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3.2 SEGUNDO PERÍODO: POLÍTICAS DE INCLUSÃO E A DEFESA DO

3.3.1 Dados do Paraná Referentes à Educação de Surdos e Formação de

O Paraná se antecipou à lei federal para oficialização da Libras e na implementação de políticas para inclusão do surdo e formação de profissionais para o trabalho. Neste terceiro período, evidenciamos os avanços, mas também os recuos e limites. Com base nos documentos, apresentamos informações cedidas pela técnica pedagógica da área da surdez (DEEIN/201597) do departamento de

educação especial do Estado do Paraná e documentos da secretaria do estado. Segundo as informações98, encontravam-se matriculados na rede estadual de

ensino no final do ano de 2015, 912 estudantes surdos, surdocegos e deficientes auditivos e o Estado contava com 715 intérpretes de Libras. Nas Escolas Bilíngues, havia aproximadamente 606 surdos matriculados.

Os estudantes surdos que frequentam os anos finais do ensino fundamental (de 6º a 9º) têm a Libras como disciplina obrigatória, conforme Instrução nº 20/2012 – SEED/SUED e Informação nº 809/201299.

A língua de sinais é disciplina curricular para surdos, assim como a ortografia e gramática da LP são ensinadas aos ouvintes (e surdos). Apresentamos no anexo I a matriz curricular em que é ofertada 4h de LP e 2 horas de Libras semanais, evidenciando a importância e hierarquia de ambas as línguas no processo. A Libras não tem sido a primeira preocupação. A língua para a comunicação cotidiana é essencial no desenvolvimento das funções psicológicas superiores, principalmente

97 Utilizamos a data 2015 por ser o ano em que as informações foram disponibilizadas. A diretora do

Departamento de Educação Especial da SEED/PR, senhora Marisa Bispo Feitosa, disponibilizou os dados após solicitação via e-mail (marisafeitosa@seed.pr.gov.b). As informações foram encaminhadas à pesquisadora pela técnica pedagógica da área da surdez, Fabiana Ceschin Ribas, fa_ceschin@seed.pr.gov.br, do DEEIN.

98 Para verificação, o documento foi anexado na tese. Anexos G e H, Informação nº 809/2012

referente à Instrução nº 20/2012.

99 Ver Anexo H e I. INFORMATIVOS - EDUCAÇÃO DE SURDOS NO ESTADO DO PARANÁ:

através da leitura e escrita formal100 e da linguagem adequada aos diversos espaços

sociais. Portanto, há que se desenvolver o máximo da qualidade e circulação da Libras nas interações em diferentes “níveis” e contextos sociais e nesse intento, o Estado substitui algumas aulas de disciplinas gerais pela disciplina de Libras.

No Paraná, há duas Instituições Especializadas na área da Surdez/Deficiência Auditiva, com aproximadamente 131 matrículas101. Há 26 professores surdos que

atuam nas Salas de Recursos Multifuncionais – Surdez. O estado conta com 2 escolas Estaduais para Surdos102, 3 escolas municipais bilíngues para surdos103 e

12 Escolas conveniadas104. Segundo o DEEIN, há 33 estudantes surdocegos

matriculados nos Centros de Atendimento Especializado de Surdocegueira e 8 incluídos no ensino comum e AEE. Os estudantes surdos que fazem opção de ensino sem uso da Libras abrem mão do trabalho do intérprete de Libras, podendo ou não fazer uso de outros recursos105.

100 Encontramos apoio em Vigotsky (1996 e 2009 e 2009) quanto às funções psicológicas superiores

e seus colaboradores Luria (1979) e Leontiev (1978, 1989) e também em Bakhtin (1988), entendendo a língua como essencial e a importância das interações dialógicas para o desenvolvimento humano.

101 Sendo a VISIAUDIO, que desenvolve seu trabalho na Modalidade Educação Especial, em

Cornélio Procópio, e a EPHETA na Modalidade de Educação Especial, em Curitiba. A EPHETA é uma instituição filantrópica e trabalha com o que chama de método EPHETA de ensino, por meio da oralidade, mantém convênio com o Estado do Paraná, a Prefeitura de Curitiba e com a Associação mantenedora da instituição, compreendo-a como público-privada.

102 A Escola Alcindo Fanaya Júnior, que atende estudantes da educação Infantil, ensino fundamental,

médio e profissional, em Curitiba e o Instituto Londrinense de Educação de Surdos (ILES), em Londrina, que atende estudantes da educação infantil, fundamental e médio.

103 Escola Municipal para Surdos Ilza S. Santos em São José dos Pinhais; Escola Municipal Bilíngue

para Surdos: Espaço Aberto, na modalidade de educação especial em Campo Mourão; e Escola Municipal Bilíngue para Surdos José Maria Matias em Maringá.

