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2 ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS ENTRE MODERNIDADE, CIÊNCIA (TÉCNICA) E RISCO

2.1 Biossegurança e Organismos Geneticamente Modificados – OGMs: uma visão geral

As novas descobertas da engenharia genética281, relacionadas ao setor de biotecnologia282, vêm gerando diversas discussões e controvérsias sobre os seus benefícios, riscos e perigos. Cresce a pesquisa e a utilização de OGMs voltados para a agricultura283, com crescente interesse na produção de plantas e alimentos transgênicos em escala comercial. Apresenta-se a seguir uma visão geral desses conceitos.

2.1.1 Conceito de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), Alimentos e

Plantas Transgênicas e a percepção de seu desenvolvimento

Inicialmente, deve-se entender qual o alcance das expressões organismos geneticamente modificados284, alimentos transgênicos e plantas transgênicas, na atualidade 285:

281 “O advento da engenharia genética na década de setenta, que permitiu o desenvolvimento da chamada biotecnologia moderna, trouxe também novas preocupações com as questões de biossegurança e bioética, tanto a nível laboratorial, quanto no que diz respeito a potenciais danos ecológicos, diante da perspectiva de liberação no ambiente de organismos transgênicos.” CASTRO, L. A. B. de. Biotecnologia e

Biossegurança, In: GIUDICE, M.P. del; BOREM, A.; SILVA, P.H.A. da; MONTEIRO, J.B.R.; COSTA,

N.M.B.; OLIVEIRA, J.S. de. Alimentos transgênicos. Viçosa: UFV, 2000, p. 178.

282 Segundo Victor Ferraz, “as bases biológicas e bioquímicas do que se convencionou chamar de BIOTECNOLOGIA foram estruturadas e sedimentadas nos últimos 30 anos – com um impulso bastante grande nos últimos 20 anos – com o estabelecimento das técnicas que manipulam a molécula de DNA, a tecnologia do DNA RECOMBINANTE.” FERRAZ, V.E.de F. Transgênicos e a saúde humana. In: GIUDICE, M.P. del; BOREM, A.; SILVA, P.H.A. da; MONTEIRO, J.B.R.; COSTA, N.M.B.; OLIVEIRA, J.S. de. Alimentos transgênicos. Viçosa: UFV, 2000, p. 122.

283 Há que se destacar a informação de Aluízio Borém e Marcos Paiva quanto à existência desta discussão, há algum tempo, ainda que de maneira incipiente, quando afirmam que: “A década de 80 foi marcada por debates sobre possíveis benefícios da biotecnologia para a agricultura.” BORÉM, A.; GIÚDICE, M. P. del. Transgênicos: benefícios e riscos. In: GIUDICE, M.P. del; BOREM, A.; SILVA, P.H.A. da; MONTEIRO, J.B.R.; COSTA, N.M.B.; OLIVEIRA, J.S. de. Alimentos transgênicos. Viçosa: UFV, 2000, p. 25.

284 Termo comumente usado para descrever a aplicação da tecnologia do DNA recombinante que altera geneticamente as plantas, animais e micro-organismos, conforme a nova lei de biossegurança.

285 Para os fins deste trabalho, toda referência a organismo geneticamente modificado (OGM) deve ser entendida como planta transgênica ou transgênico, mesmo que esta sinonímia não tenha uma concordância absoluta.

Pode se conceituar alimentos transgênicos como sendo aqueles oriundos de uma planta transgênica ou de frutos, cereais ou vegetais delas extraídos, que são consumidos diretamente pelos seres humanos ou indiretamente, através dos produtos alimentares produzidos ou elaborados a partir da mencionada matéria prima. Os alimentos transgênicos são aqueles obtidos a partir de variedades transgênicas ou que no seu processamento utilizam de microorganismos transgênicos. Os organismos geneticamente modificados (OGMs) são aqueles obtidos pela técnica do DNA recombinante, nos quais são inseridos genes, em geral de outra espécie ou mesmo reino. Os transgênicos podem ser utilizados para consumo direto ou como insumo ou ingrediente na cadeia de produção de alimentos. Mas o que vêm a ser “plantas transgênicas”? Plantas transgênicas são aquelas que tiveram seu código genético alterado pelo homem, por meio de técnicas de engenharia genética.286

