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CAPÍTULO 3 – A REORGANIZAÇÃO ECONÔMICA E A REVOLUÇÃO

4.3. Breve análise dos 27 anos de liderança de Mao Zedong à frente do país

Nos 27 anos de Mao no poder, algo que é difícil mensurar são as perdas humanas devido à violência e a miséria. Mas cabe perguntar: Apesar de suas falhas políticas e negligência

121 Período denguista corresponde aos anos em que Deng Xiaoping esteve na liderança da China, entre 1978 e

ambiental, o seu período significou um “grande salto para frente”? Mao deixou forte legado para galgar os resultados da China atual?

Segundo um professor de literatura da universidade de Pequim e ex-Guarda Vermelho, Mao foi um “mal necessário”, continua, (ele) “Purgou a China de seus demônios internos e externos e preparou-se para o desenvolvimento” (GIFFONI, 2007, p. 53).

Segundo Viktor Sukup (2002), ex-professor de economia latino-americana, europeia e internacional da Universidade de Buenos Aires, Mao foi essencial para o sucesso econômico implementado por Deng Xiaoping. O seu legado deixou saldo positivo, atestando a avaliação oficial do PCC que 70% da política de Mao era correta e só 30% errada. Concorda que o Projeto de Reforma iniciado em 1978 deve muito à revolução social e econômica das décadas anteriores. Ainda que, apesar das falhas e desastres, as decisões de Mao Zedong “(...) significaram um ‘grande salto para frente’ nos diversos aspectos nos progressos realizados nas áreas de desenvolvimento industrial e agrícola, de educação e cultura, nas infraestruturas físicas e sociais, na situação da mulher, etc” (SUKUP, 2002, p. 87).

Desde a ascensão de Mao ao poder, o crescimento do produto interno chinês foi em média 6% ao ano (SUKUP, 2002), garantiu a unidade política ao país (em contraste com o meio século anterior de guerra civil e ocupação externa), e permitiu à China alcançar um ritmo de crescimento significativo, mesmo que em meio aos excessos. Também deixou relativa estabilidade política pós-Revolução Cultural. Se o objetivo era unificação, independência e crescimento industrial (cf. Tabelas 8), independente do preço pago, Mao obteve êxito.

Tabela 8: Participação da Agricultura, Indústria, Construção, Transporte e Comunicação, Comércio e Serviços no PIB (1952-1978)

Ano Agricultura Indústria Construção Transporte e Comunicação Comércio Serviços 1952 72% 7% 2% 2% 7% 9% 1953 67% 9% 3% 3% 9% 10% 1954 66% 10% 3% 3% 9% 9% 1955 67% 10% 3% 3% 8% 9% 1956 63% 12% 4% 3% 8% 10% 1957 62% 13% 4% 3% 8% 10% 1958 55% 17% 5% 4% 7% 11% 1959 47% 22% 6% 5% 8% 13% 1960 41% 25% 6% 6% 7% 15% 1961 52% 19% 3% 5% 7% 15% 1962 56% 17% 3% 4% 7% 14%

1963 56% 17% 4% 4% 6% 13% 1964 54% 19% 4% 3% 6% 14% 1965 52% 20% 4% 4% 5% 14% 1966 52% 23% 4% 4% 6% 11% 1967 54% 20% 4% 4% 6% 12% 1968 55% 19% 3% 4% 6% 13% 1969 50% 23% 4% 4% 6% 13% 1970 47% 27% 4% 4% 6% 11% 1971 45% 29% 5% 4% 6% 12% 1972 43% 30% 4% 4% 6% 11% 1973 44% 30% 4% 4% 6% 11% 1974 44% 30% 4% 4% 6% 11% 1975 42% 32% 5% 4% 6% 11% 1976 42% 32% 5% 4% 5% 11% 1977 39% 34% 5% 5% 6% 11% 1978 37% 36% 4% 5% 6% 11%

Fonte: Maddison; Wu (2007, p. 14); cf. Milaré; Diegues (2012, p. 373).

