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4. Panorama geral das reportagens

4.2. Blocos de reportagens: distribuição por assunto

As 150 reportagens foram distribuídas em nove blocos, de acordo com assuntos comuns ou aproximados. Isso permite observar quais são as temáticas predominantes durante o período em estudo; além disso, se os quatro traços de sentido em análise continuam prevalecendo e em que medida. Ao mesmo tempo, garante subsídio metodológico para trabalhar com número mais reduzido de textos porque, mais adiante, quando se estará abordando apenas as expressões nominais, a análise recairá sobre 30 textos, selecionados por sua representatividade entre o total das reportagens que compõem o universo de referência.

As Revistas Época e Isto É apresentam, acima do texto, uma palavra-chave sobre o assunto tratado. Essa indicação, entretanto, não é necessariamente seguida quando o critério de distribuição dos textos procura abranger conteúdos comuns nas três revistas. Caso fosse seguida a distribuição a partir daquela palavra-chave, o número de blocos de conteúdo passaria de quinze, o que poderia dificultar a observação de características importantes para a apresentação de um panorama geral sobre as informações que as revistas têm privilegiado ao longo do período em estudo. O critério de distribuição vincula-se, portanto, à possibilidade de enquadrar os assuntos das três revistas no menor número de blocos possível.

TABELA 01: Distribuição dos assuntos nas 150 reportagens;

ASSUNTOS rOTAL Percentual

Fusão ou venda de empresas 28 18,67

Empresas e investimentos 28 18,67

Política econômica nacional 25 16,67

Empresários ou executivos 17 11,33

Questões sociais 14 09,33

Corrupção ou denúncia 11 07,33

Política econômica intemacional 11 07,33

Intemet 09 06,00

Crise Brasil-Argentina 07 04,67

TOTAL GERAL 150 100%

A freqüência de cada um dos assuntos, provavelmente, é decorrente dos principais fatos que aconteceram na área econômica^ durante o período em estudo; de julho de 1999 a junho de 2000. Houve outros, mas a imprensa seleciona aqueles que constituem informação

^ No jornalismo tradicional, (até o descenso da guerra fiia) assuntos de empresas (fusões, investimentos, empresários) que hoje ocupam tanto espaço, eram considerados temas publicitários e, raramente, objeto de matérias redacionais.

relevante. Por isso, também pode indicar preferência das revistas: cada uma delas comparece com algum texto em cada um dos blocos^. Por vezes acontece que o mesmo assunto seja abordado na mesma semana: é o caso do dia 13 de outubro de 1999, quando a reportagem de cada uma das revistas aborda a compra da Sprint pela MCI. Em termos de formação de opinião, isso permite ao leitor comparar um texto com outro e tirar conclusões próprias. Mas, ao mesmo tempo, reforça a idéia de que, para as diferentes revistas, assunto econômico importante é o que informa a respeito dos grandes negócios que se realizam em escala mundial, novidade típica da era da globalização. Possivelmente, por isso, o assunto “fusões” tenha freqüência tão alta. Para se tomarem cada vez “maiores”, as empresas “unem-se” umas às outras a fim de “disputar” com “intensidade” o mercado mundial. Parece que os traços - união, disputa e intensidade - colocam-se a serviço da “grandiosidade” ou, pelo menos, subsidiam-na.

O traço “grandiosidade”, principalmente em termos de capital, riqueza e lucro, continua recorrente no 2° bloco: merecem destaque aquelas empresas com grande aporte de capital ou que tiveram lucros ou investimentos extraordinários. O mesmo acontece em relação ao 4° bloco, com a diferença de que, desta vez, acentua-se o lado pessoal. Em ambos os casos, entretanto, mesmo quando se trata de empresas ou empresários em dificuldade, a informação recai sobre o nível de endividamento, mas sempre em cifras muito altas. Mesmo as reportagens sobre denúncias de cormpção inscrevem-se no mesmo traço - ou seja, pode-se entender que os casos de cormpção em menor escala seriam toleráveis. Somando estes quatro blocos, chega-se a um total de 84 reportagens: mais da metade dos textos, portanto, são atravessados pelo traço “grandiosidade”.

Em termos de referência, informação e argumentação, em nível macro, essa recorrência aponta três características comuns: a) o referente dos textos é um objeto grande: transação, empresa, empresário ou cormpção; b) conhecimento novo, imprevisível é a informação sobre as grandes transações, empresas, empresários ou cormpções; c) subjacentemente, corre a linha argumentativa de que o mundo da Economia e dos Negócios se configuraria em tomo dessas grandes informações, estas seriam as que têm importância e determinariam a vida econômica dos países e das pessoas.

No bloco sobre a Intemet, observa-se desencadeamento semelhante: as grandes revoluções, vantagens, lucros e dificuldades na área. No bloco da Economia Intemacional

^ Nos anexos é apresentada a relação de todos os títulos e respectivos subtítulos, distribuídos segundo a data da reportagem.

também: a grande queda nas bolsas, o monopólio e o patrimônio de Bill Gates, as grandes manifestações, a grande diferença entre ricos e pobres e assim por diante. Mesmo os demais blocos giram em tomo da elevada taxa de juros, altos níveis de desemprego, grande risco da volta da inflação, o intenso conflito comercial entre Brasil e Argentina.

Parece possível dizer que aos magazines de informação geral interessa (ou cabe?) publicar reportagens sobre temas que envolvam números ou situações de grandiosidade. E o primeiro indicativo do conflito da imprensa: o objetivo é informar e, para isso, é preciso referir. Mas ao fazer a seleção entre o que informar, aponta-se uma direção argumentativa, em termos macro. No caso de “grandiosidade”, a recorrência dos fatos abordados enfatiza a predominância dessa idéia no mundo dos negócios. Mas não parece haver altemativa que permita contomar essa situação.