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Código Penal da vida futura

No documento O CÉU E O INFERNO. Allan Kardec (páginas 88-99)

De forma alguma, o Espiritismo vem destituído de autoridade para formular um código de fantasia. Sua lei sobre o futuro da alma foi deduzida de observações sobre o fato e se resume nos seguintes pontos:

1o – A alma ou Espírito sofre, na vida espiritual, as consequências de

todas as imperfeições de que não se despojou, durante a vida corporal. O estado feliz ou infeliz é inerente ao grau de sua purificação ou de suas imperfeições.

2o – A felicidade completa é ligada à perfeição, isto é, à purificação

completa do Espírito. Toda imperfeição é, às vezes, uma causa de sofri- mento e de privação de alegria, da mesma forma que toda qualidade adquirida é uma causa de alegria e de atenuação dos sofrimentos.

3o – Não há uma única imperfeição da alma que não acarrete consequên-

cias lastimáveis, inevitáveis. E não há uma única boa qualidade que não seja fonte de alegria. A soma das penas é proporcional à soma das imperfeições, como a soma das alegrias é proporcional à soma das qualidades.

A alma que tem dez imperfeições, por exemplo, sofre mais do que aquela que só tem três ou quatro. Sofrerá menos quando tiver um quarto ou a metade das imperfeições e será completamente feliz, quando não tiver mais nenhuma. Da mesma forma que, na Terra, sofre mais aquele que tem muitas doenças do que o que só tem uma ou nenhuma. Pela mesma razão, a alma que tem dez qualidades tem mais alegrias do que a que tem menos que dez qualidades.

4o – Por causa da lei do progresso, toda alma tem a possibilidade

de adquirir o bem que lhe falta e de se desfazer do que tem de ruim, segundo seus esforços e vontade. Portanto, o futuro não é fechado a nenhuma criatura. Deus não repudia qualquer de Seus filhos. Recebe-os em Seu seio, à medida que atingem a perfeição, deixando assim a cada um o mérito de suas obras.

5o – O sofrimento é ligado à imperfeição, como a alegria à perfeição,

e a alma traz em si mesma seu próprio castigo, não importa onde esteja: não há necessidade de um lugar circunscrito. O inferno é qualquer lugar onde existam almas sofredoras, como o céu é qualquer parte onde existam almas felizes.

6o – O bem e o mal são produtos das boas ou das más qualidades.

Não fazer o bem que se poderia é o resultado de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não apenas pelo mal que praticou, mas por todo bem que poderia, mas deixou de praticar, durante sua vida na Terra.

7o – O Espírito sofre pelo mal que praticou. Se prestar atenção ao que

vem depois do mal praticado, vai compreender melhor suas inconveniên- cias e será motivado a se corrigir.

8o – A justiça de Deus, sendo infinita, leva em conta rigorosa o bem

e o mal. Não há uma única má ação, um único mau pensamento que não tenha consequências fatais. Não há uma única boa ação, um único bom movimento de alma, o menor mérito, que se perca, mesmo entre os mais perversos, porque é um começo de progresso.

9o – Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída

e que deve ser paga. Se não for em uma existência, será na próxima ou em outras, porque todas as existências são solidárias entre si. O que foi pago no presente não terá que ser pago uma segunda vez.

10o – O Espírito sofre as consequências de suas imperfeições, no

mundo espiritual ou no mundo corporal. Todas as misérias, todas as vicissitudes que se suportam na vida corporal são provenientes das imperfeições, expiação de erros cometidos ou na existência presente ou nas anteriores.

Pela natureza dos sofrimentos e dos reveses que se tem na vida corporal, pode-se julgar a natureza das imperfeições que deram causa aos erros cometidos na existência anterior.

11o – A expiação varia segundo a natureza e a gravidade do erro. O

mesmo erro pode ter expiações diferentes, de acordo com as circunstân- cias agravantes ou atenuantes em que foi cometido.

12o – Não há, com relação à natureza e à duração do castigo, nenhuma

regra absoluta e uniforme. A única lei geral é a de que todo erro recebe sua punição e toda boa ação, sua recompensa, de acordo com seu valor.

