• Nenhum resultado encontrado

Estratégias político-econômicas chinesas e suas consequências socioambientais : uma análise do período entre Mao Zedong a Deng Xiaoping

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Estratégias político-econômicas chinesas e suas consequências socioambientais : uma análise do período entre Mao Zedong a Deng Xiaoping"

Copied!
304
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

LISANDRA ZAGO

ESTRATÉGIAS POLÍTICO-ECONÔMICAS CHINESAS

E SUAS CONSEQUENCIAS SOCIOAMBIENTAIS:

UMA ANÁLISE DO PERÍODO ENTRE

MAO ZEDONG A DENG XIAOPING

CAMPINAS

2017

(2)

LISANDRA ZAGO

ESTRATÉGIAS POLÍTICO-ECONÔMICAS CHINESAS E SUAS CONSEQUENCIAS SOCIOAMBIENTAIS:

UMA ANÁLISE DO PERÍODO ENTRE MAO ZEDONG A DENG XIAOPING

Tese apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para obtenção do título de Doutora em Sociologia.

Orientadora: LEILA DA COSTA FERREIRA

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA LISANDRA ZAGO, ORIENTADA PELA PROF(A). DR(A) LEILA DA COSTA FERREIRA, APROVADA PELA COMISSÃO JULGADORA EM 09/11/2017.

CAMPINAS 2017

(3)
(4)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Tese de Doutorado, composta pelos Professores Doutores a seguir descritos, em sessão pública realizada em 09/11/2017, considerou a candidata Lisandra Zago APROVADA.

Professora Doutora: Leila da Costa Ferreira

Professor Doutor: Thales Haddad Novaes de Andrade Professor Doutor: Marcelo Fetz de Almeida

Professor Doutor: Valeriano Mendes Ferreira Costa Professor Doutor: Roberto Donato da Silva Júnior

A Ata de Defesa, assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica da aluna.

(5)

Dedico aos que se interessam pela China e sua História.

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e aos Espíritos de Luz por essa realização.

À minha orientadora, Professora Doutora Leila da Costa Ferreira pela importante colaboração nessa pesquisa, agindo com distinta sabedoria, confiança, motivação e pela liberdade interpretativa concedida.

Aos Professores Doutores que ministraram o curso de Introdução ao Estudo da China, em especial os professores Antônio Florentino Neto, Célio Hiratuka e Thomas Patrick Dwyer pelas discussões, provocações e relevantes informações para esta pesquisa.

Aos membros do grupo de pesquisa “Mudanças Ambientais Globais: As Políticas Ambientais na China com referência ao Brasil”, sob a coordenação da Professora Leila da Costa Ferreira, em especial à Fabiana e ao Marcelo pelas importantes colocações na banca de qualificação. E aos colegas Liu Si, Marília, Isidro, Estevão, Giverage, Jefferson, Alberto, Mariana, Matheus, Felipe e Luiz, pelas críticas e por me instigarem repetidamente.

Aos amigos, Professor Doutor David Mendez Soares e Paulo Toshio Inoue, pelas correções, orientações, incentivos e sábias palavras de mestres que são. Terão sempre a minha gratidão e estima.

Agradeço também aos amigos e parentes Professora Doutora Lidiane Maciel, Professor Mestre Marcos Antunes, Senhor Alaôr José Gasparoto, Professora Aline Balta e a Professora Karolinne Oliveira, pelas contribuições, correções, prestativas leituras e estímulos no decorrer desta pesquisa.

Ao IFCH, pela oportunidade de realizar esse doutorado, ao Nepam e a CAPES.

Ao Fillipe Gasparoto, por toda ajuda e companheirismo principalmente socorrendo nos problemas de informática.

À minha mãe, Claudete Zago, pelo seu engajamento e generosidade na leitura dos meus textos e correções, sobretudo, por ser ouvinte das minhas constantes interpretações, angustias e alegrias, minha grande parceira e fiel escudeira. Ao meu pai Dileto José Zago pela

(7)

força nos momentos de dificuldades e aos meus irmãos Leandro, Lucinei e Ligiane, pela torcida que acabasse logo.

(8)

“Longa viagem começa com um passo” Provérbio Chinês

(9)

RESUMO

Esta tese traz uma reconstrução histórica das estratégias político-econômicas no período entre Mao Zedong a Deng Xiaoping (1949-1992), com o objetivo de analisar o processo de implantação e execução dos projetos de desenvolvimento e suas consequências socioambientais. O método utilizado parte da investigação historiográfica, de articulação e análise das fontes primárias e secundárias a partir da Sociologia Histórica, da Sociologia Ambiental e da História Ambiental. Os resultados da pesquisa mostraram que nesse período, o ritmo frenético do crescimento econômico chinês foi acompanhado de prejuízos socioambientais significativos. O salto chinês que chamou a atenção do mundo foi preparado num mecanismo de constantes mudanças iniciado por Mao Zedong, denominado Planos Quinquenais. Porém, foi com a estratégia político-econômica de Deng Xiaoping, denominada de Reforma das Quatro Modernizações e Abertura ao Exterior, que mudou o cenário histórico, político e econômico do país. Embora os Planos Quinquenais e a Reforma tenham promovido extraordinário dinamismo econômico, crescente importância na ordem mundial, altas taxas de crescimento e avanços tecnológicos, em consequência, também geraram impactos socioambientais, incertezas e agravamentos que se estenderam para além de suas fronteiras e configuraram inquietações que assumiram dimensão planetária.

Palavras chave: China; Mao Zedong; Deng Xiaoping; Planos Quinquenais; Reforma; Impacto Socioambiental.

(10)

ABSTRACT

This dissertation presents a historical reconstruction of political and economic strategies in the period between Mao Zedong and Deng Xiaoping (1949-1992), in order to analyze the process of implementation and execution of development projects and their main social and environmental consequences. The method used is part of the historiographic investigation, articulation and analysis of primary and secondary sources from Historical Sociology, Environmental Sociology and Environmental History. The results showed that in this period the frenetic pace of Chinese economic growth was accompanied by significant socio-environmental losses. The Chinese leap that caught the attention of the world was prepared in a mechanism of constant changes initiated by Mao Zedong, denominated Five-Year Plans. However, it was the political-economic strategy of Deng Xiaoping, called the Four Modernization Reform and Openness Abroad that changed the country's historical, political and economic scenario. Although the Five-Year Plans and the Reform promoted extraordinary economic dynamism, growing importance in the world order, high growth rates and technological advances, as a result, they also generated socio-environmental impacts, uncertainties and aggravations that extended beyond their borders, assuming a planetary dimension.

Keywords: China; Mao Zedong; Deng Xiaoping; Five-Year Plans; Reform; Socio-environmental impact.

(11)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Harmonia entre o humano e a natureza...39

Figura 2: Rio Amarelo...44

Figura 3: Mao Zedong – Pensamento Marxista-Leninista-Maoista (Stalin, Lenin, Engels e Marx)...68

Figura 4: Dazibao...83

Figura 5: Propaganda – Pôster do Grande Salto, 1960...88

Figura 6: Fornos de Quintal...90

Figura 7: Subdivisões da Província de Anhui...102

Figura 8: Campanha “Mate as quatro pestes”...106

Figura 9: As quatro principais causas da falta de comida no Segundo Plano Quinquenal...109

Figura 10: Localização de Dazhai...117

Figura 11: Morros de Dazhai. Planalto de Loess...118

Figura 12: Jiuzhaigou, Aba, Sichuan, China...119

Figura 13: Dazhai...119

Figura 14: Pôsteres para difundir o exemplo de Dazhai...121

Figura 15: Guardas vermelhos em reunião de leitura do Pequeno Livro Vermelho de Mao Zedong, Beijing, China, 1966...126

Figura 16: “Monstros e demônios” (1966-1967) ...129

Figura 17: Destruição da Biblioteca do Instituto de Hebei...136

Figura 18: Foto aérea de Tangshan após o terremoto. Algumas tendas e abrigos temporários entre os escombros...137

Figura 19: Mao Zedong (esq.) e Deng Xiaoping (dir.), Março de 1959...143

Figura 20: Deng Xiaoping – “Não importa a cor do gato, desde que pegue o rato”...160