Pode-se entender os transgênicos287 como uma das espécies de OGMs. Melissa Rodrigues e Olívia Arantes apresentam concepção diferenciada, equiparando os conceitos destacados, ao esclarecerem que:

Organismos geneticamente modificados (OGMs) ou transgênicos são todos aqueles que in vitro recebem um ou mais genes. A transgênese é uma técnica de melhoramento genético, na qual ocorre a inserção de um ou mais genes exógenos em um organismo288. Portanto, o conceito está mais ligado às técnicas para obtenção289 (grifo nosso) deste organismo que aos produtos obtidos.290

286 RODRIGUES, Maria Rafaela Junqueira Bruno. Biodireito: Alimentos Transgênicos. São Paulo: Lemos e Cruz, 2002, p. 105-106.

287 Segundo Rubens Nodari, “a transformação genética de plantas consiste na inserção no seu genoma de uma ou mais seqüências, geralmente isoladas de mais de uma espécie, especialmente arranjadas, de forma a garantir a expressão gênica de um ou mais genes de interesse. Neste contexto, o prefixo “trans” era plenamente justificado, pois exprimia a idéia de além de, neste caso, significando o rompimento da barreira da espécie. Com o estabelecimento de normas gerais de biossegurança é que se começou a utilizar a expressão Organismo Geneticamente Modificado – OGM.” NODARI, R.O.; GUERRA, M.P.

Avaliação de riscos ambientais de plantas transgênicas. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasilia,

v.18, n.1, jan./abr.2001, p.83.

288 Por exemplo, uma variedade transgênica de milho pode ser obtida pela introdução de genes de bactérias, fungos ou de outras espécies, como arroz ou feijão, visando ao aumento nutricional do alimento ou à resistência a pragas. BORÉM; GIUDICE, op. cit.,p. 25.

289 Segundo Everaldo Barros, “a obtenção de transgênicos é relativamente simples e direta, envolvendo: 1) a clonagem do gene de interesse; 2) a sua manipulação para associar a ele elementos que direcionem a sua expressão no espaço (órgão ou tecido-específica) e no tempo (estádio-específico); 3) a sua incorporação no genoma do organismo de interesse; 4) a seleção/regeneração do OGM. O organismo transformado é, então, submetido a uma série de testes que determinam o número de cópias do trans(gene) que foi incorporado no genoma, os seus níveis de expressão, a sua expressão temporal e, ou tecido-específica, algum possível efeito deletério, bem como a viabilidade do OGM e sua capacidade de gerar descendentes.” BARROS, E.G. de. Detecção de resíduos transgênicos em alimentos. In: GIUDICE, M.P. del; BOREM, A.; SILVA, P.H.A. da; MONTEIRO, J.B.R.; COSTA, N.M.B.; OLIVEIRA, J.S. de. Alimentos transgênicos. Viçosa: UFV, 2000, p. 127-128.

290 RODRIGUES, Melissa Cachoni; ARANTES, Olívia Marcia Nagy. Direito ambiental &

O art. 3º da nova lei de biossegurança brasileira conceitua OGM como organismo cujo material genético (ADN/ARN) tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética; e derivado de OGM como produto obtido de

OGM e que não possua capacidade autônoma de replicação ou que não contenha forma viável de OGM.

Ademais, não é qualquer manipulação genética (art. 3º, §1º e §2º, da lei) que ocasiona a criação de um OGM a ser considerado no processo público decisório estudado. Um exemplo interessante seria a fabricação de insulina, que ocorre por manipulação genética, mas não se vale da tecnologia de utilização de moléculas de ADN/ARN recombinante.

