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Para a busca de equivalentes na língua portuguesa do Brasil51, valemo-nos dos dicionários de língua portuguesa mais conhecidos, a saber: Dicionário Aulete (2008), Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa (2009) e Novo Dicionário Eletrônico

51 Apesar das discussões existentes em torno da distinção entre os termos equivalentes e correspondentes tradutórios, por razões práticas, utilizaremos ambos os termos como sinônimos neste trabalho.

Aurélio (2009). Cabe ressaltar que não há muito material especial bilíngue italiano-português que trate especificamente das EIs e que o Dicionário Martins Fontes italiano-português (BENEDETTI, 2004), dicionário bilíngue na direção italiano-português do Brasil, deu relativa contribuição à nossa pesquisa.

Na atribuição de equivalentes tradutórios em língua portuguesa, em um primeiro momento, demos prioridade àqueles que contemplassem campos semânticos que fossem próprios do corpo humano. Contudo, na ausência desses, recorremos a outras expressões idiomáticas, ainda que não figurassem lexias referentes ao corpo humano em sua constituição. Apesar disso, salientamos que, nessas duas situações, a prioridade era preservar o mesmo sentido idiomático e de uso geral no país. Nesse último aspecto, considerou-se a importância da cristalização da expressão idiomática, visto que se procurou selecionar EIs reconhecidas pela comunidade linguística como expressões usuais (ou frequentes). Além disso, optamos por realizar o trabalho segundo esses critérios, para que fosse possível compreender melhor as conotações nas culturas italiana e brasileira, como sublinha Tagnin (2005), ou o recorte que o sistema conceptual de cada uma faz. (LAKOFF; JOHNSON, 2002).

Durante esse processo de extração das expressões idiomáticas brasileiras, é válido explicitar que, de uma maneira empírica tal como no levantamento das EIs italianas, observamos todas as acepções das palavras-chave que contivessem as designações do corpo investigadas referentes à língua de chegada, a fim de analisá-las comparativamente com as do italiano. Enfatizamos que, ao final da atribuição dos equivalentes, conseguimos conferir para todas as EIs italianas ao menos um correspondente, porém, às vezes, indicamos mais de um equivalente para uma única expressão italiana. Mesmo que tenhamos procedido desse modo, a compilação de equivalentes não teve a pretensão de ser exaustiva, por isso, está fora do escopo deste trabalho apontar todos os possíveis correspondentes para as EIs investigadas.

Sabemos que, nessa relação interlínguas, nem sempre é fácil encontrar um correspondente a determinadas combinatórias, dado que estamos lidando com línguas e, consequentemente, culturas distintas, e que não é uma tradução literal que estamos buscando, ou uma simples paráfrase, mas um correspondente idiomático consagrado e em uso pela comunidade linguística. Nesse sentido, partindo do pressuposto de que o léxico é o reflexo da cultura de um povo, cada comunidade linguística tem experiências que lhe são particulares. É essa visão própria de cada língua com imagens conceptuais que podem ser iguais, semelhantes ou diferentes que almejamos compreender. Isso é corroborado por Biderman (2001, p. 109) ao reconhecer que “cada língua traduz o mundo e a realidade social segundo o seu próprio modelo, refletindo uma cosmovisão que lhe é própria, expressa nas suas

categorias gramaticais e léxicas.” Vale esclarecer que, ao empregarmos a designação “equivalência idiomática” neste trabalho, estamos pensando em “equivalentes semânticos”, cujo emprego está em consonância com a proposta de Tagnin (1988, p. 52): “identificar e analisar os idiomatismos culturais [...], sempre buscando a menor perda possível de significado.”

Para o cumprimento dessa busca, assinalamos ainda que as fontes lexicográficas do Brasil auxiliaram-nos de alguma forma; no entanto, percebemos que muitos dos equivalentes atribuídos ainda não figuram nos dicionários brasileiros. Por sua vez, sabemos que são unidades fraseológicas de uso consagrado. Acreditamos que essa evidência seja um reflexo de que os dicionários brasileiros utilizados, bem como os dicionários italianos supramencionados, embora sejam de referência importante no cenário de obras lexicográficas, por vezes, apresentam certas imprecisões em seus critérios. Em alguns casos, expressões idiomáticas que estão em uso não são registradas, como, por exemplo, a expressão italiana a petto aperto, muito recorrente na web, com o equivalente “de peito aberto”. Situação análoga aconteceu na direção inversa, a exemplo da expressão “vir do coração”, não registrada nos dicionários de língua portuguesa, mas a que chegamos ao examinarmos os exemplos da EI venire dal cuore na web, e, em seguida, ao atestarmos o uso da expressão brasileira nessa mesma base textual. Por outro lado, convém pontuar que, às vezes, não há um critério bem definido no tocante à qual palavra-chave registrar uma expressão. Em razão dessa imprecisão, uma mesma EI pode ser registrada mais de uma vez em diferentes lexias.

Outro fator concernente ao tratamento dos fraseologismos é que, por vezes, não há nenhuma indicação de que a expressão idiomática se trate de uma UF. Essa proposição pauta- se pela observação de que a maioria dessas unidades aparece ao final do verbete, enquanto algumas ocorrem juntas a outras unidades lexicais que não são idiomáticas. Ademais, algumas definições apresentadas pelos dicionários italianos não são claras, o que se alia ao fato de raras vezes terem sido encontrados exemplos das EIs nos dicionários, levando em conta que a presença de exemplos auxilia a compreensão do comportamento sintático-semântico.

Destacamos que superamos esses problemas por meio de uma leitura e análise atentas, além de recorrermos à web como corpus, tanto para verificar o contexto da expressão idiomática italiana quanto no momento de atribuir os correspondentes idiomáticos. Tendo em vista a utilidade dessa base textual, consideramos relevante tecer algumas considerações a respeito dela, conforme segue na próxima seção.