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Breve historial das Rádios comunitárias Administradas pelo Estado

PARTE III. ENQUADRAMENTO TEÓRICO, CONCEPTUAL E CONTEXTUAL

4. Comunicação pública: uma estratégia para a comunicação Municipal

4.6. O panorama da radiodifusão comunitária em Moçambique

4.6.1. Breve historial das Rádios comunitárias Administradas pelo Estado

As rádios comunitárias em Moçambique são geridas por vários segmentos da sociedade civil, do Estado e religiosas.Como advoga a UNESCO, das Rádios Comunitárias existentes, 61 são geridas pelo Estado, 51 por associações constituídas nas próprias comunidades, oito rádios pela igreja católica e uma estação é gerida por um

Conselho Municipal (UNESCO, 2004:5)47.

As 61 rádios detidas pelo Estado são administradas pelo Instituto de Comunicação

Social (ICS)48, uma instituição de comunicação social criada pelo governo Moçambicano

em 1989 para promover a comunicação e o desenvolvimento rural. Esta instituição estava

subordinada, aquando da sua criação, ao extinto Ministério da informação49. De acordo

com o Decreto governamental n° 59/2004 de 8 de Dezembro de 2004 aprovado pelo Conselho de Ministros de Moçambique que reajusta a natureza e atribuições do Instituto de Comunicação Social, no seu artigo 1, número 1, “oInstituto de Comunicação Social criado pelo Decreto n° 1/89 de 27 de Março de 1989 é uma instituição pública de âmbito nacional, dotado de autonomia administrativa, que tem por objectivo principal a comunicação para o desenvolvimento das zonas rurais”. Já no seu número 2, afirma que o Instituto de Comunicação Social subordina-se ao Director do Gabinete de informação (GABINFO) que é responsável pela nomeação do Director Geral da Instituição. Nesta perspectiva, de acordo com o Decreto governamental n° 59/2004 de 8 de Dezembro, no                                                                                                                

47 UNESCO (2004), Diretório das Rádios Comunitárias de Moçambique-Maputo

48 Essa administração é exercida pelo Departamento de rádios e televisões Comunitárias a quem compete: a. “Explorar um serviço piloto de rádio e televisão que sirva de base para a montagem e expansão das rádios e televisões comunitárias; b. Realizar acções de formação para os gestores e operadores das rádios e televisões comunitárias; c. Realizar acções que garantam a participação das comunidades na gestão das rádios e televisões comunitárias; d. Coordenar e orientar o funcionamento das rádios e televisões comunitárias sob tutela do ICS.”

49 Decreto n° 1/89 de 27 de Março de 1989 do Conselho de Ministros de Moçambique (cria o Instituto de Comunicação Social)

seu artigo 3, compete ao ICS:

a. “Apoiar os projectos e programas de desenvolvimento das comunidades rurais; b “compete ao ICS desenvolver canais de radiodifusão e de imagem televisiva comunitária; c. Promover o fluxo de informação entre as comunidades locais e a nível nacional; d. Implantar e consolidar a rede de correspondentes populares”.

Para além das competências, o Decreto governamental n° 59/2004 de 8 de Dezembro de 2004, no artigo 2, atribui ao ICS:

a) “A realização da política de comunicação social definida pelo Governo para as comunidades rurais; b) A utilização combinada de meios modernos e tradicionais, em ordem a suscitar melhorias nos métodos em especial das comunidades rurais; c) A realização de experiências no domínio da comunicação social, sobre a linguagem, recepção, compreensão e retenção das mensagens; d) A implementação de programas e medidas para o aumento do nível educativo e técnico-profissional dos funcionários do ICS, de acordo com a legislação em vigor; e e) A produção, edição e difusão de material audiovisual sobre programas relacionados com os objectivos e atribuições do ICS”.

Partindo das análises legais e atribuições do ICS, pode afirmar-se que as rádios comunitárias sob sua administração têm uma grande dependência, seja na gestão, seja na programação, uma vez que estas, segundo Mário, Minnie &Bussiek (2010:59-60), são propriedades do Estado e geridas por Delegados provinciais, estes, por sua vez, são funcionários públicos com assento nos Governos provinciais. Acrescentam os autores que estas estações transmitem sobretudo informação sobre assuntos correntes e programas de desenvolvimento. No início de cada ano, o escritório-sede em Maputo emite um modelo-tipo de programação, no qual vêm alistados as principais componentes de conteúdo e o tempo de antena a ser alocado a cada uma: assuntos correntes, desenvolvimento agrário, cuidados primários de saúde (incluindo HIV/ SIDA, malária) e por ai em diante. Tendo o programa-tipo a sua frente, os Delegados Provinciais devem conceber grelhas de programas específicas para as estações sob a sua jurisdição (MÁRIO; MINNIE &BUSSIEK 2010:59-60). O mapa abaixo indica as rádios comunitárias geridas pelo ICS.

Tabela descritivadas Rádios geridas pelo Instituto de Comunicação Social (ICS) Designação da rádio Comunitária Província de emissão Apoio de Gestão Línguas de Emissão Raio de cobertura Nacedje (Macomia); Chiúre;

Girimba (Montepuez);

Minenguene (Palma) Mueda.

Cabo Delgado ICS

simakonde; emakua; Kimwane; Kiswaile e Portuguesa 60/70km

Nipepe; Mandinba; Marrupa ;Sanga; Majune; Mavago; Missinga (Metarica); Ncula (Mecula); Chimbonila.

Niassa ICS Nyanja,

Ajawa e

portugues

60/70 km

Namapa; Mossuril; Memba; Murrupala; Nacala porto; Ribaué

Namialo (Namialo).

