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CAPÍTULO 3 – A REORGANIZAÇÃO ECONÔMICA E A REVOLUÇÃO

5.3. Um jogo de xadrez O Primeiro Estágio da Reforma (1980-1990)

5.3.1. Início da abertura para investimentos externos com as Zonas Econômicas Especiais

Em julho de 1979, o Comitê Central e o Conselho de Estado expediram um documento delimitando as áreas de Shenzhen, Zhuhai, Shantou, Xiamen e Hainan como zonas econômicas especiais (cf. Tabela abaixo). Durante todo o verão e o outono de 1979, decretos adicionais foram baixados a fim de formalizar as zonas experimentais como locais de atrair capital estrangeiro. Em 1980, o Congresso Nacional do Povo aprovou formalmente as “zonas econômicas especiais” (JIANHUI, 1994).

Tabela 9: Zonas Econômicas Especiais

Área km² População hab. Ano de criação

Shenzen 327,5 1.020.000 1980 Zhuhai 121 190.000 1980 Shantou 52,6 60.000 1980 Xiamen 131 370.000 1980 Hainan 34.000 6.540.000 1988 Fonte: Haesbert (1994, p. 34).

As zonas econômicas especiais (ZEE) eram zonas econômicas especiais e não zonas políticas, nem zonas de processamento de exportações (ZPE) (PERKINS, 1988). Em vários

momentos, o governo chinês afirmou que as ZEE não eram ZPE, mas polos de crescimento para a economia chinesa como um todo e que tinham de cumprir funções diversas, mais amplas e ambiciosas que uma ZPE. A relação entre as ZEE e as ZPE se distingue em: a) em uma ZEE não se produz somente para exportar, todas as atividades, sejam elas agrícolas, industriais, comerciais e financeiras são estimuladas; b) os objetivos das ZEE são atrair investimento direto estrangeiro, obter reservas internacionais por meio de exportações e absorver tecnologia; c) as ZEE são, em geral, maiores que as ZPE e mais integradas; e d) a geração de emprego não era objetivo prioritário de uma ZEE (PERKINS, 1988; RUIZ, 2006). Sua função era implementar políticas econômicas especiais e um sistema de gerenciamento econômico particular. Em teoria, as ZEE dependeriam de capital estrangeiro e a localização definida pelo Partido (cf. Tabela 10). As bases para a formação e consolidação das ZEE foram: a participação forte do Estado; a abertura ao capital estrangeiro; a produção industrial diversificada (voltada para as exportações); a proximidade com as áreas portuárias e urbanas; e a mão de obra abundante e barata. Seus produtos deveriam ser manufaturados para exportação dentro de uma estrutura econômica socialista, isto é, embora a região estivesse sob o controle político de um governo não capitalista que empregava um sistema econômico não capitalista de controle central, haveria tolerância com a prática limitada local de métodos econômicos capitalistas. Essas iniciativas capitalistas locais de componentes econômicas diversificadas eram caracterizadas principalmente por empreendimentos conjuntos (joint ventures134) e por firmas administradas por empresários estrangeiros como proprietários (MARTI, 2007).

Tabela 10: Política Regional ZEE

Ano Status Local

1979 1 Zona Econômica Especial Guangdong 1980 1 Zona Econômica Especial Fujian 1984135

14 Cidades Abertas Costeiras Tiajin, Zhejiang, Guangxi, Liaoning, Jiangsu, Guangdong, Hebei, Xangai, Shandong, Fujian

10 Zonas de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico (ZDET, antigas ZEE)

Tianjin, Liaoning, Jiangsu, Hebei, Zhejiang, Shandong, Guangdong

1985 1 ZDET Fujian

3 Zonas Econômicas Costeiras Pearl River Delta, Yangtze River Delta, Fujian

1986 2 ZDET Xangai

Zona Costeira Aberta Liaoning, Guangxi, Shandong, Hebei

134 Um empreendimento conjunto, associação de empresas, de determinado empreendimento comercial, dividindo

as suas obrigações, lucros e responsabilidades.

