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1 INTRODUÇÃO: CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA

1.6 DESENHO DA PESQUISA

Elabora-se uma pesquisa de base qualitativa, com cunho epistemológico, buscando analisar em processo a criação de conhecimentos voltados a otimizar a gestão pública de Torres. Assumido o propósito de transformação da realidade organizacional e de ampliação da efetividade das ações da Prefeitura Municipal de Torres, cabe distinguir o papel do pesquisador e o dos sujeitos da pesquisa. Quem detém a legitimidade para diagnosticar o funcionamento da Prefeitura, identificar oportunidades de melhoria, formular alternativas de ação e tomar decisões são os sujeitos da pesquisa, os Gestores de Torres. A legitimação para tal decorre da investidura em cargo público em decorrência de: vitória eleitoral, no caso do Prefeito e do Vice-prefeito; confiança neles depositada pelo Prefeito, no caso dos convidados a ocupar cargos em comissão; aprovação em concurso público, em relação aos funcionários efetivos; exercício da representação de entidade comunitária, em relação aos líderes comunitários. Reserva-se ao pesquisador, interessado em estimular e analisar processos cooperativos de criação de conhecimentos, sugerir as estratégias metodológicas utilizadas para o enfrentamento dos desafios por ele propostos aos Gestores de Torres. Adota-se uma variante da Pesquisa↔ação, definida por THIOLLENT (1994, p. 14), como:

um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

O planejamento e a execução de cada atividade da pesquisa foram orientados pelos postulados teóricos piagetianos, concernentes ao Método Clínico e ao processo cíclico envolvendo desequilibração → acomodação & assimilação → reequilibração majorante. Em cada ciclo, alcançado um patamar mais elevado de domínio e uso de ferramentas de gestão pública, avalia-se o resultado e formula-se novo desafio, tomando-se o equilíbrio

anteriormente atingido como ponto de partida. Configura-se, assim, uma espiral continuada e ascendente de complexificação e otimização da gestão. As fases de observação e de análise são concomitantes. A análise da adequação de cada desafio e a identificação, em cada etapa, das estratégias que mais contribuem para a tomada de consciência do alcance das ações desenvolvidas pelos gestores em razão dos fatores de desequilibração introduzidos, subsidiaram o planejamento da etapa-desafio seguinte. Os integrantes da Gestão Municipal de Torres, sujeito coletivo de pesquisa, foram convidados a participar da análise, a consolidar em conjunto as definições inerentes ao novo modelo de gestão e a validar as constatações em relação ao processo de criação de conhecimentos. Além de os desafios formulados apresentarem grau crescente de complexidade, o número de gestores envolvido foi sendo ampliado ao longo da pesquisa. Lideranças comunitárias, estudantes e Gestores de Gramado foram incorporados às atividades durante a pesquisa. As definições dos Gestores de Torres, resultantes de atividades em equipes compostas aleatoriamente, geraram o conteúdo do novo modelo de gestão (missão, valores, visão de futuro, pontos fortes e fracos, potencialidades e ameaças, fatores críticos de sucesso, gerenciamento de projetos, matriz de capacitação, escola de gestão, portal de Torres).

