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Estatísticas da expansão do ensino técnico de nível médio no Brasil

CAPÍTULO III – O ENSINO TÉCNICO DE NÍVEL MÉDIO NO PERÍODO 2003-

3.4. Estatísticas da expansão do ensino técnico de nível médio no Brasil

Analisamos neste item um conjunto de estatísticas elaboradas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a partir dos dados do Censo Escolar. As estatísticas desenvolvidas pelo INEP possibilitam o levantamento de questões pertinentes à análise sobre a expansão da educação profissional. A utilização de tais dados justifica-se por se tratar de pesquisas organizadas e realizadas por um instituto governamental (INEP/MEC), que são usados como base para os projetos e ações dos governos federal, estadual e municipal, bem como para a avaliação dos mesmos.

O Censo Escolar é realizado anualmente em parceria com as secretarias municipais e estaduais de educação. Trata-se de uma pesquisa declaratória e obrigatória aos estabelecimentos privados e públicos de ensino113. Atualmente a coleta dos dados é realizada pelo sistema Educacenso114. Cabe resaltar que a cada ano podem ocorrer modificações na metodologia do Censo Escolar, portanto, ao elaborarmos séries históricas simplesmente reunindo dados de diferentes anos, como procedemos neste trabalho, as

112 Documento apresentado por Aléssio Barros, da Diretoria de Desenvolvimento da Rede Federal de

Educação profissional e Tecnológica, no II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, realizado em maio de 2012.

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Decreto nº. 6.425, de 4 de abril de 2008.

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variações podem resultar de efeitos da mudança da metodologia. O que exige que tenhamos cuidado ao elaborar conclusões a partir destes dados.

Assim como devemos considerar que estamos tratando de dados estatísticos elaborados por uma autarquia vinculada ao governo federal. Portanto, as metodologias adotadas não estão desvinculadas das expectativas em relação ao desenvolvimento educacional do país. Entretanto, ao reuni-los e ao analisá-los podemos levantar importantes hipóteses sobre as mudanças em curso no âmbito da educação profissional e tecnológica, principalmente por tratarmos de um movimento de expansão de escolas e matrículas.

Apresentamos a seguir dados relativos ao período 2001-2010, procurando construir um panorama da última década. Os dados abrangem a educação profissional técnica de nível médio e tem como foco o período 2007-2010. Apresentamos, inicialmente, as variações no número de matrículas, comparando público e privado. Num segundo momento, analisamos os dados relativos à Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

A reunião de dados referentes ao número de matrículas na educação profissional, apresentados nos Censos Escolares de 2001 a 2010, excluindo o número de matrículas no ensino técnico integrado ao médio, apresenta-nos o seguinte panorama:

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GRÁFICO 1. NÚMERO DE MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL – 2001-2010

Fonte: Censo Escolar INEP/MEC

Entre os anos de 2003 e 2006, verificamos um crescimento de aproximadamente 21% no número de matrícula, seguida por queda no ano de 2007. Já no período 2007-2010, temos um aumento de 25% nas matrículas. Se tomarmos como referência o ano de 2001, o crescimento no número de matrículas na educação profissional foi de, aproximadamente, 50%, o que significa um expressivo crescimento.

Comparando os dados levantados diretamente nos Censos Escolares e os dados apresentados pelo INEP/MEC no Resumo Técnico do Censo da Educação Básica de 2010, observamos que os números diferem. Embora não tenhamos identificado, exatamente, o porquê, levantamos a hipótese de que o Resumo agrega outros dados não contemplados no número de matrículas apresentado pelo Censo Escolar, como o número de matriculados no ensino médio integrado ao técnico nos anos posteriores a 2004.

