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2.3 SUJEITOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO

2.3.1 CONSUMIDOR

A figura do Consumidor ganhou importância nas últimas décadas, quando foi reconhecido como centro da relação econômica. Tal fato se deve especialmente ao aumento da concorrência entre empresas do mercado e a institucionalização do Estado Democrático de Direito, tendo este elevado a exigências de respeito à pessoa humana, ao passo que aquela condicionou o sucesso de cada empresa perante as concorrentes à satisfação dos Consumidores de seus produtos.

O conceito de Consumidor encontra-se previsto no artigo 2º do Código de Proteção e Defesa do Consumidor:

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas

relações de consumo72.

Embora o artigo 2º traga o conceito geral de Consumidor, contudo, não podemos limitar somente a este enunciado, haja vista que o Código em outros artigos procurou ampliar tal conceito, conforme se verifica nos artigos 17 e 29, que assim dispõem:

Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos

consumidores todas as vítimas do evento73.

(...)

Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não,

expostas às práticas nele prevista74.

A grande discussão pela doutrina, entretanto, refere-se na possibilidade da pessoa jurídica ser considerada como Consumidor, inclusive quando agem como profissionais na Relação de Consumo. Embora o artigo 2º seja taxativo no sentido de abranger não só a pessoa física mas também a pessoa jurídica como Consumidor, encontramos grandes controvérsias sobre este assunto na doutrina.

Convém primeiramente esclarecer que existem duas correntes doutrinárias que divergem especificadamente na conceituação de Consumidor e conseqüentemente, na definição do campo de abrangência do Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

A primeira delas citada por Cláudio Bonatto e Paulo Valério Dal Pai Moraes75, é a corrente denominada de finalista, devendo para esta corrente ser feita uma interpretação restrita do artigo 2º do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, estabelecendo que o Consumidor será somente aquele que, de fato e sob o ponto de vista econômico, retira do mercado de consumo determinado bem ou serviço. A segunda corrente, é a denominada maximalistas, que pretendem ampliar a adoção das regras protetivas para todos os agentes do

73BRASIL, Código de Proteção e Defesa do Consumidor, p. 7. 74BRASIL, Código de Proteção e Defesa do Consumidor, p.11.

75BONATTO, Cláudio e MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Questões Controvertidas no Código de Defesa do Consumidor: Principologia, Conceitos, Contratos, p. 72.

mercado de consumo, bastando, para tanto, que o bem ou serviço seja retirado de fato do mercado, Tal ampliação, portanto, pretenderia incluir na proteção do código pessoas jurídicas, inclusive quando agem como profissionais.

Eis o posicionamento de Cláudio Bonatto e Paulo Valério Dal Pai Moraes76, ao afastar a possibilidade da pessoa jurídica em ser considerada Consumidor:

Dessarte, entendemos que o Código de Defesa do Consumidor deve ser utilizado por aqueles que nele tenham a última guarida, pois os demais podem buscar amparo nos diplomas legais vigentes, que não foram revogados pelo CDC. Desta conclusão, depreende-se que a relação entre profissionais continua a ser regulada pelo Código Comercial, sendo que a entre não- profissional, pelo Código Civil.

Entendem estes autores, que o perigo da ampliação precipitada da abrangência das regras protetivas reside na possibilidade de ser ferido o princípio da igualdade previsto no artigo 5º, caput, da Constituição Federal, pelo qual se deve ser evitado que uma empresa, com iguais condições de litigar em relação à outra, venha a ser beneficiada com regras que afastariam a original correspondência de forças.

Embora existe esta problemática na doutrina referente a possibilidade ou não da pessoa jurídica poder ser considerada Consumidor, a lei é clara e o mencionado artigo 2º, elencou a pessoa jurídica como Consumidor na Relação do Consumo.

Voltando ao conceito de Consumidor, este sempre esteve ligado à utilização do produto ou serviço tendo em vista retirá-lo da cadeia produtiva, o que serviu para a distinção entre consumo e insumo, sendo o primeiro a utilização final, é adquirir o produto com o intuito de usufruir, e não de negociá-lo, em contrapartida, insumo seria a utilização do bem, dentro da cadeia produtiva, participando da produção de um produto ou serviço que, este sim seria

76BONATTO, Cláudio e MORAES, Paulo Valério Dal Pai. Questões Controvertidas no Código de Defesa do Consumidor: Principologia, Conceitos, Contratos, p. 72.

destinado a outrem que o adquiria com o intuito de utilizar.

O artigo 2º do código, pressupõe a existência de relação contratual entre as partes, como podemos observar nas expressões ‘adquirir’ ou ‘utilizar’. Outro aspecto a ser abordado é o de que o Consumidor pode ser pessoa física ou jurídica, devendo contudo, ficar vinculada à configuração do requisito da destinação final.

Para Maria Antonieta Zanardo Donato77 a terminologia ‘destinação final’ empregada pelo código pretende mencionar que destinatário final é aquele destinatário fático econômico do bem ou do serviço, seja ele pessoa jurídica ou física. Para a autora, não basta ser destinatário fático do produto, isto é retirá-lo do ciclo produtivo, é necessário portanto ser também destinatário final econômico, ou seja, não adquiri-lo para conferir-lhe utilização profissional, pois o produto seria reconduzido para a obtenção de novos benefícios econômicos (lucros) e que, cujo custo estaria sendo indexado no preço final do proprietário. Não se estaria, desta forma, conferindo a esse ato de consumo a finalidade pretendida qual seja: a destinação final.

O destinatário final econômico, portanto, efetivamente retira o bem ou serviço do ciclo produtivo, podendo abranger tanto pessoas físicas como jurídicas.

Consumidor, então, é aquele que adquire ou utiliza um produto ou serviço como destinatário final, ou seja, é aquele que utiliza o produto para atender a uma necessidade própria, tendo em vista a própria essência do bem.

O Código de Proteção e Defesa do Consumidor, procurou abranger no seu artigo 2º parágrafo único, a equiparação da coletividade como o Consumidor individualmente considerado.

77DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao Consumidor, Conceito e Extensão. Editora

De acordo com Cláudio Bonatto e Paulo Valério Dal Pai78:

O parágrafo único trata de situação concreta, na qual a coletividade, de alguma forma – cada um dos seus integrantes adquirindo ou se utilizando do produto ou serviço – haja intervindo nas relações de consumo.

Igualmente ao Consumidor considerado por si só, a coletividade também deverá ser o destinatário final do produto ou do serviço prestado.

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