“A liberação de plantas transgênicas291 para o cultivo e para o consumo humano e animal, ou de seus derivados, atrai cada vez mais a atenção das pessoas” 292, considerada um tema polêmico e muito debatido nos mais distintos campos do conhecimento. Quanto ao desenvolvimento progressivo dos transgênicos, existem normalmente classificações baseadas em suas propriedades ou características293. Entre essas classificações, vale destacar a apresentada por José Peres, que expõe um cenário prospectivo marcado por, pelo menos, “quatro ondas dos inúmeros processos e produtos que poderão ser disponibilizados para a sociedade pela transgenia.”294

291 Luiz Castro relata que “as primeiras plantas transgênicas, obtidas por engenharia genética, começaram a ser liberadas no campo em meados da década de 80. Atualmente já foram autorizados mais de 25.000 testes de campo no mundo, metade nos Estados Unidos, Canadá e uma boa parte na Europa.” CASTRO, op. cit., p. 180.

292 NODARI, op. cit., 2001, p. 82.

293 Um exemplo é a classificação apresentada por Afonso Valois, que considera que “as plantas transgênicas estão situadas em três níveis principais quanto à sua geração e utilização: a) genótipos com resistência a fatores bióticos e abióticos; b) genótipos com produtos de melhor qualidade; c) genótipos biorreatores, em fase inicial de desenvolvimento.” VALOIS, A.C.C. Importância dos transgênicos para

a agricultura. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.18, n.1, jan./abr.2001, p.48.

294 PERES, J. C. R. Transgênicos: os benefícios para um agronegócio sustentável. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.18, n.1, jan./abr.2001, p. 16.

A primeira onda (características agronômicas) refere-se a plantas tolerantes a herbicidas e a ataques de insetos e, num segundo momento, mais tolerantes, também, a fungos, a bactérias, a vírus, à seca e a outros estresses abióticos.

A segunda onda (qualidade e processamento), com pesquisas já avançadas, refere-se a plantas transgênicas com melhor qualidade nutricional. “Como exemplo, podem ser destacados cultivares de soja com óleo de menos gorduras saturadas, grãos com maiores teores de proteínas, vitaminas, sais minerais, etc.”295 Neste estágio, destaca a possibilidade de incorporação de qualidades físico-químicas nas culturas, em que o algodão transgênico, por exemplo, poderia gerar fibras com características semelhantes ao poliéster.

A terceira (farmacêuticos e nutracêuticos) e quarta (químicos específicos) ondas referem-se a produtos e processos farmacêuticos, nutracêuticos e químicos específicos, tendo como exemplo: “plantas vacinas, plantas com inserção de fatores de crescimento biofáticos, e plantas e animais produzindo matérias-primas para a indústria (biofábricas).”296

Quanto às metodologias existentes para a criação de plantas transgênicas na atualidade297, destacam-se duas principais para a transgenia de células vegetais: a clonagem e a biobalística298. Entre as diversas plantas transgênicas

295 Id. Ibid., p. 17.

296 PERES, op. cit., p. 17.

297 Segundo Everaldo Barros, “a transformação de células vegetais pode ser intermediada por vetores biológicos, por métodos físicos ou por métodos químicos. O vetor biológico mais utilizado para mediar a transformação de células vegetais é a bactéria Agrobacterium tumefasciens.” BARROS, op. cit., p. 127- 128.

298 “(1) Clonagem do gene de interesse no T-DNA de Agrobacterium tumefaciens e transformação da planta via co-cultivo de células vegetais com células da bactéria transformada. (2) Introdução indiscriminada do gene em células vegetais por meio de bombardeamento de partículas metálicas contendo o DNA a ser inserido no genoma da planta (Biobalística).” MOREIRA, M.A. Plantas

transgênicas: considerações sobre os caracteres de maior interesse e riscos potenciais de alimentos

transgênicos. In: GIUDICE, M.P. del; BOREM, A.; SILVA, P.H.A. da; MONTEIRO, J.B.R.; COSTA, N.M.B.; OLIVEIRA, J.S. de. Alimentos transgênicos. Viçosa: UFV, 2000, p. 148.

existentes, vale ressaltar algumas mais conhecidas, a título ilustrativo. Nesse sentido, destaca Maurílio Moreira:

1. Um dos primeiros caracteres geneticamente engenheirado em plantas foi a resistência a lepidópteros, utilizando o gene que codifica a toxina de Bacillus thuringiensis299 (Bt). O gene Bt foi transferido

para o milho utilizando o promotor 35S de CamV, o que confere resistência ao ‘european corn borer’ (importante praga do milho nos Estados Unidos);