Os dados apresentados no Resumo Técnico do Censo da Educação Básica de 2010 apontam que o número de matrículas na educação profissional chegou a 1,14 milhão. Assim como destaca que se trata de uma modalidade de ensino predominantemente urbana

462.258 565.042 589.383 676.093 707.263 744.690 693.610 795.459 861.114 924.670 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000 800.000 900.000 1.000.000 MATRÍCULAS 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

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e voltada ao oferecimento de cursos na área da indústria, saúde, agroindústria e setor de serviços. O ensino técnico de nível médio destaca-se no âmbito da educação profissional por ser oferecido predominantemente pelo setor público, diferente dos cursos de qualificação profissional, oferecidos pelo setor privado, incluindo o “Sistema S”.

Observando a Tabela 2, apresentada no Resumo Técnico 2010, temos que a educação profissional atingiu 1 milhão de matrículas já no ano de 2009. Assim como verificamos a diminuição de matrículas no ano de 2007.

TABELA 2. NÚMERO DE MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA – BRASIL 2002-2010

Ao analisar os dados sistematizados pelo Resumo Técnico de 2010 sobre as matrículas desagregadas por curso técnico, observamos que na rede pública de ensino o curso mais procurado é informática (Tabela 3), com 12,4% do total de estudantes da rede. Na rede privada (Tabela 4), destaca-se o curso de enfermagem, com 23% dos estudantes e na Rede Federal (Tabela 5), agropecuária e informática são os mais procurados, com 12,6% e 11,7% dos estudantes, respectivamente.

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Analisando os dez cursos com o maior número de matrículas na rede pública de educação profissional e tecnológica, verificamos que quatro deles (informática, administração, comércio e contabilidade) vinculam-se mais diretamente ao setor de serviços; dois deles (enfermagem e análises clínicas) à área da saúde; três deles (mecânica, eletrotécnica e edificações) à área da indústria; e um deles (agropecuária) à agroindústria.

TABELA 3. CURSOS PROFISSIONALIZANTES COM MAIOR NÚMERO DE MATRÍCULAS NA REDE PÚBLICA – BRASIL 2010

Na Rede Privada há uma pequena diferença, pois dois dos cursos com o maior número de matrículas (enfermagem e radiologia) são na área da saúde; outros dois (informática e administração) são do setor de serviços; e seis deles (segurança do trabalho, mecânica, eletrotécnica, eletrônica, química e mecatrônica) pertencem mais diretamente à produção industrial.

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TABELA 4. CURSOS PROFISSIONALIZANTES COM MAIOR NÚMERO DE MATRÍCULAS NA REDE PRIVADA – BRASIL 2010

Ao observar especificamente os cursos mais procurados na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (Tabela 5), a quantidade de matrículas no curso de agropecuária, ainda que se destaque, distancia-se do curso de informática em mil quinhentas e setenta e seis matrículas, portanto, comparativamente, a distância entre eles é pequena. Dentre os dez cursos mais ofertados na Rede Federal sete deles (edificações, eletrotécnica, mecânica, eletrônica, química, segurança do trabalho e eletromecânica) estão relacionados ao setor industrial, o que evidencia a permanência do vínculo entre as instituições federais de educação profissional e tecnológica e a formação para a indústria.

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TABELA 5. CURSOS PROFISSIONALIZANTES COM O MAIOR NÚMERO DE MATRÍCULAS NA REDE FEDERAL – BRASIL 2010

A separação dos cursos em “áreas” é um exercício arbitrário, considerando que um curso como, por exemplo, a administração e a agricultura podem levar o trabalhador a diferentes empregos, não somente no setor de serviços e à agroindústria. Optamos por esta separação procurando evidenciar os cursos relacionados à indústria, para verificarmos a vinculação entre a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica e a formação para o setor industrial, característica que tem se preservado na história destas instituições.