A visão contrária, porém, critica a estabilidade política e o crescimento, ambos construídos a preços muito altos para o meio ambiente e social, visto que era impossível fazer qualquer crítica ao Partido, e quanto ao crescimento, houve o industrial, os demais ficaram a desejar (XINRAN, 2003, 2008, 2010a, 2010b; CHANG-SHENG, 2001, 2004; CHANG, 2012). Conforme a Tabela 8, pode-se dizer que houve no período maoista êxito apenas no crescimento industrial, os demais serviços ficaram na contramão do desenvolvimento, paralisado ou com crescimento mínimo, sofrendo inúmeras consequências negativas como visto nos capítulos anteriores.

O caso mais crítico foi o da Agricultura, com o acentuado decréscimo, gerou considerável crédito negativo no resultado econômico e socioambiental122. Pode-se observar que em 1952 a participação da agricultura era 72% do PIB, mostrando que a economia era primordialmente agrária e que a indústria era precária com 7% do PIB. Como o foco dos Planos Quinquenais da Reforma de Mao Zedong foi à indústria de base, a China passou a ter uma participação crescente de 36% no PIB industrial e decrescente na agricultura, que passou de 72% para 37% em menos de 26 anos. A redução do PIB na agricultura foi impactante durante o Segundo Plano Quinquenal, nos “Três anos de Desastres Naturais” (cf. Tabela 8), caiu de

122 Para mais informações, consulte no Capítulo 2 o item 2.3 Segundo Plano Quinquenal: O Grande Salto para

Frente (1958-1962), que aborda as estratégias políticas, econômicas e as consequências socioambientais do período.

62% do PIB em 1957 para 41% em 1960, mais de 20% do PIB da agricultura, equivalente a queda de 31% em oito anos. Pode-se observar, conforme as metas do Segundo Plano Quinquenal, que no mesmo período houve o maior crescimento do PIB industrial, partiu de 13% em 1957 para 25% em 1960, crescimento de 12% em três anos, o que equivale ao crescimento de 18% em oito anos, foi o maior salto industrial do período maoista. No entanto, no Período de Reorganização Econômica, nos dois primeiros anos o PIB da agricultura subiu consideravelmente para 56% enquanto o inverso aconteceu na indústria caindo para 17%123.

De qualquer forma, os pesquisadores Luís Milaré e Antônio Diegues (2012), concordam que o legado deixado por Mao Zedong colaborou para o rápido desenvolvimento do período posterior e que os primeiros passos rumo à industrialização chinesa já haviam sido dados na era maoista.

Segundo o diplomata e escritor brasileiro Mauricio Carvalho Lyrio (2010), por mais turbulentos que tenham sido a era maoista, os reformistas pós-Mao herdaram um país com uma oferta abundante de mão de obra de qualidade, do ponto de vista educacional e de saúde pública, ao menos quando comparado com outros países em desenvolvimento, o que serviu de base para a rápida decolagem da economia chinesa.

De outro lado, porém, há os que defendem que o maoismo não foi tão bom assim. Aliás, pelo contrário, relembram da opressão, do trabalho praticamente escravizado nos

colcozes124, onde “havia uma coação quase militar ao trabalho”; a perseguição aos que o

governo acreditava ser “contra revolucionários”; a armadilha ou manobra da “Campanha das 100 Flores” preparada por Mao para descobrir quem eram os adversários do regime que haviam permanecido calados e fazê-los se autodenunciarem para a brutal repressão; a perseguição aos intelectuais, alegando serem uma arma contra a ideologia; a Reforma do “Grande Salto

123 Como se sabe, é bastante difícil encontrar estatísticas de períodos anteriores a 1978; os dados apresentados

foram calculados a partir dos valores apresentados por Maddison e Wu (2007, p. 14), que por sua vez coletaram estes dados do Historical National Accounts of the People’s Republic of China (National Bureau of Statistics of China, 1997), fonte oficial do governo chinês. Infelizmente, os dados para o ano de 1978 divergem dos apresentados pela United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD) no Handbook of Statistics (UNCTAD, 2010) e dos apresentados no China Statistical Yearbook (National Bureau of Statistics of China, 2010) – também fonte oficial chinesa –, para os quais a participação do setor primário foi de 28%; do secundário, 48%; e do terciário, 24%. Infelizmente essas duas fontes não possuem dados anteriores a 1978 (MILARÉ; DIEGUES, 2012, p. 373).

