• Nenhum resultado encontrado

A BOCA DE FUMO: ROTINA E DISCIPLINA

4 OS MARGINAIS EM MEIO AOS MARGINALIZADOS

6 OS TENTÁCULOS DO COMANDO

6.2 A BOCA DE FUMO: ROTINA E DISCIPLINA

Trabalhando em uma boca de fumo, onde a rotina é um mantra, muito dos riscos são convertidos em piadas e risos:

É NÓIS,que estais na atividade. Carregada esteja minha arma, vem a nóis,comprar a vossa érva, seja feita vosso baseado.

Assim na favela como no asfalto. O malote nosso de cada dia, nos dái hoje.

perdoai os nossos amigos,

assim como nóis perdoamos aqueles que são braços. Não nos deixeis sem sua contensão,

mas livrainos dos alemão!!!!!!!

(Retirado da página social de um dos operadores)

Os pontos de venda – popularmente conhecidos como bocas – são muitos, mas é preciso saber onde achá-los:

Davi, está buscar sua namorada que está chegando da UFBa, vindo ao seu encontro Dois jovens, um deles traz entre os dedos uma nota de R$ 50,00, próximo a nós, ele faz questão de mostrar a nota. Eis que se trava o seguinte diálogo:

Jovens = Velho, boa noite! E ai beleza? Davi = Boa, nego! beleza.

Jovens = Rapaz, tô vindo lá do Alto procurando, mas num achei ninguém, você sabe onde posso conseguir?

Davi = Rapaz... É que ninguém ta ficando de bobeira. Porra, cara! Faz o seguinte, segue aqui direto vira a esquerda, no terceiro beco você sobe, lá você acha.

Seguimos até o ponto, na volta, estamos conversando; ao olhar para as escadarias de um dos morros vê-se os dois jovens subindo, eles olham para a parte baixa e nos avistam, nesse momento, sorridente um deles dispara: Valeu véi! brigadão mesmo. (Diário de Campo, Março de 2013)

A boca fica bem encima do nariz (BARBOSA, 1998), é preciso saber onde elas estão e quais os códigos que permitem que elas se tornem acessíveis. Cada uma delas possui uma composição, ainda que muitos pense nela como algo homogêneo, o que termina por diversificar a movimentação em cada um desses pontos, é preciso conhecer suas localizações e códigos. Passar por uma rua onde existe uma boca não significa poder dizer que se andou em uma boca de fumo, pois a boca é uma territorialidade e não um espaço físico necessariamente:

Tipos Formação – A Formação – B Formação – C

Cabeças Um Dois Um

Jóqueis Quatro Dois Quatro

Guaritas Três _________ Quatro

Seguranças ___________ __________ Dois

O quadro acima serva para demonstrar que as bocas possuem estruturas distintas, as variações da presença ou não de certos cargos ocorre com certa frequência. Contudo o que há de comum é uma rotina de trabalho por parte dos seus operadores. Eles são os assalariados do 12 como diz Lyra (2013).

Daniel diz que no primeiro dia na boca de fumo sentia muito medo de ser pego pela polícia, mas diz que com o passar do tempo o medo passa, “você acostuma e fica de boa”, em um certo momento chega a afirmar ser tranquilo o movimento. Ele cita frequentemente seu parceiro Carlos com quem trabalhava na boca e como já dito, foi quem o apresentou a uma das lideranças do tráfico. (Diário de Campo, Fevereiro de 2012)

O cotidiano de trabalho executado por estes jovens é semelhante, em muitos aspectos, ao próprio mundo do trabalho formal, incluindo o tédio.

Manhã de quinta-feira, um dia tranquilo, com bastante calor. No início da rua está um jovem de cabelos pintados, vestindo a camisa de um time europeu, em sua mão um celular, seu olhar aguçado sobre quem passa por ali, contrasta com sua expressão de cansaço que ele revela nos momentos em que a rua está vazia. Há poucos metros dali, no alto do beco encontra-se outro jovem, ele está sentado em um sofá velho, sozinho, ele risca o barro com um graveto, ainda falta muitas horas para terminar seu plantão. (Diário de campo, Fevereiro de 2011)

O movimento de indivíduos no ponto de venda não é homogêneo, havendo momentos de pico e refluxo da demanda. Por isso, uma parte considerável do tempo de trabalho desses jovens é tediosa, o que contrasta com o estágio da vida em que eles se encontram - a juventude - marcada pelo ímpeto e busca de agitação.

