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3 INDÚSTRIA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL E

3.2 Breve Diagnóstico da Indústria Brasileira

De acordo com dados de 2007 do IBGE (Tabela 3.1), a rede nacional de abastecimento de água atendia mais de quatro quintos (82,3%) dos domicílios brasileiros. O atendimento regional alcançava os seguintes percentuais: Sudeste 91,5%, Sul 84,0%, Centro-Oeste 78,2%, Nordeste 73,9% e Norte 54,6%. Em termos estaduais, São Paulo (96,2%) possuía a rede com maior alcance domiciliar, enquanto Rondônia (36,0%) apresentava o pior desempenho, retratando o aspecto heterogêneo na distribuição de água potável do país.

Região/Estado % 1. Norte 54,6 1.1. Rondônia 36,0 1.2. Acre 48,0 1.3. Amazonas 65,5 1.4. Roraima 85,2 1.5. Pará 47,3 1.6. Amapá 65,4 1.7. Tocantins 76,9 2. Nordeste 73,9 2.1. Maranhão 61,3 2.2. Piauí 67,2 2.3. Ceará 74,0 2.4. Rio Grande do Norte 87,8 2.5. Paraíba 78,2 2.6. Pernambuco 75,1 2.7. Alagoas 64,1 2.8. Sergipe 88,0 2.9. Bahia 75,1 3. Sudeste 91,5 3.1. Minas Gerais 86,6 3.2. Espírito Santo 84,4 3.3. Rio de Janeiro 86,8 3.4. São Paulo 96,2 4. Sul 84,0 4.1. Paraná 86,1 4.2. Santa Catarina 79,1 4.3. Rio Grande do Sul 84,6 5. Centro-Oeste 78,2 5.1. Mato Grosso do Sul 82,0 5.2. Mato Grosso 66,5 5.3. Goiás 77,0 5.4. Distrito Federal 91,0

BRASIL 82,3

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 3.1

Percentual de Domicílios Particulares Permanentes Atendidos Por Rede de Abastecimento de Água

2007

Com relação à qualidade da água, 92,8% do volume diário de água distribuído pela rede no país eram tratados. A Região Centro-Oeste apresentava o maior índice de tratamento (96,4%), enquanto a Região Norte detinha o resultado menos satisfatório, onde 32,4% do volume diário não eram tratados (Tabela 3.2). Nessa variável deve-se reconhecer, com exceção da Região Norte, uma certa homogeneidade na qualidade da água distribuída entre as regiões do país.

Volume

Distribuído (m³) Volume (m³) % Volume (m³) % Norte 2.468.238 1.668.382 67,6 799.856 32,4 Nordeste 7.892.876 7.386.055 93,6 506.821 6,4 Sudeste 26.214.949 24.752.375 94,4 1.462.574 5,6 Sul 5.103.209 4.800.049 94,1 303.160 5,9 Centro-Oeste 2.320.406 2.236.143 96,4 84.263 3,6 BRASIL 43.999.678 40.843.004 92,8 3.156.674 7,2

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

Com Tratamento Sem Tratamento Região

Tabela 3.2

Tratamento do Volume de Água Distribuído Por Dia 2000

A situação torna-se mais grave quando se analisa os domicílios atendidos por rede coletora de esgoto sanitário. No âmbito nacional, em 2007, apenas 48,2% dos domicílios brasileiros estavam conectados à rede de esgoto. A situação regional mostrava uma grande desigualdade: Sudeste 77,4%, Centro-Oeste 33,2%, Nordeste 27,0%, Sul 25,9%17 e

Norte 4,0%. O atendimento mais aceitável era disponibilizado em São Paulo (88,1%), enquanto o Estado do Amapá (1,1%) apresentava a menor cobertura (Tabela 3.3) 18.

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de saneamento básico. O que demonstra a complexidade das relações entre saneamento e saúde. Apesar da escassez de infra-estrutura sanitária, a população do sul do país goza de dois ativos substitutos fundamentais à infra-estrutura: capital humano e capital social que permitem

18 No tocante à relação esgoto versus educação, Neri (2007, p. 10) apresenta as seguintes taxas

- sem estudo; 33,68% - 1 a 3 anos de estudo; 46,17% - 4 a 7 anos de estudo; 56,36% - 8 a 11 anos de estudo; e 70,83% - pelo menos 12 anos de estudo.