Entre os anos de 2002 e 2010, a Rede Federal apresentou um crescimento de 114,2% no número de matrículas, percentual mais elevado em comparação às redes estaduais, municipais e privada, assim como em comparação ao total de matrículas oferecido no período. O maior número de matrículas é oferecido na modalidade subsequente ao ensino médio, perfazendo em 2010, um percentual de 62,1% das matrículas nesta modalidade, enquanto 19% das matrículas foram no ensino técnico concomitante ao médio e 18,9% no ensino técnico integrado ao médio.

Comparando o período 2007-2010, o ensino técnico integrado teve um aumento significativo de 11,1% para 18,9%, assim como o subsequente que aumentou de 48,3%

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para 62,1%. Entretanto, o ensino técnico concomitante ao médio reduziu de 40,6% para 19%. Cabe destacar que o ensino técnico subsequente ao ensino médio é responsável pelas maiores taxas de evasão na educação profissional em comparação com as demais modalidades, entretanto, na contramão desta verificação, apresentou um crescimento maior no número de matrículas em relação ao ensino técnico concomitante, como mostra o gráfico abaixo.

GRÁFICO 2. DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE MATRÍCULAS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL – BRASIL 2007-2010

Fonte: Resumo Técnico do Censo da Educação Básica 2010 INEP/MEC

Os dados da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica apresentam outro panorama, como podemos observar no Gráfico 3. Em 2010, o ensino técnico integrado ao médio apresentou o maior número de matrículas no conjunto da rede, totalizando 46% das matrículas oferecidas, seguido pelo ensino técnico subsequente ao médio, com 38,3%, e o ensino técnico concomitante ao médio, com 15,7% das matrículas oferecidas. Se analisarmos os dados referentes ao ano de 2007, verificamos outro contexto, o ensino técnico subsequente ao médio totalizava 41,8% das matrículas oferecidas, seguido do

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ensino técnico concomitante ao médio com 33,5% das matrículas e, por fim, o ensino técnico integrado ao médio, com 24,8% do total de matrículas, como indica o gráfico abaixo.

GRÁFICO 3. DISTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE MATRÍCULAS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA REDE FEDERAL – BRASIL 2007-2010

Fonte: Resumo Técnico do Censo da Educação Básica 2010 INEP/MEC

O número de estabelecimentos de ensino da Rede Federal aumentou consideravelmente no período, como aponta o Gráfico 4, assim como grande parte dos documentos da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica SETEC/MEC. Entretanto, os números apresentados pelo Censo Escolar não equivalem àqueles apresentados nos documentos da SETEC/MEC. O Censo indica um número menor de estabelecimentos. Parece-nos que os dados apresentados pela SETEC/MEC se referem às instituições criadas no período, o que não significa que estavam em funcionamento total.

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GRÁFICO 4. NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL – 2001-2010

Fonte: Censo Escolar INEP/MEC

Os dados do Censo Escolas demonstram que o aumento no número de estabelecimentos da Rede Federal ocorreu, principalmente, no segundo mandato do governo Lula da Silva, no qual foram criadas noventa e seis estabelecimentos.

Observamos que o Censo Escolar indica que ocorreu um aumento exponencial no número de matrículas, assim como no número de instituições, em especial na Rede Federal. A questão que se coloca é em quais condições essa expansão do número de matrículas e estabelecimento ocorreu? Como se justifica a diminuição no número de matrículas no ano de 2007? Por fim, por que os cursos mais oferecidos pela Rede Federal estão concentrados na área industrial, enquanto as instituições privadas oferecem prioritariamente cursos na área da saúde?

Passamos a seguir à análise das mudanças decorrentes das reformas na educação profissional nos anos 2000 e a expansão de matrículas e instituições do ensino técnico de nível médio, no caso específico no Instituto Federal de São Paulo. A partir do qual

124 138 138 143 146 144 156 175 210 252 0 50 100 150 200 250 300 ESTABELECIMENTOS 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

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procuramos compreender a situação de uma instituição inserida no conjunto da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.

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CAPÍTULO IV – RESISTÊNCIA E CONFORMAÇÃO NA REFORMA E NA