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2 TEORIA E PRÁTICA NO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DA

3.2 Procedimentos metodológicos

3.2.6 Breve leitura acerca da análise de conteúdo

Após a coleta de dados já explicitada, passamos para as etapas de transcrição, organização, codificação e realização da técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 2011).

Para tanto, lemos diversas vezes as entrevistas transcritas e o projeto do curso e, em seguida, interrogamos e “conversamos” com os dados, à luz da teoria, a fim de compreender o fato pesquisado.

Realizamos a análise e a discussão dos dados através da exploração do material (pré- análise) e tratamento dos resultados (inferência e interpretação), conforme indica Bardin (2011).

Num primeiro momento, ao entrar em contato com os dados, realizamos a leitura flutuante, de acordo com Bardin (2011), na qual o pesquisador se deixa invadir por

impressões e orientações simplistas. Com o tempo e a reflexão, a leitura passou a ser mais precisa em função da projeção de teorias adaptadas sobre o material e foi possível a aplicação de técnicas utilizadas sobre materiais semelhantes.

A propósito, analisamos o projeto do curso e os relatórios de estágio da seguinte forma: realizamos várias vezes a leitura e, em seguida, elaboramos uma síntese, retirando as ideias centrais para, então, articularmos com os nossos objetivos específicos: analisar a concepção, organização e estrutura do estágio e identificar se incide a intenção de promover a articulação entre os conhecimentos teóricos e práticos no decorrer do estágio.

Em contrapartida, a análise das entrevistas foi executada do seguinte modo: ouvimos as gravações diversas vezes; transcrevemos e revisamos, atentamente, o texto. Posteriormente, fizemos a leitura cautelosamente. Em seguida, realizamos a tabulação, registrando a primeira questão e todas as respostas brutas; a segunda questão e todas as respostas brutas e assim sucessivamente.

Com o material tabulado, lemos tudo novamente e cuidadosamente passamos a grifar algumas regularidades. Em seguida, escrevemos uma síntese referente ao que cada participante quis comunicar. Tomamos o cuidado de realizar a interpretação com crítica e rigor científico, procurando nos atentarmos “não [a] uma leitura a letra, mas antes realçar o sentido que figura em segundo plano” (BARDIN, 2011, p. 47). Tivemos a preocupação em compreender aquilo que está por trás das palavras sobre as quais nos debruçamos, afastando- nos dos perigos de uma compreensão simples e espontânea.

Desta maneira, passamos a ultrapassar a incerteza e fomos realizando uma análise que pode ser considerada válida e partilhada pelos outros, pois o material passou a conter “uma manifestação com índices que a análise vai fazer falar” (BARDIN, 2011, p. 99), ou seja, aos poucos passamos do material bruto à codificação e interpretação.

Nosso procedimento para a análise dos dados obtidos por meio das entrevistas consistiu numa análise de conteúdo do tipo categorial temática. Segundo Bardin (2011, p. 105), “[...] fazer uma análise temática consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição, podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido.”.

Neste tipo de análise nos atentamos para a frequência que os temas aparecem no conjunto, considerados como dados segmentáveis e comparáveis. Desse modo, fomos construindo as categorias que são uma espécie de gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem (BARDIN, 2011).

Bardin (2011) afirma que o analista é como um arqueólogo que trabalha com vestígios (no nosso caso, o documento e a transcrição das falas dos participantes), realizando uma pré- análise, explorando o material, refletindo com um determinado tempo e procedendo ao tratamento dos resultados, com inferência e interpretação crítica, num processo dialético de vai e vem.

Bardin (2011) registra ainda que a análise de conteúdo não é um método, mas sim técnicas que necessitam estar adequadas aos objetivos da pesquisa. Por essa razão, consideramos relevante relembrar ao leitor nosso objeto de estudo e objetivos, o que lhe permitirá compreenderá melhor como os dados foram analisados até o momento.

Sendo assim, reiteramos que o objeto deste estudo é a relação teoria e prática no âmbito do estágio supervisionado no curso de Pedagogia da FCT/UNESP, especificamente na formação do professor de Educação Infantil (creche e pré-escola). Deste modo, o objetivo geral da pesquisa se organizou em torno da intenção de investigar como a teoria e a prática são abordadas no estágio curricular supervisionado na Educação Infantil, realizado no referido curso. Para alcançar esse objetivo procedemos da seguinte forma:

Quadro 11 - Objetivos específicos e documentos analisados

Objetivos específicos Documentos para análise de conteúdo

• Analisar o projeto do curso de Pedagogia para investigar a concepção, a organização e estrutura do estágio, com o intuito de identificar seu papel no curso;

• Identificar se incide no projeto do curso de Pedagogia investigado a intenção de se promover a articulação entre conhecimentos teóricos e práticos no decorrer do estágio, a fim de compreender como ela é feita, como os estágios são desenvolvidos e qual a natureza do trabalho realizado e;

Projeto do curso de Pedagogia da FCT/UNESP (2012-2014)

• Investigar como e quando são promovidos, no decorrer do estágio, os momentos de reflexão e de teorização da prática pedagógica na Educação Infantil.