Os elementos do novo modelo de gestão foram utilizados também em atividades acadêmicas. Estudantes de graduação em Administração, Economia e Ciências da Computação, e da pós-graduação em Administração Pública Eficaz foram desafiados a confrontar o novo modelo com a teoria e a propor aprimoramentos. Os trabalhos acadêmicos foram submetidos à apreciação dos Gestores de Torres, que os avaliaram, acolhendo na íntegra algumas das sugestões formuladas, modificando outras e rejeitando as demais. Houve inclusive participação de cinco alunos da pós-graduação no curso Gestão de Torres na Era Digital, realizado em julho/2005, com uma semana de duração, juntamente com quarenta gestores e dez lideranças comunitárias de Torres. No dia 04 de novembro de 2005, em Gramado, os Gestores dos municípios de Torres e de Gramado, com a mediação dos Professores Luis Roque Klering, Eugenio Lagemann, Mary da Rocha Biancamano, Ivan Antônio Pinheiro e Luis Alberto Guadagnin, bem como de alunos do CEAPE/UFRGS, expuseram reciprocamente os respectivos modelos de Gestão, em processo de cooperação criado no âmbito do CEAPE. No planejamento das ações da Prefeitura Municipal para 2006 foram incorporadas às atividades de criação de conhecimento organizacional as diretoras e supervisoras das 14 escolas de Educação Infantil e de Ensino Fundamental de Torres, além dos instrutores da Escola de Gestão Pública. Somaram-se ao Prefeito e ao Vice, aos 10 Secretários Municipais, aos 14 Gerentes de Projetos e aos 29 Gerentes Municipais. Em

novembro e dezembro de 2006, a Escola de Gestão de Torres passou a conduzir autonomamente em relação ao pesquisador atividades de diagnóstico, planejamento e capacitação para a implementação de ações inovadoras em 2007. Com este intuito, realizaram-se a Oficina sobre Planejamento e a Oficina sobre o software de gerenciamento de projetos MS Project. A contínua formulação dos desafios e das estratégias de estímulo à reflexão e à interação nos eventos, consubstanciada nos programas dos seminários e cursos, nos formulários de coleta de dados e nas leis, portarias e relatórios que implementaram o novo modelo de gestão, ensejaram a concepção das diretrizes do Método Clínico Organizacional e permitiram identificar fatores potencializadores e limitadores da ocorrência de equilibrações majorantes.

Os desafios formulados com o intuito de promover as desequilibrações, a reflexão coletiva e a implementação de ações modernizadoras consistiram em:

I análise de cenários, com o desenho otimista e pessimista de Torres daqui a um, quatro e dez anos;

II identificação das oportunidades e ameaças existentes no ambiente externo à Prefeitura Municipal e dos pontos fortes e fracos no ambiente interno;

III definição do planejamento estratégico;

IV criação dos Comitês Gestores do Desenvolvimento, da Inclusão e da Governança Comunitária;

V realização de auditoria especial em relação ao patrimônio, ao pessoal e ao projeto da Usina de Reciclagem de Lixo;

VI I Simpósio da Governança Comunitária: Direito à Vida;

VII II Simpósio da Governança Comunitária: novo modelo de gestão; VIII implementação das equipes de gerenciamento de projetos;

IX reestruturação organizacional, com a criação das Gerências Municipais; X interação com a Comunidade: curso Gestão de Torres na Era Digital;

XI criação da Escola de Desenvolvimento do Servidor Municipal e da Matriz Permanente de Capacitação;

XII elaboração do Manual de Procedimentos da Prefeitura e do Guia dos Serviços Públicos - GSP;

XIII instalação da Central de Atendimento ao Cidadão;

XIV estruturação de projetos conjuntos por parte de todas Escolas de Educação Infantil e por parte das Escolas de Ensino Fundamental, voltados a ampliar a

interação Comunidade – Gestão Pública e a aprimorar a formação para o exercício pleno da cidadania;

XV interação com estudantes universitários: desenvolvimento do Portal da Gestão de Torres;

XVI cooperação entre Prefeituras: dia de trabalho em Gramado – RS; XVII criação dos Grupos Executivos da Modernização;

XVIII definição de prioridades e planejamento para o ano de 2006;

XIX estruturação do Mapa de Estratégias e de Indicadores da Competência Gerencial em relação à satisfação dos munícipes, à capacitação dos funcionários, ao aprimoramento dos serviços e à eficiência financeira;

XX definição de prioridades e planejamento para 2007 e 2008.

Cumpre destacar a ampla liberdade assegurada ao pesquisador, bem como a receptividade e a cooperação por parte dos Gestores de Torres na execução de todas as atividades propostas.