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PARTE III. ENQUADRAMENTO TEÓRICO, CONCEPTUAL E CONTEXTUAL

4. Comunicação pública: uma estratégia para a comunicação Municipal

4.1. Comunicação pública

A comunicação pública é de extrema importância para o desenvolvimento das instituições públicas e da mobilização das comunidades ao engajamento na sua gestão. A comunicação garante que dirigentes e dirigidos tenham direito à informação que lhes

possibilita a tomada de decisões e participação36 na gestão de bens públicos.

                                                                                                               

36Matos (2011:45) advoga que a comunicação pública exige, portanto, a participação da sociedade e de seus segmentos: não apenas como receptores da comunicação do governo, mas principalmente como produtores activos no processo comunicacional. Assim, são também actores, na comunicação pública a sociedade, o terceiro sector, a media, o mercado, as universidades, as instituições religiosas e os segmentosa que se tem negado reconhecimento- estejam eles vinculados ou não a instituições ou associações formais. Acrescenta o mesmo autor que a determinação do conteúdo da comunicação pública, seja ela local ou não, é orientada pelo ideal normativo de referências convencionais, tais como: interesse público, o direito à informação, a busca da verdade e da responsabilidade social pelos meios de

De acordo com Zémor (1995), a comunicação pública é a comunicação formal que diz respeito à troca e à partilha de informações de utilidade pública, assim como à manutenção do liame social, cuja responsabilidade é incumbência das instituições públicas. Acrescenta o mesmo autor que as finalidades da comunicação pública não devem estar dissociadas das finalidades das instituições públicas e suas funções são de:

1. informar (levar ao conhecimento, prestar conta e valorizar);

2. ouvir as demandas, as expectativas, as interrogações e o debate público; 3. contribuir para assegurar a relação social (sentimento de pertencer ao

colectivo, tomada de consciência do cidadão enquanto actor); e

4. acompanhar as mudanças, tanto as comportamentais, quanto as da organização social.

Na mesma perspectiva, Alhama (2016:49) afirma que a comunicação publica é “(…) toda aquella actividad que se manifiesta como interacción comunicativa-relacional bidireccional, establecida entre la Administración y los ciudadanos mediante mensajes dotados de significados heterogéneos, objeto de comunicación, a través de diferentes medios-interpersonales, colectivos, colectivos de masa y telemáticos (…).” (ALHAMA 2016:49).

Para Duarte (2011:126), a comunicação pública se refere à interacção e aos fluxos de informação e de interacção vinculados a temas de interesse colectivo. Nesta perspectiva, a comunicação pública inclui tudo o que está relacionado com o aparato estatal, as acções governamentais, os partidos políticos, o poder legislativo, o judiciário, o terceiro sector, as instituições representativas, o cidadão individualmente e, em certas circunstâncias,as acções privadas. Acrescenta o mesmo autor que a comunicação pública se ocupa da viabilização do direito social colectivo e individual ao diálogo, à informação e expressão                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

comunicação (MATOS, 2011:46). Na mesma perspectiva Alhama (2010) defende que; “ la función de

comunicación pública no consiste simplemente en informar, sino que debe servir como instrumento para asegurar la participación de los ciudadanos en la vida pública y hacerlos responsables de sus elecciones personales dentro de un contexto democrático”.

   

e à participação. Assim, fazer comunicação pública é assumir a perspectiva cidadã na comunicação envolvendo temas de interesse público e da sociedade, simbolizado pelo cidadão (DUARTE, 2011:127).

Brandão (2007:9) advoga que a comunicação pública é um processo comunicativo que se instaura entre o Estado, o governo e a sociedade com o objectivo de informar para a construção da cidadania. Configura assim a comunicação pública como a interacção entre o Estado e a sociedade, com vista à construção da cidadania.

Partindo das visões de Zémor (1995), Alhama (2016), Duarte (2011) e Brandão (2007), pode afirmar-se que a comunicação pública se instaura no relacionamento entre Administrados e administradores, onde as informações produzidas devem ser resultado da participação de todas as partes e devem espelhar os seus interesses, num espaço onde deve reinar o equilíbrio de interesses entre as partes para uma gestão compartilhada de bens públicos. Como observa Duarte (2007);

Comunicação pública, então, deve ser compreendida com sentido mais amplo do que dar informação. Deve incluir a possibilidade de o cidadão ter pleno conhecimento da informação que lhe diz respeito, inclusive aquela que não busca por não saber que existe, à possibilidade de expressar suas posições com a certeza de que será ouvido com interesse e a perspectiva de participar activamente, de obter orientação, educação e diálogo. (DUARTE, 2007:3).