124 Fazendas coletivas na URSS (e na China) organizadas sob a forma de cooperativas de camponeses, reunidos

com base no voluntariado para administrar uma grande propriedade agrícola com base na socialização dos meios de produção e no trabalho coletivo. Os kolkhozes desenvolviam sua produção em terras de propriedade estatal cedidas para usufruto perpétuo e gratuito. Fonte: Breve Diccionario Político - Editorial Progreso. Disponível em http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/k/kolkhoz.htm. Acesso em: 12 de julho de 2014.

Adiante”, que devido à falta de percepção científica do desenvolvimento nacional e busca cega da alta velocidade econômica, tinha metas impraticáveis, e que para ter força total fechou escolas e universidades durante anos; a notória adversidade social, política, econômica e ambiental que assolou o país durante anos e ficou marcado como a maior mortandade por fome da história - por curto espaço de tempo e sem guerra declarada (cf. Quadro 8, Tabela 6 e 7).

Pesquisadores (cf. Quadro 8) debatem a estimativa da mortalidade no período do Segundo Plano Quinquenal (1957 a 1962), entre 30 e 60 milhões de chineses e durante o período maoista (1949 a 1976), entre 40 e 70 milhões de mortes; criticam a ruptura com a União Soviética; as falsas estatísticas de produção agrícola; a retirada dos técnicos para a “reeducação” que acentuou o resultado catastrófico dos desastres naturais; o desastre ecológico causado pela campanha “luta contra os Quatro Males” ou “Quatro Pestes”, que alterou o ecossistema durante anos; a perseguição aos que não seguiam a “influência moral do partido”, durante a Revolução Cultural, mandando estes à reeducação ou a morte; os Guardas Vermelhos que em nome da nova ordem destruíram templos, construções e obras antigas; mais de cem milhões de chineses (estimativa) tenham sofrido alguma forma de violência nas mãos dos Guardas Vermelhos; os enforcamentos, fuzilamentos e linchamentos em praça pública; que no primeiro ano da Revolução Cultural, estima-se que, só em Pequim, mil e setecentas pessoas tenham sido espancadas até a morte; que na província de Guangxi, nos nove anos seguintes, morreram sessenta e sete mil pessoas; que as crianças eram estimuladas a queimar fotografias dos ancestrais e a denunciar os pais que julgassem traidores de Mao e dos princípios socialistas; a forçada idolatria, convocando até um milhão de pessoas na praça Tianamnen para louvar a figura do “Líder Supremo”, chamando-o, ainda, de Gênio Incomparável, Remodelador de Almas e Sol Vermelho.

Segundo o informe apresentado por Jiang Zemim no XIV Congresso Nacional do Partido Comunista da China, a nova revolução que aconteceu em 1978, quando aprovou a direção coletiva central sob o comando de Deng Xiaoping como núcleo, assumiu a árdua missão de realizar uma grande virada histórica e iniciar um novo período de desenvolvimento. Porém, “Esta nova revolução é conduzida sobre a base do triunfo alcançado na revolução anterior (...)” (ZEMIN, 2002, p. 29). Ainda que reconhecendo consideráveis erros cometidos por Mao, membros do Partido são sempre discretos e resistentes a estes comentários.

