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1 INTRODUÇÃO: CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA

1.8 ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO

Na figura constante no final deste capítulo introdutório, extraída do livro “Manual de Investigação em Ciências Sociais”, Raymond Quivy e Luc Van Campenhoudt (1998) representam em sete (7) as etapas do processo de pesquisa:

a. a pergunta de partida,

b. as leituras e as entrevistas exploratórias, c. a problemática,

d. a construção do modelo de análise, e. a observação,

f. a análise das informações e g. as conclusões.

Os autores destacam que “uma investigação social não é uma sucessão de métodos e técnicas estereotipadas que bastaria aplicar tal e qual se apresentam, numa ordem imutável” (p. 18). Possivelmente o elemento mais relevante do diagrama por eles elaborado sejam as setas indicativas da retroalimentação. Constatou-se, na implementação da pesquisa, a estreita interdependência e a influência recíproca que cada etapa exerce sobre as demais. A questão de pesquisa passou por inúmeras re-elaborações. Concorreu para tal o aprofundamento sucessivo das leituras, remetendo a novas leituras, releituras e à articulação entre conceitos elaborados por áreas de estudo distintas. As tentativas de captar o real, intentadas por meio das inúmeras ações e intervenções desenvolvidas junto à Administração Municipal de Torres, também influenciaram nas redefinições do escopo, do delineamento metodológico e do próprio referencial teórico. As sucessivas constatações da natureza fugidia do objeto de pesquisa, que se amplia e se modifica a cada aproximação, provocaram graves perturbações no pesquisador. A navegação neste mar revolto restou frutífera e prazerosa graças às oportunas e apropriadas sinalizações das Orientadoras e às generosas contribuições dos colegas também orientados pelas Profas. Léa Fagundes e Margaret Axt. Os momentos de angústia que precederam cada uma das apresentações da proposta aos colegas e às

Orientadoras, em sala de aula, bem como a ansiedade em relação ao desenrolar de cada ação em Torres, foram todos sempre superados e substituídos pela satisfação do enriquecimento continuado do arcabouço teórico e metodológico e pela compreensão crescente da realidade pesquisada. Buscando-se estruturar um método para promover e analisar a construção de conhecimentos, realizou-se investigação epistemológica, necessariamente interdisciplinar:

Epistemologia é a teoria do conhecimento válida e, mesmo que esse conhecimento não seja jamais um estado e constitua sempre um processo, esse processo é essencialmente a passagem de uma validade menor para uma validade superior. Resultado disso, é que a epistemologia é necessariamente de natureza interdisciplinar, uma vez que tal processo suscita, ao mesmo tempo, questões de fato e de validade. Se se tratasse apenas de validade, a epistemologia se confundiria com a lógica: o problema, entretanto, não é puramente formal, mas chega a determinar como o conhecimento atinge o real, portanto quais as relações entre o sujeito e o objeto. Se se tratasse apenas de fatos, a epistemologia se reduziria a uma psicologia das funções cognitivas e esta não é competente para resolver as questões de validade. A primeira regra da epistemologia genética é, pois, uma regra de colaboração: sendo o problema o de estudar como aumentam os conhecimentos, temos então, em cada questão de fazer cooperar os psicólogos que estudam o desenvolvimento como tal, lógicos que formalizam as etapas ou estados de equilíbrio momentâneo deste desenvolvimento e especialistas da ciência, que se dedicam ao domínio considerado. (JEAN PIAGET, 1978c, p. 14; grifei).

Este relato da pesquisa sintetiza as leituras exploratórias, a constituição da questão de pesquisa, a estruturação do modelo teórico de análise, o desenvolvimento das ações junto à Administração Municipal de Torres, a coleta de dados, a construção do método e a formulação das conclusões. Neste capítulo introdutório contextualizou-se a pesquisa. O capítulo 2 sintetiza as leituras exploratórias: destacam-se características das Eras Agrícola, Industrial e Digital; sintetizam-se vertentes teóricas sobre a origem e a expansão do Estado; aborda-se a ampliação das possibilidades de interação em decorrência da interligação em rede; referem-se às características da Administração Pública na Era Industrial, em que predominaram as organizações baseadas no controle e na “separação entre o pensamento e a ação", e na Era Digital, com a ênfase em organizações baseadas na informação e no conhecimento; e revisam-se as potencialidades da educação, em razão da transformação social e tecnológica. A reflexão sobre estes temas apoiou a estruturação da problemática de pesquisa. As idéias neles sintetizadas subsidiaram as atividades implementadas em Torres.