2. Outra característica geneticamente engenheirada em milho e em soja foi a resistência ao herbicida glifosato ou “Round up” criando os cultivares ‘Round up Ready’. O uso dessa nova tecnologia tem mostrado ser altamente eficiente no controle de ervas daninhas. (…); 3. Os genes Bt e de tolerância ao glifosato foram também introduzidos em algodão. Nos Estados Unidos as variedades de algodão Bt e Bt/Round up Ready têm mostrado serem mais produtivas e de menor custo de produção. (…);

4. Outra característica que tem demonstrado ser de grande valia é a transformação genética de plantas visando à esterilidade masculina, o que permite a obtenção de sementes híbridas. (…) Por exemplo, já estão disponíveis genótipos de canola com gene indutor da esterilidade masculina (gene barnase) e restaurador da fertilidade (gene barstar) e, ao mesmo tempo, tolerantes ao herbicida glufosinato; 5. Existem muitos genes sendo testados para a transformação de plantas que condicionam: (a) resistência a doenças causadas por vírus, fungos, bactérias e nematóides; (b) mudanças na composição do amido, de proteínas e de óleos; (c) produção de anticorpos e de produtos de uso farmacológico.300

No Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) exerce importante papel, juntamente com outras entidades e instituições públicas e privadas, quanto à pesquisa e o desenvolvimento de OGMs. Desde 2001, ela vem desenvolvendo diversas plantas transgênicas, tais como: soja/hebicida, soja/hormônios de crescimento, soja/proteína, feijão/mosaico-dourado, feijão/herbicida, batata/resistência a fungos, feijão/proteína, mamão/vírus da mancha anelar, banana/resistência a fungos etc.301

299 Bactéria de ocorrência natural no solo e usada com sucesso na agricultura orgânica para controlar certos insetos por mais de 30 anos. Quando ingerida pelo inseto alvo, a proteína produzida pelo B.t. mata o inseto promovendo distúrbios no seu sistema digestivo.

300 MOREIRA, M.A., op. cit., p. 146-147. 301 PERES, op. cit., p. 24.

2.1.2 Biotecnologia, Biossegurança e benefícios e riscos dos OGMs: visão geral O setor de Biotecnologia302 tem-se desenvolvido de forma espetacular nas últimas décadas, com novas áreas nos campos da ciência303, com diversas metodologias utilizadas, tais como: “a genética, a biologia molecular, a cultura de células e tecidos, a engenharia genética e a clonagem” 304. Destacam-se nesta dissertação a sua aplicação na agropecuária e o respectivo impacto ambiental, relacionados a plantas e alimentos transgênicos305, nas áreas de:

1) produção vegetal e silvicultura, melhoramento genético, propagação, crescimento e nutrição, defesa vegetal (por exemplo, plantas transgênicas, detecção de patógenos exóticos, biodefensivos, etc); 2) produção animal, aqüicultura e pesca, melhoramento genético, sanidade, nutrição; 3) agroindústria: produtos fermentados, biomassa, processamento de alimentos, produção de energia e equipamentos; 4) ambiente: biomonitoração, biorrecuperação de áreas degradadas, tratamentos de efluentes e resíduos, controle biológico de doenças e pragas, redução drástica do uso de agrotóxicos e preservação da biodiversidade.306

Segundo Simone Scholze, “o avanço da pesquisa biotecnológica promove cada vez mais a mobilização da sociedade, dos setores econômicos e dos poderes públicos com respeito ao estímulo, à absorção e ao controle dos resultados

302 “Estima-se que o setor de biotecnologia mundial, que representou algo como US$ 500 milhões em 1995, alcance US$ 6,6 bilhões, em 2006 e algo entre US$ 10 e US$ 20 bilhões em 2010. Os genes já começam a ser denominados como “ouro verde” pelo potencial econômico que representa seu domínio. Se em 1987 havia apenas cinco testes com cultivares agrícolas transgênicas, nos EUA, hoje já se contam aos milhares. Investe-se fortemente em pesquisas, com vistas ao desenvolvimento e à aplicação do que já é conhecido e na possibilidade de obter novas descobertas de valor econômico.” ARAÚJO, J. C.

