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Breve histórico do Instituto Federal de São Paulo

CAPÍTULO IV – RESISTÊNCIA E CONFORMAÇÃO NA REFORMA E NA

4.1 Breve histórico do Instituto Federal de São Paulo

Até chegar a ser Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, a instituição passou pelas diferentes mudanças na educação profissional desde as primeiras políticas federais para o desenvolvimento do ensino técnico. Originou-se nas escolas de Aprendizes e Artífices, criadas no início do século XX118, primeira iniciativa de organização do ensino profissional oficial no Brasil (CUNHA, 2005). Segundo Celso S. Fonseca (1986), a Escola de Aprendizes e Artífices de São Paulo começou a funcionar, mais precisamente, em 24 de fevereiro de 1910, na Avenida Tiradentes, na capital do estado de São Paulo (FONSECA, 1986).

No final da década de 1930, em meio às mudanças que originaram o Ministério da Educação e Saúde, o chamado ensino industrial foi reformado e transformado em Liceu Industrial119. A instituição permaneceu com esta nomenclatura e projeto organizacional até a promulgação das Leis Orgânicas do Ensino Industrial120, em 1942, passando a se chamar Escola Industrial Federal de São Paulo. Posteriormente, com as reorganizações do ensino industrial decorrente de mudanças nas concepções da educação profissional, nas décadas de 1950 e início da década de 1960121, passou a se chamar Escola Técnica Federal de São Paulo122.

A escola permaneceu com esta nomenclatura até 1999, quando chegou à condição de Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo123, no governo de Fernando Henrique

118 Decreto n. 7.566, de 23 de setembro de 1909. 119

Lei n. 378 de 1937.

120 Decreto-Lei n. 4.073, de 30 de janeiro de 1942.

121 Foi neste contexto, a partir do final dos anos 1960, que a instituição passou a oferecer o chamado ensino

técnico de nível médio.

122

Lei n.4.759, de 20 de agosto de 1965.

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Cardoso. Nesse contexto, deu-se início ao oferecimento de cursos técnicos em nível superior, graduação em engenharia e licenciaturas.

As mudanças na nomenclatura da instituição não ocorreram descoladas das transformações mais profundas na estrutura e na concepção da educação profissional. Na maioria das vezes foi acompanhada por reformas que procuraram conduzir ou consolidar as relações que se estabeleciam e modificavam entre educação profissional, setor produtivo e Estado.

Em 1986, foi criada a primeira unidade descentralizada (UNED) da instituição, em Cubatão, a primeira do país. Em 1995, aproximadamente dez anos após a primeira iniciativa, foi criada a unidade descentralizada de Sertãozinho124, perfazendo duas UNEDs até o início dos planos de expansão da educação profissional nos anos 2000.

Em Guarulhos, uma unidade descentralizada foi criado no início de 1991, entretanto, diferentes problemas interromperam a integração desta unidade ao Instituto Federal de São Paulo. Inicialmente, uma parceria foi firmada com a prefeitura de Guarulhos e posteriormente com a Agência de Desenvolvimento e Inovação de Guarulhos (AGENDE)125. Entre 2004 e 2005, ocorreu um processo de incorporação da unidade à Rede Federal, que significou maiores repasses de recursos e a efetiva estruturação da instituição126. Em 2006, já em meio ao plano de expansão da educação profissional no governo Lula da Silva, a unidade de Guarulhos começou a funcionar.

Ainda no ano de 2006, como primeira medida do plano de expansão do governo Lula da Silva, iniciou-se um processo de federalização de antigas escolas profissionalizantes, que foram construídas com recursos do Programa de Expansão da Educação Profissional (PROEP), pela parceria Ministério da Educação, Ministério do Trabalho e Emprego (MTb) e

124 A Unidade Descentralizada de Sertãozinho foi criada em convênio com a prefeitura municipal, entre o

período de sua criação até o ano de 2004, a instituição passou por diversas crises, diante da falta de estrutura e recursos para o oferecimento de cursos técnicos. Em 2004, com o início da expansão da Rede Federal houve contratação de docentes e funcionários técnico-administrativos, iniciando um processo de consolidação da unidade como parte integrante da Rede Federal, distanciando-se, portanto, da realização de cursos em convênios com outras instituições (Cf. Plano de Desenvolvimento Institucional do IFSP 2009-2013).