Hoje os bares estão agitados, é dia de jogo do campeonato de futebol, os bares estão abarrotados de pessoas ansiosos pelo jogo. Sentado na porta de um deles está um jovem que faz a função de guarita, com o celular colocado em cima da mesa; ele vibra com os lances de seu time na tela da TV esquecendo por alguns instantes sua função. (Diário de Campo, Janeiro de 2012)

Constatou-se que, ocorrem desvios na execução das atividades, semelhante às ocorridas no trabalho formal.

Qualquer coisinha que der mole assim é porrada ou até morte, eu me botei no lugar fiquei pensando que podia ser comigo. Cara vacilando, tá ali no serviço dele ali, aí vai em casa, tá namorando, ai vai na casa da namorada, ai no caso a polícia passa pega os caras, ai vai cobrar de quem? (Euller 24 anos, guarita)

Efetivamente, não são raras as vezes que os cabeças aplicam punições nos jovens, muitas vezes em forma de surras dadas nos indivíduos que “vacilaram” por todos aqueles que estão presentes no local. Não é incomum o uso de terceiros, geralmente moradores que possuem laços de amizade com o alto escalão do tráfico, para fiscalizar a assiduidade dos operadores do baixo escalão.

Contudo, os maiores riscos para os guaritas são as incursões da polícia, eles são os que ficam mais próximos da polícia, pois são a linha de frente:

Eu [estava] com dois celulares, só que um era meu e o outro era do serviço. A gente não bota o nome dos caras, a gente bota apelido, eu mesmo no celular que eu tava botei influência do hap. Javali era o nome de um brother lá, Mano Brow, esses negócios assim. Teve um dia que vieram dois carros da Polícia Civil, a senhora que me avisou ‘Ali é civil!’. Aí eles passaram e depois voltaram quando voltaram que me viram no mesmo lugar me pararam, pegaram os dois celulares e perguntaram de quem eram os dois celulares. Aí disse que um era meu e outro de meu primo. Perguntaram, ai olho assim e perguntou de quem eram os nomes no celular, ai eu disse que era dos caras que pegavam o baba. (Euller, 24 anos, guarita)

As estratégias para despistar a polícia como no caso de Euller são interessantes, mas percebe-se também como o fato dele ter sido avisado pela moradora demonstra que ela não desejava que sua prisão ocorresse.

Uma vez explicada a estrutura do comércio de drogas do bairro é preciso apresentar a quem serve tal estrutura, ou seja, é necessário apresentar a clientela desse singular mercado.

6.3 CONSUMIDORES

O termo consumidor parece ser o mais preciso, pois está se tratando aqui de relações ilegais, mas de caráter econômico. As regras de mercado aqui se fazem presentes: demanda e oferta de tipos e qualidades diferenciados de mercadorias, poder aquisitivo e endividamento.

Quem não tem determinado tipo de informação se engana, estranha o porte do veículo que tá aqui dentro sendo que ele não conhece ninguém e ao mesmo tempo você liga uma coisa com a outra, o cara para o carro na frente da boca, alguma coisa ele tá vindo fazer. (Alexandre 27 anos, técnico de informática)

O trecho acima revela que parte da clientela do tráfico são pessoas que não moram no bairro e que adentram pelas suas ruas, muitas vezes com modelos de carros lançados no mesmo ano, com o intuito de chegar até à boca. Contudo, ainda cabe lembrar que o mercado discutido por Grillo (2008) parecia apontar para o fim do romantismo da ação de entrar na favela pra buscar droga. Isso ainda não parece ser a realidade deste bairro.

