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A RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO

O Consumidor há muito tempo gozava do amparo jurídico, na sua condição de comprador, através das garantias da evicção e dos vícios redibitórios, como conseqüência da obrigação da entrega do produto.

Entretanto, devido as constantes transformações sócio- econômicas na sociedade, estas garantias não lograram mais êxito, gerando uma situação de desconformidade entre a realidade vivida pela sociedade e as respostas jurídicas obtidas em matéria de consumo.

Devido a preocupação com a integridade física do Consumidor, e levando-se em conta a ineficiência dos vícios redibitórios, para resolver as inúmeras questões pertinentes à matéria de consumo, surgiu então a necessidade da adoção de um regime jurídico ligado à responsabilidade diverso do previsto no Código Civil.

Sobre a necessidade da adoção de um novo regime jurídico para regular a responsabilidade na Relação de Consumo, sustentou Domingos Afonso Kriger Filho88:

Com a expansão alcançada pelo comércio moderno, o esforço do direito tradicional no sentido de proteger os interesses econômicos dos consumidores tornou-se ineficaz, uma vez que as garantias que o mesmo outorgava – baseada unicamente na evicção e nos vícios redibitórios – surgiram e tomaram forma num ambiente bastante diferente daquele que caracteriza a sociedade moderna de consumo.

88KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A Responsabilidade Civil e Penal no Código de Proteção e Defesa do Consumidor., 2ª ed. Porto Alegre: Síntese, 2000, p. 62.

Para a doutrina, vários aspectos propiciaram a substituição, em matéria de consumo, da antiga responsabilidade fundada na teoria redibitória por uma responsabilidade mais ampla e capaz de fornecer aos Consumidores respostas mais eficientes.

Estes aspectos são, segundo Kriger89 a exigência de um vínculo contratual, em que a teoria dos vícios redibitórios, por ser vinculada ao direito contratual, torna impossível a responsabilização de todos os que atuam na cadeia de consumo; estreiteza do conceito do vício redibitório, permitindo o surgimento da responsabilidade apenas para os casos em que os defeitos ou vícios sejam de tal grau que tornem impróprio o bem para o fim destinado ou lhe diminua o valor, deixa o consumidor à mercê daqueles vícios menores; exclusão da garantia de durabilidade, em que o princípio da durabilidade não encontrando guarida na teoria dos vícios redibitórios, deixa o consumidor desprotegido naqueles casos em que os fornecedores colocam no mercado produtos ou serviços com pouca vida útil, sem informar adequadamente os adquirentes, - Insuficiência das opções satisfativas, em que poucas opções oferecidas pela teoria dos vícios redibitórios nos casos de produtos defeituosos (rejeição da coisa ou abatimento do preço) tornam insuficiente a satisfação integral do consumidor; disponibilidade da garantia, na qual a disponibilidade absoluta da garantia, permitida pela teoria dos vícios redibitórios, enseja o prevalecimento natural do fornecedor em relação ao consumidor, podendo restringir ou suprimir a sua responsabilidade através do contrato; dificuldade das provas do vício, que dificulta em muito a responsabilização do fornecedor, uma vez que, pelo sistema tradicional, compete ao consumidor à prova de que o vício é anterior à entrega do produto, coisa que somente pode ser feita através de perícia em processos judiciais dispendiosos.

A insuficiência da garantia dos vícios redibitórios, nos moldes do direito tradicional, contribuiu para a construção de uma outra teoria, que atendesse as necessidades jurídicas atuais.

89KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A Responsabilidade Civil e Penal no Código de Proteção e Defesa do Consumidor, p. 63/64.

Marcelo Kokke Gomes90, lecionou que a proteção ao Consumidor depende de uma atuação ativa do Estado, sendo de todo inviável o Estado abstencionista para a estrutura econômica atual. A história, segundo o autor, provou que a defesa do Consumidor não pode ser atingida com o livre atuar dos agentes do mercado, ou seja, o mercado por si só é insuficiente para alcançar o respeito ao Consumidor e a garantia aos seus direitos, pois existe um desequilíbrio fático e jurídico entre Consumidores e Fornecedores.