135 Segundo o quadro são 14 cidades costeiras, no entanto, seguindo a citação das fontes, apenas 10 cidades são

1988 1 Zona Econômica Especial Hainan

1 ZDET Xangai

1990 Criação da Área de Pudong Xangai

1992

13 Áreas Fronteiriças nas Maiores Cidades Portuárias

Liaoning, Zhejiang, Fujian, Guangdong, Jiangsu, Tianjin, Shandong, Hainan

10 Áreas Fronteiriças em Cidades no Rio Yangtze

Anhui, Sichuan, Jiangxi, Hunan, Hubei, Jiangsu, Heilongjiang, Yunnan, Inner Mongolia, Guangsi 13 Zonas de Cooperação

Econômica Fronteiriças

Jilin, Xinjiang

5 ZDET Liaoning, Jiangsu, Shandong, Fujian, Zhejiang Fonte: Démurger, et al., 2002; Ruiz, 2006.

As atividades econômicas das ZEE deviam basear-se em condições de mercado, ao contrário do planejamento central e, os empresários estrangeiros que investissem nas ZEE teriam tratamento diferenciado em relação a impostos e outras questões. De um modo geral, as ZEE pretendiam implantar um sistema de gestão totalmente diferente daquele descrito para o interior do país. Em outras palavras, as zonas econômicas especiais foram concebidas para atrair os investidores estrangeiros que, em troca, introduziram na China tecnologias e métodos modernos de administração, com o propósito de criar um fluxo de exportações gerador de divisas, encorajados por vendas sem impostos, taxas reduzidas, tarifas menores, infraestrutura moderna, legislação trabalhista e salarial flexível e menos burocracia (MARTI, 2007).

O objetivo de longo prazo da estratégia geopolítica internacional havia sido o de pôr a China entre as duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, mas não pretendiam se submeter a ninguém.

Em 16 de dezembro foi anunciado o início das relações diplomáticas entre a República Popular da China e os Estados Unidos, a partir de 1º de janeiro de 1979. Durante todo o ano de 1978, a China movera-se no cenário internacional com a mesma rapidez com que evoluía a situação interna, seus líderes faziam viagens estratégicas a países estrangeiros, a abertura ao exterior estava iniciando. Em 18 de agosto de 1978 foi firmado o tratado de paz e entendimento com o Japão, e em 23 de outubro Deng Xiaoping viajou a Tóquio para ratificação e sendo acolhido com honras excepcionais (ZEMIN, 2002).

Em apenas oito anos, de 1978 a 1986, a renda nacional dobrou e, da mesma forma, nesse período, duplicou o número de estudantes universitários, que passaram de 89 por cem mil habitantes, em 1978, a 175 em 1986 (China economic system reform yearbook 1992, Pequim, 1993).

Fazia parte da estratégia de Deng a intensificação do relacionamento com o exterior, em meados da década 1980, eram pelo menos 30 mil os estudantes que se dirigiam a cada ano às universidades ocidentais, principalmente americanas. O objetivo era conhecer o que o exterior tinha de melhor, adaptar conforme as necessidades do país e aplicar acelerando de forma eficiente o plano de desenvolvimento, para isso, conhecer o outro era primordial. Indiretamente a passagem de Sun Tzu tinha efeito presente:

Conhece-te a ti e ao teu inimigo e, em cem batalhas que sejam, nunca correrás perigo. Quando te conheces mas desconheces o teu inimigo, as tuas hipóteses de perder ou de ganhar são iguais. Se te desconheces e ao teu inimigo também, é certo que, em qualquer batalha, correrás perigo (SUN TZU, 2008, p. 51). Dezenas de milhares de funcionários, gerentes, homens de cultura e cientistas, corriam o mundo a fim de aprofundar as relações comerciais, técnicas, científicas e financeiras. Com o fluxo de informações internas e externas, ao aparecimento de uma economia de mercado, ao desenvolvimento do comércio exterior e ao abrandamento dos controles de massa, o país inteiro movimentava-se. Ao voltar contavam o que haviam visto, os próprios órgãos nacionais de divulgação começavam a relatar como era a realidade fora do Reino do Meio (MEZZETTI, 2000).

5.3.2. Primeira prioridade da Reforma: modernização do campo. Melhorar a