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Laços afetivos de pertencimento à flor da pele

No documento camilacarvalhogomesdasilva (páginas 40-44)

Capítulo 1 – A identidade na contemporaneidade

1.9 Laços afetivos de pertencimento à flor da pele

Começaremos a discorrer sobre esta temática usando uma citação presente no início do livro de Iório (1953). Trata-se de uma carta escrita pelo autor e endereçada aos valencianos:

Não é pequena a emoção que experimento ao ver publicada “Valença de ontem e de hoje”. Tenho razões muito humanas para dizê-lo. Um dia, em 1924, surgiu-me a figura respeitável e querida de Luiz Damasceno, valenciano de alto quilate social, que me trazia, com distinta dedicatória, um exemplar da sua “História de Valença”, publicada naquêle ano. Ao ofertar-me o precioso livro, hoje esgotado, disse-me estas palavras, textualmente: “Aí está a pequenina história da nossa terra. Agora espero que você seja o continuador dela.” Foi uma ordem que recebi do venerando e saudoso Damasceno, e, para cumpri-la, aqui trago, para os valencianos, êste ensaio que não será perfeito, porque nada o é entre os homens. Mas será de alguma utilidade, e, com certeza, um livro honesto, produto do devotamento à terra do meu berço, que tem a sua história cheia de espiritualidade, onde a pátina do tempo, que precisa ser conservada, vai dando ao ar ambiente o perfume dos belos tempos idos. Esta despretenciosa obra, é o fruto do coração, para o coração dos meus conterrâneos. Pelo menos, um manancial sincero para obra mais completa: a pedrinha de Valença no edifício do Estado, para engrandecimento do Brasil (Iório, 1953, p.5).

Nestas linhas é patente a supervalorização à cidade natal, discurso comum nos demais livros consultados, como em “Uma pequena história de Valença”, que já traz na apresentação do livro a argumentação de que o tamanho desta obra “é inversamente proporcional à magnificência de Valença, quer no campo natural, quer na ação dos seus filhos ou dos que a adotaram como terra-mãe” (TJADER, 2003, p.3). E mais à frente, Tjader diz: “A pujança da terra, o sossêgo das matas, o encanto das cachoeiras, a paz das águas tranquilas dos rios, regatos e ribeirões, o gorjeio dos seus pássaros multicoloridos, a hospitalidade do seu povo acolhedor, tudo contribui para que Valença seja conhecida” (TJADER, 2003, p.5).

Os distritos de Valença ganham espaço quando o objetivo da narrativa é aguçar o sentimento de pertencimento à terra natal através da valorização das belezas naturais da região. É o que pode ser constatado em várias partes da obra “Uma pequena história de Valença”, onde Tjader evidencia, no primeiro momento, as qualidades de Pentagna (4° distrito), local que goza de clima seco e temperado, sendo este clima o motivo da visita de muitos turistas. “Inúmeras casas de veranistas vem sendo edificadas em Pentagna que, além do seu afamado clima, oferece encantos naturais, como a bela corredeira do Rio Bonito, na sede do distrito” (TJADER, 2003, p 84).

Sobre Parapeúna, 5º distrito de Valença, o historiador salienta que “sua riqueza natural oferece condições ideais para o turismo histórico e o eco-turismo” (TJADER, 2003: p.89). Ainda segundo ele, o local pode proporcionar inúmeras atividades de lazer, como “visitas às fazendas históricas, passeios ecológicos, banhos de cachoeiras e uma boa pescaria” (TJADER, 2003, p.89).

Sobre Conservatória, 6° distrito de Valença, Tjader conta que a economia do lugar, antes chamado Santo Antônio do Rio Bonito, acompanhou Valença no plantio do café, de cana de açúcar e de outros produtos agrícolas básicos, sofrendo por um tempo grande retração econômica com o êxodo da classe produtora de café. Mas,

Aos poucos o marasmo foi desaparecendo e, ao que tudo indica, Conservatória ressurgiu com força total, oferecendo um comércio variado, uma rede hoteleira que em nada deixa a desejar no tocante ao conforto, além da fama nacional e até mesmo internacional de ser a “Cidade das Serestas” (TJADER, 2003, p.93).

No âmbito educacional também se faz presente o intuito de incentivar o amor à terra natal, sempre através de um discurso onde a cidade é destacada pelas suas boas condições de vida. Neste sentido, podemos perceber que Valença é apontada como local privilegiado, por

possuir instituições de excelente qualidade. Sobre as duas mais conhecidas escolas do município, o Colégio Estadual Theodorico Fonseca e o Instituto de Educação Deputado Luiz Pinto, Tjader diz que estes estabelecimentos de ensino tem a seu favor “um corpo docente do mais elevado preparo, razão da formação intelectual e educacional de milhares de jovens, que apresentam uma excelente formação” (TJADER, 2003, p.51). Além disso, ressalta que os referidos colégios capacitam de tal maneira seus alunos que permitem serem oferecidas a estes as melhores oportunidades no mercado de trabalho e na vida social (TJADER, 2003, p.51).

