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1.1 Relações Brasil-África na Política Externa Brasileira

BRASILEIROS NA ÁFRICA

1973 25

1988 34

1996 24

Figura 4 – Quadro da diplomacia brasileira até o governo FHC. Fonte: Visentini e Pereira (2010); elaboração própria.

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No governo de Lula, iniciado em 2003 percebemos uma reaproximação do continente africano e um movimento de melhor delineamento da Política Externa Brasileira para a África. De acordo com Visentini e Pereira (2010) só no primeiro mandato Lula visitou a África quatro vezes e em seu governo dez novas embaixadas brasileiras foram instaladas na África. Não podemos deixar de mencionar que o contexto econômico em que Lula assume a presidência do Brasil deixado pelo governo FHC foi fator essencial para o alargamento mais satisfatório da política externa brasileira. A implementação da nova moeda – o real – e herança do governo que antecede Luiz Inácio Lula da Silva é fator decisivo para que o discurso da estabilidade econômica na pátria verde e amarela se consolide.

Almeida (2004), Rizzi et al (2011) argumentam que uma das principais características que da Política Externa do Brasil no governo Lula foi a opção de diversificar parcerias, aderindo assim a um multateralismo9. Almeida complementa que

O governo Fernando Henrique Cardoso foi caracterizado por um multilateralismo moderado e atribuiu grande ênfase ao direito internacional, mas também evidenciou uma aceitação tácida do princípio dos “mais iguais”, isto é, a existência de grandes potências e seu papel no sistema internacional. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ostenta um forte multilateralismo e defende a soberania e a igualdade de todos os países com maior ênfase retórica do que tinha sido o caso na anterior administração. (ALMEIDA, 2004, p.166)

Sem dúvida, do ponto de vista da forma, a diplomacia do governo Lula ostenta um ativismo exemplar, representado por um intenso programa de diplomacia presidencial,

9 VIGEVANI & RAMANZINI (2011) explicam que “a noção de multilateralismo expressa preferência por

um padrão de interação coletiva nas suas dimensões, seja como método de negociação, de ação ou de regulação, ao invés de priorizar ações unilaterais ou bilaterais. O Brasil, assim como outros países intermediários, tem interesse no multilateralismo institucionalizado com vistas a tentar aumentar a sua capacidade de negociação e prevenir o unilateralismo das potências”. De forma mais simplista, poderíamos afirmar que o multilateralismo privilegia as relações em que várias nações estão envolvidas nas tomadas de decisões.

37 complementado por um ainda mais ativo circuito de contatos, encontros, viagens de trabalho e conversações a cargo do chanceler e, de maneira algo inédito para os padrões do Itamaraty... (ALMEIDA, 2004, p.165)

Observamos, então, que o grande diferencial do governo Lula está na construção da presença brasileira nesses outros territórios estrangeiros que constituem pontos de interesse da política externa brasileira. Como veremos mais adiante, o governo de Dilma Rousseff segue a mesma estratégia. Em sua última visita à África, enquanto presidente brasileiro, Lula teve como companhia a sucessora de seu cargo, Dilma, dando, assim, marca à continuidade da forma de governar no que tange à nossa política externa nos dois governos.

Rizzi et al (2011) explicam que as crises econômicas da década de 1990 contribuíram para mudanças nas relações econômicas do Brasil e, logo, novos países passam a fazer parte de nossos interesse. Os autores afirmam que “nesse conjunto de espaços, pode-se incluir os países africanos com os quais o Brasil possui laços mais concretos, como é o caso dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP)...” (RIZZI et al, 2011, p.63). Acerca do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Almeida acrescenta que

O elemento da liderança proclamado pelo novo governo também aparece como potencialmente implementável, por exemplo, nas relações com os países africanos (em especial lusófonos), terreno no qual o governo FHC limitava-se a proclamar uma bem intencionada política de cooperação (não imediatamente seguida de ações) (ALMEIDA, 2004, p. 173).

A atuação mais do governo Lula na política brasileira para África também se mostra visível no aumento das embaixadas brasileiras instaladas no continente no mandato do presidente. Rizzi et al afirmam que

Durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), fecharam-se seis embaixadas brasileiras no continente, em países cujas relações com o Brasil eram consideradas insuficientes para justificar a manutenção de

38 tal estrutura – reduzindo o número para vinte e uma embaixadas brasileiras na África, no ano de 2002. Por outro lado, durante o governo Lula da Silva foram reabertas as embaixadas fechadas durante o governo Fernando Henrique, e abriram-se nove adicionais...(RIZZI ET AL, 2011, p.67)

Figura 5 – Quadro das embaixadas brasileiras em território africano no governo Lula.

Fonte: http://thomasconti.blog.br/2013/brasil-perdoa-divida-externa-da-africa-

entendendo-o-problema/. Acesso em 03 de abril de 2013.

Os estreitamentos da relação Brasil-África no governo Lula são refletidos na instalação de autarquias e empresas públicas brasileiras na África, como a EMBRAPA e FIOCRUZ. A EMBRAPA foi instalada em Gana no ano de 2008 e lá conta com atividades de cooperação técnica agrícola; o primeiro escritório

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internacional da FIOCRUZ foi inaugurado também em 2008, está instalado em Maputo, Moçambique, e “coordena as atividades de cooperação em saúde e saneamento operadas, sobretudo, com os PALOP” (RIZZI ET AL , 2011, p.66). Há ainda de se mencionar os acordos de cooperação nas áreas da cultura e da educação. Evidencia-se a atenção especial do governo de Luiz Inácio Lula da Silva para com os países africanos lusófonos.

O Brasil também aprofundou a cooperação cultural e educacional, principalmente no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), cujo auxílio facilitou o intercâmbio de professores e forneceu apoio para a consolidação de instituições de ensino médio e superior dos PALOP, além de facilitar o intercâmbio de estudantes entre os países membros [...]. Outra forma de cooperação cultural praticada pelos Ministérios de Educação, Cultura e de Relações Exteriores, deu-se através da coordenação e de subsídios para uma rede de Leitorados em universidades no exterior, Centros nos quais se concentram especialistas em língua portuguesa e literatura e cultura brasileira, como relata o Ministério das Relações Exteriores. (RIZZI ET AL, 2011, p.66)

O governo petista ampliou as relações já existentes e destacou-se por promover uma política externa multilateral e mais ativista, que se faz presente pela sua pulsante diplomacia presidencial e que provavelmente é a grande marca diferencial em relação ao governo antecessor. Assim, Lula consolidou presença brasileira nesses espaços. As visitas oficiais são uma das formas de se mostrar presente nesses espaços. Essa diplomacia presidencial é continuada no governo de Dilma Rousseff, que já no seu primeiro ano de governo visita a África.

1.2- A CPLP: a representatividade da Comunidade nas