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Comunicação Municipal como estratégia para a gestão compartilhada dos

PARTE III. ENQUADRAMENTO TEÓRICO, CONCEPTUAL E CONTEXTUAL

4. Comunicação pública: uma estratégia para a comunicação Municipal

4.2. Comunicação Municipal como estratégia para a gestão compartilhada dos

Para o alcance dos objectivos autárquicos é necessário que se convoque uma comunicação pública autárquica que seja resultado de um processo de negociação, de participação, de diálogo e, acima de tudo, uma comunicação engajadora que consiga convocar vontades para a gestão dos municípios e das rádios comunitárias, enquanto bens públicos e organizações prestadoras do serviço público.

Em Moçambique, a questão da municipalização é recente e recente é ainda o processo da comunicação pública autárquica.

Na província de Manica, local do nosso estudo, maior parte dos municípios não têm um departamento específico de comunicação municipal, esta é desenvolvida por pessoas

que não têm formação na área de comunicação e não dominam as técnicas de comunicação municipal o que, de alguma forma, faz com que actividades, projectos e campanhas municipais não sejam do conhecimento das comunidades.

No processo de administração autárquica é preciso que as comunidades recebam informações sobre os assuntos de interesse público. Essas mensagens enviadas às comunidades servem para que estas possam ficar informadas sobre o que ocorre no município e, dessa forma, podem participar na sua gestão.

Para que o município consiga ligar administrados aos administradores é necessário que tenha uma comunicação municipal capaz de produzir um espaço de relacionamento, de intercâmbio e, sobre tudo, de uma comunicação bilateral. Nesta linha de pensamento, Alhama (2011: 25-26) afirma que:

“Los administraciones municipales se dirigen a los ciudadanos a través de procesos comunicativos y relacionales, para transmitir todo tipo de mensajes sobre la gestión pública; tales procesos se justifican desde la premisa fundamental de que el ciudadano debe estar informado de todos aquellas actuaciones e iniciativas que pueden incidir en su condición de administrado y, sin duda la comunicación pública municipal constituye, en este sentido una poderosa herramienta en manos de los equipas de gobierno que permite explicar, justificar y, en consecuencia, legitimar las decisiones políticas asumidas en cada periodo legislativo”. (ALHAMA 2011:25-26).

A lei dos municípios locais em Moçambique dota os municípios de autonomia de comunicar, informar, sensibilizar e procurar o engajamento das comunidades na sua gestão. De acordo com Moçambique (1997:4), artigo 13, sobre publicidade dos actos, na sua alínea 2, afirma que os órgãos dos municípios locais promoverão a criação de um sistema adequado de informação sobre a actividade pública autárquica.

Partindo das visões de Moçambique (1997) e Alhama (2011) pode-se afirmar que

os municípios devem ter gabinetes de comunicação39capazes de aplicar a comunicação

                                                                                                               

39 Para Alhama (2011: 31) os gabinetes de comunicação municipal tem como missão:

(...) dar a conocer a los diferentes segmentos de la ciudadanía al ente municipal, como organización que presta servicios y desarrolla actividades de diferente índole, y, por otra parte propiciar políticas de proximidad y participación ciudadana a través de procesos de comunicación bidireccional, ambos, se plantean con el objetivo final de consolidar una imagen positiva que redunde en la credibilidad y legitimación de la organización pública (ALHAMA 2011: 31).  

municipal integrada, que seja capaz de ser informativa, explicativa, engajadora e, acima de tudo, uma comunicação bilateral, onde município e comunidades municipais encontram-se para a troca de informações sobre a gestão dos bens públicos.

De acordo com Camilo (1998:15), entende-se por comunicação municipal o conjunto global, coerente e contínuo de acções comunicacionais concretizadas pela estrutura institucional do município, a Câmara Municipal, a Assembleia Municipal ou o Presidente da Câmara Municipal. Nesta perspectiva, Camilo afirma que a comunicação municipal ė uma actividade coerente porque se assume como um recurso que o município, enquanto instituição sócio local, utiliza para solucionar problemas e atingir objectivos concretos. Por sua vez, é uma acção contínua, na medida em que acompanha directamente as actividades públicas do município, concretizadas de uma forma permanente enquanto as necessidades e as expectativas político-administrativas que satisfazem, se fizerem sentir quotidianamente nos Concelhos.

Partindo do pensamento de Camilo (1998), pode afirmar-se que os municípios utilizam a comunicação como um instrumento de relacionamento entre as entidades municipais e as comunidades, onde os primeiros buscam informar, mobilizar, comunicar e interagir com os segundos para o alcance dos objectivos autárquicos e os segundos buscam informações que possam contribuir para a tomada de decisões sobre a gestão dos bens públicos municipais.

