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1.5 ACORDOS INTERNACIONAIS

1.5.1 O Pacto Global

O Pacto Global é uma iniciativa do ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para mobilizar a comunidade empresarial internacional na adoção de práticas de negócios e de valores fundamentais, internacionalmente aceitos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção descritos em 10 princípios.

Quadro 3 – Dez princípios do Pacto Global

DIREITOS HUMANOS

1.As empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente;

2.Assegurar-se de sua não participação em violações destes direitos.

TRABALHO

3. As empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva;

4.A eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório;

5.A abolição efetiva do trabalho infantil; 6.Eliminar a discriminação no emprego.

MEIO AMBIENTE

7.As empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais;

8.Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental;

9.Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis.

ANTI CORRUPÇÃO 10. As empresas devem combater a corrupção em todas as suas

formas, inclusive extorsão e propina. Fonte: Autora, 2018.

O Pacto não é um instrumento regulatório, nem código de conduta, muito menos um fórum policialesco de práticas. É uma iniciativa voluntária com diretrizes para a promoção da sustentabilidade e cidadania, por meio das lideranças corporativas. Ele foi a base fundamental para a construção da ISO 26000.

Para aderir ao Pacto, as organizações, por meio do seu presidente executivo ou do Conselho de Administração, devem assinar uma carta padrão, cujo modelo está disponível no site do Pacto Global, dirigida ao Secretário das Nações Unidas. O conteúdo da carta ratifica que as organizações adotarão em suas práticas e estratégias corporativas os 10 princípios e tornarão público às partes interessadas a adesão ao Pacto, tais como: emitir comunicados para a imprensa para tornar o compromisso público; incorporar os princípios na declaração da missão da empresa; informar os funcionários, acionistas, consumidores e fornecedores e incluir o

compromisso com o pacto global no relatório anual, com avanços obtidos, além de outros documentos publicados.

O Comitê Brasileiro do Pacto Global (CBPG), um grupo integrado por instituições participantes do Pacto Global, foi criado em dezembro de 2003. Ele é formado por membros do setor privado, sociedade civil organizada, academia e agências do Sistema das Nações Unidas no Brasil. Sua finalidade era fortalecer a agenda da responsabilidade social corporativa e do Pacto Global no Brasil. O Brasil se destacou, em julho de 2004, ao participar do UN Global

Compact Leaders Summit, na sede das Nações Unidas. Mais de 450 executivos de alto nível de

organizações signatárias do Pacto Global participaram do evento, que contou, ainda, com um grupo de representantes de governos liderados pelo Secretário Geral das Nações Unidas. A palestra magna foi proferida pelo ex-presidente do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva. O país foi representado por 27 executivos das seguintes organizações: Aché Laboratórios Farmacêuticos, Aracruz Celulose, Banco do Brasil, Bovespa, Caixa, Copagaz, Copel, Fundação Dom Cabral, Grupo Pão de Açúcar, Instituto Ethos, ISAE-FGV, MDD Papéis, Natura, Nutrimental, Petrobras, PNUD, Portela, Souza Cruz e Valor Econômico.

Fundada em 2003, a Rede Brasil do Pacto Global da ONU representa hoje a 4ª maior rede local, com mais de 700 signatários. Atuando em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), está sob a gestão de um comitê com quase 40 organizações de referência em sustentabilidade e empresas líderes em setores estratégicos para a economia brasileira. (PACTO GLOBAL, 2000).

A Rede Brasil passou de 28 signatários, em 2003, para 756, em 2018. Com um crescimento total de 2578%, média anual de 208%. A estrutura de governança migrou, em 2011, de uma parceria com o Instituto Ethos para uma atuação em sinergia com o Programa das Nações para o Desenvolvimento (PNUD), possibilitando uma ainda maior conexão com a ONU, uma das grandes premissas da proposta de valor da iniciativa.

Como explicitado, os signatários do Pacto devem publicar em seus relatórios as informações sobre a implementação e evolução dos 10 princípios, a partir de um relatório padrão, disponível no site do Pacto Global, em duas modalidades. O conteúdo deve ser, no caso do Brasil, publicado em português no site internacional do Pacto Global Nova Iorque. São duas modalidades de relatórios: Comunicação de Progresso (COP), que deve ser envidado uma vez por ano; e Comunicação de Engajamento, que precisa ser entregue uma vez a cada dois anos. Em caso de não cumprimento dos prazos, o signatário poderá ser desvinculado. Ao aderirem ao Pacto as organizações devem estar cientes dos entraves, barreiras e contratempos que se interpuserem na adoção dos princípios do Pacto, corrigindo de forma efetiva as suas estratégias para suportarem as alterações necessárias.

Evidentemente, as empresas que se tornam signatárias do Pacto Global, além da busca da legitimidade de seus objetivos, também estão visando à valorização de sua marca e reputação.