13o – A duração do castigo é subordinada à melhora do Espírito

culpado. Nenhuma condenação por um tempo determinado lhe é imputada. O que Deus exige para colocar fim aos sofrimentos é uma melhora séria, efetiva e um retorno sincero para o bem.

O Espírito é assim árbitro de seu próprio destino. Pode prolongar seus sofrimentos, pelo endurecimento no mal, ou suavizá-los e abreviá- -los, pelos esforços de fazer o bem.

Qualquer condenação por tempo determinado teria o duplo incon- veniente, ou de continuar a fazer sofrer o Espírito que estaria melho- rando ou de libertá-lo do sofrimento, enquanto o Espírito ainda esti- vesse praticando o mal. Deus, que é justo, pune o mal enquanto existe e

deixa de punir quando o mal desaparece3. Em outras palavras, sendo o

mal moral uma causa de sofrimento, o sofrimento existe tanto tempo quando persista o mal e diminui de intensidade à medida que o mal enfraquece.

14o – Estando a duração do castigo subordinada ao aperfeiçoamento,

o Espírito que jamais melhorasse sofreria para sempre e sua pena seria eterna.

15o – Uma condição inerente à inferioridade dos Espíritos é não

conseguir ver o fim de sua situação e acreditar que sofrerão para sempre. Para estes um castigo pode parecer eterno4.

16o – O arrependimento é o primeiro passo para o progresso, mas

não o suficiente: é preciso ainda expiar e reparar os erros.

Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de um erro e suas consequências.

O arrependimento suaviza as dores da expiação, o que dá esperanças e prepara os caminhos para a reabilitação. Mas a reparação só pode anular os efeitos, destruindo a causa. O perdão seria uma graça e não uma anulação.

17o – O arrependimento pode acontecer em qualquer parte e tempo:

se for tardio, o culpado sofrerá por um período mais longo.

A expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais, consequência dos erros cometidos e até que todos os sinais destes erros sejam apagados, na vida presente ou após a morte, na vida espiritual ou ainda em uma nova existência corporal.

A reparação consiste em fazer o bem a quem se fez o mal. Aquele que não repara seus desvios nesta vida, por impotência ou má vontade, reencontrará na próxima existência as mesmas pessoas que prejudicou e nas condições escolhidas por ele mesmo para reparar-lhes os aborreci- mentos e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha causado.

(3) Ver, no capítulo VI, no 25, citação de Ezequiel.

(4) Perpétuo é sinônimo de eterno. Em português, perpétuo tem o sentido de contínuo, sem fim, vita-

lício. Por isso, pode-se dizer: o secretário perpétuo da Academia, o que não quer dizer que ele o será pela eternidade, mas por um tempo ilimitado. Eterno tem o sentido de algo que não tem princípio nem fim, que tem duração indefinida. Eterno e perpétuo são empregados, aqui, com o sentido de indeterminado. Nesse sentido, pode-se dizer que as penas são eternas, entendendo-se que não têm uma duração limitada. São eternas para o Espírito que não lhes vê o fim.

Nem todas as faltas trazem um prejuízo direto e efetivo. Neste caso, a reparação se completa por atos como: fazendo o que se deixou de fazer, completando os deveres que foram negligenciados ou ignorados, as missões em que se falhou, fazendo o bem a quem se fez mal. Isto é, sendo humilde quem foi orgulhoso, doce quem foi duro, caridoso quem foi egoísta, benevolente quem foi maldoso, trabalhador quem foi preguiçoso, útil quem foi inútil, moderado quem foi devasso, dar bons exemplos quem serviu de mau exemplo etc. Assim é que o Espírito progride, aproveitando seu passado5.

18o – Os Espíritos imperfeitos são excluídos dos mundos felizes, onde

encontrariam a harmonia. Ficam em mundos inferiores, em que expiam seus erros pelas adversidades da vida e se purificam de suas imperfeições, até que mereçam encarnar em mundos mais avançados moral e fisicamente.