Figura 21: Plano de desenvolvimento estratégico de Deng Xiaoping...162

Figura 22: Desenho esquemático relacionando parâmetros para se alcançar o desenvolvimento sustentável...208

(12)

Figura 24: “O homem dos tanques”...231

Figura 25: Desenho esquemático sobre desastre natural...293

Figura 26: Classificação à natureza dos desastres naturais...295

(13)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Divisão da tese correlacionado aos Líderes Políticos da RPC...34

Quadro 2: Governos da China...50

Quadro 3: Lista dos maiores desastres naturais registrados na China...57

Quadro 4: Planos Quinquenais de Desenvolvimento Chinês no Período de Mao Zedong...75

Quadro 5: Divulgação do Partido das Províncias empenhadas na corrida pelo aço...94

Quadro 6: Número de trabalhadores na campanha de aço entre setembro e dezembro de 1958...94

Quadro 7: Lista dos maiores desastres naturais registrados na China (a partir de 9 mil mortes) ...98

Quadro 8: Estimativa de mortalidade entre 1959-1961, “Três anos de Desastres Naturais”...100

Quadro 9: Plano Quinquenal do Período de Transição - Quinto Plano Quinquenal...151

Quadro 10: Estratégias da Reforma...167

Quadro 11: Principais objetivos da Reforma...169

Quadro 12: Primeiro e Segundo estágio de desenvolvimento da Reforma e Abertura...171

Quadro 13: Planos Quinquenais de Desenvolvimento Chinês no Período de Deng Xiaoping...172

Quadro 14: Fases das Reformas ocorridas na China no período de Deng Xiaoping...175

Quadro 15: Principais tipos de uso da terra na China...196

Quadro 16: Alinhamento das facções do Politburo em 1987...229

Quadro 17: Principais agravantes antrópicos relacionados com os desastres...297

Quadro 18: Especificidades entre Mao Zedong e Deng Xiaoping...298

(14)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Relação da participação da indústria pesada na China...80

Tabela 2: Valor bruto da produção – Primeiro Plano Quinquenal (1953-1957)...85

Tabela 3: Distribuição do investimento fixo estatal em 1952, 1955 e 1957...86

Tabela 4: Produção dos principais produtos agrícolas, 1949-1976 (Unidade: 1 milhão de toneladas) ...95

Tabela 5: Província de Anhui: a produção de grãos e a população, 1957-1961...102

Tabela 6: Número de mortes de algumas províncias, 1957 e 1960...103

Tabela 7: Taxas se mortalidade das províncias, 1957-1962 (por mil) ...107

Tabela 8: Participação da Agricultura, Indústria, Construção, Transporte e Comunicação, Comércio e Serviços no PIB (1952-1978) ...154

Tabela 9: Zonas Econômicas Especiais...182

Tabela 10: Política Regional ZEE...183

Tabela 11: Indicadores de reprodução selecionados: 1952, 1965, 1978 e 1992...191

Tabela 12: Crescimento do PIB da China – Década de 1980...193

Tabela 13: Principais proporções do uso da terra entre 1990 e 2000...197

Tabela 14: Números de grandes tempestades de poeira na China...207

Tabela 15: Distribuição de emprego da população entre 1952 a 1994...302

(15)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Produção de toras industriais na China, 1949-2008...134 Gráfico 2: Evolução da produção do setor primário: Taxa de crescimento anual...189 Gráfico 3: Variação do PIB chinês entre 1952 a 2000...194

LISTA DE MAPA

(16)

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBERS Satélite sino-brasileiro de sensoriamento remoto

CCC Comissão Consultiva Central

CCICED Comissão para a Cooperação Internacional em Meio Ambiente e Desenvolvimento da China

CEAV Centro de Estudos Avançados

CIA Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos

CMED Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

C&T Ciência e Tecnologia

ECOSOC Conselho Econômico e Social / ONU

EUA Estados Unidos da América

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

GEE Gás de Efeito Estufa

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IDES Investimentos Diretos Externos

IFCH Instituto de Filosofia e Ciência Humanas INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPCC Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima

LAPPC Lei sobre Prevenção de Poluição do ar e Controle da República Popular da China

M Corresponde a Magnitude (escala Richter)

MDN Maiores Desastres Naturais

(17)

NEPAM Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ONG Organização Não Governamental

ONGA Organização Não Governamental de Ambiente

ONU Organização das Nações Unidas

PCC Partido Comunista Chinês

PCM Partido Comunista Maoista

PCR Partido Comunista Revolucionário

PIB Produto Interno Bruto

RPC República Popular da China

R&D Research and Development (Pesquisa e Desenvolvimento)

UNDP Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas; União Soviética USDA Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

USGS Serviço Geológico dos Estados Unidos

ZDET Zona de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico

ZEE Zona Econômica Especial

(18)

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...22

INTRODUÇÃO...25

PARTE 1 RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA CHINA ATÉ 1948 CAPÍTULO 1: HISTÓRIA POLÍTICO-ECONÔMICA E SOCIOAMBIENTAL DA CHINA ATÉ 1948...41

1.1. Breve história das implicações socioambientais da China... ... 42

1.1.1 Política ... 45

1.2. O intercâmbio e as consequências para o ecossistema chinês ... 48

1.3. Economia e impacto socioambiental ... 52

1.4. Conflitos internos e com o exterior ... 58

1.5. De potência mundial à nação em crise ... 62

1.6. Considerações do Capítulo ... 65

PARTE 2 ESTRATÉGIAS POLÍTICO-ECONÔMICAS E AS CONSEQUÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS NA CHINA NO PERÍODO DE MAO ZEDONG CAPÍTULO 2: AS ESTRATÉGIAS DE MAO ZEDONG: OS PLANOS QUINQUENAIS - O PRIMEIRO E O SEGUNDO PLANO QUINQUENAL E SUAS CONSEQUÊNCIAS...71

2.1. Planos Quinquenais...74

2.2. Primeiro Plano Quinquenal (1953-1957) ...78

2.2.1. Campanha das “Cem Flores” (1956-1957) ...82

(19)

2.3.1. Luta contra “os Quatro Males” – Impacto ambiental sem precedentes...105

2.4. Considerações do Capítulo...111

CAPÍTULO 3 – A REORGANIZAÇÃO ECONÔMICA E A REVOLUÇÃO CULTURAL...114

3.1. Reorganização Econômica no País (1962-1965) ...115

3.1.1. Dazhai e a propaganda – Alterações de ecossistemas regionais...117

3.2. Revolução Cultural (1966-1976): Terceiro (1966-1970) e Quarto Plano Quinquenal (1971-1975) ...123

3.2.1. Os guardas vermelhos...125

3.3. Implicações Socioambientais do Período Maoista...133

3.3.1. Desmatamento – Empobrecimento dos ecossistemas florestais, destruição e extinção de diferentes espécies...133

3.3.2. Afastamento dos técnicos na Revolução Cultural (1966-1976): Desastres com maior número de mortos por falta de previsão, assistência e provisão...135

3.3.3. Política governamental de acordos ambientais...140

3.4. Considerações do Capítulo...141

PARTE 3 O PERÍODO DE TRANSIÇÃO ENTRE MAO ZEDONG E DENG XIAOPING (1976-1978) CAPÍTULO 4: A TRANSIÇÃO: ESTRATÉGIAS, ALIANÇAS E CONFLITOS...145

4.1. A virada histórica da velha para a nova linha ideológica...145

4.2. As primeiras decisões de Deng Xiaoping...150

4.3. Breve análise dos 27 anos de liderança de Mao Zedong à frente do país...153

(20)

PARTE 4

ESTRATÉGIAS POLÍTICO-ECONÔMICAS E AS CONSEQUÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS NA CHINA

NO PERÍODO DE DENG XIAOPING

CAPÍTULO 5 – AS ESTRATÉGIAS POLÍTICO-ECONÔMICAS DE DENG XIAOPING:

REFORMA E ABERTURA...163

5.1. Fundamentos e Objetivos do Projeto de Reforma...165

5.1.1. Objetivos da Reforma...169

5.1.2. Estratégia da Reforma...170

5.2. Estratégias Político-Econômicas...176

5.3. Um jogo de xadrez - O Primeiro Estágio da Reforma (1980-1990) ...180

5.3.1. Início da abertura para investimentos externos com as Zonas Econômicas Especiais (ZEEs)...182

5.3.2. Primeira prioridade da Reforma: modernização do campo. Melhorar a infraestrutura do país, com grandes transformações rurais e urbanas...185