Nesta perspectiva, nenhum município poderá funcionar sem ter em conta a comunicação municipal. Se pensarmos o município enquanto uma entidade política, os dirigentes deste, para garantirem a sua eleição, precisam de usar a comunicação para dar visibilidade as actividades que desenvolvem no município e, assim, procurarem o engajamento e aprovação das comunidades municipais. Nesta ordem de ideias, Alhama (2010) afirma que a Comunicação Municipal é uma ferramenta poderosa que os políticos têm ao seu dispor para se darem a conhecer, explicar e legitimar as decisões levadas a cabo durante o mandato político. Diferentemente de Alhama(2010), Camilo (1998) observa que a comunicação municipal é um espaço de difusão das opiniões públicas municipais permitindo que as populações possam participar e colaborar, informalmente, nos assuntos municipais. Acrescenta que, ao pensar a comunicação municipal num duplo viés (do município aos munícipes e dos munícipes aos municípios) isso significa que a

acção dos municípios será mais realista, no sentido de estar adequada às realidades locais e ir ao encontro das necessidades e dos interesses sentidos colectivamente pelas populações.

Neste contexto, pode dizer-se que a comunicação municipal pode desempenhar dois papéis diferenciados nos municípios, de um lado, pode ser um instrumento para que a administração autárquica possa dar visibilidade e divulgar suas agendas e actividades para o conhecimento das comunidades autárquicas, por outro, pode ser um instrumento de participação das comunidades na gestão municipal.

Analisando estas duas facetas pode referir-se que a comunicação municipal está tanto ao serviço da administração autárquica, como ao serviço das comunidades autárquicas. Partindo destas acepções, Camilo (1998:16-22) afirma que a Comunicação Municipal assume três vertes:

1. “A comunicação municipal enquanto informação, nesta vertente o objectivo principal da comunicação municipal é o da “publicidade”, no sentido de uma difusão pública, isto é, da afixação ou publicação obrigatória por lei, das decisões dos órgãos municipais, bem como dos respectivos titulares, destinadas a ter eficácia externa nos Concelhos. Acrescenta o autor que nesta vertente a comunicação municipal é constituída por actividades específicas através das quais o município, composto por um aparelho político ou administrativo, se vê confrontado com necessidade de explicar/justificar a sua acção ou de sensibilizar os munícipes para a concretização de determinados objectivos. Deste modo, as metas da informação municipal não são só as da notoriedade referente a uma publicidade legal e deliberativa, mas também, as da divulgação e da sensibilização;

2. A comunicação municipal na vertente da comunicação política tem por objectivo a legitimação dos critérios políticos subjacentes às opções administrativos dos municípios ou às actividades concretizadas pelos autarcas. A comunicação política municipal, entendendo-se como uma actividade dialógica essencial para a concretização de uma participação democrática e pluralista. (...) Neste contexto, a dimensão política da comunicação municipal, tecnicamente apoiada por meios de comunicação social local (imprensa e rádio) assume-se, antes de mais, como um dispositivo de expressão de uma opinião pública municipal que emerge das próprias sociedades locais para os órgãos municipais e;

3. Quando se fala da vertente simbólica da comunicação municipal o município é concebido como um espaço em torno do qual, se articulam determinadas interacções sociais e onde, também, existem expectativas específicas, necessidades, atitudes, valores locais e estilos de vida próprios. De acordo com o autor nesta vertente se reproduz uma certa identidade sociocultural-local que é entendida como um conjunto de significações cognitivas, afectivas e avaliativas exclusivamente sobre as realidades locais, independentemente do seu tipo: económico, social, ético, estético e político”. (CAMILO 1998:16-22).

Partindo dos princípios levantados por Camilo (1998), pode depreender-se que os municípios precisam de ter uma comunicação municipal estratégica capaz de dar visibilidade e notoriedade as suas actividades, problemas, campanhas, objectivos com a finalidade de buscar o engajamento, comprometimento e participação das comunidades municipais na sua gestão.

Por outro lado, Camilo (1998) mostra que não bastam só a visibilidade e a notoriedade autárquica, é necessário que a comunicação municipal seja capaz de abrir espaço para o diálogo e a participação das comunidades nos assuntos municipais. Nessa óptica, a comunicação municipal deve ser democrática, na medida em que possa servir aos interesses autárquicos e das comunidades.

Por fim, Camilo (1998) mostra a necessidade de a comunicação comunitária ser responsável pelo reforço da identidade sociocultural local e difusora dessa identidade perante as comunidades autárquicas. Neste sentido, os meios de comunicação comunitária, tal como a rádio comunitária, desempenham um papel importante enquanto espaços de massificação local das ideias municipais e das comunidades, por outro lado, enquanto lugares da participação na definição de políticas públicas locais.

