• Nenhum resultado encontrado

Todas as religiões tiveram, com diferente nomes, os anjos: seres superiores à Humanidade, intermediários entre Deus e os homens O

No documento O CÉU E O INFERNO. Allan Kardec (páginas 99-103)

Os anjos segundo a Igreja

1. Todas as religiões tiveram, com diferente nomes, os anjos: seres superiores à Humanidade, intermediários entre Deus e os homens O

materialismo, negando qualquer existência espiritual fora da vida orgâ- nica, tratou naturalmente colocou os anjos entre as ficções e as alego- rias. A crença nos anjos faz parte essencial dos dogmas da Igreja, que os definiu assim1:

2. “Acreditamos firmemente – diz um concílio geral e ecumênico2

– que há um só verdadeiro Deus, eterno e infinito, que no começo dos tempos retirou conjuntamente do nada duas criaturas: a espiritual e a

(1) Para este resumo, servimo-nos do mandamento de Monsenhor Gousset, cardeal-arcebispo de Reims

(França), para a Quaresma de 1864. Pode-se considerar esse trabalho como a última expressão do dogma da Igreja sobre o assunto, tanto sobre Anjos como sobre demônios, citados no próximo capí- tulo, com base nesta mesma fonte.

(2) Concílio de Latrão. Nota da tradução: A História registra 21 concílios universais da Igreja Ca-

tólica que definiram os dogmas a serem seguidos pelos fiéis. O primeiro foi o Concílio de Niceia I, convocado pelo Papa Silvestre I, no ano de 325. O chamado Concílio de Latrão foi convocado cinco vezes. Latrão I, convocado pelo Papa Calixto II, em 1123. Latrão II, convocado por Inocêncio II, em 1139. Latrão III, em 1179, por Alexandre III. Latrão IV, convocado por Inocêncio III, em 1215, que entre outros dogmas declarou a existência dos demônios, que seriam anjos bons que caíram em pecado. Houve ainda Latrão V, convocado pelo Papa Júlio II, em 1517. Outra curiosidade é que a Catedral São João de Latrão abriga o trono oficial do Papa e não a Basílica de São Pedro, como se costuma pensar. É a construção de igreja mais antiga da cristandade, chamada de “Igreja Mãe”. Data da época de Constantino e foi doada ao bispo de Roma no século IV.

corporal, a angelical e a mundana, e depois formou, como um elo entre as duas, a natureza humana, composta de corpo e Espírito.

“Este é, segundo a fé, o plano divino para a Criação. Plano majes- toso e completo, como convinha à sabedoria eterna. Concebido dessa forma, oferece a nosso entendimento o ser em todos os graus e condi- ções. Na esfera mais elevada aparecem a existência e a vida puramente espirituais. No último degrau, a existência e a vida puramente mate- riais. E no espaço que separa os dois estágios uma maravilhosa união das duas substâncias, uma vida ao mesmo tempo comum ao Espírito inteligente e ao corpo organizado.

“Nossa alma é de uma natureza simples e indivisível, mas limitada em suas faculdades. A ideia que temos da perfeição nos faz compreender que podem existir outros seres simples como a alma e superiores por suas qualidades e privilégios. Ela é grande e nobre, mas agregada à matéria, servida por órgãos frágeis, limitada em sua ação e poder. Por que não haveria outras naturezas ainda mais pobres, livres dessa escravidão e desses entraves, dotadas de uma força maior e de uma atividade incom- parável? Antes que Deus tivesse colocado o homem sobre a Terra, para conhecê-Lo, amá-Lo e servi-Lo, não poderia já ter chamado outras criaturas para compor Sua corte celeste e adorá-Lo em Sua glória? Deus, enfim, recebe do homem o tributo de honra e a homenagem deste Universo. Seria surpresa que Ele recebesse pelas mãos dos anjos o louvor e a prece do homem? Se não existissem anjos, o grande trabalho do Criador não teria o mesmo refinamento e perfeição. Este mundo, que atesta toda a Sua onipotência, não seria mais a obra-prima de Sua sabe- doria. Nossa própria razão, embora fraca, poderia facilmente concebê-Lo mais completo e acabado.

“Em cada página dos livros sagrados do Velho e do Novo Testa- mento, Deus menciona essas sublimes inteligências, em invocações piedosas ou em referências históricas. Sua intervenção aparece clara na vida dos patriarcas e dos profetas. Deus se serve das funções dessas inteligências tanto para transmitir Suas vontades como para anunciar futuros acontecimentos e os transforma quase sempre em instrumento de Sua Justiça ou de Sua Misericórdia. A presença dessas inteligências

superiores ressalta das diversas circunstâncias do nascimento, da vida e da paixão do Salvador. Sua lembrança é inseparável da dos grandes homens e dos fatos mais importantes da antiguidade religiosa. Existem mesmo no politeísmo3 e nas fábulas da mitologia, porque a crença nos

anjos é tão velha e tão universal quanto o mundo. Os cultos que os pagãos faziam aos bons e maus gênios eram uma falsa aplicação da verdade, um resto degenerado do dogma primitivo.

“As palavras do santo concílio de Latrão contêm uma distinção funda- mental entre os anjos e os homens. Ensinam que os primeiros são puros Espíritos, enquanto que os segundos se compõem de um corpo e uma alma, ou seja, a natureza angelical se sustenta por si mesma, não apenas sem mistura, mas ainda sem associação real possível com a matéria, por mais leve e sutil que se imagine, ao passo que nossa alma, igualmente espiritual, tem como destino essencial associar-se ao corpo, formando com ele uma só pessoa.