Adentro as ruas do bairro, já passam da 23h, como de costume, caminho calmamente, chove muito e sobre as ruas asfaltadas do bairro correm verdadeiros rios de lama, de imediato me lembro do tempo que para ir à escola em época de chuva era preciso calçar por cima dos sapatos das crianças sacos plásticos para proteger os sapatos da lama. Ao olhar para uma lanchonete fechada avisto um antigo amigo que me chama para conversar enquanto esperamos a chuva passar, em meio a conversa informações preciosas surgem sobre a queda recente no faturamento do tráfico. (Diário de campo, Dezembro de 2011)

A greve da construção civil no ano de 2011, atrasou os cronogramas das empreiteiras, mas também prejudicou o tráfico, uma vez que sem dinheiro os operários da construção pararam ou reduziram seu consumo de drogas. Fato que dá indicações sobre parcela significativa dos consumidores, abrindo um questionamento dual, por um lado nos faz repensar se realmente é na classe média que estaria os “financiadores do tráfico” na condição de consumidores, e por outro lado nos conduz a repensar o uso do termo “usuário de droga” como um degenerado social, pois estamos falando de trabalhadores, com longas e exaustivas rotinas de trabalho e chefes de família, muito bem sintetizada

nesta fala, “Oxe pai de família que você nunca pensaria e usa, gente que eu nunca

diria...” (Daniel, 24 anos, jóquei). Fato também registrado durante a rotina de observação.

Sábado, bela manhã ensolarada, saindo de uma das avenidas principais e adentrando uma das transversais encontramos à direita um bar acanhado, em sua frente uma cerca de arame farpado, duas mesas enferrujadas com algumas pessoas a beber preenchendo o interior do bar. O entretenimento da vez é a rinha de galo, enquanto as aves se atacam, ouve-se os gritos e risos de vibração a cada golpe. No lado esquerdo da transversal tem um beco e uma boca de fumo; no “plantão” estão dois jovens negros com idades inferiores aos dezoito anos. Enquanto passamos pelo local é possível observar um morador que passa para comprar maconha, após efetuar a compra o mesmo guarda a droga dentro de um saco de mercado junto aos alimentos. (Diário de campo, Outubro de 2012).

A compra de droga pode ocorrer em variados momentos do dia pelos consumidores do próprio bairro.

Terça-feira (08:30h), cerca de quatro operadores - jovens negros- estão na boca, um homem trabalhador da construção civil, aparentando idade entre 45 a 50 anos aproxima-se e compra um porção de maconha, na saída cumprimenta a todos ali presente. Esse caso mostra o tamanho da variação etária dos clientes desta boca. Na tarde do mesmo dia, a boca agora se encontra sob a responsabilidade de um único operador, aparentando cerca de 15 a 16 anos, trajando bermuda e camisas de marca cultuadas entre sua faixa etária, no pescoço corrente de prata. Por último, completando o estilo, um óculos new wave. Sentado em uma cadeira plástica ele ouve Alpha blondy (Banda de reggae) no auto falante de seu celular, enquanto isso prepara um fino de maconha para relaxar. (Diário de Campo, Julho de 2011)

A flutuação da procura na boca provoca períodos de ócio e tédio entre os que estão em seu “plantão”:

Quinta-feira (13:20), o sol está intenso, caminhar junto às casas buscando a sombra é a melhor estratégia para se proteger, devido à proximidade é fácil escutar o que se passa em muitas das casas, um som frequente é o de TVs ligadas nos programas sensacionalistas policiais. Caminhado à frente vão duas adolescentes com idades em torno de 15 e 14 anos, seu destino é certo, a boca. As duas cumprimentam os jovens de plantão, tiram R$ 5,00 reais do bolso de traz da bermuda e recebem uma porção de maconha. (Diário de Campo, Setembro de 2011)

A faixa etária varia muito, desde pessoas de meia idade, idosas ou até mesmo adolescentes. Também há casos de crianças, por volta dos dez anos, consumindo

maconha. Para além da variação na idade, existe também a variação quanto ao segmento social que busca abastecer-se nos pontos de venda do bairro, o fato desta área está cercada por condomínios de classe média e margear uma importante avenida, favorece o acesso da classe média.