104 Sendo: Escola Raio de Sol – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade Educação

Especial, em Assis Chateaubriand; Escola Bilíngue da ACAS – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial, em Cascavel; Escola Bilíngue para Surdos da APÁS - Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial, em Curitiba; Escola CENTRAU – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial, em Curitiba; Escola Lucas Silveira – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade de Educação Especial, Foz do Iguaçu; Escola Bilíngue da AMESFI – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade de Educação Especial, em Medianeira; Escola Professor Carlos Neufert – Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial, em Jacarezinho; Colégio Bilíngue para Surdos de Maringá – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, na Modalidade Educação Especial, em Maringá; Escola Nydia Moreira Garcêz – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial, em Paranaguá; Escola de Educação Bilíngue para Surdos Geny de Jesus Souza Ribas - Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial, em Ponta Grossa; Escola Bilíngue para Surdos da APADA – Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial, em Toledo; Escola de Educação Bilíngue Anne Sullivan - Educação Infantil e Ensino Fundamental, na Modalidade Educação Especial, em Umuarama.

105 A perspectiva clínico-terapêutica mantinha (e ainda mantém) a visão normalizadora da surdez,

chamada por Skliar, Fernandes e Guarinello de medicalização da surdez. Essa perspectiva não ficou nos porões da história após o reconhecimento da língua de sinais, mas ressurge, apoiada nas tecnologias modernas, com as quais os surdos tem maior dificuldade de luta, aparece como um movimento salvacionista em prol do surdo, levando-os à normalidade, uma delas é o implante

Observamos a modificação do cenário político e educacional quando, em 2017, o Paraná avalia a proficiência na Libras dos professores que trabalham com surdos, justificado na Resolução nº 02/2003106. As bancas foram realizadas pelo

CAS (Centro de Apoio aos Profissionais da Educação de Surdos no Paraná)107, com

professores que trabalham nas escolas específicas para surdos na rede estadual de ensino e que ainda não tinham certificado para comprovação de fluência e proficiência na Libras, afirmando fazer cumprir as exigências quanto ao uso da língua de sinais, questão essa que merece ser investigada em suas contradições para constatar se se trata de avanço ou formalidade.

3.4 SÍNTESE DESTA SEÇÃO

Nesta seção, a partir da pesquisa documental, apontamos para três períodos que se complementam e dois projetos em disputa: a educação enquanto direito e como serviço. Enquanto direito, não pode ser negada e está reconhecida no artigo 205 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Entendemos que para o surdo o direito à educação requer o bilinguismo, por meio do qual as políticas e ações coclear. Para compreender o quanto a educação vem se perdendo no reconhecimento do que é parceria intersetorial e imposição clínico-terapêutica ou medicalização da surdez, sugere-se leitura de Schubert, et.al (2015), disponível em: <http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/16212_8782.pdf >, por título SURDOS EM PROL DA SINGULARIDADE... MESMO QUANDO A FONOAUDIOLOGIA NÃO QUER E A EDUCAÇÃO NÃO ENTENDE!..., trabalho em conjunto com surdos que falam sobre esses fatos.

106 A avaliação de proficiência em Libras que aconteceu em bancas no Estado, reflete contradições

quanto à oferta de formação para o desenvolvimento da língua de sinais aos professores. Essa formação foi destacada pelos gestores de apenas duas escolas, portanto cabe apontar essa avaliação, nesse momento, de forma comedia, visto que houve reação negativa de grande parte dos professores, destacando que não lhes foi ofertado formação suficiente para essa avaliação em massa. Também é necessário compreender que tipo de conhecimentos foram cobrados dos professores, se conhecimentos linguísticos e técnicos como os de intérprete de Libras ou de professor usuário de língua de sinais para trabalhar nas disciplinas do conhecimento. Na impossibilidade de informações mais precisas por parte dos responsáveis até a finalização da escrita desta tese, destacamos a importância de pesquisas acuradas referentes a essa questão.

107 No ano de 2017, o portal

http://www.educacao.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=7249&tit=Estado-lanca-aplicativo- que-ajuda-na-aprendizagem-de-surdos, relata ações realizadas pelo governo para a acessibilidade comunicativa dos surdos. É possível também verificar diferenças em relação as informações cedidas pelo DEEIN, pois aponta para 13 escolas bilíngues. Em 04 de outubro de 2017, no lançamento de um sinalário de Libras produzido pelo estado, encontramos a informação de que a rede estadual tem 13 escolas bilíngues, nas quais todo o corpo pedagógico e os funcionários se comunicam em Libras, duas escolas bilíngues conveniadas e centros de atendimento especializados (no contra turno). Tem cerca de 900 funcionários, entre professores e intérpretes que trabalham com surdos em escolas bilíngues e regulares. A chefe de departamento, Siana do Carmo Oliveira Franco Bueno, diz: “As escolas bilíngues fazem parte do ensino regular e atendem a estudantes do ensino fundamental e médio. O diferencial é que os professores são bilíngues e ofertam as aulas em Libras, que é a primeira língua dos estudantes”. Essa política carece de ser investigada.