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Da Educação da Era Industrial à Aprendizagem Construtivista por Projetos,

2 LEITURAS EXPLORATÓRIAS

2.5 EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA: DO MODELO EXPOSITIVO-ENTREGADOR À

2.5.4 Da Educação da Era Industrial à Aprendizagem Construtivista por Projetos,

Fagundes (1999) destaca que a Educação a Distância precisa ser baseada em projetos de aprendizagem, orientados por princípios construtivistas, “que propõem a auto-estima e o auto-respeito para alcançar a liberdade de tomar decisões e ter resistência nas situações de instabilidade”. A autora promove a diferenciação entre ensino por projeto e aprendizagem por projeto:

Na verdade, no ensino, tudo parte das decisões do professor, e a ele, ao seu

controle, deverá retornar. Como se o professor pudesse dispor de um conhecimento único e verdadeiro para ser transmitido ao estudante e só a ele coubesse decidir o que, como, e com que qualidade deverá ser aprendido.

Não se dá oportunidade ao aluno para qualquer escolha. Não lhe cabe tomar decisões. Espera-se sua total submissão a regras impostas pelo sistema Porém, começamos a tomar consciência de nossos equívocos. Pesquisas, em psicologia genética, sobre o desenvolvimento da inteligência e sobre o processo de aprendizagem, evidenciam que pode haver ensino sem haver

aprendizagem; que aprendizagem latu sensu se confunde com

desenvolvimento; e desenvolvimento resulta em atividade operatória do sujeito, que constrói conhecimento quando está em interação com o meio, com os outros sujeitos e com os objetos de conhecimento de que ele deseje apropriar-se. Quando falamos em “aprendizagem por projetos” estamos necessariamente nos referindo à formulação de questões pelo autor do projeto, pelo sujeito que vai construir conhecimento. Partimos do

princípio de que o aluno nunca é uma tábula rasa, isto é, partimos do

princípio de que ele já pensava antes. E é a partir de seu conhecimento prévio, que o aprendiz vai se movimentar, interagir com o desconhecido, ou com novas situações, para se apropriar do conhecimento específico – seja nas ciências, nas artes, na cultura tradicional ou na cultura em

transformação. Um projeto para aprender vai ser gerado pelos conflitos,

pelas perturbações nesse sistema de significações, que constituem o conhecimento particular do aprendiz. Como poderemos ter acesso a esses sistemas? O próprio aluno não tem consciência dele! Por isso, a escolha das variáveis que vão ser testadas na busca de solução de qualquer problema, precisa ser sustentada por um levantamento de questões feitas pelo próprio estudante. Num projeto de aprendizagem, de quem são as dúvidas que vão

gerar o projeto? Quem está interessado em buscar respostas? Deve ser o próprio estudante, enquanto está em atividade num determinado contexto, em seu ambiente de vida, ou numa situação enriquecida por desafios (FAGUNDES, 1999, p. 15-16, grifei).

O quadro que segue, elaborado por Fagundes (1999, p. 17), destaca as características do Ensino por Projetos, confrontando-as com as da Aprendizagem por Projetos.

E

EnnssiinnooppoorrPPrroojjeettooss AApprreennddiizzaaggeemmppoorrPPrroojjeettooss

Autoria. Quem escolhe o tema?

Professores, coordenação

pedagógica ao mesmo tempo, em cooperação Alunos e professores individualmente e,

Contextos Arbitrado por critérios externos e formais Realidade da vida do aluno

A quem satisfaz? Arbítrio da seqüência de conteúdos do currículo Curiosidade, desejo, vontade do aprendiz

Decisões Hierárquicas Heterárquicas Definições de

regras, direções e atividades

Impostas pelo sistema, cumpre

determinações sem optar alunos e professoresElaboradas pelo grupo, consenso de

Paradigma Transmissão do

conhecimento Construção do conhecimento

Papel do

professor Agente Estimulador/orientador Papel do aluno Receptivo Agente

Figura 29 Confronto das características do Ensino por Projetos e da Aprendizagem por Projetos

A diferenciação entre ensino e aprendizagem é particularmente relevante no que concerne à Educação Continuada. Voltada à construção de novos conhecimentos por parte de profissionais adultos, há que se assegurar ao aprendiz autonomia para definir os temas de maior relevância e para compartilhar os seus saberes. Isto porque, afirma Fagundes, “a motivação é intrínseca, é própria do indivíduo”. De acordo com Fagundes (1999, p. 16):

quando o aprendiz é desafiado a questionar, quando ele se perturba e necessita pensar para expressar suas dúvidas, quando lhe é permitido formular questões que tenham significação para ele, emergindo de sua história de vida, de seus interesses, seus valores e condições pessoais, passa a desenvolver a competência para formular e equacionar problemas. Quem consegue formular com clareza um problema, a ser resolvido, começa a aprender a definir as direções de sua atividade.

