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BREVE HITÓRICO SOBRE O CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO

O processo evolutivo no tratamento da Relação de Consumo resultou de uma grande revolução promovida no setor, por obra e responsabilidade do pragmatismo, sendo que toda a sistematização desenvolvida demonstrava nítida preocupação em disciplinar o confronto entre Fornecedor e o Consumidor, partes constituintes necessária de um binômio consumerista.

A respeito da evolução histórica da Relação de Consumo, lecionou Josimar Santos Rosa60 que para muitos, o momento inaugural encontra no Presidente Kennedy sua maior expressão, quando do envio de sua mensagem ao Congresso em 12 de março de 1962, definindo os direitos dos consumidores com os fundamentos seguintes: Os bens e serviços colocados no mercado devem ser sadios e seguros para o uso; promovidos e apresentados de maneira que permita ao consumidor fazer uma escolha satisfatória; que a voz do consumidor seja ouvida no processo de tomada de decisão governamental que determina o tipo, a qualidade e o preço de bens e serviços colocados no mercado; tenha o consumidor direito de ser informado sobre as condições de bens e serviços e ainda o direito a preços justos.

O texto pronunciado pelo presidente americano John Fitzgerald Kennedy pretendeu estabelecer os direitos dos Consumidores, visando o direito à segurança, o direito à informação, o direito de escolha e o direito de ser ouvido e consultado.

60ROSA, Josimar Santos. Relações de Consumo: A defesa dos interesses de consumidores e fornecedores. São Paulo: Atlas, 1995, p.19.

Além do texto pronunciado, vários fatores contribuíram para o desenvolvimento da regulamentação da Relação de Consumo, dentre as quais, a Organização das Nações Unidas – ONU -, em 11 de dezembro de 1969, aprovou a resolução nº 2.542, que disciplinava o processo em questão, visando assegurar o progresso e o desenvolvimento social.

Para Newton De Lucca61, os Estados Unidos devem ser considerados, os vanguardeiros na difusão do movimento ‘consumerista’ em todo o mundo.

Posteriormente, em 1973, a Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, quando da realização de sua 29ª Sessão em Genebra, enunciou os direitos fundamentais e universais do Consumidor, que por força do reconhecimento estabelecido pela International Organization Consumeirs Union (IOCU), elencaram os direitos atribuídos aos Consumidores que hoje se encontram previstos no Artigo 6º do nosso Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

Ademais, a Organização das Nações Unidas, em busca de um modelo normativo editou em 16 de abril de 1985, durante a realização de sua Assembléia Geral, a Resolução nº 39/248, sob o título de Diretrizes Para a Proteção do Consumidor. Este preceito normativo que deu a origem dos direitos básicos do Consumidor é composto por objetivos, princípios gerais, diretrizes e cooperação internacional.

Acerca da Resolução da ONU, disciplinou Josimar Santos Rosa62 que todo o aparato estabelecido pela ONU não tem uma função imperativa, mas de interação, buscando assim oferecer aos governos um conteúdo programático em condições de suprir os conflitos oriundos das relações de consumo.

61LUCCA, Newton De. Direito do Consumidor: aspectos práticos: perguntas e respostas. 2ª ed.,

Bauru: Edipro, 2000, p. 26.

62ROSA, Josimar Santos. Relações de Consumo : A defesa dos interesses de consumidores e fornecedores, p.23.

No Brasil, a Constituição Brasileira de 1988, determinou ao Estado promover na forma de lei, a defesa do Consumidor, sendo tal matéria regulada no artigo 5º inciso XXXII.

Dispõe o art. 5º, XXXII, da Constituição da Republica Federativa do Brasil:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

XXXII – o Estado promoverá na forma da lei, a defesa do

consumidor63.

Ainda sobre a defesa do Consumidor, dispõe o artigo 170,V, da Constituição Federal e artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

V – defesa do consumidor64.

(...).

Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do

consumidor65.

A Lei Federal Nº 8.078/90, que regula o Código Proteção e de Defesa do Consumidor, embora tenha sido sancionada em 11 de setembro de 1990, somente entrou em vigor em março de 1991, cujo objetivo prático visava embasar pretensões e propor soluções justas para os conflitos no mercado brasileiro, principalmente na relação entre o Consumidor e o Fornecedor.

63BRASIL, Constituição Federal. São Paulo: Editora Manole, 2003, p. 10. 64BRASIL, Constituição Federal, p. 131.

Carlos Alberto Bittar66, sobre o advento posterior da Lei nº 8.078/90, assinala que o ingresso do Código de Proteção e Defesa do Consumidor na realidade jurídica esta ínsito na linha de proteção dos valores fundamentais da pessoa humana, em sociedade ao assim afirmar:

Coerência com o espírito que presidiu a Carta de 1988, em que a dignidade da pessoa humana e a preservação de seus direitos de personalidade são as pilastras básicas, o Código vem suprir lacuna existente em nosso direito positivo, acompanhando o progresso legislativo processando a matéria, especialmente em alguns países da Europa e nos Estados Unidos.

Ada Pellegrini Grinover e Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamin67 em uma visão geral do Código de Proteção e Defesa do Consumidor apontam a necessidade de tutela legal do Consumidor ao informarem que a sociedade de consumo, ao contrário do que se imagina, não trouxe apenas benefícios para os seus autores. Muito ao revés, em certos casos, a posição de Consumidor, dentro desse modelo, piorou em vez de melhorar. Se antes Fornecedor e Consumidor encontrava-se em uma situação de relativo equilíbrio de poder de barganhar (até porque se conheciam), agora é o Fornecedor (fabricante, produtor, construtor, importador ou comerciante) que, inegavelmente, assume a posição de força na Relação de Consumo e que, por isso mesmo, dita as regras. E o direito não pode ficar alheio a tal fenômeno.

Assim, tendo em vista que o mercado, por sua vez, não apresenta mecanismos eficientes para superar a vulnerabilidade do Consumidor e nem mesmo para diminuí-la, torna-se então imprescindível à intervenção do Estado nas suas três esferas, o Legislativo, formulando as normas jurídicas de consumo, o Executivo, implementando-as, e o Judiciário, resolvendo os conflitos

66BITTAR, Carlos Alberto. Direitos do Consumidor – Código de Defesa do Consumidor. Rio de

Janeiro: Forense Universitária, 1991,p.22.

67GRINOVER, Ada Pellegrini, BENJAMIN, Antônio Herman Vasconcelos, FINK Daniel Roberto,

FILOMENO, José Geraldo Brito, WATANABE, Kazuo, NERY JÚNIOR, Nelson, DENARI, Zelmo. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: Comentado pelos Autores do Anteprojeto. 7. ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 6.

decorrentes de futuras relações.

Devido às desigualdades na Relação de Consumo criadas pela Revolução Industrial no século XVIII, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor veio com toda força regular esta desigualdade.

Assim sendo, a proteção ao Consumidor surgiu então do extraordinário desenvolvimento do comércio, sendo por isso considerado, antes de tudo, uma questão social, que interessa não só a economia mas também a administração e ao direito.

2.2 CONCEITO E OBJETIVOS DO CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO

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