Jiang Zemin, presidente chinês no mandato de 1993 a 2003, defendeu Mao e o seu importante lugar na história, e criticou os que desqualificam a pessoa de Mao e a sua ideologia. Atestou que o Partido efetuou a diferenciação consciente do certo e do errado nos mais

importantes episódios históricos. E que adotou uma série de medidas para revogar os vereditos injustos, errôneos ou baseados em falsas acusações. Resultando, em especial, na resolução sobre alguns problemas na história do Partido: arrancar com a raiz “Revolução Cultural” e a teoria da “continuação da revolução sob a ditadura do proletariado”.

Ao mesmo tempo, negando firmemente a errônea tendência ideológica de desqualificar o camarada Mao Tsé-tung e seu pensamento, essa sessão [6ª sessão plenária do 11º Comitê Central] defendeu o seu lugar correspondente na história e afirmou o papel orientador do pensamento de Mao Tsé-tung (ZEMIN, 2002, p. 31).

O Partido se diz fiel a Mao e tenta defender a sua memória. No entanto, há divergência de opiniões também e, sobretudo, entre os intelectuais chineses, principalmente os que não moram mais na China.

Os 27 anos em que Mao esteve na liderança direta da República Popular da China, marcam um período de gigantescas transformações, desenvolvimentos diversos e múltiplas dificuldades. Considerando a dimensão populacional na China, tudo o que ocorre são em grandes proporções, por isso detalhes se tornam grandes feitos, seja para bem ou para o mal.

4.4. Considerações do Capítulo

Esta fase de transição entre Mao Zedong e Deng Xiaoping foi o período em que os chineses colheram os revezes do que os dez anos da “Revolução Cultural” infringiu ao país: grave dano ao desenvolvimento social, econômico e grande descontentamento da população. Em outubro de 1976, com a prisão do “Bando dos Quatro” e o fim da “Revolução Cultural”, nos dois anos que se seguiram, a economia começou a se recuperar, no entanto, com o pensamento maoista de governar, depois de tanto tempo no governo, o pensamento engessado estava longe de ser mudado. Apesar disso, aos poucos, Deng Xiaoping conseguiu iniciar a virada da “velha” para a “nova” linha ideológica, iniciando uma nova fase: a denguista.

No próximo capítulo poderá ser visualizada as estratégicas de Deng e os reflexos dos recém-enriquecidos chineses. A riqueza que fora declarada decadente na China comunista, na década de 1980 a população aprendeu que “ficar rico é glorioso”. Os próprios chineses

sentiram dificuldades com as novas contradições dentro da sociedade. A súbita abertura para a cultura ocidental, os padrões de vida diferentes das zonas especiais e as distribuições desiguais de riqueza provocadas pelas Reformas, desencadearam algumas crises, conforme será apresentado no próximo capítulo, os problemas continuaram, apenas eram outros. Enfim, estudar a história do período maoista serve para analisar o período seguinte, segundo Confúcio, “Adquirir novos conhecimentos a partir dos antigos”.

Neste capítulo foi possível acompanhar a transição de Mao para Deng e identificar as dificuldades pelo qual o país passava. E com isso, fica uma pergunta: Como a China conseguiu ficar bem-sucedida economicamente em tão pouco tempo tendo o contingente de um bilhão de pessoas indigentes, oprimidas e com baixa autoestima? Deng Xiaoping em compromisso com o Partido Comunista Chinês mudou o foco da política econômica, de ideologias para estratégias de crescimento, e principalmente, fixou uma diferente prioridade: fornecer às pessoas o que elas necessitavam com mais urgência: alimentos, educação e esperança. Mas não foram só flores, os espinhos estavam sempre presentes, como poderá ser observado no próximo capítulo: As Estratégias Político-Econômicas e Socioambientais no

PARTE 4

ESTRATÉGIAS POLÍTICO-ECONÔMICAS E AS

CONSEQUÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS NA CHINA

NO PERÍODO DE DENG XIAOPING

Figura 20: Deng Xiaoping – “Não importa a cor do gato, desde que pegue o rato”. Foto: Christina Hagefors. Tong, 2015.