Fagundes (1999, p. 32-33) enfatiza que “nesse momento em que estamos vivendo – a Era do Conhecimento, em contrapartida à Era Industrial”, “não é preciso o professor saber tudo”. Diante da diversidade e de quantidade de saberes “potencialmente infinita”, “é praticamente impossível o professor querer centralizar o conhecimento e ser a única fonte de saber”. A autora contrapõe atributos que tendem a imperar na Era Digital, por ela denominada de Era da Informação, aos inerentes à Era Industrial:

Era Industrial EErraa DDiiggiittaall

Professor como transmissor de

conhecimento Professor como aprendiz e facilitador / Estudante

também professor

Aprendiz como consumidor passivo Estudante como produtor

Expressão artística como “Dom” Possibilidade de desenvolvimento da expressão

artística para todo aprendiz

Informação isolada (fatos) Aprendizagem integrada

Memorização mecânica Reflexão crítica

Informação limitada Infinidade de informações disponíveis

Preparação para o trabalho fabril Preparação para a sociedade do conhecimento

Um emprego por 30 anos Muitos cargos em diferentes áreas

Competição Cooperação

Trabalho isolado Trabalho colaborativo

Recebimento de ordens Decisões sobre necessidades prioritárias

Escola como lugar de aprendizagem Aprendizagem em todos os lugares

Escola para a academia Escola para academia e sociedade

Aprendizagem hierárquica Administração cooperativa

Perspectiva restrita Perspectiva global

Escola academicista Escola acadêmica e social

Universidade como o maior objetivo na

Educação Mercado profissional exigindo indivíduos altamente

educados/qualificados

Figura 30 Confronto de atributos da Educação e da Aprendizagem na Era Industrial e na Era Digital

As leituras exploratórias aqui destacadas versaram sobre: características das Eras Agrícola, Industrial e Digital; origem do Estado, causas de sua expansão no século XX, polêmica teórica quanto à amplitude da atuação estatal e possibilidades de reestruturação da relação Estado-Sociedade; impactos da interligação da Sociedade em rede no funcionamento dos Governos; e transformações viabilizadas pelas novas tecnologias de informação e de

comunicação na Educação, na Aprendizagem, na Educação a Distância e na Educação Continuada. Há suporte para a estruturação de construtos mediante a adoção do critério temporal na eleição das dimensões que ensejam análise das características preponderantes nas organizações em geral, na Gestão Pública e na Educação, nas Eras Industrial e Digital. Inúmeros autores (Drucker, 1974; Toffler, 1995; Tapscott, 1997; De Masi, 1999; Fagundes, 1999) destacam a mudança dos paradigmas que orientavam o funcionamento das organizações, dos governos e das escolas na Era Industrial (passado) e na Era Digital

(presente/futuro). Em razão do exposto, adotaram-se a Era Industrial e a Era Digital como dimensões dos construtos da Reestruturação das Relações Prefeitura-Sociedade, da Tecnologia, da Gestão Organizacional, e da Educação e Aprendizagem. Entretanto, cabem algumas ressalvas quanto ao alcance de tais construtos. A realidade é sempre mais rica, complexa e diversificada do que a representação teórica que dela se faz. A visão dicotômica contida nos construtos referidos, opondo atributos inerentes à Era Digital aos que preponderavam na Era Industrial, é reducionista e simplificadora. Cada pessoa, organização, escola ou governo caracteriza-se por apresentar estrutura com diferentes combinações do grau de intensidade de cada um dos atributos. Tal estrutura é dinâmica, sendo variável o ritmo das transformações levadas a efeito para adaptá-la às mudanças ambientais. Predominam estruturas híbridas, mediante o convívio de alguns atributos da Era Industrial com alguns atributos da Era Digital. A transição de uma Era para outra não se dá pela mera substituição das características anteriores. Pode haver permanência de atributos da Era anterior, modificados ou não, tendendo a, paulatinamente, passarem a preponderar novas características, que conferem maior aptidão para o desenvolvimento pessoal, organizacional e social. Apesar destas limitações, os construtos teóricos referidos têm se revelado úteis para estimular a reflexão sobre a adequação das características pessoais ou organizacionais, diante de perturbações oriundas do meio ou do próprio sujeito. Funcionam satisfatoriamente como recurso didático. Constituem-se em instrumento para a promoção do diálogo, contribuindo para a externalização das diferentes percepções individuais. Tendo presentes as limitações e as potencialidades dos construtos teóricos que promovem o confronto de características da Era Industrial com os da Era Digital, os mesmos foram utilizados nas atividades de campo, buscando promover desequilibrações e estimular a reflexão coletiva, por parte dos Gestores de Torres e dos alunos que participaram da pesquisa. Ao articular o referencial teórico preliminar, contido nas leituras exploratórias, com a realidade pesquisada, efetuou-se a identificação de algumas contradições presentes no contexto nacional e na gestão pública, abordados no próximo capítulo, ao fim do qual se formula a questão de pesquisa.