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Breve incursão na história da imprensa valenciana: da origem aos tempos atuais

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Capítulo 2 – História da Imprensa

2.2 Breve incursão na história da imprensa valenciana: da origem aos tempos atuais

A região que corresponde à atual Valença foi historicamente habitada pelos índios Coroados, divididos em duas tribos, os Purus e os Araris. A colonização do território está também diretamente ligada à presença destes índios. No final do século XVIII, algumas fazendas surgiram junto à margem do Rio Paraíba do Sul e, como os índios daquela localidade estavam vivendo uma situação de miséria, eram comuns os ataques destes aos armazéns de alimentos das fazendas que apareceram por ali.

Diante dos saques comuns às fazendas daquela região, o então Vice-Rei do Brasil, D. Luiz de Vasconcellos e Souza, decidiu iniciar a catequese e a civilização dos índios Coroados. Esta ordem foi emitida em 1789. Aos poucos, a região foi se desenvolvendo. A partir de 1817, começaram a ser repartidas sesmarias e rapidamente o número de colonos já ultrapassava o de 120 famílias instaladas em Valença.

Em 1823, um decreto imperial elevou à condição de Vila a aldeia de Valença. No período correspondente à metade do século XIX, Valença vivia do plantio de subsistência, pecuária e um pequeno comércio. A vila torna-se cidade em 29 de setembro de 1857 e, sobretudo na segunda metade daquele século, as maiores riquezas da região passaram a ser suas enormes fazendas de café, que fizeram da cidade uma das mais importantes do país.

Já no último decênio do século XIX, Valença, antes um dos maiores produtores de café do estado, sofreu com o declínio da produção cafeeira, principalmente em virtude da falta de mão de obra. Cabe ressaltar que, até a assinatura da Lei Áurea em 1888, as fazendas deste município utilizavam trabalho escravo. Com a sanção desta lei, algumas tentativas foram feitas no intuito de suprir a falta de braços nas lavouras, como a promoção da imigração de colonos italianos22. Todavia, estes europeus não se submeteram àquelas “práticas trabalhistas” adotadas pelos senhores no trato com seus escravos. Na verdade, o que os fazendeiros queriam era continuar com o modo de produção escravo, mas os imigrantes europeus não aceitaram trabalhar nestas condições. A era do café então passou. A “Princesa da Serra” tornou-se pecuarista e laticinista.

A partir do início do século XX, Valença entrou na era industrial. Houve o aparecimento de diversas indústrias têxteis na cidade, como a Companhia Industrial de

Valença, Companhia Fiação e Tecidos Santa Rosa, e a Fábrica de Tecidos Rendas e Bordados S. A. Entretanto, hoje, muitas destas fábricas encontram-se desativadas ou já não possuem meios para competir com outras empresas deste ramo por terem se tornado obsoletas.

Este passado de pujança econômica com o café e depois com a indústria (contrastando com a decadência das últimas décadas) não pode ser desassociado das elites políticas que governaram a cidade. No século XIX, a cidade foi em grande medida comandada pelos chamados “barões do café” – momento em que os beneméritos pagavam de seus próprios bolsos muitas das instalações públicas de que o município dispunha, mas por outro lado se beneficiavam de uma série de posições privilegiadas que a ocupação dos cargos públicos lhes outorgava. Muitos destes personagens – viscondes, barões, marqueses – participaram dos núcleos centrais do poder imperial brasileiro.

Foi com recursos destas figuras, por exemplo, que o prédio onde iria funcionar a Câmara de Vereadores foi inaugurado em 1827. Todavia, foi somente no ano de 1829 que ocorreu a primeira eleição para a Câmara Municipal, cujo presidente foi o Comendador José da Silveira Vargas. A presença dos comendadores e beneméritos marca o funcionamento altamente personalizado da política local desde seus primórdios.

Esta lógica de profunda associação entre o privado e o público, cujos limites nunca foram muito nítidos, permaneceu inclusive no período republicano. No lugar dos títulos de nobreza, patentes da Guarda Nacional. A partir de 1922, as funções até então exercidas pelo presidente da Câmara Municipal passaram a ser de competência do prefeito municipal, sendo que o primeiro prefeito que Valença conheceu foi o coronel Carlos Antônio Ferraz. Como ocorreu com tantos outros que o sucederam, foi o poder econômico (elites agrárias num primeiro momento, industriais num segundo) uma marca central dos governantes da cidade.

Tal concentração de poder – político e econômico – permanece vertebrando a política local até hoje. Mesmo num ambiente democrático, as últimas décadas são caracterizadas pelo domínio de grupos políticos que gravitam em torno de poucas lideranças. Nos últimos 40 anos, todos os prefeitos foram ligados a dois grandes grupos.

Talvez por ser um assunto que possa ocasionar prejuízos tanto na vida pessoal quanto na vida profissional de um simples cidadão, devido a possíveis perseguições, há escassa (quase inexistente) documentação que trate da história política de Valença. Porém, se nos basearmos em alguns dados e em alguns depoimentos, podemos traçar um quadro com as características próprias da política desta cidade.