5.3.3. Segunda prioridade: modernização da indústria...192

5.3.3.1. Pedras no caminho... Reflexos negativos político-econômicos da descentralização e da economia de mercado... ...194

5.4. O Segundo Estágio da Reforma (1990-2000, os primeiros anos) ...196

5.4.1. Quanto ao uso da terra...196

5.4.2. Quanto às grandes transformações na urbanização...197

5.4.3. Quanto à modernização na indústria...198

5.5. Considerações do Capítulo...199

CAPÍTULO 6: IMPLICAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DA REFORMA...202

6.1. Consequências ambientais na China Pós-Reforma...203

6.1.1. Poluir agora, limpar mais tarde...203

6.1.2. Desmatamento, degradação dos ecossistemas, inundação, desertificação...204

6.1.3. Desigualdade social...208

6.2. Política Ambiental no Período Denguista...210

6.2.1. Proteção ambiental, uma das metas do Sexto Plano Quinquenal...211

6.2.2. Efetivação da proteção ambiental a partir dos anos 1990...213

6.2.3. Descentralização de poder e responsabilidades...213

(21)

6.3.1. Política do filho único e infanticídio...219

6.3.2. Insatisfação social, corrupção, inflação e o protesto na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) ...221

a) Insatisfação social...222

b) Corrupção...223

c) Inflação...224

d) Protesto na Praça da Paz Celestial...226

6.4. Últimas Ações Estratégicas de Deng Xiaoping...234

6.4.1. Cortar as despesas, frear a inflação...235

6.4.2. Ter apoio dos aliados...236

6.4.3. Atrair investimento ocidental...237

6.4.4. Insistir na Reforma e Abertura...238

6.4.5. Não perder tempo discutindo ideologia...240

6.5. Considerações do Capítulo...242

CONSIDERAÇÕES FINAIS...244

REFERÊNCIAS...259

APÊNDICES 1 - Desastre natural, vulnerabilidade, risco e perigo...293

2 - Calamidades, impacto ambiental, desastre, alagamento, enchente e inundações...296

3 - Especificidades entre Mao Zedong e Deng Xiaoping ...298

ANEXOS Anexo 1...302

(22)

APRESENTAÇÃO

Certa vez um professor falou que a China não era para principiante e ele tinha razão. Descobri nas encruzilhadas desta tese o quão complexo é o mundo chinês: as fontes se desencontram e/ou são contraditórias, os entrevistados se calam e as dificuldades nas coletas de dados são várias. Foi quando entendi que o xadrez chinês1, geralmente “só” chinês saberia jogar e alguns poucos, pois, a grande maioria seriam “apenas” peças do tabuleiro, “números e braços” ajustados à sua própria natureza.

A partir desse entendimento, remodelei a minha tese2 e compreendi que, o que eu gostaria de estudar não seria possível, sem antes, fazer um percurso sobre a História do Pensamento Chinês para depois estudar a China e entender como o chinês articula o seu raciocínio sobre o tabuleiro (era necessário ter conhecimento das “regras” para poder fazer a releitura das partidas e a primeira regra: nada é o que parece ser).

Para tanto, foi necessário “enfrentar a floresta negra de encantos, magias, surpresas e terror”. Estudar o início da formação socioespacial chinesa, perpassar por milhares de anos até chegar à contemporaneidade era como ter um mapa cartográfico com os azimutes e uma bússola que, às vezes, perdia-se o Norte. Como num filme, naveguei pela filosofia; mitologia; poesia; contos; curta e longa metragem; a fim de, compreender um pouco dos campos das possibilidades: ações e reações; política; economia; contatos; alianças e conflitos.

Conhecer a história da China foi imperativo para se entender as estratégias articuladas e nessa busca ficou claro que nada é simples quando o assunto é a China. E mais, que existem “várias chinas” na China, que os chineses são ótimos jogadores, espertos

1 O xadrez chinês, ou Xiangqi (Pinyin: xiàngqí) é um jogo de estratégia, jogado em um tabuleiro e simula a batalha

entre dois exércitos, isto é, um jogo de tomada de poder cujo objetivo é capturar o general (representada pelo xeque-mate ao rei) do adversário. Uma partida será perdida (mesmo com grande domínio territorial) se o rei for atacado e não puder ser defendido. O xadrez chinês é diferente do xadrez ocidental, criado pelos próprios chineses nos tempos remotos e aperfeiçoado ao longo da história. Passatempo predileto dos homens, atingiu a sua idade de ouro durante a dinastia Qing. Em 1959 foi divulgado e incluído nas modalidades esportivas e continua sendo jogado principalmente pelos chineses. No entanto, não me refiro a este jogo em específico, me refiro ao grande mundo chinês das estratégias, que aqui chamo de “xadrez chinês” ou “jogo da vida chinês” (NETO, 2002; YOSHIDA, 2015).

2 Até a qualificação o meu objeto de pesquisa era: China: Reconstrução Histórica da Internalização da Problemática

(23)

negociantes, ardilosos estrategistas e, tradicionalmente, regidos pela orientação confucionista, taoista e budista.

Partindo do princípio de haver “várias chinas”3, apesar da pesquisa ser histórica, existe o agravante de ter no mínimo duas versões aos eventos. Então, a atenção foi fazer uma historiografia dos fatos evitando entrar no campo das ideologias, e este foi um dos maiores desafios. Porque além de poucas referências disponíveis, quando o recorte temporário era do estágio maoista4 apresentava grande confusão dos dados emitidos pelo governo. Logo, havia duas principais versões: uma emitida pelo governo chinês e a outra, pelos chineses e/ou não chineses que escreviam de fora da China - geralmente do ocidente. No período seguinte (denguista), devido a algumas mudanças de estratégias governamentais, iniciou-se uma “maior abertura” ao exterior, promovendo, inclusive, mais documentos produzidos por escritores chineses que viviam na China, além dos documentos produzidos pelo governo e pelos chineses e/ou não chineses que moravam fora do país.

Observando os meus dias de insanidade e glória, as pessoas próximas não entendiam a minha saga e insistiam em questionar: por que estudar a China? Qual a importância de estudar a historiografia da China antiga até a contemporaneidade? Por que fazer uma reconstrução histórica das continuidades e mudanças entre Mao Zedong e Deng Xiaoping? Por que analisar as estratégias? E, por fim, por que o interesse em analisar os impactos socioambientais? Estas perguntas nortearam a pesquisa e foram respondidas passo a passo nos capítulos, pois como num jogo, cada peça tem a sua função/habilidade, e nesse caso, resolver essas questões permite que o leitor chegue ao tão esperado “xeque-mate”: i.e., compreender quais/como foram as estratégias político-econômicas e quais/como foram as consequências socioambientais nos períodos entre Mao Zedong a Deng Xiaoping.

Considero o “xeque-mate” não como o fim da tese, mas a “cereja do bolo”, uma vez que os estudos referentes à China dos últimos 30 anos estão ávidos na interrogativa de conhecer o processo transitório da China subdesenvolvida e grande provocadora de impactos

3 Depende de quem narra, fontes diversas dão resultados diversos para um mesmo fato. Como exemplo, ver:

Capítulo 2, subitem 2.3. Segundo Plano Quinquenal; ou Capítulo 6, subitem 6.3. Impactos Sociais, letra d) Protesto na Praça da Paz Celestial. Outros exemplos são apresentados no decorrer da tese.

4 Com a nova ortografia, o “i” e o “u” tônicos precedidos de ditongo, em palavras paroxítonas, perderam o acento.

Significa que não há mais acento em palavras como baiuca, cauila, feiura, maoismo, maoista, Sauipe e taoismo (LUTIBERGUE, 2013). A era Maoista recorta o período da fundação da República Popular da China em 1949 até a morte de Mao em 1976, período correspondente do Primeiro ao Quarto Plano Quinquenal.

(24)

ambientais para grande potência5 econômica e engajada na internalização da responsabilidade ambiental, resposta presente nesta tese. Sem dúvida, para mim, encontra-se nesta pesquisa uma análise das estratégias e consequências do mais complexo “jogo da vida” já jogado na história contemporânea.