Região/Estado % 1. Norte 4,0 1.1. Rondônia 1,7 1.2. Acre 17,6 1.3. Amazonas 2,0 1.4. Roraima 10,7 1.5. Pará 3,7 1.6. Amapá 1,1 1.7. Tocantins 5,4 2. Nordeste 27,0 2.1. Maranhão 9,1 2.2. Piauí 4,1 2.3. Ceará 21,8 2.4. Rio Grande do Norte 15,1 2.5. Paraíba 35,6 2.6. Pernambuco 36,6 2.7. Alagoas 8,1 2.8. Sergipe 34,0 2.9. Bahia 39,0 3. Sudeste 77,4 3.1. Minas Gerais 73,9 3.2. Espírito Santo 60,7 3.3. Rio de Janeiro 58,4 3.4. São Paulo 88,1 4. Sul 25,9 4.1. Paraná 47,3 4.2. Santa Catarina 15,9 4.3. Rio Grande do Sul 11,9 5. Centro-Oeste 33,2 5.1. Mato Grosso do Sul 10,6 5.2. Mato Grosso 12,2 5.3. Goiás 32,3 5.4. Distrito Federal 83,1

BRASIL 48,2

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Tabela 3.3

Percentual de Domicílios Particulares Permanentes Atendidos Por Rede Coletora de Esgoto

Além da limitada extensão da rede, apenas um pouco mais de um terço (35,3%) do volume diário de esgoto coletado no país era tratado, o que vem contribuir significativamente para a transmissão de doenças e à poluição do meio ambiente19. Nesse quesito, acontece um fato

interessante: nem sempre a região que possui a maior rede de coleta (Tabela 3.3) é aquela que trata o maior volume de esgoto (Tabela 3.4) por exemplo, a Região Sudeste. Esse quadro vem demonstrar o descompasso, existente em algumas regiões, entre o investimento para ampliação da rede coletora e o investimento para implantação de estações de tratamento de esgoto.

Volume

Coletado (m³) Volume (m³) % Volume (m³) % Norte 60.741 27.527 45,3 33.214 54,7 Nordeste 1.595.358 1.248.595 78,3 346.763 21,7 Sudeste 11.249.344 3.059.349 27,2 8.189.995 72,8 Sul 1.002.832 463.476 46,2 539.356 53,8 Centro-Oeste 661.804 338.224 51,1 323.580 48,9 BRASIL 14.570.079 5.137.171 35,3 9.432.908 64,7

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

Tabela 3.4

Tratamento do Volume de Esgoto Coletado Por Dia 2000

Região Com Tratamento Sem Tratamento

A distribuição espacial dos investimentos no país (Tabela 3.5) é a causa básica do padrão desequilibrado da cobertura dos serviços. Segundo dados do SNIS20 (Brasil, 2006 e 2001), em 2005, a Região Sudeste concentrou cerca da metade (R$ 1.769,3 milhões) dos investimentos em água e esgoto realizados pelas prestadoras dos serviços, mantendo a sua

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acontecerá daqui a 115 anos por volta do aniversário de 300 anos da independência do Brasil, em 2122. Se projetarmos o que houve nos últimos 14 anos para frente em termos de falta de saneamento nos domicílios (e não pessoas), demorará cerca de 56 anos para o déficit de

20 O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) vinculado à Secretaria

Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades apóia-se em um banco de dados sobre a prestação de serviços de água, esgoto e manejo de resíduos sólidos urbanos. Para o ano de 2000, a amostra dos serviços de água representava 89,6% da população urbana nacional, enquanto a de esgoto alcançava 66,1%. Em 2005, a amostra dos serviços de água atingiu 94,0% e a de esgoto 73,5%.

fração no total de investimentos alcançada em 2000. Por outro lado, a Região Nordeste diminuiu sua participação no investimento nacional, passando de 22,4% (2000) para 17,0% (2005), enquanto a Região Centro-Oeste aumentou de 6,1% (2000) para 13,4% (2005).

