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Em outubro de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva venceu a disputa pela sucessão presidencial. Lula tomou posse em janeiro de 2003, em meio a um cenário econômico bastante

desfavorável, marcado pela disparada do dólar, pela pressão inflacionária e pelo pessimismo dos investidores externos em relação ao futuro da economia brasileira. Os investimentos em energia elétrica sofreram queda acentuada no primeiro ano de seu governo, voltando a crescer apenas em 2005.

Seguindo a sua trajetória, em 2004, novamente o ONS foi impactado por um novo Marco Regulatório do Setor Elétrico. Foi a primeira grande revisão institucional desde as transformações ocorridas na década de 1990, que resultaram na definição das bases para a construção de um modelo competitivo e regulado. A Lei nº 9.648, de 1998, foi alterada pela Lei nº 10.848 e regulamentada pelo Decreto nº 5.081, ambos de 2004. No que diz respeito ao ONS, ela alterou a sua governança e a sua autorização deixou de ser da Aneel e passou a ser do Poder Concedente. Contudo, as atividades foram mantidas em sua totalidade, reforçando, com isso, a necessidade da autonomia na atuação das atribuições técnicas do Operador. As mudanças decorrentes da nova legislação resultaram na aprovação de um novo estatuto44 para o ONS,

conferindo-lhe uma maior autonomia e independência na condução da operação sistêmica centralizada da geração e da transmissão de energia elétrica.

É muito importante ressaltar que, com o passar dos anos, o Sistema Interligado foi crescendo, e, com isso, a sua complexidade e a do ONS também. Somente em 2009, por exemplo, os sistemas elétricos dos Estados do Acre e de Rondônia passaram a fazer parte do SIN. Em 2013, o estado do Amazonas foi integrado ao Sistema Interligado por um sistema de transmissão, sendo que sua capital, Manaus, só passou a fazer parte do SIN no ano de 2015. Apenas em 2014, foi realizada a interligação do Amapá. Atualmente, o único estado que não está integrado ao SIN é Roraima, que é considerado um sistema isolado.

Em maio de 2017, o ONS assumiu a responsabilidade pela previsão de carga e de planejamento da operação de todos os Sistemas Isolados de distribuição de energia elétrica que não estão eletricamente conectados ao SIN, seja por razões técnicas, econômicas ou ambientais. Baseiam-se, predominantemente, em usinas térmicas a partir de óleo diesel e caracterizam-se pelo elevado número de unidades geradoras de pequeno porte e pela grande dificuldade de logística de abastecimento.

44 A Aneel homologou, em 12 de agosto de 2004, por meio da Resolução Autorizativa nº 328, o novo estatuto do ONS, previamente aprovado pela Assembleia Geral do Operador. De acordo com a mensagem do Conselho de Administração, publicada no Relatório Anual 2004, foi a reafirmação das suas atribuições pelo novo modelo do Setor Elétrico Brasileiro que proporcionou as condições necessárias para que o setor evoluísse sob o aspecto da sua estrutura institucional.

Vale salientar que, apesar do ONS levar em consideração em seu planejamento as questões ambientais, no que diz respeito da sua operação propriamente dita, o que é considerado, prioritariamente, no seu planejamento e operação é a segurança: a garantia do fornecimento de energia para o país, independentemente do combustível ser ou não poluente. Por outro lado, o Operador, na medida do possível, privilegia as fontes mais limpas. Por exemplo, frente à baixa ocorrência de chuvas no país, como medida para o não acionamento de usinas térmicas, em 2017, foi efetuado um intercâmbio internacional de energia com o Uruguai, que permitiu a transferência de energia para o Brasil. Isso contribuiu para a preservação da geração hidráulica brasileira. O Operador advoga por uma matriz renovável e tem investido em estudos pré-operacionais que viabilizaram a integração de diversos empreendimentos, em especial de geração eólica.

A inovação vem impactando a operação do SIN, a partir de variáveis importantes, como: a expansão do sistema elétrico; adoção de novas tecnologias de geração, como as usinas eólicas e fotovoltaicas, cujas gerações são intermitentes; e ampliação do sistema de transmissão em alta tensão. Quanto à geração eólica, é necessário salientar que é muito complexo prever a produção de energia elétrica a partir dessa matriz. Não se sabe quando começa ou termina o vento. Essa intermitência impacta diretamente em toda a cadeia de processos do ONS, desde o planejamento, a programação até operação em tempo real.

Além dos desafios que fazem parte da mudança que está ocorrendo em escala global – crescimento das fontes renováveis não convencionais eólica e solar, geração distribuída e descentralizada, utilização de sistemas de armazenamento de energia, novo papel dos consumidores na produção local de energia e no gerenciamento de seu consumo, por exemplo – existem desafios específicos do sistema brasileiro – como a perda de regulação do sistema de reservatórios, a utilização conjunta de extensos links de transmissão em Corrente alternada e Corrente Contínua para intercâmbios de energia entre regiões, mais intermitência e sazonalidade da oferta de energia, a gestão do uso múltiplo dos recursos hídricos, dentre muitos outros – que se somam para tornar a operação do sistema cada vez mais complexa. (ONS, 2016).

Ressalta-se, também, que há muitas questões desafiadoras para a operação do SIN: a severa escassez de recursos hídricos no Brasil, que já vem acontecendo ao longo dos anos, além de outros fenômenos da natureza, como as descargas atmosféricas. Essa última questão já foi responsável por muitos blecautes, tendo em vista que os raios derrubam as linhas de transmissão. Os aspectos jurídicos também impactam diretamente no planejamento do Operador. Podemos destacar a regulação quanto à vazão de água de um reservatório, que pode ser muito reduzido, prejudicando o turismo no entorno do lago onde a usina hidrelétrica está implantada, além de atrasos nas licenças ambientais emitidas pelo Ibama, que prejudicam a

entrada de operação de uma usina, por exemplo. Todas essas questões são passíveis de multas, que, de alguma forma, sempre impactarão a sociedade.