Segundo um dos informantes, os carros da classe média entram no bairro para comprar muito, as vendas chegam alcançar mais de mil reais em uma única transação, ele mesmo afirma que essas compras são para abastecer as festas nos condomínios ao redor. A droga que esse segmento busca não é a mesma dos usuários do bairro, ao menos em qualidade, o grau de pureza é maior. Sendo assim, quando eles descem para buscar é alguém do alto escalão que é acionado para trazer, sempre uma mercadoria diferenciada.

6. 4 AS DÍVIDAS NA BOCA: FORMA DE LUCRO E MOTIVO DE MORTE

As dívidas nas bocas de fumo é o motivo de muitos conflitos e a causa de algumas das mortes. Diante deste cenário desgastante, qual a motivação para que as bocas continuem vendendo para receber depois? A pertinência dessa questão se deve ao fato de que essa parte do comércio de drogas foi muito naturalizado, sem haver o questionamento de qual a razão de um comércio ilegal realizar esse tipo de prática.

Começar elencando as formas de pagamento parece ser o caminho mais didático. Os meios de pagamento são variados: dinheiro, outras mercadorias, sexo, comprar a crédito ou com a prestação de outros serviços. Foi possível encontrar jovens operadores tatuados que pagaram pelo serviço com uma pequena quantidade de droga ao tatuador. Boa parte dos consumidores usam dinheiro para a compra, mas a troca de objetos pela droga é também algo em voga. Contudo, isso depende da relação do consumidor com o

jóquei, já que mesmo que este aceite, por exemplo, peças de roupa como pagamento, a

sua prestação de conta para o cabeça daquele ponto será feita em dinheiro. Consequentemente, ele irá diminuir seu rendimento até revender aquele objeto. Há também o pagamento com sexo que é menos comum do que as outras formas, ocorre por parte de algumas das jovens do bairro, entre os homossexuais nenhum dado surgiu nas entrevistas, por conta da ideia de masculinidade dos operadores. Sem o dinheiro necessário para comprar as drogas desejadas, as jovens usam seus corpos como mercadoria, fato relatado por moradores e operadores. Novamente, isso se dá por meio

da relação já estabelecida entre quem compra e quem vende, pois irá interferir no rendimento final deste último.

Muitos consumidores também ficam endividados em montantes na casa dos milhares, como foi o caso de dois irmãos donos de uma pequena fábrica de gesso que ficaram devendo mais de sete mil reais, dívidas assim são administradas pelos operadores, pois sabe-se pela situação econômica de quem deve que a mesma será paga (GRILLO, 2008). Quando as dívidas extrapolam a capacidade de pagamento, o indivíduo fica preso em uma situação onde o único modo de pagamento é a própria vida.

Um jovem usuário de drogas foi morto por conta de dívida na boca. Ele foi detido e morto no quintal de seu tio, ao lado da casa do primeiro. Após a morte, o tio mandou demolir a casa onde o rapaz morava. Uma demonstração do tipo de dor ocasionada por uma morte inesperada. (Diário de Campo, Abril de 2011)

Os conflitos com alguns usuários é o que revela um dos elementos que serve para nortear o motivo da singularidade dessa prática comercial:

Na madruga de terça-feira ocorreu uma discussão entre jovens que culminou em agressão física. Isso seria algo de pouca relevância se os envolvidos não tivessem relação com o tráfico de drogas: Diogo, um olheiro do tráfico, e Euller, um ex-jóquei e usuário de crack. Durante a madruga, Euller foi pressionado para pagar sua dívida na boca de fumo próxima a sua casa. Por conta disso, começou uma discussão entre ambos que logo esquentou e se transformou em agressão. Euller golpeou e machucou o rosto de Diogo com uma pedra. Em seguida, foi em casa buscar um facão e advertiu Diogo: “O que é seu tá guardado!” Os outros jovens que estavam na boca naquele momento ligaram para o gerente daquela área do bairro que respondeu que não poderia resolver o conflito porque naquele momento estava fora do bairro. No dia seguinte, um grupo de traficantes foi à casa de Euller e avisou que ele iria morrer se ficasse no bairro. Ainda pela manhã, a mãe de Euller vai à boca e pagou sua dívida. Em seguida é claro, pede que perdoem seu filho. Desde o ocorrido Euller não vê a luz do Sol, ficando restrito a circular dentro dos limites estabelecidos pelas paredes de sua própria casa. Essa atitude torturante tem razão de ser, pois alguns dias depois de ter cometido a agressão um carro com membros do tráfico parrou enfrente a sua casa procurando pelo jovem Euller. Na mesma semana após esse fato foi encontrado um corpo no bairro com marcas de espancamento e perfurações de arma de fogo, muitos pensavam ter sido o fim do jovem Euller, mas não se tratava do dele. (Diário de Campo, Junho de 2012)

