTIFICAÇÃO- COM BASE NOS QUESTIONÁRIOS- 2015/2016.

Elaboração da autora – 2017

No Gráfico O, encontramos entre os professores 10 que se autoavaliam com fluência básica na Libras, 8 destacam uso intermediário, 8 em nível avançado, 6 destacam que estão em desenvolvimento, 4 não sabem avaliar seu próprio nível de fluência, 3 são surdos e nativos na língua de sinais e 1 destaca seu nível linguístico como insuficiente para a comunicação com surdos.

Observamos que entre os professores, 87% fazem uso de L.S (língua de sinais) em algum nível e desses, 20% destacam que possuem fluência em Libras no nível avançado. Os 13% restantes não fazem uso de Libras ou não sabem avaliar. Embora observemos uma falha referente à ausência de compartilhamento de uma língua comum por 13% dos professores, a maior parte, 87%, faz uso da língua de sinais. Esse dado quanto à proficiência e fluência na língua de sinais é importante

para o processo de ensino-aprendizagem de surdos. Autores da revisão de literatura, como Martins (2010), Silva (2012) e Costa (2013), afirmam que a língua de sinais precisa ser compartilhada entre estudantes e professores para que haja ensino-aprendizagem.

O não compartilhamento linguístico se constitui como uma barreira significativa na apropriação de conhecimentos. Costa (2013) destaca que o ensino sem que o professor conheça e faça uso da língua do estudante, quando há ausência de código linguístico compartilhado, trata-se de uma proposta deficiente, por isso é de extrema importância que o professor faça uso da Libras nos níveis mais elevados.

Campelo e Rezende (2014, p.73) criticam a política inclusiva do MEC, pois, como observamos nos dados, os estudantes surdos não encontram compartilhamento linguístico, mesmo nas escolas conveniadas, e ao solicitarem uma educação que os ensine em escolas específicas, como apontam na Carta Aberta (2012), são acusados de segregacionistas ou de guetização.

Santos (2011) aponta para a necessidade de um ambiente sociolínguístico com responsabilidade na formação para professores e no desenvolvimento de práticas de ensino bilíngues. O direito do surdo de ter acesso ao conhecimento por via da língua de sinais requer políticas mais elaboradas e precisa encontrar apoio no Estado. Ainda que seja um número considerável de professores que usam Libras em algum nível, não podemos deixar passar despercebido que apenas 20% dos professores destacam que fazem uso da Libras no nível avançado, o que favorece as mediações e interações. Constatamos que a língua de sinais, mesmo não sendo o único critério de qualidade, acesso e permanência para a educação de surdos, certamente é o principal.

Destacamos as entrevistas realizadas, para as quais apresentamos as siglas estabelecidas pela pesquisadora e que constam no apêndice 16151. Alertamos que a

pergunta está em negrito após o P, que significa pesquisadora, e as respostas seguem como os termos destacados no apêndice que demonstram o tipo de professor e instituição em que o participante trabalha. Colocamos em caixas de texto para favorecer a leitura. Consideramos excertos de entrevistas:

Questão: Independente de certificação, qual seu nível de fluência linguística? EPO/AEE1: Em desenvolvimento. A gente está sempre aprendendo, eu acredito que estou sempre em desenvolvimento, aprendendo.

EPO/EI3: Eu não tenho formação e nunca tive contato com a Libras. Fiz aqui uns dias de Libras que tive a oportunidade na sala de aula e achei ruim porque tinha uns 40 minutos de Libras e depois ia para casa, mas é pouco né? (...) Temos uma demanda grande de compromissos e pouco tempo para estudar sobre Libras e sobre a surdez. Esse ano particularmente eu não tive, porque fora esses alunos aqui, eu tenho outra escola e, fora isso, falta tempo para estudar, pois você não para. Ainda saio daqui pensando neles e falta tempo até mesmo para elaborar uma aula boa do jeito que eles merecem. (...) às vezes não somos melhores professores justamente pela falta de tempo para elaborar do jeito que gostaríamos.

EPO/ES4: Fiz especialização e tenho certificado de apoio pedagógico da Feneis, acho que minha fluência em Libras é básica.

EPO/EI5: Sim, tenho certificação de Intérprete de Libras da Feneis, também o PROLIBRAS e da SEED. (...) Bom, eu posso dizer que tenho fluência em nível avançado na Libras.

EPS/AEE9: Utilizo Libras em nível avançado. Eu nasci em um lar de ouvintes, então a Libras não era comum, ninguém usava na família, todos oralizavam, então, quando entrei ainda bem pequena na escola, comecei a desenvolver a língua de sinais. Hoje minha mãe é intérprete, mas antes, ninguém sabia nem entendia Libras na minha casa. Meu pai sabe apenas o alfabeto. Eu fiz o exame do PROLIBRAS e estou aguardando o resultado, mas ainda não recebi. (obs. No final de 2015, a mesma teve sua certificação de proficiência).

EPS/AEE10: Antes eu não tinha muito domínio da língua de sinais, mas comecei a desenvolver, principalmente quando entrei na faculdade, passei a aprender e fazer uso da Libras em nível mais avançado.

Organização da autora – 2017.

É possível observar que a falta de certificação de proficiência na Libras se reflete na autoavaliação de fluência. Constatamos isso porque o professor que afirmou ter certificado de apoio pedagógico avaliou sua fluência como básica, o participante que diz estar em desenvolvimento não tem certificação de proficiência e o que destaca ter nível avançado de fluência, tem certificado como intérprete de Libras.

Para os professores de surdos, em que pese as escolas em que os pais formalizam o pedido de educação sem língua de sinais, há compreensão de que o conhecimento linguístico e das especificidades dos surdos são base para o bilinguismo e, portanto, para a educação que respeite os estudantes.

A categoria da mediação, conforme destaca Cury (1988), aparece nas análises porque a educação é prática mediadora. Com base em Vigotsky (2007, 1987), destacamos que o professor é essencial para realizar as mediações com o estudante, é ele que vai auxiliar a realizar aquilo que o estudante ainda não faz sozinho, mas que com a orientação e apoio de alguém mais experiente, é capaz de realizar.

A partir da mediação, o estudante pode apresentar melhor desenvolvimento das funções psicológicas superiores. Vigotsky (1996, 2007 e 2009) nos diz que a