Boa leitura!

5 Segundo Toynbee (1955, p. 58) “uma grande potência pode ser definida como uma força política que exerce um

efeito que se estende sobre o maior campo de ação da sociedade na qual opera”. Para o historiador francês J. C. Druon (1988, p. 51), “Estados particularmente fortes em todos os domínios e que, por isso mesmo, são naturalmente levados a impor efetivamente a sua vontade a de outros Estados e a certas regiões desorganizadas. Essas potências, de certo modo, são ‘zonas de alta pressão diplomática’, que imprimem o seu movimento à história geral do mundo”. Segundo Lyrio (2010, p. 29) “Grande potência está relacionado a questão de “poder” ou potência aplicado à política em suas mais diversas formas e âmbitos, é o elemento relacional, ou seja, uma grande potência não se define por características absolutas, abstraídas de um contexto e de um tempo, e sim por sua comparação com outras nações em dada conjuntura”.

(25)

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa dialoga com o projeto “Mudanças ambientais Globais: As Políticas Ambientais na China com referência ao Brasil”, elaborado pela Profa. Dra. Leila da Costa Ferreira e desenvolvido no Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM–UNICAMP). Processo FAPESP n. 2013/19771-7. O objetivo desta pesquisa é trazer contribuições históricas referentes ao período entre 1949 e 1992, investigando como foi o processo de implantação e execução dos projetos de desenvolvimento na China, sobretudo os Planos Quinquenais (iniciados em 1953 e vigentes até os dias atuais). E a partir dos Planos Quinquenais identificar quais foram as estratégias político-econômicas e as consequências socioambientais ocorridas no país.

A China é um país de cultura milenar, possivelmente uma das primeiras civilizações ainda existentes, possui 663 cidades, sendo 654 na China Continental, sete em Taiwan, além de Hong Kong e Macau. Abrange cerca de 1/15 da superfície terrestre, 1/5 da população e é a segunda economia do mundo (GONG, 2013), com uma superfície de 9,5 milhões de quilômetros quadrados, a China só é inferior, em superfície, à Rússia e o Canadá (BERGÈRE, 1980). Segundo Eichengreen, Park e Shin (2012, p. 8) “A China sozinha é responsável por 30% do crescimento da demanda global”. Devido ao tamanho da população chinesa, uma turbulência política ou ambiental crítica poderia provocar também um grande número de refugiados, fato que muito preocupa outras nações ao se considerar cerca de 1,3 bilhões de pessoas (UEHARA, 2013).

Grande parte da população chinesa viveu ao longo de milhares de anos e ainda vive em condições ambientais adversas. Com aproximadamente 1/3 de sua superfície constituída por desertos e com cerca de 40% de seu relevo montanhoso e acidentado, resta ao país apenas 1/4 de terra em condições para a produção de alimentos. Além disso, a China sofreu ao longo de sua história com desastres ambientais provocados principalmente por eventos climáticos, e para agravar a situação, a China tem grave carência de água doce, sendo os recursos hídricos o equivalente a apenas 1/4 per capita da média mundial (GONG, 2013). A poluição da água afeta 75% dos rios e lagos chineses, 90% das águas subterrâneas urbanas e 28% dos rios são tão tóxicos que não servem nem para o uso agrícola. Além dos problemas de poluição, os aquíferos subterrâneos estão sendo esgotados; os usuários vêm cavando poços cada vez mais fundos,

(26)

pondo inclusive em risco o abastecimento de Pequim, em razão da diminuição dos lençóis freáticos no Norte do país (SHAPIRO, 2012). A partir disto, torna-se fundamental conhecer o liame histórico chinês a fim de compreender as suas estratégias ao longo dos anos e ter noções de possibilidades futuras, tendo em vista que, tudo o que se refere a China é sempre em grandes proporções, e mais, existe o fator surpresa, conforme o Professor Thomas Patrick Dwyer6 afirmou: “(...) na China, nada é o que parece ser!”. Logo, o mínimo a se fazer é estudar o seu passado, do antigo ao contemporâneo para poder discutir o futuro.

Ao longo da sua história a China sofreu com desastres ambientais7 provocados principalmente por eventos climáticos, tais como inundações, secas, tempestades de neve e de areia (GONG, 2013). A partir da reconstrução histórica do início do povoamento chinês, disponível no primeiro capítulo desta tese, será possível discutir sobre a interferência humana desordenada e as consequências socioambientais decorrentes. A China sempre conviveu com problemas ambientais, intensificados largamente com o aumento da população e os manejos inadequados, que além de provocar o desmatamento, ajudou a aumentar as desertificações e as enchentes. A partir da reconstrução histórica da China antiga até a contemporaneidade é possível analisar as implicações socioambientais, continuidades e mudanças entre os períodos de Mao Zedong8 e Deng Xiaoping9.

Mao Zedong e Deng Xiaoping são os dois principais personagens da história da China contemporânea, lutaram juntos em vários conflitos10 que consideravam fundamentais para a manutenção do território e a garantia da soberania chinesa. Ainda que objetivassem o mesmo fim para a China, de independência financeira, soberania e potência mundial eram líderes de personalidades e estratégias diferentes, o que os levou a diversos atritos, desentendimentos e disputas por poder. Estudar as estratégias de cada um é estudar as suas habilidades, fraquezas e os processos históricos da China. Mao Zedong implementou os Planos

6 Professor titular do Programa de Pós-Graduação em Sociologia do IFCH – Unicamp. Membro do Grupo de

Estudos Brasil-China. Comunicação oral no 1º Encontros de Alunos de Pós-Graduandos da Unicamp (07/abr/2017).

7 Sobre desastres ambientais, ver apêndice 2.

8 Será utilizado o sistema pinyin de romanização dos nomes chineses, por isso Mao Zedong ao invés de Mao

Tsé-tung. Trata-se do sistema oficial de grafia e pronúncia na China e Cingapura, este sistema é usado para transcrever os sons do mandarim através do alfabeto latino e para escrever palavras chinesas em publicações estrangeiras. Mao Zedong nasceu dia 26 de dezembro de 1893 e faleceu em 09 de setembro de 1976. Para mais informações ver Quadro 1.

9 Deng Xiaoping nasceu em 22 de agosto de 1904 e faleceu em 19 de fevereiro de 1997. Para mais informações

ver Quadro 1.

(27)

Quinquenais, enquanto Deng Xiaoping o Projeto de Reforma das Quatro Modernizações e Abertura ao Exterior. Ambos objetivavam o acelerado desenvolvimento econômico que gerou impacto ambiental11.

Estudar a história política e ambiental da China permite desenvolver raciocínios de continuidades e mudanças que estão diretamente comprometidas com o meio social e ambiental. E principalmente, estudar a China e a sua história impõe um desafio inigualável, pois, de acordo com o Professor Antônio Florentino Neto12, é necessário antes de estudar a China contemporânea, trilhar um percurso sobre a História do Pensamento Chinês e investigar como ela se formou: as referências religiosas, a estrutura, o desdobramento do pensar, os valores espirituais que a fundamenta e, sobretudo as suas referências e valores. A partir disso torna-se possível compreender o seu processo histórico, em especial, as vicissitudes, tomadas de decisão e projetos.

A partir de Mao Zedong (1949), os Planos Quinquenais sempre foram os projetos de execução das estratégias desenvolvidas pelo Partido. As estratégias correspondiam ao conjunto de decisões que revelavam a vontade da organização em termos de objetivos de curto e longo prazo, pertencendo a escolha dos fins e dos planos ao domínio do mais alto nível político, neste caso, o Partido Comunista Chinês (BEAUFRE, 1982). Este argumento justifica o uso da nomenclatura Estratégia13 tanto no título da tese quanto nos títulos dos capítulos, pois serão analisadas as decisões do Partido sobre as esferas Político-Econômicas e as Socioambientais.

O estudo das consequências socioambientais é importante nesta pesquisa porque se trata de eventos que foram amplamente agravados devido ao resultado das ações do processo de desenvolvimento político e econômico nos períodos em estudo. As relações socioambientais pressupõem interações entre as pessoas e o meio em que vivem e sob Mao, o ideal tradicional chinês de "harmonia entre o céu e os seres humanos" foi revogado em favor da insistência de que "O homem deve conquistar a natureza e assim libertar-se dela"14. Exigências para cumprir

11 Sobre impacto ambiental, ver apêndice 2.

12Professor da PUC-GO; Membro do Grupo de Estudos Brasil-China e colaborador do Programa de

Pós-Graduação em Ciências Sociais do IFCH – Unicamp. Comunicação oral no curso de Introdução ao Estudo da China. Módulo: Pensamento, ciência e técnica na China Antiga. Unicamp (24/ago/2017).