Os municípios ao recorrerem a comunicação municipal visam alcançar o engajamento das comunidades nos propósitos autárquicos e a visibilização das actividades desenvolvidas. Nesta perspectiva, Camilo (1998:154-157) designa por objectivo comunicacional aquilo que se visa atingir com as actividades comunicacionais, para solucionar problemas locais ou atingir objectivos autárquicos concretos. Para Camilo (1998) citando Lendrevie & Brochand os objectivos da comunicação municipal apresentam três elementos, quais sejam:

1. “Intenção, entendida como aquilo que se pretende obter com a comunicação. Acrescentam os autores que existem três tipos de intenções: (a) a notoriedade; (b) a adesão e a (c) acção;

2. A proporção, segundo este elemento a definição dos objectivos comunicacionais deve ser quantificável, de forma a poderem posteriormente serem confrontados com os resultados e;

3. Prazos que tem a ver com a periodicidade das campanhas”.(CAMILO, 1998) citando (LENDREVIE e BROCHAND).

Na mesma perspectiva, Camilo (op. ct.157) afirma que os objectivos da comunicação municipal enquadram-se em três categorias diferentes, quais sejam: (1) o aconselhamento, cuja intenção comunicacional é a acção no sentido de sensibilizar as populações para a concretização de determinadas condutas colectivas; (2) a informação, cuja intenção é a notoriedade, na qual se procuram concretizar valores da publicidade; e (3) a promoção dos valores democráticos, cuja intenção é a adesão a consensos locais colectivos e participativos.

Partindo destas visões pode se afirmar que a comunicação pública municipal é de extrema importância para a vida dos municípios e das comunidades autárquicas, uma vez que serve de elo entre administradores e administrados (comunidades autárquicas) enquanto partes integrantes do sistema autárquico. Por outro lado, as parcerias entre rádios comunitárias e municípios para a gestão compartilhada só pode tomar corpus onde as comunidades têm acesso a informação para a sua inserção na gestão municipal. Esta comunicação pública autárquica também será responsável em ligar o município as rádios comunitárias com vista a publicitação, informação, visibilidade das actividades, projectos e demandas municipais e abrir espaço para a participação das comunidades municipais na sua gestão.

4.3.Da comunicação comunitária às rádios comunitárias: uma estratégia para a mobilização comunitária

Para falar da comunicação comunitária e das rádios comunitárias é necessário antes perceber que estas duas entidades provêm da comunicação popular alternativa. Para Festa (1986: 25; 1984: 169-170), a comunicação popular e alternativa nasce a partir dos

movimentos sociais, mas sobretudo da emergência do movimento operário e sindical, tanto nas cidades, como no campo e se refere ao modo de expressão das classes populares. Kaplún (1985: 17) advoga que na comunicação popular e alternativa as mensagens são produzidas para que o povo tome consciência da sua realidade ou para suscitar uma reflexão, ou ainda para gerar uma discussão. Gimenze (1979: 60) afirma que a comunicação popular indique a quebra da lógica da dominação que e se dá a partir

de cima “para o povo”40, mas a partir do povo “para o povo, do povo para os

dirigentes”41, compartilhando dentro do possível seus próprios códigos. Portanto, os meios de comunicação serão assim concebidos como instrumentos de educação popular, como alimentadores de um processo educativo e transformador.

É neste cenário que irá nascer a comunicação comunitária que, de acordo com Deliberador & Vieira (1979:60), significa o canal de expressão de uma comunidade (independentemente do seu nível socioeconómico e território), por meio dos quais os próprios indivíduos possam manifestar seus interesses comuns e suas necessidades. De ser um instrumento de prestação de serviços e formação do cidadão, sempre com a preocupação de estar em sintonia com os temas da realidade local (DELIBERADOR & VIERA 2005:8).

Por outro lado, Peruzzo (2004) afirma que a comunicação comunitária se caracteriza por processos de comunicação baseados em princípios públicos, tais como, não ter fins lucrativos, propiciar a participação activa da população, ter propriedade colectiva e difundir conteúdos com a finalidade de educação, cultura e ampliação da cidadania. Em última instância, realiza-se o direito à comunicação na perspectiva do acesso aos canais para comunicar. Trata-se não apenas do direito do cidadão à informação, enquanto receptor – tão presente quando se fala em grande media -, mas do direito aos meios de comunicação na condição de emissor e difusor de conteúdos. E a participação activa do cidadão como protagonista da gestão e da emissão de conteúdos o que propicia a constituição de processos educomunicativos, contribuindo dessa forma para o desenvolvimento do exercício da cidadania (PERUZZO, 2004).

                                                                                                               

40Grifo nosso.

Partindo das visões de Festa (1986, 1984), Kaplún (1985), Gimenze (1979), Peruzzo (2004), Deliberador & Vieira (1979), pode perceber-se que, na gestão municipal, é necessário se pensar na comunicação comunitária, enquanto essa comunicação produzida do “munícipe para o município, e vice-versa” tendo em conta a simetria comunicacional, onde tanto município, como comunidades municipais têm direito a palavra.