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3.1 PRIMEIRO PERÍODO: POLÍTICAS DE INCLUSÃO NO CONTEXTO DE

3.1.1 O Estado do Paraná e o reconhecimento da Libras

O Estado do Paraná reconheceu oficialmente a Libras pela Lei nº 12.095 (PARANÁ, 1998), mas anteriormente já havia no estado cursos de formação de professores surdos e havia intérpretes de língua de sinais em serviço na rede estadual. Destacamos a referida lei:

Súmula: Reconhece oficialmente, pelo Estado do Paraná, a linguagem gestual codificada na Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros

recursos de expressão a ela associados, como meio de comunicação objetiva e de uso corrente. Art. 3º. A Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, deverá ser incluída como conteúdo obrigatório nos cursos de formação na área de surdez, em nível de 2º e 3º graus. Parágrafo único. Fica incluída a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, no currículo da rede pública de ensino e dos cursos de magistério de formação superior nas áreas das ciências humanas, médicas e educacionais. Art. 4º. A Administração Pública, direta, indireta e fundacional através da Secretaria de Estado da Educação manterá em seus quadros funcionais profissionais surdos, bem como intérpretes da Língua Brasileira de Sinais, no processo ensino- aprendizagem, desde a educação infantil até os níveis mais elevados de ensino em suas instituições. (PARANÁ, 1998, grifos nossos)

Essa lei coloca o Paraná na história como um dos precursores da regulamentação da Libras no Brasil. A lei citada assegura a Libras no currículo das instituições, na formação de profissionais nas áreas educacionais, médicas e outros e aponta para a educação bilíngue no processo de ensino-aprendizagem dos surdos desde a educação infantil. Contudo, essa inclusão tanto da disciplina quanto da língua de sinais na realidade das escolas do estado e da formação inicial ou continuada do professor, carece de investigação.

Vários municípios paranaenses seguiram reconhecendo a Libras por meio de leis municipais específicas, como apresentamos nos apêndices 7 e 872.O município

de Foz do Iguaçu reconhece oficialmente a Libras em 1996, dois anos antes da lei estadual.

Após a lei do estado do Paraná, no ano de 1998, é reconhecida a Libras como segunda língua nos municípios de Campo Mourão, Maringá, Guarapuava e São José dos Pinhais. No ano de 1999, pelos municípios de Cascavel e Londrina. No ano 2000, pelo município de Araucária. Outros municípios reconheceram e oficializaram a língua de sinais após esse período, dando início às modificações educacionais e de formação de recursos humanos necessários.

Em relação aos documentos de cada município, encontramos no apêndice 8 os municípios de Foz do Iguaçu e Campo Mourão, que reconhecem a língua de sinais e sancionam a lei, mas não ultrapassam o reconhecimento. Foz de Iguaçu insere a Libras como disciplina nas escolas onde os surdos estão incluídos e no magistério, propõe intérpretes nas repartições públicas, mas não trata de formação de professores. Guarapuava, Cascavel, São José, Londrina e Araucária reconhecem

72 APÊNDICE 7. QUADRO 9 – RECONHECIMENTO E REGULAMENTAÇÃO DA LIBRAS COMO

DISCIPLINA NO CURRÍCULO E/OU NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO PARANÁ e APÊNDICE 8. QUADRO 10 - APRESENTAÇÃO GERAL DE COMO OFERTARAM A EDUCAÇÃO PARA SURDOS QUANDO RECONHECIDA E REGULAMENTADA A LÍNGUA BRASILERIA DE SINAIS.

a Libras e se comprometem com a educação bilíngue e inserção de Libras no currículo municipal desde a educação infantil e ainda na formação continuada para professores, intérpretes de Libras e toda a área da surdez com cursos periódicos.

Araucária compromete-se a ofertar Libras para todos os alunos e admitir profissionais, surdos ou não, que dominem a Libras. Traz uma contradição quando diz que os cursos referidos no caput da lei própria destinam-se a portadores de deficiência auditiva, familiares e comunidade, mas não dá ênfase aos professores. O município de Maringá não fala de formação de professores, apenas se compromete em prover intérpretes para repartições públicas. Mesmo diante das contradições, o reconhecimento da Libras trata-se politicamente de um significativo avanço.

Em síntese, ressaltamos dois projetos em disputa, a educação como direito e como oferta de serviços que atende às políticas neoliberais. Com os serviços, há permanência do oralismo e integração. O bilinguismo se dá pela inclusão como resposta aos interesses dos surdos manifestos nos movimentos sociais, associações de surdos e federação nacional para o reconhecimento da língua de sinais, resultando também na abertura de serviços de complementação educacional. No período em destaque, há debates dos movimentos sociais e registros de pesquisas a respeito do bilinguismo, ainda sem atenção governamental e a dupla matrícula como expressão do direito e dos serviços.

Nesse primeiro período de 1990 a 2000, não há consenso na política, o bilinguismo aparece entre muitas contradições, pois as ações pedagógicas continuam com ênfase na fala, normalização e a oferta da educação para deficientes numa perspectiva clínica e não socioantropológica. Contudo, abre-se o mercado de formação onde a Libras é a mercadoria na educação e, paralelamente, um mercado clínico fornece tecnologias necessárias à normalização da deficiência.

No período destacado, os surdos estavam nas estatísticas de insucesso escolar e, ao mesmo tempo, faziam parte das campanhas governamentais e slogans de inclusão em consonância com os organismos internacionais, uma contradição da sociedade de classes.

Nas escolas paranaenses, iniciam-se formações de curta-duração para o ensino de Libras, professores viajam ao INES para cursos de formação continuada, no intento de compreender, adquirir e disseminar a Libras. Nesse cenário, o INES enviava profissionais para realização de palestras e cursos em diferentes regiões do país, tinha início a formação de instrutores surdos e intérpretes de Libras.

Na capital paranaense, ofereciam-se cursos para intérpretes de Libras, muitos já inseridos nas escolas em nome da inclusão, recebendo formação pelo trabalho.

Neste período, permanece a política para a educação de surdos voltada mais para a integração e os documentos apresentados nos autorizam a dizer isso. Ao mesmo tempo, o bilinguismo é pauta de estudos de pesquisadores como Ferreira- Brito, Ronice Quadros, Tanya Felipe e, no Paraná, Sueli Fernandes, que contribuíram com estudos e práticas da educação de surdos. Esses estudos trazem contribuições para o processo de ensino-aprendizagem que implicam na formação de professores, na proposta de ensino com Libras e na inserção do intérprete na escola, um indício das possibilidades de superação da integração.

Passamos ao segundo período buscando evidenciar as modificações nas políticas e seus projetos de 2001 a 2008.

3.2 SEGUNDO PERÍODO: POLÍTICAS DE INCLUSÃO E A DEFESA DO