• Nenhum resultado encontrado

De Centro Federal de Educação Tecnológica a Instituto Federal de Educação,

CAPÍTULO IV – RESISTÊNCIA E CONFORMAÇÃO NA REFORMA E NA

4.6. De Centro Federal de Educação Tecnológica a Instituto Federal de Educação,

Os professores relataram que vivenciaram duas discussões ao mesmo tempo, a expansão e a transformação em Instituto Federal, no entanto, nenhuma delas foi tema de debates coletivos e organizados oficialmente pela direção da instituição. Os professores colocaram que o ponto mais discutido em relação à transformação em Instituto Federal foi o atendimento a todos os níveis de ensino e modalidades da educação profissional. Embora a instituição já oferecesse cursos superiores de tecnologia antes da mudança, os professores ressaltaram que a ampliação do nível superior, com graduação, pós-graduação, aumento das licenciaturas, diversificou ainda mais a instituição e aumentou as possibilidades de trabalho dos profissionais.

O Professor B afirmou que não houve discussão “oficial”, foi feita somente uma espécie de comunicação pela administração. Nem mesmo a possibilidade de transformar a instituição em universidade tecnológica foi aventada publicamente pela gestão do período, embora existissem grupos que defendessem essa ideia.

Para a Professora C também não houve discussões internas sobre a transformação do CEFET-SP em IFSP, entretanto, a professora reconhece que havia grupos que discutiam a possibilidade de transformar o CEFET-SP em universidade tecnológica, como ocorreu no Paraná. Para ela, as discussões em torno da transformação em Instituto Federal estavam integradas às discussões sobre as possibilidades de expansão da instituição.

No mesmo sentido, o Professor G afirmou que no Instituto Federal de São Paulo, mesmo enquanto Escola Técnica Federal e CEFET-SP, não é procedimento das sucessivas direções da instituição discutir as mudanças e acolher propostas da comunidade escolar que se distanciem das propostas do governo federal.

Essa é a maior das grandes críticas que nós temos aqui em São Paulo. Quando há alguns projetos governamentais importantes em outros estados, a gente sabe que a comunidade é chamada, que há uma discussão muito grande desses projetos. Aqui em São Paulo não é costume (...) nos vinte anos em que eu estou aqui se discutir projeto (Entrevista com Professor G).

167

Para o Professor G, a transição de CEFET-SP para IFSP significou maior autonomia e mais espaço para a expansão do ensino técnico. Na visão do professor, o MEC está procurando se basear no sistema canadense de educação profissional, citou como exemplo a ida do reitor do IFSP para o Canadá. Entretanto, o professor pondera que não é possível “copiar” modelos como o canadense e o alemão se a diferença salarial entre um técnico de nível médio e um graduado continuar exorbitante, pois naqueles países o percentual entre o salário de uma profissão e outra é pequeno, com isso, o ensino técnico possui outras características.

Agora, num país como o Brasil, que a diferença [de salário entre o técnico e o engenheiro] é duas, três vezes, e o Estado não te dá quase nada, se você quiser educação de qualidade, pague; se quiser saúde de qualidade, pague (...). Não dá para refrear essas pessoas de quererem o melhor para si (...). Então, é por isso que quando você começa a discutir esse ensino técnico, o que você quer do ensino técnico, aí começam a aparecer as divergências (Entrevista com Professor G).

O professor ressaltou ainda que há problemas com a regulamentação e a aceitação pelo mercado do tecnólogo, que a disponibilidade de postos de trabalho e concursos públicos está muito aquém do que “prometem as propagandas governamentais”. O tecnólogo constitui uma força de trabalho “mais cara” ao mercado do que o técnico e menos reconhecida socialmente que o engenheiro.

Dois professores se mostraram contrários à ampliação de cursos fora da área de tecnologia, como na área das humanas, por exemplo. Os professores apontam que isso pode descaracterizar a instituição.

A meu ver, eu acho que a expansão é uma coisa muito boa, mas eu acho que existem contradições nesta escola (...). Então, existem aqui, na minha avaliação, contradições assim estruturais, estruturantes. (...) A escola é historicamente técnica e tecnologia e tem áreas que não querem que a escola seja mais isso, tem áreas que acham que devem dar prioridade para as disciplinas de humanas. Eu acho que a disciplinas de humanas são muito importantes, elas nunca devem deixar de existir aqui. Então, existe assim, necessidade estrutural de modernizar os instrumentos, as máquinas, para poder efetivamente produzir tecnologia aqui dentro, que é o investimento neste sentido, não aparece, eu não sei porquê. Pode ser até que ele exista, mas ele não aparece. E por outro lado, o campus de São Paulo se expande também em várias licenciaturas, que eu não sei se seria condizente com esta proposta, da instituição ser um referencial tecnológico (Entrevista com Professora D).