“Enquanto dura esta união tão íntima da alma com o corpo, essas duas substâncias têm uma vida comum e exercem uma influência recí- proca. A alma não pode se livrar da condição imperfeita de estar ligada ao corpo: suas ideias só lhe chegam pelos sentidos, pela comparação de objetos exteriores e sempre sob imagens mais ou menos aparentes. Porque não pode contemplar-se a si mesma, não consegue representar Deus e os anjos sem alguma forma visível e palpável. Por isso, os anjos, para serem vistos pelos santos e profetas, hão de revestir formas tangí- veis e palpáveis. Essas formas não passavam de corpos leves, que se movimentavam e tinham atributos simbólicos, de acordo com a missão de que estavam encarregados.

“Seu ser e seus movimentos não estão localizados e circunscritos em um ponto fixo e limitado do espaço. Não ligados a um corpo, não podem ser presos ou limitados, como nós somos, por outros corpos. Não ocupam qualquer lugar nem preenchem qualquer vazio. Mas, da mesma forma que nossa alma está inteira em nosso corpo e em cada uma de suas partes, eles estão inteiros e quase simultaneamente em todos os pontos e

(3) Nota da tradução: Politeísmo – crença religiosa em muitos deuses: forças da Natureza, ídolos,

em todas as partes do mundo. Mais rápidos que o pensamento, podem trabalhar por toda parte, em um piscar de olhos, sem qualquer obstáculo a seus propósitos, além da vontade de Deus e a resistência da liberdade humana.

“Enquanto somos limitados a enxergar pouco a pouco e dentro de um certo limite as coisas que estão fora de nós, e as verdades da ordem sobrenatural nos aparecem como enigmas e em um espelho, segundo a expressão do Apóstolo Paulo, eles enxergam sem esforços o que lhes importa saber e estão em contato imediato com o objeto de seus pensamentos. Seus conhecimentos não são o resultado da indução e do raciocínio, mas dessa intuição clara e profunda que abraça todo o conjunto do gênero e suas espécies descendentes, seus princípios e consequências.

“A distância dos tempos, a diferença de lugares, a multiplicidade de objetos não conseguem produzir nenhuma confusão em seus Espíritos. “A essência divina, por ser infinita, é incompreensível. Tem misté- rios e profundezas que eles não podem alcançar. Os propósitos particu- lares da Providência lhes são escondidos, mas o segredo lhes é revelado, em algumas circunstâncias, quando são encarregados de anunciá-lo aos homens.

“As comunicações de Deus aos anjos e entre eles mesmos não se fazem como entre nós, por intermédio de sons articulados e de outros sinais sensíveis. As puras inteligências não precisam de olhos para ver, de ouvidos para ouvir, não têm mais o órgão da voz para manifestar seus pensamentos. Este intermediário habitual de nossos encontros não lhes é necessário. Comunicam seus sentimentos de uma maneira própria e espiritual. Basta que eles queiram e são compreendidos.

“Só Deus conhece a quantidade de anjos que existem. Sem dúvida, não seria um número infinito, mas muito grande, de acordo com os autores sagrados e santos doutores. Se é natural que o número de habi- tantes seja proporcional à extensão de área de uma cidade, sendo a Terra apenas um átomo em comparação ao firmamento e às imensas dimen- sões do espaço, conclui-se que o total de habitantes do céu e do ar seja muito maior que o dos homens na Terra.

“Já que a majestade dos reis empresta seu brilho a todos seus súditos, oficiais e servidores, o que haveria de mais natural para nos dar a ideia da majestade do Rei dos reis do que essa multidão inumerável de anjos que povoam o céu da Terra, o mar e os abismos, e a ideia da dignidade daqueles que permanecem sem cessar prostrados ou em pé diante de Seu trono?

“Os padres da Igreja e os teólogos ensinam geralmente que os anjos estão distribuídos em três hierarquias ou principados e cada hierarquia dividida em três companhias ou grupos.

“Os da primeira e mais alta hierarquia são designados pelas funções que exercem nos céus. Alguns são chamados de Serafins, porque diante de Deus ficam como que afogueados pelo ardor da caridade. Outros são os Querubins, porque são um reflexo luminoso da sabedoria de Deus. Outros ainda são os Tronos, porque proclamam e resplandecem a gran- deza de Deus.

“Os da segunda hierarquia recebem seus nomes, de acordo com as operações que lhes são atribuídas no governo geral do Universo: as Dominações, que atribuem aos Anjos de ordens inferiores suas missões e encargos. As Virtudes, que executam os prodígios solicitados pelos grandes interesses da Igreja e pelo gênero humano. As Potências, que protegem com sua força e vigilância as leis que regem o mundo físico e moral.

“Os da terceira hierarquia compartilham a direção das sociedades e das pessoas. São os Principados, encarregados pelos reinos, províncias e dioceses. Os Arcanjos que transmitem as mensagens de grande impor- tância. Os Anjos da guarda acompanham cada um de nós, para velar por nossa segurança e santificação”.

Contestação

3. O princípio geral que sobressai nesta doutrina é de que os anjos

No documento O CÉU E O INFERNO. Allan Kardec (páginas 99-103)