Assim, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, adotou a Teoria da Qualidade, assim denominada por Kriger, que foi instituída com o objetivo de reestruturar o sistema das garantias tradicionais sob o prisma da produção, comercialização e consumo em massa.

Ressalta-se contudo, que a adoção da teoria da qualidade não visou suprimir pelo legislador a teoria dos vícios redibitório, pelo contrário, procurou aprimorar as garantias tradicionais, a fim de que o Consumidor possa fazer frente aos problemas jurídicos impostos pelo mercado moderno, rompendo, em muitos casos, com os aspectos ligados à teoria daquelas garantias tradicionais.

Podemos dizer que a grande alteração do Código de Proteção e Defesa do Consumidor foi exatamente à substituição do sistema tradicional da Responsabilidade Civil, baseada na culpa, pelo sistema da Responsabilidade Objetiva, fundada no risco.

A adoção desta teoria pode ser facilmente observada nos artigos 12 e 14 do código, onde está expresso que o Fornecedor responde independentemente da existência da culpa.

Desta feita, se o Fornecedor aufere os benefícios com a circulação dos bens que negocia, deve juntamente arcar com os malefícios que este produto ou serviço gere. Sintetizando, o risco é o preço do lucro almejado pelo Fornecedor. Para que alguém insira na atividade econômica, recolhendo

benefícios, é necessário que responda por danos causados a terceiros. Sobre este tema menciona Marcelo Kokke Gomes91:

A Responsabilidade Objetiva do Fornecedor pelos danos que seus produtos e serviços causem ao Consumidor gera uma maior garantia a este de que sua lesão será ressarcida. Busca-se retirar a carga probatória do Consumidor.

Entretanto, compete tão somente ao Consumidor, comprovar o Dano que sofre, não sendo seu o ônus de provar o defeito que originou o Dano. Assim, cabe ao Consumidor provar o Dano e o Nexo de Causalidade entre este e o produto ou serviço utilizado, podendo o ônus da prova ser invertido.

A inversão do ônus da prova se encontra previsto no artigo 6º inciso VIII, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, ocorrendo todavia, quando for constatada pelo juiz a presença de alegação verossímil ou quando o Consumidor se apresentar como hipossuficiente.

No tocante a Responsabilidade Civil pelo fato do produto ou serviço a que menciona o artigo 12 do Código em comento, o produto ou serviço provoca um Dano não somente ao patrimônio do Consumidor, mas também a sua segurança e saúde em razão de defeito nele existente, originando a responsabilidade do Fornecedor de repará-lo independentemente de culpa.

Percebe-se que a responsabilidade por fato de produto ou serviço é um tipo de responsabilidade objetiva, caracterizando-se pelo bem jurídico atingido, que é a saúde ou segurança humana, leciona Kokke Gomes92.

Segundo Eduardo Gabriel Saad93, o defeito de um produto consiste na imperfeição que o torna inapto ao uso esperado ou desejado pelas partes.

91GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade Civil: Dano e Defesa do Consumidor, p. 60. 92GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade Civil: Dano e Defesa do Consumidor, p. 70. 93SAAD, Eduardo Gabriel. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, p. 219.

É importante destacar que equiparam-se defeito do produto ou do serviço, para os fins do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, a ausência ou insuficiência de informações sobre sua correta utilização.

Ademais, os defeitos do produto a que menciona o código, agrupam se em três classes, são elas as de fabricação que compreende a fabricação, montagem, manipulação e acondicionamento, temos a classe de concepção, que abrange o projeto, a construção e fórmulas, e por fim temos ainda a classe de comercialização que diz respeito a informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

A figura do comerciante está devidamente prevista em artigo a parte conforme menciona o artigo 13 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Sua responsabilidade é considerada como responsabilidade subsidiária, e ocorrerá sempre em que não se puder identificar o Fornecedor do produto, ou quando a identificação não for clara e precisa, além de possuir ainda a responsabilidade por ato próprio, no que tange à má conservação de produto perecível.