Transcrição das entrevistas com discentes do 4º ano (2014) Relatórios de estágio Fonte: Elaborado pela pesquisadora (2015).

É indispensável mencionar que reflexão e teorização da prática não são sinônimos, embora estejam inter-relacionados. Isto porque, como já afirmamos teorizar é iluminar, proporcionar fundamentos para pensar as práticas pedagógicas e, ao mesmo tempo, questionar a própria teoria, pois esta traz uma explicação provisória da realidade. Portanto, o professor

universitário necessita orientar o graduando no estágio para compreender as complexidades da prática à luz da teoria.

Refletir, por sua vez, é analisar, examinar, pensar nas situações vivenciadas. Conforme registrado anteriormente, Schön (2000), com base em Dewey, argumenta que, a partir da observação das práticas profissionais, podemos promover uma conversa reflexiva, o que pode oferecer contributos para tomada de decisões, análises, compreensões e troca de conhecimento e experiências.

Contudo, a simples parada para reflexão pode se constituir em uma análise superficial quando são reflexões vagas, sem teoria. Por isso, é questionando a prática com conhecimentos teóricos das disciplinas do curso de formação docente e reflexão que podemos compreender os problemas da instituição escolar e pensar em possíveis soluções.

Isto posto, no próximo capítulo, registraremos a análise e a discussão dos dados da pesquisa.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO

“É a partir da interrogação que se faz aos dados, baseado em tudo que se conhece do assunto - portanto, em toda a teoria acumulada a respeito - que se vai construir o conhecimento sobre o fato pesquisado.” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 4)

O objetivo geral desta pesquisa foi investigar como a teoria e a prática são abordadas no estágio curricular supervisionado na Educação Infantil, realizado no curso de Pedagogia da FCT/UNESP. Sendo assim, analisamos o projeto do curso de Pedagogia da referida instituição (2010-2014), três relatórios de estágio (sendo dois da pré-escola e um da creche), aplicamos um questionário com o intuito de conhecer o perfil dos estudantes do curso e entrevistamos dez discentes do 4º ano de Pedagogia (2014) da FCT/UNESP, sendo seis do período vespertino e quatro do período noturno, contendo dois participantes do sexo masculino e oito do sexo feminino.

Neste capítulo, vamos apresentar e discutir os achados da pesquisa que foram organizados em torno de quatro eixos de análise que buscamos estruturar relacionando-os, diretamente, com os objetivos específicos da pesquisa.

Sendo assim, esses eixos subdividem-se da seguinte forma:

• No eixo 1 - O Curso de Pedagogia da FCT/UNESP: breve histórico, o perfil dos estudantes e o projeto político pedagógico (2010-2014), registramos um breve histórico do curso, apresentamos sua matriz curricular, identificamos quem são e o que fazem os graduandos de Pedagogia e analisamos o projeto político pedagógico, investigando a concepção, a organização e a estrutura do estágio, a fim de identificar seu papel no curso, e também procuramos compreender se incide, neste documento, a intenção de se promover a articulação entre conhecimentos teóricos e práticos no decorrer do estágio, com o intuito de compreender como ela é feita, como os estágios são desenvolvidos e qual a natureza do trabalho realizado.

• No eixo 2 - As disciplinas de “Metodologia e prática de ensino” da creche e da pré- escola e os estágios, são abordados, inicialmente, os dados gerais (quem orientou e ministrou as disciplinas de metodologias e em quanto tempo foram realizados os estágios); em seguida, apresentamos e discutimos os dados referentes aos momentos de preparação dos alunos, buscando compreender em que medida as disciplinas referidas auxiliaram os estágios e se os formadores e também orientadores realizaram ligações entre as aulas das disciplinas em questão e os estágios.

• No eixo 3 - De que maneira foram realizados os estágios da creche e da pré-escola, identificamos a proposta de estágio, como foram realizadas as observações na instituição escolar, de que maneira o estagiário foi preparado para realizar as observações, quais as reflexões feitas acerca do trabalho pedagógico observado, como ocorreram os momentos de regência e os contributos do estágio para exercer a docência com a criança de 0 a 3 e de 4 a 5 anos de idade.

• No eixo 4 - As orientações dos estágios da creche e da pré-escola, são apresentados e discutidos como o estagiário foi orientado para desenvolver o seu estágio e se houve momentos específicos em que os formadores conversaram e acompanharam o andamento dos mesmos.

É relevante registrar que a apresentação e a análise dos dados estão permeadas por excertos das entrevistas e dos relatórios de estágio.

Por fim, acrescentamos um tópico intitulado “tecendo os fios”, no qual procuramos recuperar sinteticamente alguns dos aspectos que foram apresentados, com o intuito de tecer analogias entre os estágios (creche e pré-escola) e, principalmente, relacionar os achados da pesquisa ao rol de critérios de estágio que defendemos e elencamos ao final do capítulo dois, relacionando aos objetivos da pesquisa.

Isto posto, passamos à apresentação e à discussão dos achados da pesquisa.

4.1 Eixo 1 - O Curso de Pedagogia da FCT/UNESP: breve histórico, o perfil dos