125

Organização da sociedade civil com interesse público (OSCIP).

139

Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)127, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Trata-se da primeira fase do plano de expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. O PROEP havia criado instituições de educação profissional em parceria com fundações, organizações não governamentais, prefeituras, etc., que foram absorvidas pela Rede Federal nessa primeira fase. No caso de São Paulo, além da unidade de Guarulhos, as unidades de Bragança Paulista, Salto e São Roque foram construídas a partir do PROEP. No caso de São Roque, por exemplo, havia apenas um esqueleto deteriorado de um prédio que seria construído para abrigar uma instituição de educação profissional (Entrevista com Professor A).

Entre 2006 e 2010, vinte e três novas unidades do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo foram criadas. Em 2008, em meio à expansão de cursos e vagas, os Centros Federais de Educação Tecnológica foram transformados em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, tornando-se o locus da implantação das novas diretrizes e concepções para a educação profissional federal. Dentre as quais se destacava a retomada do ensino médio integrado ao ensino técnico e o oferecimento de cursos de licenciatura em várias áreas, incluindo as ciências humanas. Com isso, as unidades adquiriram a nomenclatura campus, uma vez que a estrutura organizacional dos Institutos passou a se assemelhar à das universidades. O CEFET-SP da capital se tornou o campus São Paulo do IFSP.

Atualmente, a distribuição dos campi e cursos do Instituto Federal de São Paulo está assim organizada:

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Os recursos do PROEP estavam assim organizados: 25% do Ministério da Educação; 25% do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e 50% do BID.

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QUADRO 2. CURSOS E MODALIDADES OFERECIDOS PELO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO - 2013128

CAMPUS/CIDADE INÍCIO DAS

ATIVIDADES NÍVEIS E MODALIDADES CURSOS CURSOS

1 - São Paulo 01/02/1910 Técnico Integrado Eletrônica Eletrotécnica Informática Mecânica Concomitante/Subsequente Edificações Eletrotécnica Telecomunicações PROEJA Qualidade Engenharia Civil Controle e Automação Produção Licenciatura Ciências Biológicas Física Geografia Matemática Química Tecnólogo

Análise Desenvolvimento Sistemas Automação Industrial

Gestão de Produção Industrial Gestão de Turismo

Processos Gerenciais Sistemas Elétricos Sistemas Eletrônicos

Pós-graduação lato sensu

Educação Profissional Integrada EJA

Formação Professores Magistério Superior

Formação continuada de professores Educação Básica Planejamento e gestão de empreendimentos na construção civil

Projeto e tecnologia do ambiente construído

Aeroporto: Projeto e construção Tecnologia e operações em infraestrutura da construção civil

Pós-graduação stricto sensu

Mestrado Profissional Automação e Controle de Processos

2 – Cubatão 01/04/1987

Técnico Integrado Informática

Concomitante/Subsequente

Automação Industrial Eletrônica

Informática

PROEJA Qualificação Informática

Tecnólogo Automação Industrial

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Nesta tabela não constam os cursos PROEJA-FIC e os cursos “técnicos integrados” desenvolvidos em parceria com a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, por meio do programa Vence.

141 Gestão de Turismo 3 – Sertãozinho 01/01/1996 Técnico Integrado Automação Industrial Química PROEJA Mecânica Administração Licenciatura Química Tecnólogo Automação Industrial Fabricação Mecânica Gestão de Recursos Humanos

4 - Guarulhos 13/02/2006

Concomitante/Subsequente

Automação Industrial

Manutenção Suporte Informática

Licenciatura Matemática

Tecnólogo

Análise Desenvolvimento Sistemas Automação Industrial

Pós-graduação lato sensu

Desenvolvimento de Sistemas de Software

5 - São João da Boa

Vista 02/01/2007 Técnico Integrado Eletrônica Informática Concomitante/Subsequente Automação Industrial Informática Química

Engenharia Controle e Automação

Tecnólogo

Eletrônica Industrial Sistemas para Internet

6 - Caraguatatuba 12/02/2007 Concomitante/Subsequente Administração Comércio Edificações Informática

Informática para internet

Licenciatura Matemática

Tecnólogo

Análise Desenvolvimento Sistemas Processos Gerenciais 7 - Bragança Paulista 30/07/2007 Técnico Integrado Eletroeletrônica Mecânica Concomitante/Subsequente Automação Industrial

