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PARTE I. ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA PESQUISA

2. Aspectos teóricos e metodológicos da pesquisa

2.1. Natureza da Pesquisa

A pesquisa será de natureza qualitativa e quantitativa. De acordo com Goldenberg (2004:62), numa dada pesquisa pode se fazer o cruzamento entre a pesquisa qualitativa e quantitativa. Para a autora, “a integração da pesquisa quantitativa e qualitativa permite que o pesquisador faça um cruzamento de suas conclusões de modo a ter maior confiança que seus dados não são produto de um procedimento específico ou de alguma situação particular. Ele não se limita ao que pode ser colectado em uma entrevista: pode entrevistar repetidamente, pode aplicar questionários, pode investigar diferentes questões em diferentes ocasiões, pode utilizar fontes documentais e dados estatísticos.” (GOLDENBERG 2004:64). Fundamenta a autora (op.cit:63) que “enquanto os métodos quantitativos pressupõem uma população de objectos de estudo comparáveis, que

fornecerá dados que podem ser generalizáveis, os métodos qualitativos poderão observar, directamente, como cada indivíduo, grupo ou instituição experimenta, concretamente, a realidade pesquisada.

A pesquisa qualitativa é útil para identificar conceitos e variáveis relevantes de situações que podem ser estudadas quantitativamente. A premissa básica da integração repousa na ideia de que os limites de um método poderão ser contrabalançados pelo alcance de outro. Os métodos qualitativos e quantitativos, nesta perspectiva, deixam de ser percebidos como opostos para serem vistos como complementares.” (GOLDENBERG 2004:63).

Neste trabalho, a pesquisa qualitativa é “entendida como aquela que se fundamenta na discussão da ligação e correlação de dados interpessoais, na coparticipação das situações dos informantes, analisados a partir da significação que estes dão aos seus actos” (MICHEL, 2009). Acrescenta Duarte (2005) que as pesquisas qualitativas trabalham com significados, motivações, valores e crenças, e não requerem em seu uso, métodos e técnicas estatísticas, procurando intensidade nas respostas. Na mesma linha de pensamento, Gaskell (2002:68) afirma que a finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão. Acrescenta Bouer (2002:23) que o objectivo da pesquisa qualitativa é apresentar uma amostra do espectro dos pontos de vista. A pesquisa qualitativa evita números, lida com interpretações das realidades sociais.

Nesta perspectiva, nos interesse é descobrir a variedade de opiniões sobre as parcerias entre rádios comunitárias e municípios, isto é, o olhar tanto do município, como das rádios comunitárias nesse processo. Como advoga Bouer (2002:21), o que interessa na pesquisa qualitativa é a maneira como as pessoas espontaneamente se expressam e falam sobre o que é importante para elas e como elas pensam sobre suas acções e as dos outros.

Partindo deste pressuposto, a pesquisa buscou perceber, através das falas dos dirigentes autárquicos, dos gestores da área de comunicação municipal, o entendimento que têm sobre o papel da comunicação pública, comunicação municipal e participação na gestão de bens públicos municipais, com vista a gestão compartilhada, por outro lado,

buscou-se perceber o papel que os gestores autárquicos e responsáveis pela área de comunicação atribuem aos meios de comunicação comunitária enquanto entes que produzem conteúdos locais no local para os locais.

Na perspectiva da rádio, a abordagem qualitativa ajudou a perceber a concepção que os dirigentes (coordenadores), voluntários e funcionários das rádios comunitárias atribuem a comunicação comunitária enquanto instrumento de difusão de informações locais, produzidas no local para os locais e como essas informações contribuem para a gestão compartilhada de bens públicos municipais e comunitários.

A escolha deste método reside no facto de a pesquisa estar a lidar com um fenómeno social e este requerer, antes de mais, não a quantificação das opiniões, mas sim a categorização das opiniões dos agentes com vista a ter uma abordagem holista sobre a gestão compartilhada de municípios e rádios comunitárias. Como advoga Bouer (2002:22-24), a mensuração dos factos sociais depende da categorização do mundo social. As actividades sociais devem ser distinguidas antes de qualquer frequência ou percentual que possa ser atribuído a qualquer distinção. É necessário ter uma das distinções qualitativas entre categorias sociais, antes que se possa medir quantas pessoas pertencem a uma ou outra categoria. Acrescenta o autor que a pesquisa social, portanto, apoia-se em dados sociais sobre o mundo social - que são o resultado, e são construídos nos processos de comunicação.

A abordagem quantitativa que aparece no trabalho justifica-se como instrumento de controlo da perspectiva institucional tanto da rádio, como do município. Empregou-se a perspectiva quantitativa para perceber, através de questões fechadas, a avaliação que os munícipes, enquanto parte da comunidade e participante no processo de gestão das rádios comunitárias bem como dos municípios entendem a questão referente a gestão compartilhada dos bens públicos e a sua participação nessa gestão. De acordo com Bouer (2002:20), um delineamento de estudo de caso pode incorporar um questionário de pesquisa para levantamento, junto com técnicas observacionais (…).

Ao primar por esta abordagem, buscou-se perceber a opinião dos munícipes quanto a gestão compartilhada de bens públicos, isto é, o sentido que os munícipes atribuem ao processo de gestão compartilhada. Nesta perspectiva, Bouer (2002:23) afirma que a pesquisa quantitativa lida com números, usa modelos estatísticos para explicar os dados.

O protótipo mais conhecido é a pesquisa de levantamento de opinião. É correto afirmar que a maior parte da pesquisa quantitativa está centrada ao redor do levantamento de dados (survey) e de questionários. Na mesma óptica, Kauark (2010:26) afirma que a pesquisa quantitativa é aquela que traduz em números opiniões e informações para classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão).

2.2.Instrumentos de colecta de dados