No capítulo 3 formula-se a problemática investigada, tomando como ponto de partida a descrição de paradoxos contemporâneos, que afetam e são afetados pela (in)eficácia da Gestão Pública: crescimento da riqueza nacional e da miséria; instituição de mecanismos de controle social sobre a Gestão Pública e disseminação da corrupção; implementação de gestão

participativa imposta; e retomada da ênfase no individualismo em oposição ao fortalecimento do senso de comunidade. O agravamento das contradições implícitas em tais paradoxos tem relação com a (in)capacidade para construir conhecimentos novos tendentes a otimizar a Gestão Pública. Com o propósito de aprender mais sobre como se dá a gênese de conhecimentos tendentes a otimizar a Gestão Pública, desdobra-se a questão de pesquisa conforme segue:

Quais são os principais fatores que intervêm para potencializar ou para limitar o alcance dos processos de equilibração majorante tendentes a otimizar a Gestão Pública?

Dentre as diretrizes metodológicas empregadas em Torres, quais as que mais contribuíram para o desenvolvimento de pesquisa voltada simultaneamente a incitar e a

investigar a gênese de conhecimentos?

Figura 6 Questão de pesquisa

O modelo teórico de análise, elaborado no capítulo 4 e utilizado para apoiar a formulação das estratégias pertinentes a cada ciclo de desequilibração → acomodação & assimilação → reequilibração majorante, compreende:

a) a gênese do conhecimento e o desenvolvimento das estruturas cognitivas, a partir da Teoria da Equilibração, da Epistemologia Genética e de outros estudos de Jean Piaget;

b) a Teoria das Representações Sociais, formulada por Serge Moscovici;

c) o estudo da criação do conhecimento nas organizações, especialmente com base em Chris Argyris e em Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi;

d) a caracterização das organizações enquanto estrutura e processos e a sinopse dos modelos de eficácia organizacional, com base em Richard Hall;

e) o modelo de gerenciamento e mensuração da competência organizacional proposto por Kaplan e Norton.

Os postulados teóricos elaborados por tais autores foram utilizados como: base para o modelo de análise, subsídio para as intervenções em Torres, referencial para a elaboração dos instrumentos de coleta e suporte teórico para a resposta à questão de pesquisa.

A pesquisa caracterizou-se pela construção coletiva de transformações na estrutura e no funcionamento da Prefeitura Municipal. Os Gestores de Torres, interagindo presencialmente e a distância, em ambientes de EAD, expressaram representações sobre a gestão municipal, a educação e a tecnologia, em uma série de eventos programados e conduzidos pelo pesquisador. Atuando em equipe e individualmente, solucionaram desafios que lhes foram propostos. Os dados foram coletados por meio do preenchimento de formulários; da elaboração de estudos de caso; da gravação de entrevistas em grupo; da inserção de notícias, relatórios e posicionamentos nos Fóruns e Portfólios dos ambientes virtuais; e pela atuação de estagiário-digitador em eventos reunindo os Gestores de Torres. A dinâmica empregada e os instrumentos utilizados estão descritos no capítulo 5.

A análise, realizada pelo pesquisador e pelos Gestores de Torres, das ocorrências verificadas empiricamente, dos dados coletados, dos posicionamentos, das ações, das interações em cada etapa do processo de geração de conhecimentos novos voltados a otimizar a Gestão Municipal de Torres, ensejou a estruturação das etapas seguintes. Confrontados os sucessivos estágios do processo com o modelo teórico, definiram-se as diretrizes do Método Clínico Organizacional, contidas no capítulo 6, destinado às conclusões. Em síntese, a pesquisa evidenciou que as concepções de Jean Piaget, complementadas por teóricos da Administração e da Psicologia Social, têm elevado grau de aplicabilidade e poder explicativo na implementação de pesquisas destinadas a promover e a analisar a gênese de conhecimentos nas organizações.

Quanto à estruturação do texto, cabe referir, ainda, a elaboração e a inserção nos capítulos do texto, sob a denominação genérica de “figura”, de inúmeros quadros sinópticos, diagramas e ilustrações. Tais elementos são empregados não apenas para ilustrar o texto, mas também como forma alternativa de desenvolvê-lo, de forma a ensejar leitura mais clara e objetiva de conceitos e de características que se busca colocar em evidência.

Apresenta-se a seguir o diagrama elaborado por Quivy e Campenhoudt, contendo os três processos da investigação: ruptura, construção e verificação, e as setes etapas da pesquisa: pergunta de partida, leituras e entrevistas, formulação da problemática, construção do modelo, observação, análise e conclusões.

Figura 7 As etapas do procedimento

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 1998, p. 27.

Etapa 4 A construção do modelo de análise Etapa 1 A pergunta de partida Etapa 2 - A exploração As leituras entrevistas As Etapa 3 A problemática Etapa 5 A observação Etapa 6

A análise das informações

Etapa 7

As conclusões

RUPTURA

CONSTRUÇÃO