Manutenção Suporte Informática Mecatrônica

Licenciatura Matemática

Tecnólogo

Análise Desenvolvimento Sistemas Eletroeletrônica Industrial 8 - Salto 02/08/2007 Técnico Integrado Automação Industrial Informática Concomitante/Subsequente Automação Industrial Informática Tecnólogo

Análise Desenvolvimento Sistemas Gestão de Produção Industrial

142

9 - São Carlos 01/08/2008

Concomitante/Subsequente Comércio

Tecnólogo

Análise Desenvolvimento Sistemas Manutenção de Aeronaves 10 - São Roque 11/08/2008 Concomitante/Subsequente Agroindústria Agronegócio

Licenciatura Ciências Biológicas

Tecnólogo Gestão Ambiental Viticultura e enologia 11 - Campos do Jordão 02/02/2009 Concomitante/Subsequente Edificações Informática Licenciatura Matemática

Tecnólogo Análise Desenvolvimento Sistemas

12 - Boituva

(avançado) 01/08/2009

Concomitante/Subsequente

Automação Industrial

Manutenção Suporte Informática

13 - Capivari

(avançado) 09/08/2010

Concomitante/Subsequente

Manutenção Suporte Informática Química

Tecnólogo Análise Desenvolvimento Sistemas

14 - Matão (avançado) 12/08/2010 Tecnólogo Alimentos Biocombustíveis

Pós-graduação lato sensu Álcool e Açúcar

15 - Barretos 16/08/2010 Técnico Integrado Agropecuária Informática Concomitante/Subsequente Agronegócio Alimentos Eventos

Manutenção Suporte Informática

Licenciatura Ciências Biológicas

Tecnólogo

Gestão de Turismo

Análise Desenvolvimento Sistemas

16 - Suzano 16/08/2010 Concomitante/Subsequente Automação Industrial Comércio Eletroeletrônica 17 - Catanduva 16/08/2010 Concomitante/Subsequente Fabricação Mecânica

Manutenção Suporte Informática

Licenciatura Química

Tecnólogo

Análise Desenvolvimento Sistemas Mecatrônica Industrial

143 18 - Araraquara 16/08/2010 Concomitante/Subsequente Informática Mecânica Mecatrônica Licenciatura Matemática Tecnólogo

Análise Desenvolvimento Sistemas Mecatrônica Industrial

19 - Itapetininga 16/08/2010

Concomitante/Subsequente

Edificações

Manutenção Suporte Informática Mecânica Licenciatura Física 20 - Birigui 16/08/2010 Concomitante/Subsequente Administração Automação Industrial

Manutenção Suporte Informática

Licenciatura Matemática

Tecnólogo

Mecatrônica Industrial Sistemas para Internet

21 - Piracicaba 16/08/2010

Concomitante/Subsequente

Automação Industrial

Manutenção Suporte Informática Mecânica Licenciatura Física Tecnólogo Análise Desenvolvimentos Sistemas Automação Industrial 22 - Avaré 01/01/2011 Concomitante/Subsequente Agroindústria Agronegócio Eventos Mecatrônica 23 - Votuporanga 01/01/2011 Concomitante/Subsequente Edificações Eletrotécnica

Manutenção Suporte Informática Mecânica 24 - Presidente Epitácio 01/01/2011 Concomitante/Subsequente Automação Industrial Edificações

Tecnólogo Análise Desenvolvimento Sistemas

25 - Hortolândia 01/01/2011 Concomitante/Subsequente Informática 26 - Registro 01/01/2011 Concomitante/Subsequente Logística 27 - Assis s/d Concomitante/Subsequente Administração

Manutenção Suporte Informática

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29 - São José dos

Campos s/d Em implantação

30 – Jacareí s/d Em implantação

Fonte: www.redefederal.mec.gov.br/www.ifsp.edu.br. Atualizada em 18 de março de 2013.

Ao analisar o quadro acima, extraímos os seguintes dados sobre os cursos e as modalidades oferecidos pelo IFSP como um todo:

Sete campi do IFSP oferecem o ensino médio integrado ao técnico, perfazendo um total de quinze cursos integrados. O campus São Paulo se destaca com o oferecimento de quatro cursos.

Doze campi do IFSP oferecem cursos de licenciatura, perfazendo um total de

dezesseis cursos. O campus São Paulo se destaca com o oferecimento de cinco

cursos, os demais campi oferecem apenas um curso cada.

