• Nenhum resultado encontrado

DANO MORAL: CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Nem sempre existiu a responsabilidade de se reparar o Dano Moral, mais foi superado este entendimento que negava a possibilidade de reparação do Dano Moral que repousava, do ponto de vista jurídico, sob a fundamentação de que dita reparação atentaria contra os princípios da Responsabilidade Civil.

Antonio Jeová dos Santos99, explica a fundamentação utilizada por este entendimento contrario a reparação ao Dano Moral:

A impossibilidade, segundo o entendimento não mais acolhido, ocorria porque a indenização recairia sobre algo inexistente e feita em base totalmente arbitrária e porque existia um fundamento ético para a não indenizabilidade do dano extrapatrimonial, já que era considerado imoral e escandaloso colocar preço na vida, na dor ou abrir discussão sobre quanto devem valer os sentimentos.

No mesmo sentido lecionou Luiz Antonio Rizzatto Nunes100, acerca da negativação de reparação moral ao mencionar que foi exatamente essa característica tipicamente humana de dor que impediu por seguidos anos que se pensasse em indenizar o dano moral no sentido preciso de reposição das perdas. Quando se trata de dano patrimonial o quantum indenizatório pode ser fixado de maneira simples: apura-se o valor efetivo da materialidade do dano e manda-se indenizar. O cálculo do valor dessa indenização tem, assim, uma base objetiva. O problema quanto ao dano moral era e sempre foi essa falta de objetividade e materialidade (que só existem enquanto dano físico, que – como se verá – ganha

99SANTOS, Antonio Jeová. Dano Moral Indenizável. São Paulo: Lejus, 1997, p. 32.

100NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor – Direito Material (arts. 1º a 54). São Paulo: Saraiva, 2000, p.60.

objetividade parcial na forma de dano estético). Todavia, aos poucos, passou-se a perceber que não era mais possível deixar de dar uma resposta civil ao dano moral, especialmente porque, apesar das dificuldades de fixar um quantum, não se podia – nem se pode – desprezar a existência real do dano moral. Ou, em outras palavras, não se pode deixar de considerar civilmente mais essa violação ao direito existente.

Hoje, de forma pacífica, as legislações e doutrinas modernas admitem a indenização do Dano Moral, posto que, a dignidade e a honra da pessoa não pode ser alvo fácil de desmerecimento de outras pessoas, além disso, a consciência jurídica reclama a sua proteção: a proteção ao patrimônio moral que integra o ser humano.

Embora nossa legislação assegure a reparação do Dano Moral, contudo não se encontra regulamentado o conceito específico de Dano Moral e sua abrangência, cabendo a doutrina a tarefa de formular um conceito adequado ao Dano Moral.

Primeiramente, o Dano Moral é a acima de tudo um direito constitucionalmente passível de indenização. A nossa atual Constituição da República Federativa do Brasil, regulou a matéria em seu artigo 5º, inciso V e X, que assim dispõe:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos seguintes: (...);

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

(...);

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo

dano material ou moral decorrente de sua violação101.

101BRASIL, Constituição Federal, p.8.

O Código Civil também considera ato ilícito a Conduta comissiva ou omissiva que causar dano a outrem, assegurando a indenização moral quando mencionou no artigo 186 a conduta ilícita, e no artigo 927 a Responsabilidade Civil de se reparar o Dano conforme mencionado.

E temos ainda a reparação por Dano Moral na lei que protege o Consumidor, que assim menciona:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...);

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e

morais, individuais, coletivos e difusos102;

Ressalta-se que nos artigos 12 e 14 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, ao possibilitar a reparação por Dano ocasionado, dever- se-á estender este conceito ao Dano Material e ao Dano Moral.

Segue o manifesto de Yussef Said Cahali103 sobre a reparação moral ao lecionar que é da própria lei, portanto, a previsão de reparabilidade de danos morais decorrentes do sofrimento, da dor, das perturbações emocionais e psíquicas, do constrangimento, da angústia, do desconforto espiritual por bem ou serviço defeituoso ou inadequado fornecido.

O Dano Moral, corresponde ao Dano Extrapatrimonial, conforme anteriormente analisado, onde a Conduta Ilícita de outrem pode não lhe atingir na esfera de seu patrimônio como bem material, mas sim lhe atingir naquilo que mais se preza durante a vida: a honra íntegra do ser humano perante a sociedade. O Dano Moral quando sofrido fere os valores íntimos e é configurado pela alteração do bem estar psicofísico do indivíduo.

Antônio Jeová dos Santos104 ao conceituar o Dano Moral mencionou:

O que configura o dano moral é aquela alteração no bem estar psicofísico do indivíduo. Se o ato de outra pessoa resultar

102BRASIL, Código de Proteção e Defesa do Consumidor, p.4 .

103CAHALI, Yussef Said. Dano Moral. 2. ed. atual. Amp. São Paulo:Editora Revista dos

Tribunais,1999, p. 520.

alteração desfavorável, aquela dor profunda que causa modificações no estado anímico, aí está o início da busca do dano moral.