Se é possível conceber um lugar delimitado de castigo, é nestes mundos de expiação, porque é onde abundam Espíritos imperfeitos desencarnados, esperando uma nova existência que lhes permitirá reparar o mal que fizeram e os ajudará no progresso.

19o – A melhora é às vezes lenta, e é forte a obstinação na prática do

mal, porque o Espírito tem sempre o livre-arbítrio. Pode persistir no mesmo estado por anos ou séculos, mas chega sempre um momento em que sua obstinação em afrontar a Justiça de Deus se verga diante do sofrimento e, apesar de sua arrogância, reconhece a força superior que o domina. Desde que se manifestem as primeiras luzes do arrependi- mento, Deus permite antever a esperança.

Nenhum Espírito é incapaz para sempre de progredir e nem será condenado para sempre a uma condição de inferioridade, escapando à lei do progresso, que rege providencialmente todas as criaturas.

(5) A necessidade da reparação é um princípio de rigorosa justiça, que se pode considerar como a

verdadeira lei da reabilitação moral dos Espíritos. É uma doutrina que nenhuma religião ainda di- vulgou. Algumas pessoas a rejeitam, porque acham mais cômodo apagar seus erros por um simples arrependimento, que só com palavras, algumas fórmulas repetidas por elas mesmas, quitam seus débitos. É o caso de lhes perguntar: este princípio, não consagrado pelas leis humanas, o seria pela Lei de Deus? Pode ser a Justiça de Deus inferior à justiça dos homens? Dar-se-iam por satisfeitas se um indivíduo, que as arruinou por abuso de confiança, se limitasse a dizer-lhes que lamentava muito o que fez? Por que recuariam, diante de uma obrigação que todo homem honesto tem o dever de cumprir, na medida de suas forças?

Desde que esta perspectiva da reparação seja absorvida pela crença das massas, será um freio muito mais poderoso do que a ideia de inferno e das penas eternas, porque atinge a atualidade da vida e faz com que o homem compreenda as circunstâncias penosas em que se encontra.

20o – Deus jamais abandona os espíritos, independente do grau de

inferioridade e de perversidade. Todos têm um anjo da guarda que os vela, acompanha os movimentos da alma e se esforça por inspirar-lhes bons pensamentos, o desejo de progredir e de reparar o mal que tenham praticado. Entretanto, o guia protetor frequentemente age de maneira oculta, sem exercer qualquer pressão. O Espírito deve progredir por sua própria vontade e não por imposição de quem quer que seja. Age bem ou mal, em função de seu livre-arbítrio, sem ser fatalmente empurrado para um ou outro lado. Se pratica o mal, sofre as consequências pelo tempo em que permanecer no mau caminho e sentirá logo os efeitos de um único passo que dê em direção ao bem.

Observação – Seria um erro acreditar que por causa da lei do progresso, a certeza de cedo ou tarde se chegar à perfeição e à felicidade pode ser um encorajamento à perseverança no mal, para se arrepender mais tarde. Primeiro, porque o Espírito inferior não vê o fim desta situação. Segundo, porque o Espírito, sendo o artesão de sua própria infelicidade, acaba por compreender que o término do sofrimento só depende dele e que, quanto mais tempo persistir no mal, mais tempo permanecerá infeliz. Que seu sofrimento durará para sempre se ele mesmo não lhe colocar um fim. Seria, pois um falso golpe, no qual ele seria o primeiro a “cair como um patinho”. Se, ao contrário, como preconiza o dogma das penas irremissíveis, toda esperança lhe for negada, o Espírito não terá qualquer interesse em retomar o bem que lhe seria inútil.

Diante dessa lei, cai também a objeção baseada na presciência divina. Deus, ao criar a alma, sabe realmente se, em virtude do livre-arbítrio, seguirá o bom ou o mau caminho. Sabe que será punida se fizer o mal. Mas sabe também que será um castigo temporário, como um meio de fazê-la compreender o próprio erro e retornar ao bom caminho, onde chegará mais cedo ou mais tarde. De acordo com a doutrina das penas eternas, Deus sabe que alma vai fraquejar e por antecipação está conde- nada a torturas intermináveis.