2000 2005 Norte 3,1 2,3 Nordeste 22,4 17,0 Sudeste 50,8 49,9 Sul 17,5 17,4 Centro-Oeste 6,1 13,4 BRASIL 100,0 100,0

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

Região Ano

% Tabela 3.5

Distribuição Regional dos Investimentos 2000 e 2005

O formato não uniforme na oferta de água potável e de esgotamento sanitário sugere uma correlação com o perfil de distribuição espacial da renda anual per capita brasileira. De acordo com a Tabela 3.6, no ano de 2006, as regiões Sudeste (R$ 10,04 mil), Centro-Oeste (R$ 9,23 mil) e Sul (R$ 8,41 mil) registravam um Produto Interno Bruto (PIB) per capita superior à média nacional (R$ 7,53 mil). Por outro lado, as regiões Norte (R$ 4,74 mil) e Nordeste (R$ 3,58 mil) estavam situadas de forma distante das outras regiões brasileiras, pois as suas rendas per capita equivaliam, respectivamente, a apenas 62,9% e 47,5% do nível médio do país, o que vem ratificar os resultados deficientes e/ou insuficientes das políticas econômicas regionais implementadas ao longo do tempo nessas regiões.

Valor % Valor % Valor % Valor % Valor % Norte 4,36 68,8 4,50 72,0 3,92 63,7 3,87 60,2 4,74 62,9 Nordeste 3,07 48,4 2,78 44,5 2,76 44,9 3,00 46,7 3,58 47,5 Sudeste 8,84 139,4 8,61 137,8 8,46 137,6 8,71 135,5 10,04 133,3 Sul 6,98 110,1 7,56 121,0 7,38 120,0 7,65 119,0 8,41 111,7 Centro-Oeste 4,55 71,8 5,01 80,2 5,51 89,6 6,50 101,1 9,23 122,6 BRASIL 6,34 100,0 6,25 100,0 6,15 100,0 6,43 100,0 7,53 100,0 Fonte: IPEA-DATA

Nota: deflacionado pelo deflator implícito do PIB nacional.

Tabela 3.6

Produto Interno Bruto Per Capita 1985 a 2006

R$ mil de 2000

Região

Ano

1985 1990 1995 2000 2006

Não obstante, o que chama a atenção é a persistência histórica dessa distribuição desigual. Por exemplo, a participação da Região Nordeste, em 2006 (47,5%), no nível de renda per capita nacional é semelhante à sua participação em 1985 (48,4%) - passados 21 anos essa região não conseguiu um crescimento per capita superior à média nacional. Numa situação diversa, é possível notar um crescimento bastante consistente da Região Centro-Oeste ao longo desse período, visto que, em 1985, o seu PIB per capita era 29,2% inferior à média nacional e, em 2006, tornou-se 22,6% superior.

A cobertura dos serviços de água e de esgoto por classes de renda apresenta uma distribuição bastante desconforme e injusta: quanto mais pobre menos acesso se tem a esses serviços (Tabela 3.7). Em 2005, para a parcela da população brasileira mais rica, o nível de cobertura da água alcançava 94,2% dos domicílios e o de esgoto atingia 76,6%, enquanto na classe mais pobre - até dois salários mínimos - os valores registrados eram de 72,5% e 32,9%, respectivamente.

Esse padrão regressivo na universalização dos serviços é verificado nas óticas inter e intra- regional. No âmbito inter-regional, por exemplo, na classe de rendimento mensal até dois salários mínimos, a Região Sudeste apresentava uma cobertura de 65,2% dos domicílios com rede de esgoto, enquanto na Região Norte o atendimento alcançava apenas 1,6%. Na perspectiva intra-regional, a parcela rica da Região Sudeste (mais de 20 salários mínimos)

era beneficiada com a cobertura de 92,7% dos domicílios, índice bem superior ao da parcela pobre dessa região.