Deng Xiaoping era prático e objetivo, não se submetia aos dogmas da doutrina maoista. Desenvolveu estratégias com diferenças consideráveis se comparadas com a do período anterior, deu continuidade aos Planos Quinquenais, porém colocou em prática a sua própria estratégia de desenvolvimento: O Projeto de Reforma das Quatro Modernizações e abertura ao exterior.

Esta quarta e última parte da tese está dividida em dois capítulos. Nela serão analisadas as Estratégias Político-Econômicas e as Consequências Socioambientais no período de Deng Xiaoping, entre 1978 e 1992.

O Capítulo 5 contextualiza a fundamentação histórica do período e traz à tona as estratégias denguistas de Reforma e Abertura. Mais que dar continuidade aos Planos Quinquenais, o plano de desenvolvimento recebeu um planejamento de curto, médio e longo prazo, com finalidade de transformações econômicas, militares e lançar a China como grande potência mundial até o ano 2050. Neste capítulo será abordado o Primeiro Estágio da Reforma (1980-1990) e os primeiros anos do Segundo Estágio, até 1992 (a figura abaixo ilustra de forma concisa o plano de desenvolvimento estratégico desta quarta e última parte da tese).

O Sexto e último Capítulo enfatiza as Implicações Socioambientais da Reforma, analisa a intensificação dos problemas ambientais diretamente ligados ao intenso desenvolvimento econômico e a preocupação em prevenir e reparar a degradação ambiental, o “tendão de Aquiles” do Projeto de Reforma.

O período denguista é complexo, com acelerado e incomparável desenvolvimento econômico, rico em articulações, estratégias e intenso impacto socioambiental.

Figura 21: Plano de desenvolvimento estratégico de Deng Xiaoping

CAPÍTULO 5

- AS ESTRATÉGIAS POLÍTICO-ECONÔMICAS DE DENG XIAOPING: REFORMA E ABERTURA –

As proletarians, we should, and can, do better

Deng Xiaoping, 24 de maio de 1977 (XIAOPING, 1994).

Quando Deng Xiaoping voltou ao centro do poder, após a morte de Mao Zedong e o fim da Revolução Cultural, encontrou a cúpula do Partido Comunista engessada na norma que se chamava "dois o que quer quê": significava que diante de qualquer problema, valia o que quer que Mao Zedong tenha dito ou feito. Deng não se conteve a submissão da autoridade de Mao e conduziu a própria ascensão à liderança do Partido, com o argumento de que a prática era o único critério da verdade (ZEMIN, 2002; OLIVEIRA, 2003).

A característica central do pensamento de Deng era a visão pragmática do mundo. De forma prática e objetiva, expôs com segurança nas reuniões do Partido, em 1978 e 1979, a teoria da modernização125 chinesa, que ficou conhecido como Reforma e Abertura. Os antecedentes da Reforma foram os dois importantes movimentos: o Grande Salto Adiante e a Revolução cultural. A Revolução Cultural atrasou o desenvolvimento intelectual e científico, ao passo que o Grande Salto atrasou o desenvolvimento econômico. Foi necessário passar pelo período de reorganização econômica (cf. Cap. 3) com a finalidade de reajustar diversos problemas vitais e ações urgentes a fim de voltar aos projetos quinquenais. A China passava

125 Este termo foi utilizado nos documentos oficiais chineses e na linguagem utilizada pela classe política que

ascendeu ao poder a partir de Deng Xiaoping. Modernização neste caso, refere-se a proposta de Deng Xiaoping de Reforma e Abertura que tinha o objetivo de realizar as “Quatro Modernizações”.

por estado de atraso e subdesenvolvimento (MEZZETTI, 2000; MARTI, 2007; KYNGE, 2007; XINRAN, 2003, 2008, 2010a, 2010b; CHANG, 1995, 2012; GONG, 2013; ZAGO, 2015).

