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A proibição de Moisés era tanto mais justificada, na medida em que não se evocavam os mortos por respeito e afeição nem com um

No documento O CÉU E O INFERNO. Allan Kardec (páginas 149-151)

DA PROIBIÇÃO DE EVOCAR OS MORTOS

4. A proibição de Moisés era tanto mais justificada, na medida em que não se evocavam os mortos por respeito e afeição nem com um

sentimento de piedade, mas como uma forma de adivinhação, assim como os augúrios e os presságios eram explorados pelo charlatanismo e pela superstição. Por mais que tenha feito, não conseguiu desen- raizar este hábito, que se tornou objeto de comércio, como atestam as seguintes passagens do mesmo profeta:

“E quando lhes disserem: consultem os mágicos e os adivinhos, que sussuram, em seus encantamentos, respondam: ‘Cada povo não consulta seu próprio Deus? E vamos falar com os mortos sobre o que diz respeito aos vivos?’” (Isaías, VIII:19)

“Sou eu quem chama atenção para a falsidade dos prodígios da magia, que transformam em insensatos aqueles que se ocupam em adivinhar, que perturbam o Espírito dos sábios e que induzem à loucura, com sua vã ciência”. (cap. XLIV, v. 25)

“Que os adivinhos3 que estudam o céu, contemplam os astros e contam

os meses para fazer as previsões que querem sobre o futuro venham agora salvar vocês. – Tornaram-se palha, o fogo os devorou, não poderão livrar suas almas das chamas ardentes. Não sobrará de suas brasas nem carvões, para se aquecer, nem fogo, diante do qual se possa sentar. – É nisso que se transformarão todas as coisas às quais se dedicaram com tanto trabalho. Desapareceram, cada um para um lado, todos os mistificadores que vocês conheceram desde a juventude e não se pode encontrar nenhum para tirá-los de seus males”. (cap. XLVII, v. 13, 14, 15)

(3) Nota da tradução: No original em francês, está a palavra augure: pode ser traduzida em portu-

guês para áugure, que designa: “sacerdote romano que tirava presságios do canto e do voo das aves, agoureiro”.

Neste capítulo, Isaías se dirige aos babilônios, usando a figura alegó- rica da “virgem filha da Babilônia4, filha dos caldeus” (v. 1). Diz que os

adivinhos não impedirão a ruína da monarquia. No capítulo seguinte, ele se dirige diretamente aos israelitas.

“Venham aqui vocês, filhos de uma agoureira, raça de um homem adúl- tero e de uma prostituta. – De quem vocês riem? Contra quem abrem a boca e mostram a língua ferina? Não são vocês filhos pérfidos e bastardos, que procuram consolação em seus deuses, embaixo das árvores carregadas de folhagem e que sacrificam crianças, nas enxurradas, embaixo dos rochedos? Vocês confiaram e ofereceram sacrifícios às pedras da enxurrada; derra- mastes licores em sua honra. Depois disso, é possível não se incendiar a minha indignação?” (cap. LVII, v. 3, 4, 5, 6)

Estas palavras são inequívocas e provam claramente que naquele tempo as evocações tinham como objetivo a adivinhação da qual se fazia comércio. As evocações estavam associadas às práticas da magia e da bruxaria e eram acompanhadas de sacrifícios humanos. Moisés tinha razão de proibir estes atos e de dizer que Deus os abominava. Essas práticas supersticiosas se perpetuaram até a Idade Média, mas hoje a razão as rejeita e o Espiritismo veio para mostrar o objetivo exclusiva- mente moral, consolador e religioso das relações com o além-túmulo, uma vez que os espíritas não “sacrificam criancinhas e não esparramam líquidos para honrar os deuses”. Os espíritas não interrogam nem os astros nem os mortos nem os adivinhos, para conhecer o futuro que Deus sabiamente escondeu dos homens. Repudiam qualquer comércio com a faculdade de se comunicar com os Espíritos, não são movidos pela curiosidade nem pela ganância e sim por um sentimento piedoso, com o desejo único de se instruir, de progredir e de aliviar as almas sofredoras. A proibição de Moisés nada tem a ver com os espíritas. Isto é que deveria ter sido percebido por aqueles que apelam contra a prática espírita. Se tivessem aprofundado melhor o sentido das palavras

(4) Nota da tradução: Berço de algumas das civilizações mais ricas da Antiguidade, a Mesopotâmia

viu surgir as primeiras grandes invenções do homem: cidades, escrita, legislação. Fica na região de- limitada entre os rios Tigre e Eufrates, no sudeste da Ásia, atual território do Iraque. Os romanos designavam de Mesopotâmia a parte norte, montanhosa, e de Babilônia a parte sul, plana, onde inclusive hoje fica a cidade de Bagdá. Os sumérios ocupavam a região norte, montanhosa, e os assírios e babilônios, as planícies do sul.

bíblicas, teriam reconhecido que não existe qualquer analogia entre as coisas praticadas pelos hebreus e os princípios do Espiritismo. E mais: teriam reconhecido que o Espiritismo condena exatamente a mesma coisa que Moisés. Mas, cegos pelo desejo de encontrar um argumento contra as ideias novas, não perceberam que tais argumentos eram completamente falsos.

A atual lei civil pune os abusos que Moisés queria reprimir. Se ele sentenciou o último castigo contra os delinquentes, é porque lhe faltavam meios rigorosos para governar seu povo indisciplinado. Assim, havia muita pena de morte em sua legislação. De resto, ele não tinha grande escolha, com seus meios de repressão. Não havia prisões nem casas de correção no deserto e não era natural a seu povo ter medo das penas apenas disciplinares. Moisés não podia ter gradações de penas como existem hoje. Portanto, é um erro basear-se na severidade do castigo para julgar o grau de culpabilidade da evocação dos mortos. Seria preciso, por respeito à lei mosaica, manter a pena capital em todos os casos em que se aplicava? Por que no caso das evocações é lembrada com tanta insistência a punição com pena de morte, ao mesmo tempo em que se mantém silêncio sobre o início do capítulo, em que se proíbe aos sacerdotes possuírem os bens da terra, de ter parte em heranças, porque o próprio Senhor é sua herança? (Deuteronômio, XVIII:1 e 2)

5. Há duas partes distintas na lei de Moisés: a lei de Deus propria-

No documento O CÉU E O INFERNO. Allan Kardec (páginas 149-151)