Até 2 2 a 5 5 a 20 Mais de 20 1. Água - Brasil 72,5 84,0 92,3 94,2 1.1. Norte 46,1 57,6 67,8 70,0 1.2. Nordeste 67,0 79,2 91,7 93,6 1.3. Sudeste 84,6 91,6 96,5 96,9 1.4. Sul 78,1 82,9 89,1 95,6 1.5. Centro-Oeste 71,2 78,4 86,1 86,8 2. Esgoto - Brasil 32,9 48,8 65,0 76,6 2.1. Norte 1,6 3,5 9,3 17,2 2.2. Nordeste 18,7 30,6 51,0 69,5 2.3. Sudeste 65,2 76,5 87,1 92,7 2.4. Sul 19,5 23,8 32,1 44,8 2.5. Centro-Oeste 22,5 28,4 48,3 67,3

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílios (PNAD).

Salário Mínimo Região

Tabela 3.7

Cobertura dos Serviços de Saneamento Por Classes de Rendimento Mensal Domiciliar

2005

% do Número de Domicílios

Esse formato desigual da cobertura dos serviços também sugere uma associação com a distribuição social da renda do país. O índice de Gini (Tabela 3.8) reflete uma distribuição iníqua em todo o território brasileiro. No ano de 2007, a Região Centro-Oeste apresentava o pior desempenho (0,574), enquanto a Região Sul registrava a melhor distribuição (0,505). A respeito da Região Centro-Oeste, o maior crescimento do seu PIB per capita 102,6% no período 1985/2006 não implica melhora proporcional na distribuição da sua renda índice de 0,577, em 1981, e de 0,574, em 2007. Nesse aspecto, essa relação entre eficiência e equidade é uma das questões a ser explorada neste trabalho.

1981 1985 1990 1995 2001 2007 Norte 0,507 0,549 0,583 0,584 0,565 0,533 Nordeste 0,571 0,595 0,626 0,604 0,600 0,565 Sudeste 0,555 0,567 0,577 0,567 0,568 0,524 Sul 0,541 0,561 0,577 0,565 0,548 0,505 Centro-Oeste 0,577 0,587 0,611 0,585 0,598 0,574 BRASIL 0,584 0,598 0,614 0,601 0,596 0,556 Fonte: IPEA-DATA. Ano Região 1981 a 2007

Índice de Gini da Renda Domiciliar Per Capita Tabela 3.8

Com respeito à tecnologia aplicada na indústria brasileira, Nascimento & Heller (2005) afirmam que os seguintes problemas ainda não foram solucionados de forma adequada: controle das perdas nos sistemas de abastecimento de água21, gestão da demanda, melhoria da eficiência de coleta e tratamento de esgotos domésticos, soluções para disposição dos esgotos, pouca utilização dos sistemas de reúso de água, ausência de coleta residencial e industrial das águas de chuva para fins de abastecimento e controle da contaminação da água subterrânea. Além do mais, configura-se como um grande desafio tecnológico e econômico o atendimento de populações pobres concentradas em favelas ou dispersas na zona rural.

Por fim, vale a pena destacar a pequena participação do capital privado na prestação dos serviços. No ano de 2000, a empresa privada detinha a concessão para o serviço de abastecimento de água em 5,7% dos distritos brasileiros, enquanto para o de esgotamento sanitário esse percentual alcançava apenas 1,2% (Tabela 3.9).

21 Dependendo da prestadora dos serviços, as perdas de faturamento variam entre 25% a 65%

do volume captado de água bruta em decorrência das seguintes perdas: físicas do processo de produção e de distribuição, por conexões clandestinas e por falta ou erro de micromedição (Nascimento & Heller, 2005).

Número % Número % Número % Número % Norte 512 380 74,2 132 25,8 35 27 77,1 8 22,9 Nordeste 2.550 2.491 97,7 59 2,3 933 931 99,8 2 0,2 Sudeste 3.008 2.929 97,4 79 2,6 2.544 2.508 98,6 36 1,4 Sul 1.967 1.758 89,4 209 10,6 501 500 99,8 1 0,2 Centro-Oeste 619 602 97,3 17 2,7 84 82 97,6 2 2,4 BRASIL 8.656 8.160 94,3 496 5,7 4.097 4.048 98,8 49 1,2

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

Região

Tabela 3.9

Número de Distritos Conforme a Constituição Jurídica das Empresas 2000

Abastecimento de Água Esgotamento Sanitário Pública Privada

Total Total Pública Privada