Entre os valores íntimos atingidos pelo Dano Moral sofrido, a doutrina destaca vários, dentre eles os sentimentos que determina dor ou sofrimento físicos, inquietação espiritual, o agravo às afeições legítimas, que atenta contra a personalidade moral ou espiritual como a liberdade, dignidade, respeitabilidade, decoro, honra e reputação pessoal, o dano que provoca uma alteração psíquica, ou uma grave perturbação, o Dano que lesiona a pessoa em seus afetos ou sentimentos entre outros.

Assim, a noção do Dano Moral encontra-se vinculada ao conceito de diminuição extrapatrimonial ou lesão nos sentimentos pessoais, nas afeições legítimas ou na tranqüilidade anímica.

Humberto Theodoro Júnior105, discorrendo a respeito, destacou que em direito civil há um dever amplo de não lesar a que corresponde a obrigação de indenizar, configurável sempre que, de um comportamento contrário àquele dever de idoneidade, surta algum prejuízo injusto para outrem (Código Civil, art. 186). No convívio social, o homem conquista bens e valores que formam o acervo tutelado pela ordem jurídica. Alguns deles se referem ao patrimônio e outros à própria personalidade humana, como atributos essenciais e indisponíveis da pessoa. É direito seu, portanto, manter livres de ataques ou moléstias de outrem os bens que constituem seu patrimônio, e assim, como preservar a incolumidade de sua personalidade. É ato ilícito, por conseguinte, todo ato praticado por terceiro que venha refletir, danosamente, sobre o patrimônio da vítima ou sobre o aspecto peculiar do homem como ser moral. Materiais, em suma, são prejuízos de natureza não-econômica.

O Dano Moral é aquele que no mais íntimo de seu ser, padece quem tenha sido magoado em suas afeições legítimas, traduzidas em dores e padecimentos pessoais, já lecionou Antônio Jeová dos Santos106.

105THEODORO JÚNIOR, Humberto. Dano Moral. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 1999, p.2. 106SANTOS, Antonio Jeová. Dano Moral Indenizável, p. 28.

De acordo com o ensinamento de Carlos Alberto Bittar107, o Dano Moral corresponde a atributos valorativos, ou virtudes, da pessoa como ente social, ou seja, integrada à sociedade, vale dizer, dos elementos que individualizam como ser, de que destacam a honra, a reputação, e as manifestações do intelecto.

Na esfera do Dano Moral, atingem-se sempre os direitos subjetivos ou interesses juridicamente relevantes pelo indivíduo, que cabe à sociedade preservar e respeitar, para que possa alcançar os respectivos fins, e os seus componentes as metas postas como essenciais, nos planos individual, familiar e social.

Destaquemos ainda o conceito fornecido Luiz Antonio Rizzatto Nunes108:

Assim, o dano moral é aquele que afeta a paz interior de cada um. Atinge o sentimento da pessoa, o decoro, o ego, a honra, enfim, tudo aquilo que não tem valor econômico, mas que lhe causa dor e sofrimento. É, pois, a dor física e/ou psicológica sentida pelo indivíduo.

Igualmente merece destaque o conceito fornecido por Yussef Said Cahali109:

Segundo entendimento generalizado na doutrina, e de resto consagrado nas legislações, é possível distinguir, no âmbito dos danos, a categoria dos danos patrimoniais, de um lado, dos danos extrapatrimoniais, ou morais, de outro, respectivamente, o verdadeiro e próprio prejuízo econômico, o sofrimento psíquico ou moral, as dores, as angústias e as frustrações infligidas ao ofendido.

107BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. 3. ed. atual. Amp. São

Paulo:Editora Revista dos Tribunais,1999, p. 33-34.

108NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor – Direito Material (arts. 1º a 54). p 59.

De acordo com o doutrinador Carlos Alberto Bittar110 em sua obra mencionou que os Danos Morais podem ser das seguintes espécies: danos morais puros e danos morais reflexos.

Entende-se por Dano Moral puro, os Danos que exaurem nas lesões a certos aspectos da personalidade, configuram-se quando ocorre Dano no âmago da personalidade. Já com relação ao Dano Moral reflexo,os danos constituem efeitos ou interpolações de atentados ao patrimônio ou aos demais elementos materiais do acervo jurídico lesado, configuram-se quando o Dano extrapola a parte inicialmente atingida.

Assim, praticada uma Conduta Ilícita causadora de Dano Moral a outrem, a Responsabilidade Civil será Objetiva, isto é, será responsável a indenizar independentemente da existência de culpa, salvo a única exceção do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, referente a responsabilidade dos profissionais liberais.

No tocante a natureza jurídica da reparação do Dano Moral, há controvérsias, porém tem-se prevalecido o entendimento de duplo caráter: compensatório para o Consumidor, a vítima, e punitivo para o Fornecedor o ofensor.

Nesse sentido, os fatos lesivos a certos componentes da personalidade que produzem Danos Morais, devem ser reparados, a fim de que se faça a devida justiça.

Documentos relacionados