13 Para mais informações sobre as estratégias chinesas (clássicos), ver: Sun Tzu (2008); Sun Bin (1999); Shang

Yang (1999). Fontes referente aos períodos de Mao Zedong e Deng Xiaoping conferir nos capítulos.

14 Sukup (2002) sugere que a partir de frases como essas de Mao Zedong a China era incapaz de conviver de

(28)

as metas dos planos quinquenais da era maoista, de dobrar as produções tiveram, muitas vezes, consequências desastrosas tanto para os seres humanos quanto ao meio ambiente natural. Segundo Shapiro (2004), o abuso às pessoas quanto à natureza está muitas vezes ligado e a China neste caso foi um exemplo.

Para agravar a situação, intensificaram-se os problemas ambientais após 1978, quando o país entrou num período caracterizado por profundas reformas na esfera econômica e política, visando o cenário de abertura internacional. Pode-se afirmar que a Reforma das Quatro Modernizações e a Abertura ao comércio internacional promoveu extraordinário dinamismo da economia chinesa, ganhando crescente importância na ordem mundial, com altas taxas de crescimento, grandes avanços tecnológicos e elevados riscos ambientais15 (NAUGHTON, 1996; MEZZETI, 2000; MARTI, 2007; ZHANG, 2011; GONG, 2013). A Reforma trouxe resultados em uma “velocidade sem precedentes, a mais rápida da história” (GONG, 2013, p. 178), e em paralelo, os impactos socioambientais.

O acelerado dinamismo da economia chinesa, intensificado após as Reformas de 1978, atraiu a atenção da comunidade internacional preocupada com os riscos ambientais, local e globalmente produzidos. Como um grande canteiro de obras funcionando a todo vapor, o ritmo frenético de seu rápido crescimento veio acompanhado de prejuízos ambientais significativos que se estenderam para além de suas fronteiras. A expansão econômica, o consumo de energia, a escassez de terras aráveis e a poluição provocaram impactos e perspectivas de controle ambiental em todas as sociedades (BECK, 1992; GIDDENS, 2002; LYRIO, 2010; OCDE, 2011; ZHANG, 2011, GONG, 2013).

País continental, populoso, historicamente marcado por desastres naturais16 e cercado de condições adversas, a China transformou-se numa potência17 econômica mundial, mas o desenvolvimento não veio isolado, o caso não foi apenas de sucesso, veio acompanhado de graves problemas que alertou a comunidade chinesa e a comunidade internacional: os impactos ambientais. Essa é a contradição desenvolvimento x impacto socioambiental, que move não apenas esta investigação, mas grande parte da reflexão intelectual no universo da Sociologia Ambiental.

15 Sobre risco, ver apêndice 1.

16 Sobre desastres naturais, ver apêndice 1. 17 Sobre potência, ver nota de rodapé, p. 23.

(29)

Logo, esta pesquisa desenvolve-se a partir da seguinte questão: quais foram as estratégias político-econômicas e as consequências socioambientais na China no período entre Mao Zedong a Deng Xiaoping?

As hipóteses trabalhadas são duas: a) A China foi palco de impactos socioambientais intensificados pelas estratégias político-econômicas; e b) O governo central chinês, preocupado com o resultado das estratégias político-econômicas, principalmente com os reflexos da economia, a princípio não internalizou a responsabilidade ambiental, isso devido à carência e/ou ineficácia de políticas ambientais.

Devido ao tamanho do país, de sua densidade populacional, importância econômica e internacional, os problemas ambientais na China tornaram-se relevantes na contemporaneidade18. Considerando que, no mundo atual, o global e o local se unem numa mesma dinâmica, os riscos produzidos por esse país podem ser alargados para além de suas fronteiras produzindo inquietações de dimensões planetárias, um exemplo seriam as emissões de gases de efeito estufa, que contribuem para mudanças climáticas global19.

Os desastres naturais, conforme Mao Zedong, foram responsáveis por 70% das mortes no Segundo Plano Quinquenal (1958-1962) 20 porém, contrariando Mao, durante o mesmo discurso o então presidente Liu Shaoqui discordou da porcentagem referida por Mao, segundo ele, esse valor de 70% seria resultado de erro humano e 30% desastres naturais (BERGÈRE, 1980; CHANG, 1995; 2012).

Cabe ressaltar que os desastres ambientais são determinados a partir da relação entre o homem e a natureza, especificamente, o resultado das tentativas humanas em dominar a natureza que, em sua maioria, acabam derrotadas (KOBIYAMA et al., 2006) e, tendo o pensamento de Mao como referência: “a natureza é como um cavalo xucro que deve ser domado” (CHANG, 2012), pode-se apontar a hipótese de que a maioria das mortes na China neste período foram resultados da insensata ação humana. Pois, “(...) quando não são aplicadas medidas para a redução dos efeitos dos desastres, a tendência é aumentar a intensidade, a magnitude e a frequência dos impactos” (KOBIYAMA et al., 2006, p. 1). Para fundamentar

18 É necessário considerar além da expressividade histórica do país e sua importância econômica, a sua relevância

internacional, como se encontra conectado com o destino econômico de inúmeros países mundo afora – questões de cambio; consumo de matéria prima; balança comercial; inovação científica, tecnológica e desenvolvimento/modernização; problemas ambientais, entre outros.

19 Ver: Barbi; Ferreira (2012; 2016b), Barbi (2014, 2015); Ferreira et. al., (2015); Ferreira (2017). 20 Cf. Quadro 8 – Capítulo 2.

(30)

esta hipótese, os Capítulos 2 e 6 oferecem uma análise dos agravantes antrópicos motivados pelas estratégias governamentais e sem a internalização de responsabilidade ambiental que resultaram em calamidades21.

Evitar que fenômenos naturais severos ocorram, foge da capacidade humana. Entretanto, através da prevenção, podem-se desenvolver medidas que minimizam os impactos causados pelos mesmos. No período dos 27 anos de liderança de Mao Zedong, os eventos naturais extremos, principalmente as inundações e terremotos, mataram mais de 2,5 milhões de chineses, ultrapassando 92 mil pessoas por ano22. Ainda que os eventos naturais façam parte dos ciclos naturais da Terra, esses eventos têm repercussão de desastres naturais e esta vulnerabilidade23 dos ecossistemas é devido à degradação ambiental; logo, eventos que outrora poderiam se considerar natural, atualmente são considerados desastres de origem antrópica (ZAMPORANI, 2011).

Com o Projeto de Abertura e Reforma, a economia chinesa alcançou resultados notáveis. Entre 1980 e 1992 a taxa média de crescimento anual variou entre 8% e 10%. Como reflexo disso, ela se tornou um fator internacional com forte influência em várias áreas e seu crescimento gerou preocupação à comunidade internacional tanto no que diz respeito à questão econômica quanto à ambiental (UEHARA, 2013). Devido ao rápido crescimento econômico associado à degradação ambiental e ao aumento dos custos e riscos à saúde, criou-se um delicado ponto de atenção no Projeto de Reforma chinês (LYRIO, 2010; ZHANG, 2011).

Conforme será trabalhado na primeira parte desta tese, os problemas ambientais na China sempre existiram e foram intensificados pela “explosão” populacional. As consequências inerentes ao inadequado manejo ambiental aceleraram o desmatamento e com isso, intensificaram as desertificações, as enchentes, as inundações e os alagamentos24. Como a população sempre procurou montar seus vilarejos próximos aos rios, impactos ambientais (em detrimento - enchentes, inundações, alagamentos, deslizamentos, entre outros) foram intensificados e provocaram inúmeras e históricas catástrofes, com consideráveis implicações econômicas e sociais. Enfim, a ascensão da China como grande potência25 foi acompanhada da degradação ambiental, dos altos custos econômicos, sociais e políticos. O historiador John King

21 Sobre calamidades, ver apêndice 2. 22 Cf. Quadro 7 – Capítulo 2.

23 Sobre vulnerabilidade, ver apêndice 1.

24 Sobre o termo: Alagamentos, enchentes e inundações, ver apêndice 2. 25 Sobre “grande potência”, ver nota de rodapé 5.

(31)

Fairbank (2006) é incisivo em afirmar que o século XX na China é o mais marcante negativamente que todos os outros séculos anteriores, marcado com sofrimento, morte e agressão ao meio ambiente. Relembra que as reformas foram acompanhadas por rebeliões, revoluções, recordes admiráveis de sucessos e graves fracassos no século moderno, e que o futuro da China tende a afetar o futuro do restante do planeta.

