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2.4 O sincretismo no corpus

CONTEÚDO EFEITO DE SENTIDO

luminosidade vs obscuridade quente vs frio Preenchimento (o Brasil, representado pelo azul, cobre todo o

amarelo)

Figura 17 – Quadro P.E / P.C / Efeitos de sentido

Retomando a questão do movimento, é interessante observar que enquanto o mapa da África surge de fora para dentro da tela, o texto verbal – PRESIDENTA DILMA ROUSSEF: VIAGEM À ÁFRICA – já nasce dentro da tela e vai crescendo à medida que vai sendo constituído, de dentro para fora; mostrando, assim, um movimento inverso. Estes recursos discursivos localizam o enunciatário em relação ao enunciado. Investido na figura do enunciador, o destinador traz o que é de alhures para a proximidade do destinatário. Num jogo visual promovido pela cinética e pelo ritmo o enunciador, mais uma vez por mecanismo de embreagem, põe o enunciatário face a face com o continente de alhures. A África é trazida de um espaço de fora qualquer para

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dentro da tela. É esse espaço outro e distante em que a narrativa do enunciado se desenvolve que é trazido para a proximidade do enunciatário.

AQUI x ALHURES (Brasil) (África)

Figura 18 – Quadro da aspectualização espacial

A abertura do programa é breve, mas embora tenha duração de apenas 5 segundos não é difícil perceber que seus recursos discursivos produzem determinada expectativa no enunciatário, pois a tela não se dá pronta logo de início; ela é construída aos poucos, por meio do encaixe de suas partes: primeiro uma tela amarela, depois um mapa e, junto com esse, um fundo azul, em seguida o verbal – letra a letra. De forma análoga poderíamos comparar a formação da tela, com a formação de uma imagem a partir da montagem de um quebra-cabeça.

O amarelo da tela inicial é vibrante. Lembramos que das cores que compõem a abertura do programa, o amarelo é o único que ocupa toda a extensão da tela. O amarelo também é a cor comum às quatro bandeiras que representam os países aos quais os vídeos se referem: África do Sul, Angola, Brasil e Moçambique. Embora a visita de Dilma à África do Sul não seja interesse de nossa pesquisa, não podemos ignorar a bandeira de tal país se quisermos fazer analogias desse tipo, pois os vídeos foram ao ar com a intenção de veicular todo o percurso da presidente na África.

A África do Sul possui em sua bandeira as cores amarelo, branco, preto e verde. O Brasil, como é de conhecimento comum, possui em sua bandeira as cores verde, amarelo, azul e branco. Angola tem o preto, o vermelho e o amarelo na bandeira. A bandeira moçambicana tem na sua constituição as cores amarelo, branco, verde, vermelho e preto. Fazendo uma leitura simbólica, além de ser cor comum, nos quatro países o amarelo representa suas riquezas minerais – especificamente o ouro. Em nosso enunciado, o amarelo é a única cor que recobre a tela em sua totalidade, ocupando, em um primeiro momento cem por cento da tela.

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Figura 19 – bandeira da África

do Sul

Figura 21- bandeira de Angola

Figura 20 – bandeira do Brasil

Figura 22 – bandeira de Moçambique

Esse amarelo é a totalidade da tela e, embora não haja bordas que indiquem o enquadramento do amarelo, pois é a própria tela da televisão que fornece esse limite, é possível observar que nos ângulos dos quadrantes, esse amarelo se torna mais sombrio. A luminosidade máxima se dá no ponto central da tela. Se considerarmos o percurso Brasil – África, é no centro desse percurso que o amarelo atinge seu ápice de luminosidade, marcando a união dos países.

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Figura 24 – Frame da centralidade da luz e os ângulos mais sombrios

Se retomarmos a abertura em sua constituição total, é no ponto de encontro entre o Brasil e a África que o amarelo mostra seu mais alto grau de luminosidade. Em toda composição da abertura a tela amarela é o único componente estático e que nos é dado pronto. Sobre essa cor de fundo é pintada a narratividade da abertura por meio de outros elementos da ordem do visual, do verbal e do sonoro que vão ser sobrepostos produzindo um posicionar-se em relação pela estratégia global da enunciação sincrética que o processa.

Figura 26 –Ponto de encontro entre Brasil e África como sendo a localização de maior

luminosidade (quando em fundo amarelo)

Dentro dos elementos da ordem do cromático temos ainda o azul que vem recobrindo a tela no sentido da esquerda para a direita, movimento esse reiterado na configuração do verbal – como já discutimos. O azul cobrindo a tela imprime o ritmo que fora impresso também no verbal, na colocação do mapa da África sobre a tela e na transcrição da faixa branca. É azul que movimenta o enunciado quando recobre o estático amarelo. Ele é o sujeito

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responsável por alterar o estado das coisas. Podemos afirmar, logo, que a cinética e o ritmo são as isotopias suturadoras dos formantes cromáticos, eidéticos e topológicos.

Considerado “cor quente por excelência” (PEDROSA, 2009, p.122), o amarelo é vibrante e ao mesmo tempo em que dá cor, ilumina e dá volume à tela se apresenta como primeira. Essa tela inicial é encoberta, em quase sua totalidade pela frieza o azul, considerada por Pedrosa “a mais fria das cores” (PEDROSA, 2009, p.125). Ambas, em cor-pigmento, classificadas como cores primárias entram em contato sem misturar-se, mas sobrepondo-se uma a outra – aqui, no caso, o azul sobre o amarelo.

A abertura do programa traz as cores da bandeira brasileira e suas formas retilíneas atualizadas em uma nova bandeira que se forma na tela da TV. A nova bandeira se posiciona tomando a tela em sua totalidade. A verticalidade das letras grafadas e das linhas da bandeira contrastam com o movimento que se dá na horizontalidade. O continente africano passa a ser apenas uma espécie de marca d’água sob a bandeira do gigante. A parte do globo em recorte, antes ocupada à esquerda pelo Brasil e à direita pela África, agora é toda recoberta pelo Brasil. O tema da dominação brasileira sobre a África, então, evidencia-se.

TEMA FIGURA

Dominação brasileira Nova bandeira que ocupa toda a tela

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Figura 28 – Parte do globo em recorte Figura 29 – A nova bandeira se pinta

sobre toda a tela

PLANO DA