Para Kokke Gomes94, no que diz respeito a responsabilidade do comerciante, configurando-se a responsabilidade do comerciante pelo defeito ao vício de produto, os fornecedores serão solidariamente responsáveis pelo ressarcimento dos danos provocados, podendo posteriormente, exercer o direito de regresso. Neste sentido, a responsabilidade solidária entre fornecedores e comerciantes é uma exceção, somente se constituindo quando este interferir com sua atividade para a produção do dano.

Assim, a responsabilidade solidária somente se configurará em caso de má conservação do produto pelo comerciante, ou quando a identificação do fornecedor não for clara e precisa.

O Código de Proteção e Defesa do Consumidor, apesar de adotar a Responsabilidade Objetiva, ressalvou a responsabilidade do profissional

liberal, a qual permanece subjetiva. Desta forma, o parágrafo 4º do artigo 14 explana:

Art. 14. (omissis) (...)

§4º A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será

apurada mediante a verificação de culpa95.

Ao discorrer sobre a Responsabilidade Subjetiva dos profissionais liberais, mencionou Kriger96 que a adoção da Responsabilidade Subjetiva para os profissionais liberais se dá porque estes só podem se propor a utilizar todos os meios ao seu alcance e conhecimento para realizar o serviço contratado, o que enseja a sua responsabilidade caso estes meios não sejam utilizados adequadamente, pois tal situação caracteriza a culpa profissional.

Assim, os profissionais liberais somente serão responsabilizados por Danos causados a seus clientes, no exercício de sua profissão, em decorrência de atuação culposa, ou seja, se restar comprovado terem ocasionado Dano por imprudência, negligência ou imperícia.

Destarte, no caso da pessoa jurídica que no fornecimento de seus serviços se utilizarem profissionais liberais, as mesmas podem ser acionadas conjuntamente com estes por Danos causados a seus clientes, mas, de acordo com a sistemática legal, deverá o Consumidor prejudicado provar a Conduta Ilícita culposa do profissional em relação ao ato por ele praticado, permanecendo a Responsabilidade Objetiva das mesmas no que diz unicamente às outras atividades ligadas as suas esferas de atuação.

Por fim, tem-se ainda a responsabilidade por vício do produto e do serviço, regulado pelos artigos 18 a 25 do código.

95BRASIL, Código de Proteção e Defesa do Consumidor, p. 7.

96KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A Responsabilidade Civil e Penal no Código de Proteção e Defesa do Consumidor, p. 71.

A Seção III do código tem por objeto exatamente a esfera patrimonial do Consumidor, procurando protegê-lo dos vícios de qualidade por inadequação (artigo 18) e dos vícios de quantidade (artigo 19), esclareceu Kriger Filho 97.

Ambos os vícios, podem-se decorrer de improbidade do produto ou serviço, de diminuição de seu valor ou de disparidade informativa.

Para os mencionados artigos, o código também adotou a Responsabilidade Civil Objetiva, posto que, novamente visou garantir o Consumidor lesado.

Sobre a solidariedade dos Fornecedores no tocante a sua responsabilidade esclarece Eduardo Gabriel Saad98:

Quando o Código diz que os fornecedores são responsáveis solidariamente pelos vícios de qualidade ou de quantidade, está dizendo que eles o serão na medida em que contribuírem, por ação ou omissão, para o evento danoso.

Concluindo, o legislador instituiu a Responsabilidade Civil Objetiva como regra para chamar a responsabilidade dos Fornecedores. Por tal teoria, cabe ao Consumidor provar apenas o Nexo Causal entre o fato e o vício do produto ou do serviço e o prejuízo que sofre, para que o Fornecedor seja responsável a repará-lo.

97KRIGER FILHO, Domingos Afonso. A Responsabilidade Civil e Penal no Código de Proteção e Defesa do Consumidor, p. 78.

CAPÍTULO 3

CRITÉRIOS JURÍDICOS PARA A QUANTIFICAÇÃO DO DANO

MORAL NA RELAÇÃO DE CONSUMO

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