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3 INDÚSTRIA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA POTÁVEL E

3.4 Algumas Experiências Internacionais de Regulação de Preços

3.4.4 Chile

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fictícia criada para suprir a demanda dos serviços de água e de esgoto para os próximos cinco anos, por meio de custos mínimos de operação e de investimentos eficientes42. Conforme Gómez-Lobo & Vargas (2002), o problema de eficiência produtiva é resolvido mediante a desvinculação entre as tarifas e os custos reais da empresa: se as tarifas fixadas geram perdas potenciais para a empresa real, esta tem que ajustar seu nível de eficiência ou assumir tais perdas; se a empresa real for capaz de produzir a um custo menor que a fictícia, ela tem o direito de incorporar o lucro excedente. Segundo os autores, essa

42 Os artigos 27 e 28 do Reglamento de la Ley de Tarifas de los Servicios Sanitarios (Decreto

Supremo MINECON Nº 453) definem a empresa-modelo do seguinte modo: empresa desenhada com o objetivo de prestar de forma eficiente os serviços requeridos pela população, considerando a norma vigente, as restrições geográficas, demográficas e tecnológicas pertinentes às suas operações (CHILE, 1989).

Para o estabelecimento das tarifas, é utilizado o conceito de custo total de longo prazo

(Costo Total de Largo Plazo), que correspo -

mo

cinco anos (período de fixação das tarifas). Esses custos representam os recursos necessários para os investimentos e a operacionalização de um projeto ótimo para prestação dos serviços de água e de esgoto. Para o ajuste das tarifas, calcula-se um fator resultante da divisão do custo total de longo prazo pela arrecadação a ser obtida com as tarifas eficientes (CHILE, 1989).

O procedimento para revisão da tarifa envolve três entes: o regulador, a empresa e uma comissão de especialistas. Um ano antes da entrada em vigor das novas tarifas, o regulador (Superintendencia de Servicios Sanitarios) publica as bases preliminares do seu estudo sobre a empresa-modelo, cujo objetivo final é determinar as tarifas para o próximo quinquênio. Após um período de comentários, publicam-se as bases definitivas, que servem de referência para a empresa e o regulador desenvolverem simultaneamente um estudo sobre a empresa-modelo. Até cinco meses antes da vigência das novas tarifas, a empresa e o regulador trocam os respectivos estudos. A empresa tem um prazo de 30 dias para apresentar suas críticas sobre o estudo do regulador. Em seguida, há um período de 15 dias para negociar as diferenças entre os estudos e estabelecer as tarifas de forma consensual. Se não houver acordo, o regulador convoca uma comissão de especialistas (Comisión de Expertos), que tem um mês para determinar as tarifas finais (CHILE, 2000).

Durante a vigência das tarifas eficientes, a empresa regulada é beneficiada por reajustes tarifários43, com vistas a incorporar os efeitos inflacionários atuantes nos custos dos insumos dos serviços. O fator de reajuste tarifário leva em consideração três índices de

43 Não há uma periodicidade estabelecida para os reajustes tarifários, os quais ocorrem quando

um dos encargos da estrutura tarifária (encargo variável da água potável, encargo variável do período de ponta da água potável, encargo variável por sobreconsumo de água potável, encargo variável de esgoto e encargo fixo) aumenta em pelo menos 3%.

preços: índice de preços ao consumidor (Indice de Precios al Consumidor), índice de preços dos produtos nacionais (Indice de Precios al por Mayor de Productos Nacionales) e índice de preços dos produtos importados (Indice de Precios al por Mayor de Productos

Importados). A ponderação desses índices relaciona-se, especialmente, com o tipo de serviço (distribuição de água potável, coleta de esgoto, tratamento de esgoto, etc.) prestado pela empresa regulada (CHILE, 1989).

4 MODELO DE TROCAS

O modelo de trocas pretende descrever os fenômenos microeconômicos pertinentes ao mercado brasileiro de água tratada mediante a interação de três agentes: regulador, monopólio estatal1 e consumidor. Pelo lado da oferta, a análise está baseada no procedimento empregado pela firma (modelo não regulado) ou pelo regulador (modelo regulado) para definição do preço do serviço de água, levando em conta algumas alternativas de estrutura tarifária disponíveis. Na ótica da demanda, o modelo pretende apresentar o comportamento de dois tipos de consumidor (mainstream e comportamental), em termos de variações no seu nível de consumo, em decorrência do preço estabelecido e da sua renda.

No ano inicial, o modelo permite trabalhar, principalmente, com variações dos seguintes parâmetros:

a) número de domicílios da área urbana;

b) meta para cobertura da demanda de água tratada;

c) origem dos recursos financeiros (próprio, oneroso e não oneroso) para realização do investimento;

Essas variações podem ser analisadas nas seguintes situações:

1 Os dados estatísticos disponíveis não permitiram trabalhar com a hipótese de monopólio

privado. A Tabela 3.9 mostrou que, em 2000, o monopólio estatal de água tratada era a instituição presente em 94,3% dos distritos brasileiros, enquanto o de esgoto estava em 98,8% dos distritos. Esse quadro é retratado na amostra do SNIS-2005: com relação à prestação do serviço de água tratada, os monopólios estatais eram responsáveis por 97,9% da produção; e na prestação conjunta dos serviços de água e esgoto, eles concentravam 96,2% da produção de água e 96,5% da coleta de esgoto. Portanto, julgou-se não aconselhável, do ponto de vista estatístico, trabalhar com informações de custo de apenas seis (3,6% da amostra do SNIS) monopólios privados de água. No modelo, são considerados sinônimos os termos firma ,

a) consumidor mainstream ou comportamental;

b) firma regulada ou não regulada;

c) tipo de estrutura tarifária: tarifa linear, tarifa em duas e em várias parcelas; e

d) modelos de regulação da tarifa: não incentivado (custo do serviço) ou incentivado (Vogelsang & Finsinger).

Em termos gerais, a dinâmica do modelo de trocas segue a seguinte estrutura:

a) inicialmente, os preços são determinados pelo monopolista (regulador) com base nos custos de produção;

b) em seguida, o consumidor, representado no modelo pelo domicílio residencial, observa os preços estabelecidos e seleciona a respectiva quantidade a ser demandada;

c) dada a capacidade de produção do monopólio, cada consumidor realiza o seu consumo eita individual para a firma, cuja agregação resultará na receita total do monopólio;

d) por fim, o monopolista (regulador) verificará se a receita obtida é suficiente para cobrir os custos. Caso negativo, o monopólio não regulado ajustará os seus preços para permitir o alcance da igualdade entre receitas e custos. No monopólio regulado, esse ajuste vai depender do tipo de regulação de preços a que ele está submetido.