Dado que a China é palco de múltiplos impactos socioambientais, torna-se inegável a importância de estudos referentes às estratégias político-econômicas. Eventos históricos chineses muitas vezes têm condicionantes no impacto ambiental, também em fatos preventivos ou corretivos do impacto, pois a luta pela sobrevivência exigiu da população esforços redobrados, tanto no período maoista e no denguista.

Para tanto, o objetivo geral desta pesquisa é fazer uma Reconstrução Histórica das Estratégias Político-Econômicas Chinesas e suas Consequências Socioambientais nos períodos entre Mao Zedong a Deng Xiaoping. Os objetivos específicos são: a) apontar de forma breve as implicações sociais e ambientais na história da China; b) identificar os principais impactos sociais e ambientais na China entre 1949 e 1992; c) identificar as estratégias político-econômicas no período de Mao Zedong e Deng Xiaoping; e d) investigar o processo de transição, continuidade e mudança entre Mao Zedong e Deng Xiaoping.

O método utilizado parte da investigação historiográfica, de articulação e análise das fontes primárias e secundárias a partir da Sociologia Histórica, da Sociologia Ambiental e da História Ambiental. A abordagem da Sociologia Histórica26 promove uma articulação permanente entre a teoria sociológica e a história, entre generalização e singularidade na reconstrução histórica do início do povoamento chinês até a contemporaneidade. Essa conjunção é positiva devido à tolerância analítica dos parâmetros estruturais e às escolhas das narrativas, sendo um bom caminho para se compreender os fenômenos sociais. A Sociologia Ambiental27 revela a materialidade da estrutura e da vida social, de maneira a discutir os

26 A Sociologia Histórica destaca a importância para estudos sobre mudança social de referência ao processo

histórico, destacando as noções de tempo e trajetória, não constitui um campo unificado, mas expressa uma variedade de abordagens. Alguns dos referenciais teóricos são Skocpol (1984); Alexander (1987); Steinmetz (1989) e Elias (2001).

27 A Sociologia Ambiental assume posição significativa para estudar as divergências e conflitos sobre os diferentes

usos da natureza, as causas e extensão dos problemas ambientais e os diversos atores envolvidos. A fundamentação teórica parte dos autores: Illich (1976); Hannigan (1997); Yearley (1996); Spaargaren; Mol; Buttel (2000); Giddens (1991; 2002); Beck (1992); Ferreira (2006), Gorz (2010).

(32)

desafios ambientais de natureza física e das construções sociais. A História Ambiental28 inclui a dimensão da história humana aos aspectos biológicos, junto com fatores econômicos, culturais e outros, analisando as relações de dinamismo, origens e evolução; antecedentes que influenciaram a substância e a direção das ações internacionais no domínio das questões ambientais. Unir esses conceitos favorece a uma riqueza de abordagem corroborando a pretensão desta pesquisa, uma reconstrução histórica da internalização da problemática ambiental na China.

Optou-se pela não utilização de entrevistas principalmente a partir de dois agravantes: primeiro, o entrevistado deveria ter vivências nos eventos históricos, no entanto, o recorte temporário refere-se a um período que carrega traumas e possivelmente geraria desconforto aos mesmos. Segundo, trata-se de um recorte temporário com conflitos políticos, e por se tratar da China, a delicadeza com o assunto exigiria muita expertise. A crivo de experiência foram realizadas algumas entrevistas no Brasil com adultos e idosos chineses e todos se negaram a dar detalhes. Os filhos dos entrevistados disseram ser assunto do passado e pode-se observar que os jovens entrevistados desconhecem a história do seu país referente ao período indagado, entre 1949 e 1992.

Esse episódio pode ser relacionado ao fato que, no período maoista, a comunicação veiculada era controlada pelo Partido Comunista Chinês – PCC (e assim permaneceu no período temporal desta pesquisa). Conforme será apresentado no decorrer do Capítulo 2, houve a ordem de eliminar toda produção escrita que não fosse o “Livro Vermelho”, de autoria do próprio Mao. Toda e qualquer lembrança do passado, como fotos e objetos pessoais deveriam ser queimadas e/ou destruídas. Esse fato produziu um “vazio” na produção escrita pelos chineses até o fim do período maoista em 1978. Restando apenas as fontes primárias produzidas pelo Partido. A partir de 1978, com a reaproximação de Deng Xiaoping ao setor acadêmico, foi possível voltar à produção, porém focada aos objetivos do Partido e sob a sua aprovação. Pesquisadores chineses quando abordavam o período de Mao Zedong eram geralmente limitados e contraditórios, os escritores membros do Partido seguiam a cartilha, e os que não moravam mais na China tendiam a escrever com certa liberdade e com isso, apontavam dados destoantes aos publicados pelo Partido (muitas narrativas contrárias ao governo são encontradas, comumente, publicadas em romances por chineses que moram fora da China).

28 A História Ambiental analisa as relações de dinamismo, inter-relação e interações complexas ao longo do tempo;

analisa a natureza como a história, como um processo de construção e reconstrução ao longo do tempo Drummond (1991); O’Connor (1997); Martinez (2006); McNeill et al. (2010); Pádua (2014); Brandão (2014).

(33)

Entretanto, as publicações oficiais do Partido também têm seu histórico de dubiedade, reconhecidas pelos pesquisadores e pelo próprio Partido.

As produções literárias por autores chineses que narram memórias são consideradas fontes de pesquisa. É possível analisar com criticidade os relatos de autores como Hue Xinran (2003; 2008; 2009; 2010a; 2010b), Li Cunxin (2003), Yu Hua (2008; 2010; 2011), Chan Koonchung (2011), Yan Lianke (2000; 2008), Gao Xingjian (2002), Da Chen (2010), Daí Sijie (2007), Diane Wei Liang (2008), Ha Jin (2001), Sun Shuyun (2007), Ting-Xing Ye (2008), entre outros, que há anos saíram da China e têm publicado inúmeros livros, descrevendo fatos por meio de narrativas, autobiografias, entrevistas e documentos. Muitas destas publicações são proibidas no território chinês. A máxima nos períodos em estudo é obedecer às ordens do Partido e jamais contestar a doutrina revolucionária do líder. Assim sendo, dificilmente na China é produzido material contrário ao Partido, e dificilmente a história oral será relatada com fidelidade dos fatos, devido à memória muito recente do medo e da perseguição. Exceto, quando o entrevistado não mora mais na China, se sente seguro e confia no entrevistador. Fontes publicadas pelos próprios chineses sobre memória servem para analisar a história de baixo para cima, comparando os fatos e mostrando “verdades não oficiais”. A intenção deste estudo é descrever e analisar os fatos pertinentes ao objeto em análise. Logo, a historiografia cobre as solicitações necessárias para a pesquisa e a história oral, assim como as entrevistas viriam a somar, no entanto, não são fundamentais e por isso foram dispensadas.

Justificado o motivo por optar pela pesquisa historiográfica, apresenta-se a estrutura da tese (cf. Quadro abaixo), dividida em quatro partes, e cada qual, corresponde a uma etapa da investigação, são elas:

Primeira parte: Reconstrução Histórica de eventos Políticos, Econômicos e Socioambientais da China anteriores ao período maoista;

Segunda parte: Estratégicas Político-Econômicas e as Consequências Socioambientais na China no Período de Mao Zedong;

Terceira parte: O Período de Transição entre Mao Zedong e Deng Xiaoping; E por fim, a quarta parte: Estratégias Político-Econômicas e as Consequências Socioambientais na China no período de Deng Xiaoping.

