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CAPÍTULO IV – RESISTÊNCIA E CONFORMAÇÃO NA REFORMA E NA

4.7. Condições do trabalho docente no IFSP

Durante as entrevistas os professores apresentaram as suas considerações sobre as condições de trabalho no IFSP, por meio das quais enfatizaram a docência em todas as modalidades de ensino da educação profissional. Encontramos a mesma preocupação no relatório da auditoria do TCU, que tem um item específico para a análise do que denomina “infraestrutura e suporte à prestação de serviços educacionais”, no qual podemos verificar uma apreciação do Tribunal sobre as condições de trabalho dos profissionais dos Institutos Federais.

Os principais problemas apontados pelos professores em relação às condições de trabalho se referem à diversidade de modalidades e níveis de ensino, que obriga um professor a trabalhar em vários níveis e modalidades ao mesmo tempo; a infraestrutura da instituição, que está inadequada às necessidades do ensino oferecido; e a ausência de debates amplos e abertos. Diferente do que constata o relatório da auditoria do TCU, os professores entrevistados não apontaram a defasagem salarial como o principal problema dos docentes nesse momento histórico. O que certamente não significa um desprezo pela questão, mas pode significar que não se trata de um problema candente no atual momento histórico.

O Professor B apontou que a escolha das modalidades de ensino pelos professores é definida pelas contingências, pois um professor pode dar aulas em várias “frentes”, ou seja, várias disciplinas diferentes e em várias modalidades de ensino durante o ano. O professor relatou que um profissional pode chegar a ministrar vinte e duas aulas por semana em diferentes níveis, além das demais atividades de pesquisa e extensão.

E hoje como nós somos uma instituição de ensino, pesquisa e extensão, o que é um grande complicador, principalmente, porque esse professor tem que fazer a pesquisa também, orientar alunos. Igual, nós que trabalhamos com a licenciatura, a gente tem os projetos tanto da iniciação científica, como iniciação a docência, que são os PIBIDs. Temos orientações. Tem orientações de estágio, supervisão de estágio, outras atribuições além de estar na sala da aula. Infelizmente, isso não está sendo olhado (Entrevista com Professor B).

O Professor G levantou uma questão fundamental para os professores que lecionam nas escolas técnicas e tecnológicas. Os professores das áreas técnicas estão sempre diante

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de um dilema: optar por trabalhar no setor produtivo ou no ensino profissional. As diferenças salariais são as maiores responsáveis pelo afastamento ou mesmo a ausência de professores, pois os impedem de optar pela dedicação exclusiva à instituição de ensino. Aqui, observamos que embora o Professor G não tenha enfatizado os problemas de defasagem salarial, apontou que a possibilidade de trabalho no setor produtivo é sempre uma alternativa presente principalmente para os professores da área técnica.

A falta de professores nas instituições federais é um dos principais problemas constatados pela auditoria do TCU, que apontou uma carência de 7.966 professores na Rede Federal, o que representa 19% do total de cargos. O Instituto Federal de São Paulo é uma das cinco instituições151 que possuem os maiores índices de ausência de professores, totalizando 32%. Segundo os professores entrevistados pelo TCU, esse é um dos fatores da interrupção de alguns cursos, o que influencia na evasão dos estudantes. O relatório considera que os índices decorrem da baixa atratividade da carreira, que possui salários defasados, principalmente em relação ao mercado de trabalho nas áreas de formação dos professores do ensino técnico e tecnológico, como as engenharias.

Os gestores do IFSP entrevistados pela auditoria do TCU afirmaram que a morosidade no processo de contratação dos docentes, relacionado ao que determina a legislação, pode ser um dos fatores do índice elevado de falta de professores na instituição. Os pró-reitores dos IFs consultados indicaram que a liberação de vagas para pelo MEC também é um dos elementos que retardam a contratação, pois não supre a demanda.

A localização das novas instituições criadas com a expansão da Rede Federal, bem como ausência de incentivos para o deslocamento de profissionais das regiões centrais para o interior, dificulta o preenchimento do quadro, segundo aponta a auditoria do TCU. O que também se relaciona com a necessidade do professor contratado atender todos os níveis e modalidade de ensino, uma vez que a formação necessária para tal possibilita ao profissional um emprego semelhante nos grandes centros urbanos. A questão da locomoção dos professores não foi indicada pelos entrevistados, talvez por se tratar de campus localizado na capital do estado de São Paulo.