Segundo Costa et al (2006, p. 282), foi “possível constatar um alerta grave de que 51% das organizações pesquisadas estejam em débito em 2011 no que se refere ao encaminhamento das COPs”. Este resultado ameaça a efetividade e, consequentemente, a credibilidade da iniciativa, condicionada à sua transparência, acreditando-se ser de fundamental importância o acompanhamento dos avanços empreendidos através de indicadores sistemáticos e confiáveis. Uma pesquisa exploratória realizada abrangendo dez signatárias revelou que dentre as empresas que enviaram COPs, várias apresentaram documentos que não evidenciam qualquer indicador de natureza quantitativa e apenas ações pontuais são listadas. Considerando a elevada inadimplência, a percepção de que mesmo as organizações que comunicam progressos o fazem de forma incompleta evidencia a importância do desenvolvimento de estudos que possibilitem aprofundar a análise qualitativa dos documentos disponibilizados.

Sabe-se que o envio dos relatórios não afere, necessariamente, a existência de evolução das organizações. Se as informações forem desarticuladas ou relatarem ações pontuais sem indicadores quantitativos, podem não refletir a realidade. Outra questão importante é que Pacto Global tem caráter autorregulatório e voluntário e as signatárias são exclusivamente responsáveis pelas informações. Sendo assim, é pertinente fomentar uma questão: quais seriam as possíveis consequências para as organizações que veiculam informações inconsistentes, uma vez que não há avaliação da sua autenticidade? E mais: valeria o risco de divulgar ações sem bases sólidas, influenciando de forma negativas outras organizações?

Segundo Mokate (2000, apud COSTA et al, 2006, p. 281):

Contribui considerando válidos para a construção de um bom sistema de indicadores os seguintes pré-requisitos: relevância para os usuários da informação; praticidade e viabilidade; validade; confiabilidade; clareza e precisão; sensibilidade às mudanças nos objetos/comportamentos que pretende acompanhar. Tais posicionamentos evidenciam a importância de análises que identifiquem nos relatórios encaminhados pelas signatárias indicadores bem fundamentados e que se possa assim observar vários critérios dentre os identificados na literatura pertinente, tais como factibilidade, confiabilidade, cobertura, periodicidade de atualização e transparência, desejáveis para o estímulo do benchmarking de sustentabilidade empresarial.

A contribuição de Mokate remete às bases do GRI 4, em que os indicadores de sustentabilidade devem fazer sentidos para os seus stakeholders. Por outro lado, as organizações que publicam as ações realizadas, não coerentes entre o discurso e a prática, abrem possibilidades para serem questionadas e cobradas por todas as suas partes interessadas. Possibilita correção das suas fragilidades.

Um dos maiores exemplos é o caso da Petrobras, que em seus Relatórios de Sustentabilidade, nos anos de 2015 e 2016, reafirma o seu compromisso com o Pacto Global, reconhecendo e avançando em iniciativas de combate à corrupção:

Conforme publicamos no Relatório de Sustentabilidade 2014, a investigação da Polícia Federal denominada “Operação Lava Jato” focou, a partir de 2014 e no decorrer de 2015, parte de suas investigações em irregularidades envolvendo fornecedores de bens e serviços e revelou pagamentos indevidos a partidos políticos, agentes políticos e outros, incluindo alguns ex-executivos da Petrobras, que foram presos e/ou denunciados por lavagem de dinheiro e corrupção passiva (...). Durante o ano, continuamos a acompanhar e colaborar com os trabalhos da Polícia Federal, Ministério Público Federal, Poder Judiciário, Tribunal de Contas da União e Controladoria Geral da União para que os crimes e irregularidades fossem apurados e os responsáveis punidos. (...) O Programa Petrobras de Prevenção da Corrupção prevê ações contínuas, a serem periodicamente aprimoradas e disseminadas, de prevenção, detecção e correção de atos de fraude e corrupção. Investimos em melhorias e desenvolvimento de sistemas de gestão de riscos e conformidade. (PETROBRAS, 2015, p. 22)

Ainda como signatária do Pacto Global da ONU, a Petrobras continua investindo em ações que mitiguem a prática de corrupção, buscando combatê-la de forma severa. Segundo o seu Relatório de Sustentabilidade 2015, foi criado o Programa Petrobras de Prevenção da Corrupção, com vista aos seus públicos interno e externo. Destacam-se, entre outras ações efetivas de prevenção, detecção e correção de atos de fraude e corrupção: a reestruturação do seu canal de denúncias; a criação da Diretoria de Governança, Risco e Conformidade; e a capacitação interna, com conteúdo desenvolvido pela ONU, inclusive sobre liderança. De acordo com o referido Programa, a organização está proibida de fornecer contribuições a partidos ou campanhas políticas de candidatos a cargos eletivos, seja no Brasil ou em outros países.

No Pacto Global, a Petrobras participa do Grupo de Trabalho do 10º Princípio, a iniciativa Call to Action: Anticorrupção e a Agenda de Desenvolvimento Global e do Grupo Temático Anticorrupção da Rede Brasileira do Pacto. A organização também integra o Grupo de Trabalho do Pacto Empresarial pela Integridade e Contra a Corrupção.