Nampula ICS Emakua e

português

60/70 km

Licungo (Mocumba);

Chinde; Namacura;

Mangaja da Costa (Erive); Namarroi; Morrumbala; Gurué; Alto Molócué e

Muniga (Pebane);

Molumbo; Mulevale;

Mucubela.

Zambézia ICS Emakua

Portugesa; Lomué; Nharringa; Cissena Chuabo e Chewa. 60/70 km

Changara; Mutarara; Bawa (Magoé); Nknanta; Cateme

(Moatize); Ulongué

(Angonia) Zumbo.

Tete ICS Portuguesa;

Cissena Nyanja, Chindau, Chewa e chinyungue 60/70 km Marromeu; Marringué; Mwanza; Muxungue (Chibabava);

Sofala ICS Portuguesa;

Cisena e Chidau 60/70 km Sussundenga; Chipungabeira (Mossurize) Nhacolo (Tambarra);

Chitobe (Machaze); Gandua (Gondola)

Manica ICS Portuguesa;

Ciuté; Chidau; Cissena; Cichangana e Cimanica 60/70 km Inharrime; Inhasorro; Vilanculo.

Inhambane ICS Portuguesa;

Cicope;

Bitonga e

Xitshua

Xai-Xai; Chibuto; Limpopo Guija

Gaza ICS Portuguesa;

Xangana; Cicope

100 Km a

60/70 km Moamba; Ponta de Ouro

Magude Maputo Província ICS Portuguesa; Xangana e Ronga 60/70 km

Kanhaka; Ka Mpfumu Cidade da

Maputo

ICS Portuguesa;

Xangana e

Ronga

60/70 Km Total das rádios comunitárias geridas pelo ICS=61

Fonte: Levantamento feito pelo autor

Analisando as rádios comunitárias geridas pelo ICS, pode afirmar-se que estas têm uma concepção diferente da definição das rádios comunitárias que é comummente aceite, isto porque elas foram concebidas pelo Estado e obedecem um roteiro de programas que écentralmente definido. O seu gestor é nomeado pelo Delegado Provincial em representação do Director (a) Geral do ICS que é nomeado pelo Director(a) do GABINFO, isto significa que há uma certa dependência destas rádios comunitárias ao governo do dia, ou seja, pode dizer-se que estas rádios são representantes dos interesses do governo nas comunidades, os programas que são radiodifundidas não podem contrariar o pensamento do governo do dia.

Esta proposição contraste, de alguma forma, com a concepção da rádio comunitária que, segundo Jane (2013:105), é constituída pela comunidade para servir a própria comunidade. Acrescenta o autor que é um espaço no qual os membros da comunidade debatem e procuram resolver minimamente os seus problemas e concertar soluções. Na mesma linha de pensamento, Mtimde et. al. (1998:2) defendem que a rádio comunitária significa um processo em dois sentidos, envolvendo o intercâmbio de ideias das várias fontes e é a adaptação dos media para o uso das comunidades. Acrescentam os autores que a rádio comunitária facilita aos membros da comunidade o acesso à informação, educação e divertimento, ou seja, é o meio através do qual as comunidades participam como planificadores, produtores e actores e são os meios da expressão da comunidade, mas do que para a comunidade.

Na perspectiva de Jane (2013) e Mtimde (1998), a rádio comunitária deve ser da pertença da comunidade, cabendo a esta a sua gestão eprogramação.Contrariamente a

estes autores,Escudero apresenta a noção de rádios públicas locais e afirma“(…) se entiende que una radio local pública es aquella que, presupuestariamente, depende de los fundos públicos y de las recaudaciones que bajo control de la Administración se generen por otras vías. Desde una perspectiva menos economicista, la radio pública tiene como misión el servicio a la comunidad y sus intereses sociales, culturales y educativos, sin anteponer, como ocurre en la radiodifusión privada, aspectos mercantiles y especulativos” (ESCUDERO,1998:18). Por outro lado,as rádios comunitárias instaladas pelo Estado têm o papel de garantir nas comunidades o serviço de radiodifusão que esteja comprometidocom a garantia do serviço público, que se assenta na democracia, no acesso a informação e no compromisso com a formação da cidadania comunitária.Nesta perspectiva, Escudero (1998)aponta que “(…) la garantía de servicio público implica mayores compromisos y sólo puede existir cuando la actividad radiodifusora lograr situarse por encima de los intereses de mercado, cuando se busca un ascendente sobre la audiencia en beneficio del progreso, cuando se intenta el nivel útil de información de las audiencias antes que contentar o proyectar autocomplacencia. Radio competente antes que competitiva.” (ESCUDERO op. Cit.:19).

Partindo destas proposições, Escudero (op. Cit. 20) afirma que “las radios públicas locales es una arma de grande potencialidades colectivas contra la desidia, el desinterés, la falta de expectativas locales o el subproducto televisivo. Aprovechando sus capacidades sinergéticas sería necesario hablar de una “persuasión positiva” para incentivar el desarrollo local y el nivel de información en comunidades más habituadas a contemplar la realidad circundante que la suya propia. Acrescenta citando Timoteo (1989) que “el concepto de radio local lleva consigo una atención a las necesidades de la sociedad y a un nivel de participación hasta conseguir una comunicación horizontal. Comparativamente as outras formas de radiodifusão comunitária,as rádios geridas pelo Estado apresentam a vantagem de serem sustentáveis economicamente, uma vez que contam com a intervenção do Estado e, logo, recebem orçamentos públicos para o seu funcionamento.