Vinte e dois campi do IFSP oferecem cursos técnicos concomitantes ou

subsequentes ao ensino médio, perfazendo o total de cinquenta e oito cursos.

Destacam-se os campi de Caraguatatuba (cinco cursos), Barretos (quatro cursos), Avaré (quatro cursos) e Votuporanga (quatro cursos).

Três campi do IFSP oferecem cursos do PROEJA, perfazendo o total de quatro

cursos. O campus de Sertãozinho se destaca com o oferecimento de dois cursos. Dezoito campi do IFSP oferecem cursos tecnológicos, perfazendo o total de trinta

e oito cursos tecnológicos de nível superior. O campus São Paulo se destaca com o

oferecimento de sete cursos.

Dois campi do IFSP oferecem cursos de graduação em engenharia, perfazendo o total de quatro cursos. O campus São Paulo se destaca com o oferecimento de três cursos, o outro é oferecido pelo campus de São João da Boa Vista.

Somente o campus São Paulo oferece um curso de pós-graduação (mestrado)

stricto sensu.

Os dados informam que a maioria dos cursos oferecidos pelo Instituto Federal de São Paulo é concomitante ou subsequente ao ensino médio (cinquenta e oito), seguida pelos cursos tecnológicos de nível superior (trinta e oito). É preciso investigar o porquê o IFSP

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não oferece prioritariamente o ensino médio integrado ao técnico e as licenciaturas, uma vez que o artigo 8º da Lei nº. 11.892/2008, que cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, estabelece que as instituições devam priorizar o oferecimento de 50% das vagas para os cursos médio integrado ao técnico e ao PROEJA e 20% das vagas para cursos de licenciatura, “bem como programas especiais de formação pedagógica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e para a educação profissional”.

Esta prioridade já se anunciava nas concepções e nas diretrizes dos Institutos Federais, referendada pela lei, o que pressupunha que os campi criados no processo de expansão da Rede Federal devessem elaborar os seus planos de implantação tendo em vista estes objetivos. No entanto, observamos que dentre os campi do IFSP criados no processo de expansão desencadeado entre 2003 e 2010, somente quatro possuem o ensino médio integrado ao técnico. Isolando os dados do PROEJA, temos que nenhum campus criado no plano de expansão oferece educação de jovens e adultos integrada à educação profissional.

O campus São Paulo do Instituto Federal oferece todas as modalidades e níveis de ensino da educação profissional – do ensino médio integrado à pós-graduação. No total, são trinta e um cursos oferecidos, além das atividades de extensão e pesquisa, como PIBIC129 e PIBID130.

A instituição possui uma infraestrutura grande, com diferentes equipamentos e espaços para a organização das atividades docentes e discentes. A maioria dos professores entrevistados afirmou que durante o processo de expansão da Rede Federal pouco se investiu naqueles campi que já existiam, direcionando a maior parte dos recursos para a construção de novas unidades. Os professores também ponderaram que não há manutenção sistemática dos espaços e equipamentos existentes, o que ocasionou a deterioração progressiva. Algumas máquinas utilizadas na instituição ainda são aquelas importadas do Leste Europeu no período da ditadura militar e estão defasadas diante da tecnologia utilizada atualmente em algumas áreas, como a mecânica e a mecatrônica.

A instituição se consolidou na capital como Escola Técnica Federal. Os professores entrevistados muitas vezes se referiram a ela como a “Escola Federal”, diferente do que

129

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq.

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ocorre nos municípios do interior do estado, nos quais é uma novidade e ainda inicia seu processo de consolidação como Instituto Federal. O mesmo acontece em relação à procura por cursos. Na capital, o processo seletivo, chamado de vestibulinho, possui altos índices de concorrência, como consta nos Relatórios de Gestão da instituição.

Cada Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia elaboram a cada ano Relatórios de Gestão e a cada quatro anos um Plano de Desenvolvimento Institucional. Nos relatórios e planos podemos localizar dados importantes sobre a configuração da instituição e seu projeto de desenvolvimento. Com isso, procurando recolher dados sobre a expansão do IFSP no geral e do campus São Paulo; a transformação do CEFET-SP em IFSP; e a retomada do ensino médio integrado ao ensino técnico, analisamos no próximo item o Plano de Desenvolvimento Institucional do IFSP.