.

A despeito das dívidas de drogas, existe algo de notório que ainda não foi tratado com o devido olhar sociológico. As dívidas não são meros mecanismos de controle sobre

justamente no fato de que a dívida é uma forma de ampliação dos lucros. Quando se compra droga para pagar somente depois, já de antemão sabe-se que é o credor que diz os juros a serem pagos, e pode mudar as cifras ao seu bel-prazer, fato bem descrito por uma agente comunitária.

Ela lembrou de um caso de um devedor que tentou cometer suicídio com raticida. A motivação do ato era dívida de droga numa boca do bairro, e diante de sua incapacidade de pagá-la ele pensou em se matar antes de ser morto. Os familiares se compadeceram de sua situação, conversaram com o traficante dono da boca, acertando um pagamento em três vezes sem juros; a mãe pagou a primeira parcela com a venda de um terreno no interior e dois tios pagaram as duas outras prestações, cada prestação correspondia a um valor aproximado de três mil reais. Essa dívida atingiu esse montante, pelo fato de os traficantes cobrarem juros sobre juros, pois “cada vez que eles ficam com raiva por você não pagar, eles aumentam a dívida”. (Diário de Campo, Agosto de 2012)

A dívida funciona bem como uma válvula para maximizar os lucros, pois muitos dos usuários já se encontram na condição de usuários compulsivos, sua vontade é incessante. Sua necessidade constante de usar impossibilita que se faça a mensuração dos juros que estão sendo cobrados e de como irá fazer para pagar. Ao jóquei – com a aprovação do cabeça - cabe apenas avaliar se quem pede a droga poderá para pagar depois, ou se o mesmo possui familiares para horar a dívida. Durante a coleta dos dados, soube-se de dívidas de R$ 5,00 que viraram R$15,00 do meio de uma manhã até o fim de uma tarde. Outras foram de R$10,00 para R$ 50,00 apenas no passar de uma noite. Por isso, mesmo havendo um desgaste nas cobranças e um custo moral na morte dos usuários inadimplentes, ainda é a dívida uma forma importante de tornar o tráfico lucrativo.

6.5 - A LUCRATIVIDADE: GANHO DESIGUAL DE CADA UM

A venda de drogas continua a superar livremente qualquer outra forma de rentabilidade, seja ela legal ou ilegal (BOURGOIS, 2010). Quando se fala no faturamento do tráfico se toca em uma caixa preta de difícil acesso, mas tomemos nota dos seguintes dados que foram fornecidos por um ex-jóquei; cada granulado de pasta base de cocaína com bicarbonato, conhecido como crack, é vendido a R$ 5,00; as trouxinhas de maconha são comercializadas também a R$ 5,00, e por fim, a grama da cocaína é comercializada a R$ 25,00. Cada quilo de pasta base de cocaína é transformado em cinco quilos para a

venda, desse modo, tem-se um produto com 20% de pureza. Barbosa (1998) analisa que o grau da mistura segue a lógica de lucrar o máximo sem perder o cliente. Nas entrevistas obtivemos notícias de remessas de dez a quinze quilos chegando de uma única vez ao bairro. Por fazerem parte do mesmo comando até o ano de 2011, os bairros circunvizinhos também compravam cargas da Ilha Grande quando ficam sem suprimentos.

Acrescentemos alguns outros fatos para mensurar a lucratividade deste comércio. Com um braço-direito preso foi encontrado um caderno de contabilidade com um registro