Ainda no campo cultural, Tjader segue colocando em relevo instituições que fazem de Valença um magnífico lugar para se viver. O autor cita então a Academia Valenciana de Letras, fundada em 1949, “local onde se reuniam os intelectuais, para memoráveis discursos, canto e jogos florais. A Academia Valenciana de Letras continua em atividade, respeitada e notabilizada pelo elevado nível sócio-cultural dos seus pares” [grifo meu] (TJADER, 2003, p.52). Rogério Tjader ainda comenta:

Visando um melhor desenvolvimento na área cultural, o idealista engenheiro Luiz Gioseffi Jannuzzi, organizou e fundou, em 1965, uma entidade, sem fins lucrativos, que permitisse a Valença oferecer um ensino de 3º grau aos estudantes de toda a região e circunvizinhanças (...) dando origem à “Fundação D. André Arcoverde”, que inaugurou, em 1967, a pioneira, “Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Valença”. Logo seguiram-se outras, tais como as de Direito, Economia, Odontologia, Medicina (...). Alunos de incontáveis municípios de todo o Brasil foram e vem sendo beneficiados por esta obra criada e executada por um homem que muitas vezes, sacrificou o próprio patrimônio em benefício da entidade e de um ideal. Uma vez mais, Valença oferecia sua contribuição ao desenvolvimento do Brasil” (TJADER, 2003, p.52).

Deve ser considerado o fato de procurar-se defender a ideia de que Valença, apesar de já ter passado sua época áurea, continua oferecendo ótima qualidade de vida para seus moradores:

Assim, Valença vai crescendo, acompanhando o desenvolvimento global, independentemente das crises que assolam a terra neste alvorecer de milênio (...). Mesmo com a retração no campo têxtil – que de fato criou um grave problema social e econômico –, a população vem aumentando, contribuindo para que o número de valencianos ilustres que ocupam posições de destaque no cenário fluminense e nacional prestigiem, de forma inequívoca, a elevação do nome glorioso das terras que um dia constituíram uma simples aldeia de índios coroados (TJADER, 2003, p.70).

Cabe chamar a atenção para a conclusão do livro de Tjader, onde ele argumenta que cada cidade tem alguma característica própria capaz de torná-la famosa. No caso de Valença,

o destaque fica por conta da “quantidade invulgar de pontos de atração, quer no aspecto sócio- turístico, quer no cultural, quer no econômico” (TJADER, 2003: p.99). Segundo o escritor, “seu clima ameno, seu povo hospitaleiro, alegre, feliz, uma infraestrutura de hotelaria de muito bom porte (...) fazem de Valença um município ideal para nele se viver ou, simplesmente passear” (TJADER, 2003: p.99).

Tjader segue enumerando os notáveis atributos da “Princesinha da Serra”, como por exemplo, as riquezas na área artesanal - pintura, bordado, escultura, tricô e crochê - que atraem para o município “apreciadores vindos de outras localidades, fato que faz de Valença um pólo de visitação permanente” (TJADER, 2003, p.99), ou o ambiente agradável de Valença com ruas “limpas, bem cuidadas, assim como seus atraentes jardins, muitos deles apresentando uma bela variedade de flores. Os prédios públicos apresentam bom aspecto (...)” (TJADER, 2003, p.99). E conclui:

Enfim, Valença é, por si só, um privilégio da natureza, uma dádiva de Deus e que merece ser visitada, conhecida, não apenas pelos que a procuram em busca dos seus mais variados encantos, mas e sobretudo, pelos filhos da terra, que devem dela muito ser orgulhar, pela excelência do que ela é e representa. Caminhar por Valença, representa um passeio que se faz orando, numa prece de agradecimento a Deus, pela exuberância da sua criação (TJADER, 2003, p.99-100).

Merece ser lembrado, por fim, a escolha das citações feitas por Iório no começo de sua obra. Não é difícil constatar nesta narrativa a intenção de valorizar a terra valenciana através de suas belezas naturais. Inclusive, é claramente perceptível um discurso um tanto quanto poético. Iório usa citações de Matoso Maia Forte, em “Viagens pela Província do Rio de Janeiro”, onde o autor discorre sobre as impressões do botânico francês Saint-Hilaire:

Embevecido, deixava-se levar pelo entusiasmo, frente à soberania caprichosa da vegetação incomum dêsse espaço da gleba fluminense, em sua natureza pródiga e esbanjadora de viço onde tudo respirava um ritmo solene de originalidade e de luxúria no recesso das riquezas inexploradas. A região teve sôbre si uma predestinação admirável: as bênçãos dadivosas da terra de berço, a amenidade do clima, as graças do Alto. Os brindes recebidos pela natureza farta cercaram-nos de um halo de circunstâncias propícias, admiradas pelo naturalista francês (...). Saint- Hilaire era o cientista que se tornava poeta pelos imperativos mesológicos, realizando a sua marcha triunfal pelo sertão fluminense (...) (IÓRIO, 1953, p.8). Desta maneira, concluímos a argumentação sobre a preponderância da supervalorização das terras valencianas fortemente marcadas nas obras consultadas.

No documento camilacarvalhogomesdasilva (páginas 40-44)