(34)

Quadro 1: Divisão da tese correlacionada aos Líderes Políticos da RPC

DIVISÃO FOTO TÍTULO/CARGO MANDATO PERÍODO PARTE CAPÍTULOS

Parte 1

Capítulo 1

Imperador ou Rei Ver Quadro 1, Capítulo 1. Dinastias 2070 A.C – 1912 D.C. Parte 1: Reconstrução Histórica da China até 1948 Capítulo 1: História político-econômica e socioambiental da China até 1948 Presidente Partido Nacionalista República da China 1912-1949

Parte 2

Capítulos

2 e 3

Mao Zedong Presidente do Partido Comunista da China 20/03/1943 – 09/09/1976 República Popular da China 01/10/1949 – 09/09/1976 Parte 2: Estratégias Político-Econômicas e as Consequências Socioambientais na China no Período de Mao Zedong Capítulo 2: As Estratégias de Mao Zedong Capítulo 3: A Reorganização Econômica e a Revolução Cultural Presidente da Conferência Consultiva

Política do Povo Chinês 01/10/1949 - 1954 Presidente da República Popular da China 27/09/1954 – 27/04/1959 Presidente da Comissão Militar Central do PCC 08/09/1954 – 09/09/1976

(35)

DIVISÃO FOTO TÍTULO/CARGO MANDATO PERÍODO PARTE CAPÍTULOS

Parte 3

Capítulo 4

Hua Guofeng Presidente do Partido Comunista da China 10/09/1976 – Junho/1981 09/09/1976 – 22/12/1978 Parte 3: Período de Transição entre Mao Zedong e Deng Xiaoping (1976-1978) Capítulo 4: A Transição: Estratégias, Alianças e Conflitos Primeiro-ministro da República Popular da China 04/02/1976 – Setembro/1980 Presidente da Comissão Militar Central do PCC 06/10/1976 – Junho/1981

Parte 4

Capítulos

5 e 6

Deng Xiaoping Primeiro Vice-primeiro-ministro da República Popular da China 17/01/1975 – 18/06/1983 22/12/1978 – 02/10/1992 Parte 4: Estratégias Político-Econômicas e as Consequências Socioambientais na China no Período de Deng Xiaoping Capítulo 5: As estratégias Político-Econômicas de Deng Xiaoping: Reforma e Abertura Capítulo 6: Implicações Socioambientais da Reforma Presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês

Junho/1981 – 18/06/1983 Presidente da Comissão Militar Central da RPC Junho/1981 - 1990

(36)

O quadro ilustra a ordem cronológica dos líderes políticos da República Popular da China. Importante ressaltar que o título de líder político na China significa possuir absoluta influência sobre a cultura, a mídia e controlar as três esferas políticas do país: Partido Comunista da China, Conselho de Estado da República Popular da China e o Exército de Libertação Popular.

Mao Zedong teve seu mandato entre 1949 e 1976; Hua Guofeng assumiu em seguida e permaneceu durante o período de transição de 1976 a 1978. Deng Xiaoping permaneceu no período entre 1978 e 1992. De acordo com os períodos de governo segue a divisão dos capítulos a seguir.

Na primeira parte da tese consta o primeiro capítulo: “História político-econômica e socioambiental da China até 1948”. Esse capítulo busca trazer informações históricas pertinentes às pesquisas seguintes. O capítulo aborda: política; economia; intercâmbio e as consequências para o ecossistema chinês; impacto socioambiental; conflitos internos e com o exterior; e por fim, a transição de civilização mais avançada do mundo para uma nação em crise. Esta primeira parte tem um papel estruturante para as demais, pois contextualiza o caminhar histórico de eventos político-econômicos e socioambientais da China anteriores ao período maoista, oferecendo com isso, contribuições para as análises das continuidades e mudanças nos capítulos seguintes.

A segunda parte corresponde aos capítulos 2 e 3. O Capítulo 2, “As Estratégias de Mao Zedong: Os Planos Quinquenais – O Primeiro e o Segundo Plano Quinquenal e suas consequências”, apresenta a estratégia de autossuficiência que iniciou em 1953, denominada de Plano Quinquenal: fundamentos, objetivos, metas e prioridades eleitas pela cúpula do Partido, nominando o que deveria ser investido e produzido em períodos de cinco anos. Com Mao, a China passou por mecanismos de constantes mudanças e reparos, a exemplo, após o Primeiro Plano Quinquenal (1953-1957), a Campanha das “Cem Flores” (1956-1957), que foi a primeira medida de romper a aliança que estava sendo formada entre o Partido e os círculos intelectuais não comunistas. Porém, o grande marco sombrio foi dado pelo Segundo Plano Quinquenal: O Grande Salto para Frente (1958-1962), que promoveu impactos socioambientais sem precedentes.

No Capítulo 3, “A Reorganização Econômica e a Revolução Cultural”, aborda também um período muito delicado para a China. Com resultados contraditórios após o

(37)

Segundo Plano Quinquenal, o país passou por diversos problemas vitais, e com isso, a urgente necessidade de Reorganização Econômica, o único período não delimitado pelos planos quinquenais (1962-1965). Neste período, o ápice da propaganda foi Dazhai, uma região que deveria servir de exemplo de recuperação para as demais regiões, no entanto, provocou alterações nos ecossistemas regionais. A Revolução Cultural que durou uma década e coexistiu com o Terceiro e Quarto Plano Quinquenal findou-se com a morte de Mao e retrata uma época de turbulências, perseguições e manobras políticas.

O Capítulo 4, “A Transição: Estratégias, Alianças e Conflitos”, corresponde à terceira parte desta tese. Neste capítulo é abordado a trajetória de mudança da “velha” para a “nova” linha ideológica, transição entre Mao e Deng (1976 a 1978). Período marcado pelas manobras de grupos contrários, de um lado Hua Guofeng, então “sucessor” de Mao, e de outro Deng Xiaoping. A fase de transição foi decisiva para o futuro da China, pois estava em jogo a continuidade do controle de um governo que impunha a ideologia marxista leninista maoista, ou a mudança e imposição de uma nova ideologia do método “pragmático e dialético” de Deng Xiaoping, com a discussão filosófica sobre a verdade dos fatos e a “economia de mercado”. A herança ideológica de Mao e o sentimento de insegurança produzido pela Revolução Cultural estavam à flor da pele. O Partido fervilhava, expectativas e melindres cercavam a disputa declarada entre dois fortes poderes: de um lado os que traziam a continuidade ideológica de Mao, e de outro, os que colocavam a necessidade de significativas mudanças. Ainda sob condições tumultuadas, o capítulo apresenta as primeiras decisões de Deng Xiaoping na liderança, e por fim, uma breve análise dos 27 anos de Mao à frente do país.

A quarta e última parte desta tese corresponde aos capítulos 5 e 6. No Capítulo 5, “As estratégias de Deng Xiaoping: Reforma e Abertura” analisa-se a estratégia política e econômica no período de Deng Xiaoping; os fundamentos e objetivos do Projeto de Reforma; e o Primeiro e Segundo Estágio da Reforma. A partir de então, é possível entender como ocorreu o processo de transformação da China, que se deu em sentido inverso29 àquele em que deixou Mao. Período marcado por grandes transformações rurais e urbanas, profundas reformas na esfera econômica e política. O Plano das Quatro Modernizações e a Abertura ao comércio

29 Deng Xiaoping incentivou a nova ideologia de antecipação da mente e busca da “verdade” sobre os fatos.

Rompeu o culto e a personificação sagrada ao Mao, cortou pela raiz qualquer vestígio da Revolução Cultural e a teoria da “continuação da revolução sob a ditadura do proletariado”. Mudou radicalmente, aperfeiçoando o “socialismo chinês de mercado”, isto não quer dizer alterar o sistema socialista, mas seu auto aperfeiçoamento e autodesenvolvimento (ZEMIN, 2002).