Produtos Transgênicos na Agricultura – Questões técnicas, ideológicas e políticas. Cadernos de

Ciência & Tecnologia. Brasília, v.18, n.1, p. 118, jan./abr.2001b.

303 A Política de Desenvolvimento da Biotecnologia brasileira, com a criação de um Comitê Nacional de Biotecnologia, foi implementada pelo Decreto n.º 6.041, de 8 de fevereiro de 2007.

304 PERES, op. cit., p. 15.

305 Para uma apreensão da questão da propriedade intelectual envolvida com a biotecnologia e, também especificamente, com os transgênicos, consultar: SCHOLZE, Simone Henriqueta Cossetin. Propriedade intelectual e biotecnologia: aspectos jurídicos e éticos. In: POLETTI, Ronaldo de Britto (org.). Notícia do

Direito Brasileiro. Nova Série. n. 5.(jan/jun 1998). Brasília: Faculdade de Direito/UnB, 1999, p. 91-115.

dessas pesquisas.”307 Tal avanço implica reações positivas e negativas, ligadas ao caráter de incerteza ambiental e sanitária e às consequências da adoção de transgênicos, em face dos contornos éticos, políticos, econômicos e sociais envolvidos.

Para regular essas questões pertinentes aos OGMs, destacam-se normas de segurança biológicas, comumente denominadas normas de biossegurança, que buscam estabelecer mecanismos de fiscalização, controle e proteção do uso da biotecnologia, “tanto no que tange a experimentos laboratoriais, como a testes de campo que possam implicar risco biológico, provocando impactos ambientais indesejáveis ou consequências negativas para a saúde humana.” 308 Assim, “a biossegurança é o conjunto de mecanismos e práticas sociais, entre eles diversas normatizações, utilizados para a garantia da proteção ao meio ambiente, reconhecido através de legislações específicas.” 309

Em relação à questão ambiental, tais normas podem ser derivadas das exigências do disposto no art. 225, CF/88, para a conservação da biodiversidade brasileira, que pode ser considerada um ponto central em toda a consideração ambiental 310.

Além disso, “preocupações com os atributos intrínsecos e extrínsecos de qualidade nos alimentos têm crescido nas últimas décadas e, atualmente, a polêmica

307 SCHOLZE, Simone H. C. Por que a pesquisa com transgênicos é importante para o Brasil –

Aspectos científicos, econômicos e jurídicos. Cadernos de Ciência & Tecnologia. Brasília, v.18, n.1,

jan./abr.2001, p. 60. 308 Id. Ibid., p. 61.

309 RODRIGUES, Maria Rafaela Junqueira Bruno, op. cit., p. 120.

310 “A variação biológica de determinado lugar ou, em termos mais genéricos, o conjunto de diferentes espécies de seres vivos de todo o planeta. De forma mais ampla, define-se biodiversidade como o total de organismos existentes, a sua variação genética e os complexos ecológicos por eles habitados; logo, não apenas as diferentes espécies, mas também as diferenças dentro da mesma espécie. De forma mais restrita, define-se biodiversidade como o conjunto de seres vivos que habitam a biosfera, com suas características taxonômicas e ecológicas, sem considerar os fatores químicos e físicos do ambiente (…) Do ponto de vista da engenharia genética, no entanto, o termo biodiversidade compreende o estudo de diversos fatores, tais como: a) das seqüências de ADN (DNA), que compreendem todo o genoma dos indivíduos, mesmo as características com pouca ou nenhuma expressão gênica; b) dos genes com valor adaptativo; c) das diferenças e similaridades entre os indivíduos de uma mesma espécie e d) das interações entre os organismos que compõem determinadas comunidades.” Id. Ibid., p. 119-120.