Primeiro, devemos levar em conta o fato de Valença ter sido eminentemente voltada para as atividades agrárias, destacando-se como grande produtora de café em seus áureos

tempos, e hoje, destacando-se pela pecuária leiteira e pela produção de laticínios. Tal fato produziu uma cidade com poderosos “coronéis”, e onde existem algumas poucas, porém influentes, famílias tradicionais que há muito estão presentes no jogo político.

Este é o caso, por exemplo, da família cujo patriarca é Luiz Antônio da Costa Carvalho Corrêa da Silva, que já foi prefeito por duas vezes, sendo que seu filho, André Corrêa, já foi vereador da cidade, já concorreu à Prefeitura de Valença, e, hoje, é deputado estadual. Além disso, é relevante mencionar que o pai de Luiz Antônio, Clóvis Corrêa da Silva, também já participou do quadro político, sendo o prefeito de Valença no ano de 1969.

Outro ponto marcante na política valenciana é a presença de líderes carismáticos, como foi Fernando Pereira Graça, que no espaço de 32 anos (1973-2005) foi vice-prefeito uma vez e prefeito quatro vezes. Fernando Graça (pecuarista), hoje falecido, deixou sua herança política para seus filhos. Fernandinho Graça, eleito como o vereador mais votado nas eleições de 2008, concorreu à Prefeitura Municipal de Valença em 2012 e teve a expressiva votação de 41,8 % da população valenciana23. Já Soraia Graça, filha de Fernando Graça, venceu as eleições de 2012 para a prefeitura de Rio das Flôres (RJ), município vizinho a Valença.

Podemos concluir então que historicamente a política de Valença pode ser caracterizada como concentrada em poucos grupos (organizados a partir de alguma liderança tradicional); com grande presença de relações patriarcalistas e clientelistas como fundamentos de vitórias eleitorais (sem claras distinções entre os espaços público e privado); e com forte personalização das disputas eleitorais.

Num ambiente assim, a relação entre os políticos e a imprensa desenvolveu-se de forma também clientelista. Quase todos os veículos foram financiados por forças políticas (governo ou oposição), com pouca capacidade de produzir uma leitura crítica da realidade para além dos interesses eleitorais. Majoritariamente, sempre houve forte dependência econômica do governo municipal, criando um panorama de promiscuidade que ainda perdura. Contudo, não podemos negligenciar o fato de que nossa pesquisa possui a característica de falar sobre um meio de comunicação que carrega uma herança muito peculiar. Apesar de sua tentativa de inovar, no que tange aos moldes da prática jornalística, o

Jornal Local traz em suas entranhas toda a historicidade própria aos meios de comunicação

que ao longo dos últimos dois séculos existiram em Valença. Apesar de estar relacionada ao

23 O candidato vencedor da eleição para prefeito de Valença, Dr. Álvaro Cabral, teve a porcentagem de 41,17% dos votos.

Vale ressaltar que a diferença de votação entre Dr. Álvaro Cabral e Fernandinho Graça foi de somente 28 votos. Informações obtidas no endereço eletrônico http://www.eleicoes2012.info/candidatos-prefeito-valenca-rj/.

contexto jornalístico brasileiro, a comunicação em terras valencianas é desenhada por aspectos muito particulares, o que exacerba a relevância em narrar a história comunicacional deste município.

2.3 Raras lembranças

A memória da atividade jornalística em Valença nos é fornecida inicialmente pela “lente” de dois autores da historiografia valenciana e suas respectivas obras. Primeiro, o ex- secretário da Câmara Municipal de Valença e pioneiro no estudo da incipiente história dos primeiros jornais do município, Luiz Damasceno Ferreira, no seu título: “História de Valença” de 1924; e depois, o jornalista em trabalho de historiador, José Leoni Iório, no livro “Valença de Ontem e de Hoje”, publicado no ano de 1952. A existência de quatro acervos, da Biblioteca Nacional; do solar da Fazenda Santo Antônio do Paiol; da Academia Valenciana de Letras; e do funcionário público federal Mário Affonso de Carvalho Carneiro, foi outro ponto determinante para a construção das reminiscências da imprensa no município (BARROS, 2012). 24

É preciso ressaltar que até pouco tempo as únicas obras literárias que se referiam à história da imprensa de Valença eram as dos autores Luiz Damasceno Ferreira e de José Leoni Iório. Mesmo assim, estas obras apenas mencionavam os nomes dos jornais e forneciam escassos dados contextualizadores do período histórico em que eles surgiram ou foram extintos. Neste sentido, é crucial por em relevo a recente obra publicada pelo jornalista Gustavo Abruzzini de Barros. Seu livro, “Imprensa valenciana: do provincianismo da era de barões e coronéis, ao engatinhar do profissionalismo do século XXI”, apresenta um panorama geral sobre a imprensa valenciana, desde o aparecimento do primeiro periódico até os nossos dias. Tal resgate da memória dos jornais de Valença será uma das bases de sustentação do parco número de fontes de informações sobre o assunto.

24Em relação aos meios de comunicação radiofônicos é importante mencionar que a primeira estação de rádio valenciana

apareceu em 1948: a ZYM7, a Rádio Clube de Valença, atualmente a Rádio Cultura de Valença (AM). Já na década de 1970 foi inaugurada a Rádio Alternativa Sul, emissora da faixa FM que está no ar até hoje (TJADER, 2003, p.49).

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