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2 LEITURAS EXPLORATÓRIAS

2.3 VISÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: ORTODOXA, LIBERAL,

2.3.5 Brasil: Reforma da Gestão Pública de 1995

Durante o primeiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 – 1999), sob a coordenação do então Ministro da Administração Federal e da Reforma do Estado (MARE), Luiz Carlos Bresser-Pereira, foi implementado o Plano Diretor da Reforma do Estado. Denominada por Bresser-Pereira de “reforma gerencial do Estado”, foi influenciada especialmente pelas transformações implantadas a partir de 1985 na gestão pública da Inglaterra, da Austrália e da Nova Zelândia. No site http://www.bresserpereira.org.br/RGP.asp

o ex-Ministro mantém um blog, documentos e artigos sobre a reforma da Gestão Pública. Destaca como “um dos princípios fundamentais da Reforma de 1995 é o de que o Estado, embora conservando e se possível ampliando sua ação na área social, só deve executar diretamente as tarefas que são exclusivas de Estado”, assim consideradas aquelas que "envolvem o emprego do poder de Estado”. Dentre as atividades exclusivas de Estado, há:

a) “as tarefas centralizadas de formulação e controle das políticas públicas e da lei, a serem executadas por secretarias ou departamentos do Estado”, e

b) “as tarefas de execução, que devem ser descentralizadas para agências executivas e agências reguladoras autônomas”.

Na figura que segue sintetizam-se as formas de propriedade: estatal, pública não-estatal e privada, e as formas de administração: burocrática e gerencial, preconizadas pela Reforma de 1995:

Figura 22 Matriz: atividades estatais X formas de propriedade e administração

Fonte: Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado – MARE (1995)

Para Bresser-Pereira:

Todos os demais serviços que a sociedade decide prover com os recursos dos impostos não devem ser realizados no âmbito da organização do Estado, por servidores públicos, mas devem ser contratados com terceiros. Os serviços

sociais e científicos, para os quais os respectivos mercados são particularmente imperfeitos, já que neles impera a assimetria de informações, devem ser contratados com organizações públicas não-estatais de serviço, as ‘organizações sociais’, enquanto que os demais podem ser contratados com empresas privadas. As três formas gerenciais de controle – controle social, controle de resultados e competição administrada – devem ser aplicadas tanto às agências, quanto às organizações sociais (Bresser-Pereira, 2006).

Inúmeros conceitos sofreram transformações na última década, de forma a ensejar adaptações da Gestão Pública ao contexto da Era Digital, da globalização e da crise fiscal, que retira dos Estados a capacidade de formar poupança para financiar o desenvolvimento. Em relação à tomada de decisões, passou-se da discricionariedade, que ensejava avaliação subjetiva ao administrador, para a fixação de parâmetros e para a regulação, com a ponderação de vários interesses na formação da vontade estatal. A obrigatoriedade da transparência na formação do ato decisório e da motivação das decisões administrativas enseja maior controle social. Passa-se a reconhecer o espaço “público não-estatal”, à luz do princípio da subsidiariedade que informa a distribuição de competências entre o Estado e a Sociedade. Estado deixa de ser um agente executor da satisfação de todas as necessidades coletivas públicas e passa a atuar como regulador das atividades de interesse geral. A associação necessária que havia entre serviço público e gratuidade, dá lugar a prevalência da idéia de universalidade com modicidade de custos para o usuário. As alterações conceituais aqui referidas restaram consubstanciadas pela edição de novas normas jurídicas, alterando o agir estatal e disciplinando novas formas de interação entre o setor público estatal, o setor privado e o terceiro setor:

Lei Objeto

Lei 8.987, de 13.02.1995 concessões e permissões de serviços públicos

Lei 9.637, de 15.05.1998 contrato de gestão com organizações sociais

Lei 9.649, de 27.05.1998 contrato de gestão com agências executivas

Lei 9.790, de 23.03.1999 termo de parceria com organizações da sociedade civil de interesse público - OSCIPs

Lei 10.973, de 02.12.2004 Termo de Cooperação para a Inovação Tecnológica

Lei 11.079, de 30.12.2004 Parcerias Público-Privadas

Lei 11.107, de 06.04.2005

Protocolo de Intenções Consórcios Públicos Contrato de Programa Contrato de Rateio

Lei 11.284, de 02.03.2006 Gestão de Floresta Públicas

Pode-se sintetizar o significado dos termos-chave com que se denominam os institutos disciplinados pelas normas legais referidas, regulamentadoras de novas formas de parceria público-público e público-privado conforme segue:

Parceria Instituto Abrangência

Convênio soma de esforços que não admite remuneração do parceiro privado, nem mesmo taxa de administração

Consórcio equivale à Parceria Público-Pública, sem previsão de agentes privados

CONJUGAÇÃO DE ESFORÇOS

Contrato de

programa firmado em decorrência de um consórcio público

Contrato de gestão

finalidades limitadas: educação, saúde, previdência – financiadas pela Administração, com recursos e meios – pessoal e bens – já existentes. Destinado a finalidades e entidades sem finalidade lucrativa, mas com participantes do Poder Público nos seus conselhos.

CONTRATOS SOCIAIS

Termo de parceria

com organizações sociais da sociedade civil de interesse público; maior liberdade de organização da entidade, mas com as mesmas limitações no que concerne à finalidade lucrativa

Concessões e permissões

são auto sustentáveis; total transferência do risco para o parceiro privado; não são adequados para relações que não viabilizem o lucro pela exploração do negócio

PPP

é um contrato de concessão

Não se limita às concessões de SERVIÇOS PÚBLICOS, podendo abranger a concessão de:

obra pública; uso de bem público; direito real de uso; atividade econômica CONTRATOS DE INTERESSE ECONÔMICO Terceirizações e obras públicas

o risco é todo da Administração, que deve obter os financiamentos e colocar os recursos à disposição do contratado, no momento da contratação

Figura 24 Novas formas de parceria do Setor Público brasileiro

Na próxima seção abordam-se os impactos da interligação em rede no funcionamento dos Governos.

2.4 A SOCIEDADE EM REDE E OS GOVERNOS DA ERA INDUSTRIAL E DA ERA