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As demais instituições são: Acre (40,1%), Brasília (40,1%), Mato Grosso do Sul (38,2%) e Amapá (35,3%).

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Os professores entrevistados também ressaltaram que há certa indefinição do que é a pesquisa no interior dos Institutos Federais. O Professor G afirmou que este é um dilema, pois não é possível restringir quais os professores poderão fazer pesquisas, portanto, é necessário abrir espaços para as áreas da educação básica, como a filosofia. Ao mesmo tempo, alguns grupos defendem que não é a função dos Institutos desenvolver pesquisas fora das áreas técnicas. Criou-se um problema em torno do que é a pesquisa no IFSP. De fato, observamos que não há nem mesmo incentivos como bolsas de estudos e financiamento de pesquisa para os professores. Além da carga horária destinada às aulas ser muito grande. Essa indefinição pode impedir que os profissionais sustentem o tríade “ensino, pesquisa e extensão”, como previsto na legislação que criou os Institutos Federais.

Os professores avaliam a transformação em Instituto Federal como positiva e interessante, principalmente quando relacionam à expansão de vagas e cursos, entretanto, ressaltam que é preciso oferecer condições para que os professores trabalhem em todos os níveis. Relatam que a mudança no objetivo da instituição, que era oferecer educação profissional, se amplia para ensino, pesquisa e extensão em educação profissional e tecnológica, além das licenciaturas. Essas mudanças não vieram acompanhadas de condições para os professores realizarem pesquisa e extensão, pelo contrário, o número de aulas aumentou.

O relatório da auditoria do TCU aponta que a participação de professores dos Institutos Federais em atividades de pesquisa aumentou. O Censo da Educação Superior de 2010 indica que o número de diretórios de pesquisa registrados no CNPq aumentou de 862 para 1.058. Entretanto, comparado às demais instituições de nível superior, a participação em atividades de pesquisa ainda é muito pequena. A SETEC/MEC não possui nenhum instrumento para registrar as atividades de pesquisa. O relatório levanta duas hipóteses que justificariam a baixa participação dos docentes em pesquisas: 1) a forma como a pesquisa é financiada no Brasil nas instituições públicas, por meio de agências públicas de fomento, sem muitas experiências de pesquisa aplicada em parceria com o setor privado; e 2) a falta de experiência dos profissionais da Rede Federal na realização de pesquisas.

O relatório também indica que as atividades de extensão junto ao setor produtivo poderiam inspirar linhas de pesquisa voltadas à inovação. Para o TCU, a extensão e a

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pesquisa deveriam estar vinculadas ao financiamento privado e ao atendimento das necessidades do setor privado. A proposta do TCU está na contramão do desenvolvimento público da pesquisa, indicando a sua privatização.

No processo de transformação em Instituto Federal, a carreira dos professores também foi modificada152, regulamentando o trabalho do professor em todos os níveis e modificando a remuneração dos cargos. Os professores relatam que houve um aumento salarial condicionado à titulação. Aqueles professores que não possuíam pós-graduação

stricto sensu foram incentivados a continuar a formação pela remuneração e para que

pudessem trabalhar no nível superior. Tradicionalmente, a instituição atrai profissionais com formação superior, com a mudança nas suas características e no plano de carreira e cargos, essa característica foi reforçada. Atualmente a pós-graduação aparece como exigência no edital de algumas áreas.

Os professores afirmam que há sim uma hierarquização no interior das áreas, os professores mais titulados e mais antigos na carreira são mais bem colocados na classificação para atribuição de aulas, nessa situação a diferença gera disputas. Entretanto, os professores ressaltaram que há grupos que preferem oferecer cursos no ensino técnico de nível médio em relação ao superior. O perfil dos estudantes e os horários também influem nessas escolhas. Os professore ressaltam que na configuração geral das escolhas dos docentes, o PROEJA e outros projetos da instituição se tornam secundários.

A diferença na preparação das aulas entre os níveis e a modalidade de ensino associada ao volume de trabalho dos docentes é tido como um problema sério que os professores enfrentam no contexto da instituição. Para eles, o objetivo de atender um maior contingente de estudantes em diferentes níveis e modalidades de ensino tem se sobreposto às condições objetivas para a realização do trabalho docente.

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Plano de Carreira e Cargos de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico, Lei n. 11.784 de 22 de setembro de 2008.

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4.8. Relações entre o relatório do Tribunal de Contas da União e os depoimentos dos