se acirra com a entrada dos alimentos geneticamente modificados no mercado de consumo global.”311 A discussão sobre OGMs costuma direcionar-se ao levantamento de seus reais benefícios e riscos concretos e potenciais. A capacidade de alterar a genética das plantas e a incerteza científica de suas consequências causam enorme controvérsia, sobretudo para a liberação de OGMs no meio ambiente em escala comercial. Afonso Valois indica as diversas vantagens que as técnicas de engenharia genética e os próprios OGMs podem proporcionar ao melhoramento genético de plantas 312. Em relação à agricultura, ressalta Aluísio Borém: aumento da resistência a fatores bióticos, adaptação a condições externas, tolerância a herbicidas não seletivos, introdução de características especiais e/ou nutricionais, plantas como biorreatores outros benefícios na produção animal e microbiana, para obtenção de substâncias usadas no processamento de alimentos e obtenção de medicamentos.313

A necessidade de precaução e de controle quanto às atividades relacionadas a OGMs dizem respeito, normalmente, à falta de conhecimento dos potenciais usos da biotecnologia. E este é o ponto que evidencia os maiores riscos na

311 PESSANHA; WILKINSON, op. cit., p. 264.

312 “1) aumento da produção e da produtividade com redução de custos; 2) alternativa para a comercialização de produtos agrícolas; 3) melhor controle ambiental especialmente pela redução ou extinção do uso de agrotóxicos; 4) incremento da capacidade comparativa e competitiva na comercialização de produtos agrícolas diante de um mercado globalizado; 5) possibilidade da análise acurada dos produtos transgênicos para a total segurança alimentar e ambiental; 6) busca de caminhos alternativos para bem informar os produtores e consumidores sobre a origem dos transgênicos; 7) aumento da variabilidade genética pela inserção de genes exógenos em genomas funcionais; 8) proporcionar maior velocidade na geração de novas cultivares; 9) tornar os programas de melhoramento genético direcionados adequadamente; 10) promover melhores condições para vencer impedimentos de ordem biótica e abiótica; 11) facilitar a exploração de condições ecológicas adversas pelo direcionamento da criação de novos genótipos adaptados; 12) inteligente meio para transpor as atuais barreiras de dificuldade de importação de relevantes recursos genéticos de seus centros de origem localizados em outros países, pois os genes exógenos podem exteriorizar semelhantes respostas fenotípicas de penetrância e expressividade em relação aos genes endógenos; 13) proporcionar o uso de alternativas genotípicas desejáveis não encontradas com facilidade na natureza; 14) melhoria da qualidade dos produtos agrícolas; 15) plena abertura de oportunidade para evitar o aparecimento de monopólios ou oligopólios na produção de sementes melhoradas; 16) consistente alternativa para contribuir com a mitigação ou extinção da fome, pobreza e miséria absoluta que assolam cerca de 18% da população mundial.” VALOIS, op. cit., p.29.

utilização de OGMs para liberação no meio ambiente em escala comercial e para a saúde alimentar humana e animal.

Uma das ameaças mais importantes, por exemplo, é o risco da poluição genética, ou seja, “a possibilidade (real), de haver o “cruzamento” 314 de cultivares transgênicas com plantas da mesma espécie e com “parentes” da cultivar “domesticada”, existentes na biodiversidade brasileira” 315. Outros riscos também são possíveis, “como efeitos danosos em espécies não-alvo (aves, minhocas, peixes, entre outros), contaminação de solo e água, (…). Do ponto de vista agrícola, a transferência de genes pode provocar o surgimento de plantas daninhas e pragas resistentes (…).” 316 É o que se chama do risco de surgimento de superpragas 317. Há estudo de casos “em que a praga sequestra toxinas do hospedeiro e as transfere para o seu inimigo natural, ocorrendo a redução da população do agente de controle biológico na população.” 318 Outros riscos também comumente destacados 319 são: a resistência bacteriana a

314 Segundo José Araújo: “poderá, por essa teoria, o gene B.t., por exemplo, transferir-se espontaneamente para as variedades de milho indígenas brasileiras, para a enorme diversidade de variedades tradicionais (que constituem em fonte genética de melhoramento da espécie) ou, mesmo, para outras gramíneas que ocorrem na natureza, ‘contaminando’, geneticamente, essas plantas, já que o gene da bactéria B.t. não faz parte de seu código genético. Outro exemplo significativo refere-se à possibilidade de que o gene

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