21o – Cada pessoa é responsável apenas por seus próprios erros.

Ninguém carrega a pena de outros, a não ser que tenha sido o inspirador do erro pelos exemplos ou que, possuindo o poder, não tenha impedido os outros de praticarem erros.

Assim, por exemplo, o suicida é sempre punido. Mas sofrerá uma pena ainda maior aquele que, por sua dureza, levar um indivíduo ao desespero e a se destruir.

22o – Embora exista uma diversidade infinita de punições, algumas

são inerentes à inferioridade do Espírito e suas consequências; salvo alguns pormenores, são mais ou menos idênticas.

A punição mais imediata para os que, sobretudo, estão muito presos à vida material, negligenciando o progresso espiritual, é a lentidão com que a alma se separa do corpo: são as angústias que acompanham a morte e o despertar na outra vida, é o tempo de confusão que pode existir durante meses ou anos. Para aqueles que, ao contrário, têm a consciência limpa, durante a vida material estão identificados com a vida espiritual e desapegados das coisas materiais, a separação é rápida, sem traumas, o despertar é tranquilo e quase não existe confusão.

23o – Um fenômeno muito frequente entre os Espíritos de uma certa

inferioridade moral é o de se acreditarem ainda vivos. Essa ilusão pode se prolongar por anos, durante os quais sentem todas as necessidades, todos os tormentos e todas as perplexidades da vida.

24o – Para o criminoso é um cruel suplício a visão incessante de suas

vítimas e das circunstâncias do crime.

25o – Alguns Espíritos mergulham em espessas trevas; outros, em

um isolamento absoluto no espaço, atormentados pela ignorância de sua posição e de seu destino. Os mais culpados sofrem torturas tão mais dolorosas, que lhes parecem intermináveis. Muitos são privados de enxergarem os seres que amam. Todos geralmente sofrem com intensidade relativa os males, as dores e as necessidades que fizeram outros sofrerem, até que cheguem o arrependimento e a vontade de reparação e lhes tragam um certo abrandamento, que permite antever a possibilidade de colocarem, por si mesmos, um fim à situação.

posições, enquanto acima, cobertos de glória e de festas, estão aqueles que desprezou na Terra. Para o hipócrita, é um tormento se ver trans- passado pela luz que o desnuda e permite que todo mundo possa ler seus mais secretos pensamentos, sem nenhum meio para se esconder e dissimular. Para o sensual, ter todas as tentações, todos os desejos, sem poder satisfazê-los. Para o avaro, ver todo o seu ouro dilapidado, sem nada poder guardar. Para o egoísta, ser abandonado por todos e sofrer tudo o que fez outros sofrerem: terá sede e ninguém lhe dará o que beber, terá fome e ninguém lhe dará o que comer. Nenhuma mão amiga virá apertar a sua, nenhuma voz compadecida virá consolá-lo. Ele só cuidou de si mesmo durante a vida, ninguém pensa nele nem o lamenta, após a morte.

27º – A maneira de evitar ou atenuar as consequências dos defeitos

na vida futura é desfazer-se deles na vida presente, reparar o mal para não ter que fazê-lo mais tarde, de forma mais terrível. Quando mais tarde uma pessoa se desvencilha de seus defeitos, mais sofrerá as conse- quências e mais rigorosa será a reparação.

28º – A situação do Espírito na vida espiritual é aquela para a qual se

preparou na vida corporal. Mais tarde, outra encarnação lhe será dada para a expiação e reparação, por meio de novas provas, que ele aproveitará mais ou menos, por seu livre-arbítrio. Se não aproveitar, será uma tarefa para recomeçar mais uma vez, em condições mais penosas, de modo que pode-se dizer: aquele que sofre muito na Terra tinha muito a expiar. Os que desfrutam de uma felicidade aparente, apesar de seus vícios e inutili- dades, certamente pagarão caro em outra existência. É o sentido do que disse Jesus: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”. (Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V)

29o – A misericórdia de Deus é infinita, sem dúvida, mas não é cega.