Com a Reforma Político-Econômica e a Abertura Internacional, a economia chinesa alcançou resultados notáveis de contínua e elevada taxa de crescimento, com a média entre 8 e 10% ao ano126. A China que em 1978 era subdesenvolvida, em 2010 passou a ser a segunda maior economia do mundo (GONG, 2013). As Reformas foram empreendidas a partir de 1978 e baseadas num modelo de gradualismo, pragmatismo e competição. Com habilidade, Deng e o Partido desenvolveram o Projeto de Reforma, seguindo um planejamento de tarefas complexas que envolveram vários níveis de ação e com o objetivo único conforme veremos adiante. Estabeleceram-se ordens e prioridades, as reformas fáceis antes das difíceis, as rurais antes das urbanas, nas cidades costeiras antes das interioranas, as reformas econômicas antes das políticas, tudo dentro de um quadro de experimentalismo e gradualismo127 com paulatina reincorporação de elementos de competição, atualização e lucro. Segundo o presidente dos EUA Richard Milhous Nixon, em conversa sobre a reforma econômica chinesa, Deng explicou que:

A China faz a experiência e, se funcionarem a contento, as reformas serão mantidas. Se não derem resultado, nós a abandonaremos. Em três ou cinco anos, decidiremos nosso rumo futuro. As reformas são irreversíveis em termos de orientação; a tática, porém, pode mudar (NIXON, 1990, p. 60).

Deng em seu pleno período formativo, dos dezesseis aos vinte e um anos, viveu e trabalhou na França. Ligou-se de longe ao nascente movimento comunista chinês, em contato direto com a agitação dos operários franceses. Na França, firmou laços de amizade e identificação intelectual com Zhou Enlai, seis anos mais velho que ele. Foram companheiros ideológicos e tinham a convicção de que a China só superaria o atraso trazido por um século de

126 Entre 1981 a 2005, o crescimento médio anual foi ainda mais alto, de 9,8% com tendência recente, antes da

crise econômica mundial de 2008-2009, de aceleração ainda maior, com taxa média anual de 10,2% de 2003 a 2006. “Ten importance’s: critical challenges facing China”, Economist Intelligence Unit (2007, p.7). Para ter uma ideia mais concreta do crescimento da economia chinesa, estima-se que o PIB do país tenha se multiplicado por nove de 1978 a 2005. In CSIS & IIE, China: The Balance Sheet, BBS Publications, New York, 2006, p. 3. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, estima que o produto interno chinês entre 1978 a 2012, cresceu em média 9,91% ao ano. E segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OUTLOOK, em abril de 2013, as previsões são de que a China supere os EUA no Produto Interno Bruto (PIB) por paridade de poder aquisitivo em 2017 (KEITH, 2014, p. 01).

127 I.e., explorava novos conceitos e procedimentos experimentais, empíricos e de forma gradual, porque era um

princípio/método reformista moderado, que preconizava proceder gradualmente, e não por saltos, mas na sequência dos objetivos.

colonialismo se, se abrisse para o mundo e estivesse disposta a aprender com o mundo (OLIVEIRA, 2003).

Uma das estratégias da Reforma e Abertura era conhecer o mundo e para com ele aprender, então os chineses promoveram as inter-relações de interesses e foram disciplinados nesta tarefa. Aprenderam com “os de fora” e trouxeram informações, investimentos, fizeram acordos e o resultado foi o rápido desenvolvimento econômico. Com isso, é objetivo deste capítulo analisar as estratégias político-econômicas desenvolvidas no período de Deng Xiaoping. Para tanto, este capítulo está organizado em cinco partes: Primeiro, apresenta-se os fundamentos e objetivos do Projeto de Reforma. No segundo momento, desenvolve-se uma discussão sobre o conjunto de medidas desenvolvido por Deng Xiaoping para construir uma direção estratégica128 e suas prioridades. No terceiro momento, como um jogo de xadrez pensado por Deng, aborda-se o primeiro estágio da Reforma (1980-1990). No quarto momento, a sequência do jogo, o segundo estágio da Reforma (1990-2000), apenas os primeiros anos referentes ao período em estudo. Por fim, as considerações do capítulo.