Partindo das definições acima, pode afirmar-se que a comunicação pública deve

ocorrer numa esfera pública 37 democrática, onde tanto conselho, como rádios

                                                                                                               

37De acordo com Habermas (2003: 40), o surgimento de uma esfera pública significa a emergência de um espaço, no qual, assuntos de interesse geral seriam expostos, mas também controvertidos, debatidos, criticados, para, então, dar lugar a um julgamento, síntese ou consenso. Como decorrência, quanto mais assuntos forem trazidos para discussão, mais julgamentos acerca da realidade social existirão. Acrescenta o autor que, quando um tema ganha publicidade, isto significa que será submetido a uma avaliação pública. Nessa avaliação podem surgir conflitos sobre princípios de integração social, um espaço irrestrito de comunicação e deliberação pública, cuja extensão e cujos limites internos e externos não podem ser anteriormente estabelecidos, limitados ou restringidos. Na mesma perspectiva advoga Zémor (1995: 1) que a esfera pública é por definição aberta a todos e não deve ser opressor das liberdades, frequentemente ameaçado de serem manipulados por actores públicos, privados ou pela media. Acrescenta o mesmo autor que é não esfera pública não devem ser perdidos de vista os interesses gerais ou os direitos do Homem. Nesta perspectiva Zemor afirma que a comunicação se situa necessariamente no espaço público, sob o olhar do cidadão. Suas informações, salvo raras exceções, são de domínio público, pois assegurar o interesse geral implica a transparência. A comunicação pública ocupa, portanto, na comunicação natural da sociedade, um lugar privilegiado ligado aos papéis de regulação, de proteção ou de antecipação do serviço público. O desenvolvimento da comunicação, notadamente a do serviço público, é uma resposta à complexidade crescente das nossas sociedades; ela facilita a busca do interesse geral que resulta de uma arbitragem difícil entre interesses singulares e categorias. A comunicação pública responde a uma busca de

comunitárias disponibilizam informações que possam contribuir para que as comunidades municipais possam tomar decisões e participar na gestão dos bens públicos municipais.

De acordo com Lopez (2011:64-65), a comunicação é pública quando cumpre duas condições essenciais:

1. que resulte de sujeitos colectivos, ainda que estejam representados ou se expressem por meio de indivíduos; e

2. que esteja referida à construção do que é público. Afirma o autor que esta comunicação é inclusiva e participativa, cuja vocação não pode estar a serviço da manipulação de vontades ou de eliminação da individualidade, características da comunicação fascista. Trata-se de uma comunicação eminentemente democrática, pela profundidade de sua natureza e por sua vocação.

Nesta perspectiva, Lopez (op.cit.: 65) aponta que a comunicação pública abarca cinco dimensões, a saber: (1) política, quando a comunicação pública está demarcada por processos comunicativos relacionados com a construção de bens públicos e propostas políticas; (2) mediática, quando a comunicação pública ocorre no cenário dos meios, (...) orientada para a gestão da informação e a criação de agenda pública; (3) estatal, quando tem a ver com interacções comunicativas entre governo e sociedade. (...) a comunicação estatal é pública não porque se dá a partir de uma instituição pública, mas porque, pela própria definição, corresponde ao que envolve todos os actores sociais e remete ao interesse comum representado e gestionado pelos governos; (4) organizacional, contrariamente à suposição de que “público” somente diz respeito ao governo, se entendemos que uma organização privada é um cenário no qual circulam mensagens e interesses de grupos que lutam por predominar e impor seus sentidos, é claro que em seu interior há uma “esfera pública” particular. A população de uma organização é o conjunto de seus integrantes, sendo ela marcada por compreensões, imaginários, códigos de                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

significação, bem como a uma necessidade de relação constante entre o poder público e a sociedade civil.

comportamentos, práticas, instâncias e benefícios de interesse colectivo. Por isso, é possível falar de comunicação pública em uma corporação ou em uma empresa privada; e (5) da vida social, são todas aquelas interacções comunicativas, espontâneas ou não, dos movimentos e das organizações sociais, nos quais interagem grupos ou colectividades e se jogam apostas de interesse público colectivo.

No processo de relacionamento entre municípios, rádios comunitárias e comunidades, a comunicação municipal assume um papel importantíssimo, pois funciona como elo entre as organizações que oferecem serviço de interesse público e as

comunidades ou públicos que atende38. Assim, pode afirmar-se que a comunicação

pública não se baseia apenas na informação, tem como função primordial abrir espaço para um processo negocial, inclusivo que visa criar um lugar de interacção entre administrados e administradores, um espaço onde a participação das comunidades é importante para o alcance dos objectivos tanto dos municípios, como das rádios comunitárias.