168

Segundo a Professora C, a transformação em Instituto Federal e a sua concomitante expansão também trouxe consigo um debate importante sobre as licenciaturas. Ela aponta que há um problema nacional em relação à formação de professores, pois as universidades públicas formam poucos professores em comparação a necessidade das escolas e o grande responsável pela formação acaba sendo o sistema privado de ensino superior. Portanto, a professora acredita que a possibilidade dos atuais Institutos Federais oferecerem a licenciatura vem nesta direção. Observamos que o tema ocasionou um debate interno sobre a “identidade” da instituição historicamente vinculada à formação de técnicos e tecnólogos.

O Professor F ponderou que as mudanças institucionais decorrentes da transformação em Instituto Federal, principalmente com a possibilidade de oferecimento do ensino superior causaram temor nos professores em relação às regras da aposentadoria. Como os professores do ensino superior trabalham cinco anos a mais que os do ensino básico antes de se aposentarem, muitos deles não aceitaram lecionar no ensino superior devido ao temor de aumento do tempo de contribuição. Ao mesmo tempo, ressaltou o professor, houve grupos que argumentaram não estar preparados para assumir as aulas no ensino superior repentinamente.

O relatório do TCU, quando aborda a criação dos Institutos Federais, o faz principalmente em relação ao cumprimento da meta de “atendimento ao desenvolvimento regional” apresentada nas Concepções e diretrizes dos IFs. De fato, a inserção e atendimento ao setor produtivo regional é um dos objetivos das novas instituições. Procurando analisar como essa relação se estabelece ou pode se estabelecer, a auditoria analisou o oferecimento de cursos de extensão, as pesquisas realizadas e os currículos dos cursos oferecidos em face das demandas regionais dos Institutos Federais. O relatório conclui que a interação é muito pequena, principalmente em relação ao financiamento das atividades, pondera que um dos pontos fracos é que as atividades são completamente financiadas pelas instituições federais.

Dentre as instituições que foram criadas na segunda fase do plano de expansão da Rede Federal, 32% estão em Territórios da Cidadania. A auditoria também constatou que a expansão seguiu a meta de interiorização dos campi. O relatório do TCU aponta que essas são duas ações importantes em direção à superação das desigualdades regionais, que

169

deveria ser fortalecida pelo estreitamento da relação das escolas com a economia regional. Entretanto, o TCU aponta que há muitos entraves burocráticos e falta de conhecimento dos funcionários técnico-administrativos e da administração geral para o estabelecimento dessas parcerias.

Observamos que o TCU não considera como prioridade parcerias com o setor público ou com cooperativas de trabalhadores. Pelo contrário, a ideia de empreendedorismo está vinculada à interação das instituições com empresas privadas. Cita como exemplo uma parceria que foi tentada entre o IFSP149 e a empresa Rohr S/A Estruturas Metálicas, voltada para a prática educativa e atualização dos professores, mas não foi concluída devido à “morosidade na tramitação do processo”, o que redundou na desistência do acordo por parte da empresa. Mesmo acordos com o CNPq para a concessão de bolsas de iniciação científica encontrou dificuldades para a sua aprovação.

No relatório, a auditoria do TCU constata que mesmo em relação ao desenvolvimento dos estágios a interação que se estabelece entre escolas e empresas é restrita. Indica-se que as instituições carecem de incentivo ao empreendedorismo como a criação de incubadoras de empresas, empresas juniores voltadas à inovação tecnológica. Mesmo quando trata da criação de incubadoras, o relatório não menciona a possibilidade de criação de incubadoras de cooperativas populares, como acontece nas universidades públicas. Como exemplo, o relatório cita o IFSP, ressaltando que não foi constatada nenhuma incubadora de empresas, somente duas iniciativas, em andamento, para a criação do Hotel de Projetos Tecnológicos e de uma empresa júnior no campus de Guarulhos/SP150.

149 O relatório afirma que somente no IFSP estava em elaboração um Manual de Procedimentos para

Elaboração de Acordos de Cooperação Técnica, objetivando superar esse problema.

170