(38)

internacional promoveu extraordinário dinamismo na economia chinesa, com resultados numa velocidade sem precedentes, porém, acompanhados de prejuízos socioambientais também sem precedentes. O último capítulo: “Implicações Socioambientais da Reforma”, mostra que toda moeda tem dois lados, que significativo e alarmante foram as consequências para o meio ambiente na China Pós-Reforma: poluição, desmatamento, degradação dos ecossistemas, inundação, desertificação, entre outros. Houve uma tímida ou quase nula política ambiental que só foi efetivada a partir dos anos 1990. Inigualável também foram os impactos sociais: a política do filho único marcou o maior infanticídio da história; além disso, houve inúmeros conflitos sociais por insatisfação e descrédito ao governo, motivada pela difundida corrupção do Partido, inflação exorbitante, que por fim, culminou no protesto na Praça da Paz Celestial (Tiananmem). Deng se retirou das funções públicas em 1989, acreditando que as implicações e os atrasos ocorridos após o protesto em Tiananmem seriam temporários. No entanto, viu seu plano de modernização ser ameaçado por forças leais ao Mao e ao marxismo, então Deng fez sua última manobra para recuperar o poder e colocar em prática as suas últimas ações estratégicas.

Por fim, as considerações finais da tese correspondem às sínteses das reflexões geradas a partir dos capítulos apresentados.

(39)

PARTE 1

RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA CHINA ATÉ 1948

Figura 1: Harmonia entre o humano e a natureza30.

Fonte: https://br.pinterest.com/mysticgangsta/eight-immortals/

30 A figura “Harmonia entre o humano e a natureza”, segundo Liu Si (pesquisadora Chinesa do grupo de pesquisa

“Mudanças Ambientais Globais: As Políticas Ambientais na China com referência ao Brasil”), a referida imagem expressa três pessoas que jogam o xadrez chinês. Para Liu Si, essa imagem tem dois aspectos para expressar a harmonia: primeiro, eles jogam ao ar livre, apreciando a natureza, o que segundo ela é muito normal e típico na China antiga; e segundo, o jogo de xadrez chinês é um jogo desenvolvido pela filosofia taoista e a sua ideia principal é a harmonia.

(40)

Nesta primeira parte da tese, o Capítulo 1: História político-econômica e socioambiental da China até 1948 contextualiza alguns importantes eventos do passado chinês que ecoam na contemporaneidade.

Esta reconstrução histórica traz à luz discussões desde o início do povoamento chinês há 2 milhões de anos, perpassa pelas dinastias e finda na véspera do marco histórico de 1949, quando o Partido Comunista Chinês assume o poder e o país passa a ser a República Popular da China.

A partir deste capítulo será possível discutir sobre a interferência antrópica desordenada e as consequências socioambientais decorrentes. A China sempre conviveu com problemas ambientais intensificados largamente com o aumento da população e os manejos inadequados, passou por inúmeras oscilações políticas, econômicas e socioambientais. Este capítulo aponta alguns altos e baixos, de grande potência mundial a instável e fragilizada, principalmente por conflitos internos e externos.

Enfim, a primeira parte da tese contextualiza o leitor sobre os eventos político-econômicos e socioambientais da China anteriores ao período maoista, quando inicia um novo período histórico, porém não menos hostil.

(41)

CAPÍTULO 1

HISTÓRIA POLÍTICO-ECONÔMICA E SOCIOAMBIENTAL DA CHINA ATÉ 1948

Historicamente a interferência antrópica desordenada no planeta desencadeou uma convulsão ambiental global na transição para o Antropoceno31, sendo que na China essa questão vem se intensificando ao longo de anos e gerando grandes problemas socioambientais. No passado o intercâmbio com outras civilizações também gerou consequências extremas, tanto para a política, a economia quanto ao ecossistema, gerando conflitos e resultados de crise (ZAGO, 2017).

O objetivo deste capítulo é elucidar brevemente a História Político-Econômica e Socioambiental da China no período anterior a 1949. Esta investigativa favorecerá a análise de perguntas, tais como: As estratégias de Mao Zedong foram continuações ou mudanças de projetos anteriores? Quando iniciou a preocupação com a problemática ambiental na China? Quais foram os resultados socioambientais das estratégias políticas e econômicas nos três

31 O conceito de Antropoceno é recente, mas a ideia que lhe subjaz é a de que a ação do homem molda o sistema

da Terra de modo mais decisivo que as forças não antrópicas (MARQUES, 2015; FERREIRA; BARBI, 2016). O grupo de trabalho sobre Antropoceno, da Subcomissão sobre a Estratigrafia do Quaternário, define o Antropoceno como: “[...] o intervalo de tempo presente no qual muitas condições e processos geológicos significativos são profundamente alterados pelas atividades humanas. Estes abrangem: erosão, transportes de sedimentos associados a uma variedade de processos antropogênicos, colonização, agricultura, urbanização, aquecimento global, a composição química da atmosfera, oceanos e solos com perturbações antropogênicas significativas dos ciclos de elementos como carbono, nitrogênio, fósforo, vários metais, acidificação oceânica, ampliação das “zonas mortas”, perturbações da biosfera terrestre e marítima, perda de habitat, predação, invasões de espécies e as mudanças químicas mencionadas acima” (Working Group on The Anthropocene. Disponível em: <http://quaternary.stratigraphy.org/workinggroups/anthropocene/>. Acessado em 02/Abr/2016). Para mais informações sobre antropoceno ver: Crutzen; Stoermer; 2000; Steffen, et al., 2011; Biermann, et al., 2012; Will et al., 2011; Biermann, 2014; Marques, 2015; Ferreira; 2017; Ferreira; Barbi, 2016; Ferreira; Martinelli, 2016.

(42)

períodos de governo entre 1949 e 1992? As estratégias e as consequências são fatos reincidentes, ou não?

O valor deste capítulo está justamente no rico aporte historiográfico que favorecerá a compreensão no plano macro da história da China, antes e depois de Mao Zedong e Deng Xiaoping, podendo com isso, analisar as estratégias de seus tempos e as vicissitudes tanto no quesito político-econômico quanto no socioambiental.

Para tanto, esse capítulo está subdividido em cinco partes. Primeiro, uma breve história das implicações socioambientais da China. Segundo, o intercâmbio e as consequências para o ecossistema chinês. Terceiro, a economia e impacto socioambiental. Na sequência, os conflitos internos e com o exterior. Por fim, será analisado o processo de transição de potência mundial à nação em crise.

1.1. Breve história das implicações socioambientais da China

Existem discussões distintas entre estudiosos sobre o início do povoamento chinês. Conforme cita o professor historiador da Universidade de Harvard, Geoffrey Blainey (2010), há 2 milhões de anos, o Homo erectus foi o primeiro hominídeo a sair da África. O avanço pela Ásia pode ter levado de 10 mil a 200 mil anos. E há cerca de 1,8 milhão de anos o movimento chegou à China e ao Sudeste Asiático, onde resquícios de habitação humana foram encontrados em diversos lugares pela China, perto de Pequim, intactas por talvez 400 mil anos (BLAINEY, 2010). No entanto, o estudo recente de Shen et al., (2009) aponta que o “Homem de Pequim”32, computa depósitos a cerca de 770 mil anos, ou seja, cerca de 300 mil anos antes do que normalmente se pensava. Com isso, pesquisadores como Jin Changzhu e seus colegas do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia em Pequim, defendem a hipótese de que os seres humanos modernos são multirregionais. Segundo eles, os seres humanos modernos são descendentes diretos de pessoas que se espalharam para fora da África e para outros continentes a cerca de 100 mil anos atrás (MCKENNA, 2009).

Referências

Documentos relacionados

A democratização do acesso às tecnologias digitais permitiu uma significativa expansão na educação no Brasil, acontecimento decisivo no percurso de uma nação em

A ideia da pesquisa, de início, era montar um site para a 54ª região da Raça Rubro Negra (Paraíba), mas em conversa com o professor de Projeto de Pesquisa,

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença

A combinação dessas dimensões resulta em quatro classes de abordagem comunicativa, que podem ser exemplificadas da seguinte forma: interativo/dialógico: professor e

b) Execução dos serviços em período a ser combinado com equipe técnica. c) Orientação para alocação do equipamento no local de instalação. d) Serviço de ligação das

ACESSÓRIOS 15 CABEÇOTE DE CORTE 11 CAIXA DE VENTILAÇÃO 10 CARBURADOR 8 CARTER 6 CILINDRO 7 PARTIDA RETRÁTIL 5.. SISTEMA DE IGNIÇÃO E

O processo seletivo para o ingresso no PPG-BTC (Mestrado e Doutorado) será elaborado e realizado pela Comissão de Seleção constituída por docentes do PPG-BTC (item