O culpado que recebe o perdão não está dispensado de reparar os erros e, enquanto não satisfaz a justiça, sofre as consequências de suas faltas. Por misericórdia infinita, é preciso entender que Deus não é implacável e que deixa sempre aberta a porta para o retorno ao bem.

30o – As penas, temporárias e subordinadas ao arrependimento e

castigos e remédios, que ajudam a curar as feridas do mal. Os Espíritos em punição não são como os condenados por algum tempo às galeras, mas como doentes no hospital, que sofrem de uma doença muitas vezes causada por sua culpa. Os meios curativos dolorosos de que necessitam são a esperança da cura e curam tão mais depressa quanto mais exata- mente forem seguidas as prescrições do médico, que vela por eles com solicitude. Se prolongam o sofrimento por sua própria falta, o médico nada tem com isso.

31o – Às penas que o Espírito sofre na vida espiritual somam-se

aquelas da vida corporal, consequências das imperfeições do homem, de suas paixões, do mau emprego de suas faculdades e também a expiação das faltas presentes e passadas. É na vida corporal que o Espírito repara o mal de existências anteriores, que põe em prática as decisões que tomou na vida espiritual. Assim se explicam as misérias e os reveses que, em um primeiro momento, parecem sem razão de ser, mas são justos porque são o resgate do passado e servem ao progresso6.

32o – Alguns se perguntam: Deus não teria mostrado um maior

amor por Suas criaturas se as tivesse criado infalíveis e sem os reveses ligados à imperfeição?

Para isso, teria sido necessária a criação de seres perfeitos, sem nada a adquirir em conhecimentos nem em moralidade. Sem nenhuma dúvida, poderia tê-lo feito. Se não o fez, é porque em Sua sabedoria quis que a lei geral fosse o progresso.

Os homens são imperfeitos e, como tais, sujeitos a reveses mais ou menos penosos. É preciso aceitar o fato, já que existe. Inferir que Deus não seja bom nem justo seria revoltar-se contra Ele.

Seria injustiça se tivesse criado seres privilegiados, mais favorecidos que outros, que desfrutassem sem trabalho de uma felicidade que outros só atingiriam com muita pena ou que nunca atingiriam. Mas Sua Justiça brilha justamente na igualdade absoluta que preside à criação de todos os Espíritos. Todos têm o mesmo ponto de partida. Nenhum, na formação, é melhor dotado que outro. Nenhum que tenha sua marcha

(6) Ver acima, capítulo VI, “O Purgatório”, nos 3 e seguintes, e após, o capítulo XX: Exemplos de

para a ascensão facilitada por exceção. Aqueles que chegaram ao fim passaram, como os outros, pela fileira de provas e de inferioridade.

Admitindo-se essa premissa, o que há de mais justo do que a libe- dade de cada um? O caminho da felicidade está aberto a todos. O fim é o mesmo para todos. As condições para atingir esse fim são as mesmas. Deus fez para a felicidade o preço do trabalho e não o do favor, para que cada um tivesse seu mérito. Cada um é livre para trabalhar ou não por seu avanço. Aquele que trabalha muito e vive para este avanço é recom- pensado mais cedo. O que se afasta do caminho e perde seu tempo retarda sua chegada e só pode culpar a si mesmo. O bem e o mal são voluntários e facultativos. O homem, sendo livre, não é naturalmente empurrado para um nem para o outro.

33o – Apesar da diversidade de gêneros e de graus de sofrimento dos

Espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode se resumir nos três seguintes princípios:

1o – O sofrimento é ligado à imperfeição.

2o – Toda imperfeição e toda falta causada pela imperfeição trazem

em si o próprio castigo, por suas consequências naturais e inevitáveis, como a doença é resultado dos excessos; o aborrecimento, da ociosi- dade, sem que haja necessidade de uma condenação especial para cada

No documento O CÉU E O INFERNO. Allan Kardec (páginas 88-99)