Por outro lado, pode dizer-se que a aplicação efectiva da comunicação pública por parte dos municípios e das rádios comunitárias pode abrir espaço para a participação das comunidades nos debates sobre temas de interesse público autárquico. Esta comunicação deve supor uma relação tripartida, isto é, deve abrir espaço para que tanto o município, quanto as rádios comunitárias, assim como as comunidades municipais, tenham direito à palavra na definição de políticas públicas.

Zémor (1995) afirma que a comunicação de uma instituição pública supõe uma troca de informações com um receptor que é também mais ou menos emissor. Na verdade, é a característica activa do receptor que estabelece a comunicação. A passividade pressupõe um distanciamento ou uma fascinação frente à autoridade do emissor público; acrescenta que,

“É justamente por causa dessa complexidade que os serviços oferecidos ao usuário público não podem ser reduzidos a um produto descrito em um catálogo

                                                                                                               

38Escudero (1998:20) citando Miller (1987) afirma que “al margen de las gratificaciones personales, la radio, como forma de comunicación pública, se adapta de manera muy especial a las necesidades de las pequeñas comunidades. Y es esta función de la radio local, lo que con frecuencia ha atraído a los poderes públicos (…).

ou exposto em uma vitrine. Os casos apresentados em uma administração pública demandam um tratamento personalizado. O serviço deve ser ajustado, a aplicação das regras adaptadas ao interlocutor, os procedimentos corrigidos em seus detalhes. O serviço é, desta forma, quase que coproduzido com o usuário, o reclamante. A troca e a comunicação fazem parte integrante do serviço finalmente prestado”. (ZÉMOR, 1995).

Ainda para Zémor,

“A comunicação pública baseia sua legitimidade no receptor, ela é uma verdadeira comunicação, a autêntica, isto é, aquela praticada nos dois sentidos com um cidadão activo. A satisfação dessa condição repousa sobre a existência de uma boa relação entre as instituições públicas e seus usuários. As instituições, ao afirmar claramente sua identidade, assumem a responsabilidade pela qualidade de vida da relação. Aos decisores públicos cabe a iniciativa de informar e de fazer com que a comunicação balize os processos de decisão. O estabelecimento de uma relação depende também dos interlocutores do serviço público: acolher sugestões, escutar as questões colocadas, dar tratamento diferenciado ou segmentado. Uma vez estabelecidas as condições da comunicação entre o agente do serviço público e o cidadão, a linguagem ou o código da mensagem podem ser, assim como o conteúdo, adaptados. Essas condições práticas de acesso à informação tendem a responder à exigência de transparência dos actos públicos. Não somente os dados públicos devem ser colocados à disposição, mas também as decisões devem ser motivadas e os cidadãos consultados sobre os projectos”. (ZEMOR, 1995).

Na mesma linha de pensamento de Zémor, Duarte (2011: 127-128) afirma que ao tratar da comunicação pública, conceitos como cidadania, democratização, participação, diálogo, interesse público são chaves para a realização desta. Acrescenta o autor que são premissas da comunicação pública, mais poder para a sociedade, menos para os governos; mais comunicação, menos divulgação, menos dirigismo. Nesta perspectiva, afirma o autor que a ideia-chave é alavancar o espírito público, o compromisso de colocar o interesse da sociedade antes da conveniência da empresa, da entidade, do governante, do actor político. O objectivo central é fazer com que a sociedade ajude a melhorar a própria sociedade.

(2007) defende que a comunicação pública tem o objectivo de representar o interesse geral e, portanto, precisa “ouvir o cidadão”, pois a comunicação pública seria composta justamente pela troca e democratização das informações de interesse público.

Partindo destes pressupostos, pode concluir-se que a comunicação pública é uma ferramenta importante tanto para a gestão dos municípios, como para a gestão das rádios comunitárias, pois a sua missão é abrir espaço para uma interlocução entre os que oferecem serviços de interesse público, os agentes do Estado nas suas várias formas e as comunidades.

Ademais, para falar da comunicação municipal e o seu papel nas parcerias com rádios comunitárias com vista a gestão compartilhada dos municípios, é necessário que haja uma comunicação pública municipal, essa comunicação deve ser capaz de convocar as comunidades a se engajarem na gestão municipal, por outro lado, é necessário que hajam rádios comunitárias que praticam uma comunicação meramente pública com vista a dar voz a quem não tem voz, dar visibilidade as demandas municipais e as demandas das comunidades.

Ao abordar a questão inerente a comunicação pública fica claro que esta se desenvolve em ambientes democráticos onde tanto municípios, quantorádios comunitárias, como comunidades municipais, têm direito à palavra, não como meros receptores, mas sim como sujeitos da gestão dos bens públicos.

4.2.Comunicação Municipal como estratégia para a gestão compartilhada dos